domingo, 29 de outubro de 2023

Infertilidade: o que fazer quando o problema está no homem

Especialistas em fertilidade estão acostumados a ouvir a seguinte frase: "tentamos por muito tempo, mas simplesmente não deu certo". No entanto, onde está o problema? Em cerca de 40% dos casos, na mulher. Em outros 40%, do homem. Nos 20% restantes, porém, nenhum motivo aparente é identificado.

Ainda assim, na maioria das vezes, a infertilidade é primeiramente apontada, pelo senso comum, como sendo um problema relacionado à mulher. Afinal de contas, são as mulheres que dão à luz. Ainda se aplica a antiquada ideia de que elas também têm maior parte da responsabilidade por todo o resto, segundo Sabine Kliesch, do departamento de andrologia clínica e cirúrgica do Hospital Universitário de Münster, na Alemanha.

"Ainda hoje, o homem geralmente está em segundo plano [na questão da infertilidade]. Alguns também se sentem constrangidos pela dificuldade [da mulher] em engravidar e demora muito até que os homens procurem um urologista", afirma.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), se o teste de gravidez não tiver um resultado positivo após 12 meses de tentativas, considera-se que há infertilidade. Em todo o mundo, o problema afeta de 10% a 15% dos casais que desejam ter filhos, independentemente da região. O problema é global e deve ser tratado neste âmbito.

"O grande número de pessoas afetadas mostra que o acesso a tratamentos de fertilidade deve ser expandido e que isso não deve ser suprimido das pesquisas", diz a OMS.

•        Possíveis causas

Nas mulheres, os principais motivos para a infertilidade são distúrbios hormonais, síndrome dos ovários policísticos (SOP), endometriose ou problemas nas trompas de falópio.

A infertilidade masculina geralmente ocorre porque a qualidade do esperma é ruim – um espermograma detalhado pode fornecer informações e esclarecimentos sobre o número, a forma e a mobilidade dos espermatozoides.

"Quando encontramos as causas, elas geralmente têm a ver com testículos não descidos [criptorquidia], que não foram tratados suficientemente cedo, ainda na infância. Se os testículos forem corrigidos tarde demais, eles sofrerão danos permanentes e haverá poucos ou nenhum espermatozoide na ejaculação, e o homem não consegue conceber naturalmente", explica Kliesch.

•        Medidas e terapias disponíveis

Se a infertilidade for masculina, o primeiro passo é visitar um andrologista (especialista em saúde do homem) ou um urologista. Caso os testes apontem que a qualidade do esperma é baixa, uma opção é a fertilização in vitro, em que o esperma é processado e, depois, são coletados os espermatozoides mais ágeis, que fertilizam os óvulos que foram retirados da mulher.

Se for constatado que a ejaculação não contém nenhum espermatozoide, pode ser realizada a chamada extração de espermatozoides testiculares (TESE, do inglês testicular sperm extraction). Nesse procedimento, os espermatozoides férteis são retirados diretamente do testículo ou do epidídimo para inseminação artificial.

•        O que o homem pode fazer?

Para aumentar a qualidade do esperma, um homem pode cuidar-se mais. "Vemos cada vez mais homens jovens com sobrepeso e que, como resultado, têm um distúrbio no equilíbrio hormonal. Esse fator pode ser influenciado pelo próprio homem. Outra questão é o fumo, que reduz pela metade a capacidade de fertilização dos espermatozoides", diz Kliesch.

Embora possa não ser muito fácil parar de fumar, não é impossível. Um estilo de vida saudável, uma dieta balanceada e o consumo moderado de álcool também podem ajudar a melhorar a qualidade do esperma. As toxinas ambientais, como pesticidas e metais pesados, devem ser evitadas, assim como o estresse.

•        Pressão e psicológico abalado

Quanto mais o tempo passa e a mulher não engravida, maior é o estresse psicológico. "É um forte abalo quando a coisa mais natural do mundo não funciona de maneira natural. Ao seu redor, os casais estão felizes, mas com você não funciona", destaca Kliesch.

Quando os homens descobrem que a falta de filhos é por culpa deles, geralmente começam a duvidar de si mesmos e sentem que falharam. Isso pode ser agravado pela decepção, talvez também pela raiva de seus próprios corpos por não funcionarem como o esperado.

E quanto mais o desejo de ter um filho se torna o foco e determina a vida de um casal, mais difícil é para eles lidarem um com o outro. Kliesch recomenda, então, que os casais busquem apoio psicológico. Isso também pode ajudá-los a não ver a falta de filhos como um fracasso pessoal, a conversar sobre o assunto e, muitas vezes, a não considerar isso como um diagnóstico sem solução.

 

       Alerta: nenhuma quantidade de álcool é segura durante a gravidez

 

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é A doença é grave, mas facilmente evitável: basta não consumir bebida alcoólica durante a gestação. Há quem acredite que beber um pouco na gravidez não faz mal ao feto, mas, na verdade, é preciso diminuir a ingestão de bebida alcóolica para zero.

Para a médica obstetra Dra. Bruna Pitaluga, a importância de falar-se sobre a SAF é ainda maior quando estudos mostram que quase 50% das gestações não são planejadas. "Boa parte das gestações são diagnosticadas após três meses de gestação em curso. Além disso, dados epidemiológicos recentes mostram o aumento do consumo de álcool pelas mulheres nas últimas décadas", destaca.

•        O que é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF)

A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é um conjunto de condições físicas, comportamentais e cognitivas que podem afetar um indivíduo quando a mãe consome ou consumiu álcool durante a gravidez. O álcool atravessa a placenta e pode prejudicar o desenvolvimento geral do feto, levando a uma série de problemas graves e por vezes irreversíveis à saúde da criança, afirma o Dr. Mauro Macedo, membro da Academia Brasileira de Odontologia (ABO).

O consumo de álcool pelas gestantes, principalmente no primeiro trimestre da gravidez, que é o período mais crítico do desenvolvimento gestacional, interfere no desenvolvimento dos órgãos e até mesmo do cérebro do feto levando a deficiências cognitivas, comportamentais e físicas no futuro bebê.

De acordo com a ginecologista e obstetra Dra. Carla Iaconelli, especialista em reprodução humana, o bebê com SAF poderá apresentar dificuldades de coordenação motora e cognitiva, além de transtornos emocionais e psíquicos a longo prazo, dificultando seu convívio social. "Poderá também ter compulsões para o uso de álcool e drogas, depressão e comportamento suicida", alerta a médica.

Os especialistas salientam que não existe quantidade segura de álcool que possa ser ingerida durante a gravidez. Isso porque mesmo o consumo leve ou moderado pode desencadear a Síndrome do Alcoolismo Fetal (SAF). "O consumo de álcool pode levar ao aborto e a nascimentos prematuros, além de provocar anomalias no feto", destaca a obstetra.

•        Diagnóstico

O diagnóstico de SAF é bem complexo, afirma a médica. "Requer uma avaliação criteriosa dos sintomas e características físicas. Assim, como o histórico da mãe e sua relação com o álcool. Além disso, são feitos exames específicos para identificar outras patologias associadas", explica.

Embora a SAF seja tão comum quanto o Transtorno do Espectro Autista (TEA), a doença permanece subdiagnosticada, analisa a Dra. Bruna Pitaluga. "Provavelmente devido ao estigma social, complexidade do diagnóstico, dependência de características faciais e sobreposição com diagnósticos alternativos, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)", diz a profissional.

Conforme Bruna, não existe um exame laboratorial para o diagnóstico da SAF. O diagnóstico depende da avaliação e investigação das manifestações clínicas e conta como conhecimento dos médicos sobre o assunto.

"Lamentavelmente, temos uma sociedade permissiva com o uso de álcool na gestação e médicos que, em pleno século 21, não orientam de forma adequada às gestantes durante o pré-natal, permitindo o consumo dessa droga lícita e prejudicando o futuro desses bebês", pontua a médica.

•        Consequências da síndrome

Conforme a Dra. Carla, o álcool afeta diretamente o sistema nervoso central, causando disfunções vitais e deficiências na formação do feto. Os especialistas apontam as principais deficiências sistêmicas de formação do feto causadas pela SAF. São elas:

# Deficiência cognitiva e atraso no desenvolvimento mental;

# Hiperatividade e atraso no aprendizado;

# Problemas cardíacos, como comunicação interatrial (CIA) e comunicação interventricular (CIV);

# Hipertensão arterial;

# Arritmias cardíacas;

# Disfunção ventricular;

# Rins hipodesenvolvidos;

# Disfunção renal;

# Infecções urinárias recorrentes;

# Dificuldade de crescimento esquelético;

# Baixo peso ao nascer.

>> Além disso, há ainda as deficiências faciais. São elas:

# Lábio superior fino (pouco pronunciado);

# Nariz pequeno e com base plana;

# Ruga naso-labial bem forte;

# Fenda nos olhos;

# Fendas das pálpebras mais curtas (olhos menores);

# Aumento da distância entre os olhos.

>> "E não para por aí… ainda podemos ter severos comprometimentos intraorais", adverte o dentista. Entre eles, o Dr. Mauro cita:

# Fenda palatina (no céu da boca) - afetando a alimentação e a sucção;

# Atrasos na erupção dos dentes;

# Deficiências na formação e na estrutura dos dentes;

# Anodontias - ausência de alguns dentes permanentes;

# Dentes desalinhados e mal posicionados;

# Mordidas cruzadas - dentes inferiores por fora dos superiores;

# Mordidas abertas - desencontro dos dentes anteriores;

# Mordidas profundas - quando os dentes anteriores inferiores se escondem demasiadamente por trás dos dentes superiores;

# Cáries e má higiene oral - quando o problema cognitivo afeta a motricidade;

# Maxila e/ou mandíbula atrésica e pouco desenvolvida.

•        Gestação saudável

Mauro lembra que a SAF é uma condição evitável e aconselha as mães que desejam proteger seus filhos tê-los em boas condições de saúde física e mental que as mesmas tenham a abstinência total do álcool durante a gravidez. "Tolerância zero é a regra!", ressalta o profissional.

Carla lembra que o consumo de álcool entre as mulheres jovens está cada vez mais comum, independente da classe social. Além disso, a gravidez precoce também é um fato em nossa sociedade. Para a obstetra, este cenário leva a crer que é grande o risco de mulheres engravidarem e continuarem com o hábito de ingerir bebidas alcoólicas, abrindo possibilidades de maiores índices de bebês com Síndrome Alcoólica Fetal.

"É relevante destacar a importância do pré-natal, para que o médico possa acompanhar de perto o processo gestacional e orientar a grávida adequadamente quanto aos riscos e cuidados para uma gestação saudável", enfatiza a médica.

 

Fonte: Deutsche Welle/Saúde em Dia

 

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