quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Carne é responsável por 57% dos gases estufa emitidos pelo Brasil

A cadeia da carne emitiu, em 2021, cerca de 1,4 bilhão de toneladas brutas de CO2 equivalente na atmosfera. Isso representou cerca de 57% do total emitido pelo país naquele ano (2,4 bi ton). Os dados são de um estudo inédito lançado nesta terça-feira (24) pelo Observatório do Clima e organizações parceiras.

O trabalho estimou as emissões dos sistemas alimentares como um todo no país, no ano de 2021. O resultado que encontraram foi que a produção de alimentos no Brasil foi responsável pela emissão de 1,8 bilhão de toneladas de CO2eq no ano em questão, sendo a produção de carne o maior vilão.

Se fosse um país, o bife brasileiro seria o sétimo maior emissor do planeta, à frente do Japão. Neste setor, o desmatamento responde pela maior parcela das emissões (70,6%), seguida pelas emissões diretas do rebanho (29,2%).

·         Estimativas inéditas 

Esta é a primeira vez que um grupo de pesquisadores se debruça sobre as emissões dos sistemas alimentares no país. As emissões da produção de alimentos no mundo estão na ordem do dia das negociações climáticas pelo menos desde 2019. 

Naquele ano, o Painel Científico da ONU para Mudanças Climáticas (IPCC) publicou um relatório mostrando que até 37% da emissão de gases estufa do mundo é causada pela alimentação humana.

As emissões consideradas no caso brasileiro incluem o gás carbônico que vai para o ar quando a vegetação nativa é convertida em lavouras e pastos, as emissões diretas da agropecuária – como o metano do “arroto” do boi – os combustíveis fósseis queimados por máquinas agrícolas e pelo transporte da comida, o uso de energia na agroindústrua e nos supermercados e os resíduos sólidos e líquidos de todos esses processos.

“Esse relatório deveria ser lido pelos representantes do agronegócio e pelo governo como um chamado à responsabilidade. Ele demonstra, para além de qualquer dúvida, que está nas mãos do agronegócio o papel do Brasil como herói ou vilão do clima. Até aqui, o setor parece querer que o país encarne o vilão, tentando destruir a legislação sobre terras indígenas, legalizar a grilagem e acabar com o licenciamento ambiental, ao mesmo tempo em que manobra no Congresso para ficar totalmente livre de obrigações no mercado de carbono”, diz Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

 

Ø  Carne é responsável por 86% da pegada de carbono na dieta dos brasileiros

 

Um dos principais alimentos no prato do brasileiro, a carne contribui com 86% da pegada de carbono da dieta nacional. Isso é o que mostra uma análise de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), publicada na última terça-feira (31) na revista científica “Environment, Development and Sustainability”.

Além da emissão de gases poluentes, a carne consumida nacionalmente representa 90% do uso da terra considerando a dieta total, 77% da poluição de corpos d’água associados à produção de alimentos e 26% do uso da água.

O trabalho foi baseado em dados das duas últimas edições da Pesquisa de Orçamento Familiar, realizadas pelo IBGE em 2008 e 2017. 

Segundo o documento, nesse período, a presença da carne – bovina, suína, de frango e peixe – aumentou 12% na alimentação dos brasileiros de todas as faixas de renda, o que acarretou também o aumento nas emissões associadas à sua produção.

O aumento da pegada de carbono também foi consequência da redução do consumo das carnes menos poluentes, diz o trabalho. Entre todos os grupos, a ingestão de peixe reduziu 23% entre os brasileiros, enquanto a de porco aumentou 78%, de frango, 35%, e a carne bovina não apresentou mudanças expressivas no consumo no período analisado, apesar de ser a carne mais consumida pelo brasileiro – 40% do total ingerido.

·         Cenário atual

Apesar do trabalho dos pesquisadores da USP ser focado no período pré-pandemia da Covid-19, quando o consumo de carne diminuiu no país, seus autores analisam que as emissões associadas à produção do alimento não diminuíram.

“Durante a pandemia, pesquisas apontam que houve uma redução no consumo de carne, as pessoas não conseguiam comer a quantidade de carne que comiam anteriormente. Se formos pensar que essas pessoas reduziram o consumo de carne, provavelmente a pegada de carbono da dieta delas diminuiu, mas isso não significa que a pegada de carbono do Brasil diminuiu, porque continuamos a produzir carne”, disse em entrevista a ((o))eco a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e uma das autoras do estudo, Aline Martins de Carvalho.

·         Questão cultural

O Brasil é um dos países que mais consome carne no mundo. Segundo os pesquisadores da USP, em 2017, o consumo brasilerio de carne foi de 96g/1000 kcal, por dia.

De acordo com a professora Aline Martins de Carvalho, o consumo de carne no Brasil não está ligado somente ao aspecto nutricional, mas também cultural.

“Indentificamos que a carne é muito importante no Brasil, principalmente a cultura do churrasco, que vem associada a um status econômico, à diversão, que sempre tem uma carne envolvida. Algumas pessoas nem consideram como refeição quando não tem carne, então a gente vê como um alimento extremamente cultural”, diz.

Mas, devido aos impactos ambientais e na saúde, ela e os demais autores da pesquisa sugerem uma redução na quantidade ingerida. “Você não precisa tirar a carne, se reduzir a quantidade, já vai ajudar tanto na saúde quanto também no meio ambiente. Ela é certamente muito rica nutricionalmente, mas pode ser consumida em menor quantidade que não teria problema nenhum para a saúde”, finaliza.

 

Fonte: ((o))eco

 

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