domingo, 24 de setembro de 2023

Teto que esquenta na favela, árvore e ar-condicionado no bairro rico: a desigualdade sob calor extremo

O aumento da temperatura no Brasil fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitir alertas de "grande perigo" para áreas localizadas em nove Estados do país.

A onda de calor começou na segunda-feira (18/9) e deve ter o ápice neste fim de semana, com os termômetros podendo marcar até 43°C.

O alerta é válido até as 18h de domingo (24/9).

Segundo a Climatempo, as áreas mais afetadas serão Centro-Oeste, Norte e interior do Nordeste.

Em São Paulo (SP), maior cidade da América Latina, os termômetros podem chegar a 37,1 °C, de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), da Defesa Civil do estado.

Mas o calor não deve ser experimentado da mesma maneira por todos os moradores da capital paulista.

Além da diferença entre a temperatura marcada pelos termômetros, a sensação térmica pode variar muito conforme as condições de moradia, áreas de sombra, número de prédios e arborização dos diferentes bairros, afirmam especialistas.

Na comunidade do Jardim Colombo, no complexo de Paraisópolis, Zona Oeste de São Paulo, moradores têm sofrido mais do que em outras regiões mais nobres devido à falta de áreas verdes e das casas precárias, com pouquíssima ventilação.

A casa de Maria do Carmo da Silva, apelidada no bairro de Rosinha, é coberta por um telhado de fibrocimento, instalado sem forro e com pouca altura.

Ela conta que, nos dias de calor, a cobertura contribui para esquentar os cômodos significativamente.

Aos 53 anos, ela está desempregada e mora com outras três pessoas em dois quartos.

"No dia a dia, não conseguimos ficar no segundo andar da casa, porque fica muito quente", conta.

"Não tem quase ventilação nenhuma e tenho que improvisar para conseguirmos dormir à noite."

Rosinha usa dois ventiladores para refrescar os quartos, um deles sem a grade plástica de proteção.

"Eu tirei a tampa para tentar ventilar mais", diz.

Ela coloca também uma bacia com água todas as noites ao lado da cama da filha Lorena, de 2 anos, que sofre com asma e bronquite.

"Está sendo muito difícil com ela assim. Semana passada tive que correr com ela [para o hospital] porque ela estava com febre e chegando lá já estava com falta de ar", diz Rosinha, que está tratando a menina com anti-inflamatórios e um aparelho de inalação emprestado de uma vizinha.

De modo geral, um alerta vermelho, segundo o Inmet, é emitido quando é esperado um fenômeno meteorológico de "intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência de grandes danos e acidentes, com riscos para a integridade física ou mesmo à vida humana".

Segundo Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), assentamentos urbanos informais como as favelas tendem a ser densamente povoados e pouco arborizados, o que os torna mais quentes e vulneráveis em momentos de alertas.

A falta de espaço para escoamento do ar quente, decorrente das construções estreitas coladas umas nas outras, ainda impede o resfriamento rápido durante a noite.

E se o entorno não favorece, as condições internas das moradias também são prejudiciais para a saúde dos moradores, de acordo com Duarte.

"Casas nessas zonas tendem a ter telhados metálicos e poucas e pequenas janelas. Nesses casos, não têm passagem do calor ou ventilação cruzada para ajudar a refrescar e a casa vira uma estufa", diz a especialista, que realiza pesquisas sobre microclimas urbanos e conforto climático.

"Em assentamentos informais, como as favelas, moram por vezes mais de 1.000 habitantes por hectare — e não há espaço para abrigar as pessoas. As casas são grudadas e cai muito a qualidade de vida e a qualidade ambiental."

•        'Só percebo o quanto está quente quando saio na rua'

Às 15h de quinta-feira, 21 de setembro, a temperatura marcada pelo Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo (CGESP) na subprefeitura do Butantã, onde Rosinha mora, era de 31,9 ºC.

Enquanto isso, os termômetros da subprefeitura da Sé, no centro de SP, marcavam dois graus a menos.

A região central da cidade também tende a reter mais calor, por conta do excesso de asfalto e dos prédios altos. Mas em bairros específicos, especialmente em áreas nobres com maior quantidade de vegetação e uma arquitetura melhor planejada, a sensação térmica costuma ser de menos calor, diz Denise Duarte.

É o caso de Higienópolis, zona rica da cidade que faz parte da subprefeitura da Sé. Muitas das moradias de classe alta do bairro têm janelas grandes e estruturas que facilitam a ventilação, além de aparelhos de ar condicionado e ventiladores de boa potência.

Os próprios moradores da região admitem usufruir de um conforto climático proporcionado pela intensa arborização e distribuição dos prédios.

A aposentada Olga González, de 79 anos, conta que aproveita a proximidade entre sua casa e o Parque Buenos Aires para caminhar e se refrescar pelo menos duas vezes ao dia.

“Está realmente muito calor, mas dá para aguentar. Felizmente, o prédio é bem arborizado e meu apartamento bastante arejado”, diz a espanhola, que mora no Brasil desde os 13 anos de idade.

“Basicamente não tivemos inverno esse ano. Mas gosto desse clima.”

No mesmo bairro, na rua Maranhão, um casarão histórico construído no início do século 20, onde hoje funciona uma das sedes da FAU/USP, sequer precisa de ar condicionado ou ventiladores para manter alunos e funcionários refrescados.

O pé direito alto do edifício, o jardim no entorno e as janelas amplas fazem com que o ambiente fique naturalmente fresco.

"A onda de calor tem sido relativamente tranquila aqui no casarão, porque o pé direito é alto, quase 6 metros, e o ar circula muito", diz Paulo Cesar dos Santos, técnico de documentação que trabalha no local.

"Só percebo o quanto está quente quando saio para andar na rua. Ou então na minha casa, que é mais abafada."

•        'A conta não fecha'

A professora da FAU explica que fatores como dimensionamento correto dos espaços, orientação solar adequada e ventilação cruzada tornam as casas e apartamentos mais frescos.

Além disso, segundo ela, solos gramados e árvores no entorno fazem grande diferença.

As árvores absorvem uma parte do calor do sol e atuam como uma espécie de barreira entre os raios solares e as construções, impedindo o aquecimento de pisos, paredes e telhados.

Para efeito de comparação, o distrito da Consolação, onde fica Higienópolis, tem uma média de quase 1.300 árvores por km², plantadas nas calçadas e canteiros.

A média da cidade toda é de 670 árvores por km², segundo o Mapa da Desigualdade de 2019, o último a trazer dados sobre o tema.

Já no distrito da Vila Sônia, que engloba a comunidade onde Rosinha mora, existem cerca de 760 árvores por km².

A vegetação, porém, se concentra mais em outras áreas do bairro do que no Jardim Colombo, que tem uma urbanização deficitária e é formado por habitações precárias e nenhuma zona de lazer.

A realidade se repete em outras áreas menos favorecidas da cidade, como Parelheiros, Grajaú e Brasilândia, que estão entre os distritos menos arborizados, e Itaim Paulista, considerado por muitos como o bairro mais quente de São Paulo.

Prédios e casas mais afastados uns dos outros também evitam a formação das chamadas ilhas de calor urbanas, quando a aglomeração de edifícios e o excesso de ruas asfaltadas nas grandes cidades levam à retenção de calor.

"A distribuição do adensamento na cidade é muito desigual. Enquanto em algumas zonas se vive em casas onde não há espaço ou conforto suficientes, em áreas mais nobres se constroem apartamentos enormes onde moram apenas duas pessoas", afirma Denise Duarte. "A conta não fecha."

 

       Primavera começou neste sábado com calor e será marcada por temperaturas acima da média em quase todo o Brasil e chuva no Sul

 

A primavera começpu na madrugada deste sábado (23), às 3h50 no horário de Brasília, e deve seguir a tendência de muito calor das últimas semanas. A previsão aponta para novos recordes de temperatura neste primeiro fim de semana da nova estação.

👉 Os próximos meses devem ser marcados por termômetros acima da média e chuvas no Sul.

🌡️ Onda de calor: Em meio à bolha de calor que atinge parte do Brasil, ao menos três capitais brasileiras (Campo Grande, Boa Vista e Goiânia) bateram nesta semana seus recordes de calor para o ano de 2023 e outras oito também devem superar suas marcas em breve.

🚨 Alerta de perigo: Onze estados, além do Distrito Federal, estão sob alerta vermelho de grande perigo até terça-feira (26) para o calor extremo. São eles: Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins.

As capitais mais quentes nesse início de primavera devem ser Cuiabá, com temperaturas que podem chegar até 42ºC; Rio de Janeiro, com máxima de até 41ºC; e Palmas, com previsão de bater até 40ºC.

>>> Segundo a Climatempo:

•        Os termômetros podem variar entre 40ºC e 44ºC em áreas do Centro-Oeste, especialmente de Mato Grosso, que dever ser o estado mais quente do país.

•        As temperaturas podem ficar entre 38ºC e 41ºC no norte do Paraná, oeste e norte de São Paulo e Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, interior do Maranhão e do Piauí, áreas do oeste da Bahia, sul e leste do Pará, parte de Rondônia e do Amazonas.

•        Sudeste, Centro-Oeste, interior do Nordeste, Tocantins e Paraná terão sol forte e baixa umidade do ar.

•        Previsão de pancadas de chuvas ao longo de todo o litoral da Zona da Mata e do Agreste do Nordeste, e na região norte, menos Tocantins.

•        Chuva forte no Rio Grande do Sul. Há previsão de chuva para a serra, litoral e o Vale do Itajaí, em Santa Catarina.

>>> Como fica a estação?

A primavera termina em 22 de dezembro, à 0h27 no horário de Brasília. Ela é marcada por um período de transição entre as estações seca e chuvosa no setor central do país.

Em ano de El Niño, tendemos a ter mais chuvas no Sul e menos chuvas no Norte e Nordeste do Brasil. E é exatamente isso que veremos na primavera. O El Niño forte deve levar chuva acima da média para o Sul, parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul, com riscos de temporais, enquanto o Centro-Norte deve ser mais seco. — Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo

Veja a previsão para a primavera em cada uma das regiões, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet):

Norte

•        Chuva: As chuvas devem ficar abaixo da média em grande parte da região por causa do El Niño.

•        Temperatura: As temperaturas devem ficar altas, com números acima do registrado no período.

•        Incêndios e queimadas: O Inmet alerta que "a falta de chuva no sul da Amazônia, aliada às altas temperaturas e à baixa umidade, tende a favorecer a incidência de queimadas e incêndios florestais".

Nordeste

•        Chuva: Assim como no Norte, as chuvas devem ficar abaixo do esperado em grande parte do Nordeste, principalmente no Maranhão e Piauí.

•        Temperatura: Os termômetros devem registrar temperaturas acima do normal nos próximos meses.

Centro-Oeste

•        Chuva: O retorno da chuva deve ser gradual. Mato Grosso do Sul e sul de Goiás podem ter um volume maior. Já Mato Grosso, centro-norte de Goiás e Distrito Federal devem registrar chuva abaixo da média.

•        Temperatura: O tempo continuará quente na região, acima do esperado para o período.

Sudeste

•        Chuva: A previsão para a estação é de chuva abaixo da média na parte norte da região. Em São Paulo e no sul de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a chuva pode ficar acima da média, com mais recorrência em novembro.

•        Temperatura: Assim como nas outras regiões, as temperaturas estarão acima da média.

Sul

•        Chuva: Na contramão da maior parte do país, no Sul existe chance de chuvas acima da média.

•        Temperatura: As temperaturas ficarão acima da média em quase toda a região, menos no sul do Rio Grande do Sul, onde as temperaturas poderão ser mais amenas por causa da chuva.

 

       Calor extremo põe 11 estados e o DF em alerta vermelho até terça

 

O aumento da intensidade da onda de calor que afeta o Brasil fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) ampliar, nesta sexta-feira (22), o alerta de "grande perigo" por causa das temperaturas acima da média para 11 estados e o Distrito Federal e estender o aviso até terça-feira (26).

O alerta anterior era para 9 estados e até domingo (24).

🌡️ Calor atípico: A onda de calor começou na segunda-feira (17) e deve ter o ápice neste fim de semana, com tendência de atingir outras regiões na próxima semana. Em algumas localidades, são previstas marcas na casa dos 43°C.

Estão sob alerta de "grande perigo":

1.       Bahia

2.       Distrito Federal

3.       Goiás

4.       Maranhão

5.       Mato Grosso

6.       Mato Grosso do Sul

7.       Minas Gerais

8.       Pará

9.       Paraná

10.     Rio de Janeiro

11.     São Paulo

12.     Tocantins

O alerta é válido até as 18h de terça (26).

🚨 De modo geral, um alerta vermelho, segundo o Inmet, é emitido quando é esperado um fenômeno meteorológico de "intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência de grandes danos e acidentes, com riscos para a integridade física ou mesmo à vida humana".

🔥 A recente elevação dos termômetros tem relação direta com o El Niño muito mais rigoroso neste ano e com a Crise do Clima (causada pela emissão de gases de efeito estufa), que torna os eventos climáticos extremos mais comuns.

•        Cuidados básicos

O calor excessivo diminui a umidade relativa do ar, o que pode levar a problemas respiratórios, ressecamento da pele, desconforto nos olhos, boca e nariz.

O Inmet orienta que as pessoas bebam bastante líquido, não façam atividades físicas, evitem exposição ao sol em horários mais quentes do dia, usem hidratante para pele e umidifiquem o ambiente.

•        Inverno termina com termômetros batendo 41ºC

O inverno se despede nesta sexta (22) seguindo a tendência vista ao longo da semana: muito calor, baixa umidade em alguns locais e termômetros registrando altas temperaturas. A estação, que começou em 21 de junho, termina na madrugada de sábado (23), quando começa a primavera, às 3h50 no horário de Brasília.

Segundo Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo, o tempo deve continuar firme, seco e quente em grande parte do Brasil. "A umidade do ar pode ficar abaixo dos 20%. E devemos ter chuvas nas extremidades do país", afirma.

🌧️ No Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, a chuva deve continuar nos próximos dias, provavelmente até terça-feira, e com possibilidade de virar temporal e ocasionar enchentes.

Cuiabá, Teresina e Palmas vão liderar o ranking de temperaturas máximas nas capitais nesta sexta-feira (22). Segundo a Climatempo, os termômetros podem chegar a 41ºC, 39ºC e 38ºC, respectivamente.

🥵 Os meteorologistas indicam que, na próxima semana, os brasileiros também vão conviver com altas temperaturas.

"O período muito quente deve se estender pela primeira semana da primavera e algumas áreas pelo interior do Brasil podem até conviver com temperaturas muito altas até quase o fim de setembro", afirma a Climatempo.

 

Fonte: BBC News Brasil/g1

 

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