sábado, 2 de setembro de 2023

Silêncio em depoimento à PF fragiliza Bolsonaro, avaliam aliados

O entorno mais próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro já demonstrou preocupação com o silêncio dele e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro no depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (31) sobre o caso das joias.

O consenso nesse núcleo politico é que Bolsonaro ficou extremamente fragilizado ao não responder nenhum questionamento sobre as joias.

Os aliados gostariam que o ex-presidente desse justificativas para que houvesse a possibilidade de uma defesa política a ser repetida por bolsonaristas.

Ao optar pela estratégia jurídica de ficam em silêncio e, com isso, evitar contradições com outros depoentes (eram mais 7 nesta quinta, inclusive Michelle), Bolsonaro explicitou temor do que pode surgir dos depoimentos do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, e de Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel.

•        Redução do capital político

A Polícia Federal já sabe que Bolsonaro tinha conhecimento de todas as tratativas de Cid para venda e recompra das joias.

Do ponto de vitsta jurídico, Bolsonaro se blinda de se complicar ainda mais nessa investigação.

"Mas o capital politico dele sai muito menor. Se vai para a PF e não tem condições de defender o que aconteceu, como que sua base sairá em sua defesa?", disse uma influente liderança da bancada bolsonarista.

Desde a segunda-feira (28), com um longo depoimento de Cid à PF, aumentou o grau de apreensão da família Bolsonaro com os rumos das investigações em várias frentes

Esse fato, na avaliação de interlocutores, explica o silêncio de Bolsonaro.

Para defesa, a estratégia do silêncio se deve ao entendimento de que o foro adequado para essa investigação na Justiça não é o Supremo Tribunal Federal (STF), como ocorre no momento. Por isso, Bolsonaro se recusou a responder às perguntas.

 

       Depoimentos à PF expõem tática divergente de casal Bolsonaro e Cid

 

A iniciativa da Polícia Federal de tomar depoimentos simultâneos de oito pessoas para detectar possíveis contradições na investigação sobre a suposta venda ilegal de presentes de governos estrangeiros ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) revelou as diferentes estratégias de investigados. Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle exerceram o direito ao silêncio, assim como o advogado Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. O ex-ajudante de ordens Mauro Cid – o único que está preso – optou por responder as perguntas dos agentes federais.

O argumento usado pelo casal Bolsonaro para se manter em silêncio é que o Supremo Tribunal Federal (STF), que acompanha as investigações da PF e autoriza operações, quebras de sigilo e buscas, não seria competente para o caso. A defesa afirma que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou pelo “declínio da competência” sobre o caso, remetendo os autos para a 6ª Vara Federal de Guarulhos.

Os advogados defendem que o caso deveria estar na primeira instância, por causa do término do mandato presidencial e, consequentemente, da perda do foro privilegiado. A Vara Federal local, porém, enviou o caso para o STF, por ter conexão com a investigação mais ampla conduzida pela PF em Brasília.

Além de Michelle, Bolsonaro, Wajngarten e Cid, a Polícia Federal intimou para depor nesta quinta-feira, 31, o advogado Frederick Wassef, Mauro Cesar Lourenna Cid (pai do ajudante de ordens), Osmar Crivelatti e Marcelo Câmara.

Wassef informou que não se manifestaria sobre o depoimento, uma vez que as investigações estão sob segredo de Justiça. Em nota publicada em rede social, Michelle Bolsonaro afirmou que não pode se “submeter a prestar depoimento em local impróprio”, referindo-se à competência do STF sobre o caso. Mauro Cid, por sua vez, já prestou depoimento por mais de nove horas.

•        ‘Narrativa’

Professores e advogados ouvidos pelo Estadão destacaram que o silêncio é um direito constitucional, mas pode virar uma “faca de dois gumes” quando os outros suspeitos se pronunciam, como ocorreu ontem. “Depoimentos de inquérito não têm valor como prova, mas o problema para os dois é o que os demais falarem. Fica o silêncio deles contra uma narrativa, que pode ou não ser incriminatória”, afirmou Mauricio Dieter, professor de Criminologia e Direito Penal da USP.

O depoimento em fase de inquérito é considerado uma oportunidade para o suspeito dar a sua versão. “Permite que a autoridade policial construa a sua própria narrativa, permite que a polícia faça suas próprias ilações”, disse.

O silêncio em depoimentos prestados na fase de inquérito é um gesto bastante comum, sobretudo quando o investigado ainda não tem acesso a tudo o que foi produzido dentro daquela investigação.

“É uma forma de se resguardar, esperar uma eventual denúncia, e falar só quando estiver diante de um juiz”, afirmou Raquel Scalcon, professora de Direito da FGV-SP. “Existem duas situações no processo criminal (…) O investigado tem direito ao silêncio. A testemunha tem o dever de falar a verdade.”

No caso das joias, Bolsonaro e Michelle são investigados. “Assim como eles têm a possibilidade de contar a sua versão dos fatos e ficar em silêncio, se quiserem podem até mentir”, disse a professora.

 

       Bolsonaro e Aras planejaram afundar juntos

 

Em uma nova mudança de estratégia da defesa, Jair e Michelle Bolsonaro optaram pelo silêncio em seus depoimentos na Polícia Federal, nesta quinta-feira, e aderiram à tese defendida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

O casal e outros assessores do ex-presidente que se mantiveram calados e usaram o argumento sustentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), de que o Supremo Tribunal Federal (STF) não teria prerrogativa para tocar o processo. Bolsonaro e Michelle afirmam que só falarão se o caso for transferido à 6ª Vara Federal de Guarulhos, em São Paulo.

Em entrevista ao site “Metrópoles” concedida nesta quarta-feira, Aras defendeu que, em tese, Bolsonaro não deveria ser julgado no STF porque o capitão já não tem prerrogativa de foro, por ter deixado a Presidência. Disso ainda que o plenário do STF poderia rever a condução dos casos pelo ministro Alexandre de Moraes.

O fato é que Aras está isolado. A maioria dos ministros da corte avalia que as investigações devem seguir no Supremo. A própria 6ª Vara Federal de Guarulhos, atendendo a um pedido do Ministério Público, remeteu os autos a Moraes, neste mês, após a deflagração da operação que revelou a venda e recompra de joias que Bolsonaro ganhou, reconhecendo a competência do STF.

 

       Ex-juiz federal, Dino mata a charada sobre silêncio de Bolsonaro diante da PF

 

O ministro da Justiça, Flávio Dino, que antes de entrar para a política atuou por anos como juiz federal, evocou sua experiência como magistrado para interpretar o ato de Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e assessores envolvidos no escândalo das joias de ficarem em silêncio durante depoimento à Polícia Federal (PF), nesta quinta-feira (31).

Além de Jair e Michelle, foram intimados a prestar depoimentos simultâneos à PF nesta quinta-feira Mauro Cid (tenente-coronel, ex-ajudante de ordens, que está preso), Mauro César Lourena Cid (pai de do tenente-coronel), Frederick Wassef (advogado de Bolsonaro), Fabio Wajngarten (advogado de Bolsonaro) e Osmar Crivelatti (assessor de Bolsonaro).

Apenas Mauro Cid e Mauro Lourena Cid falaram em seus depoimentos, enquanto os demais investigados seguiram a estratégia de Jair e Michelle de ficarem calados. Trata-se de uma manobra jurídica do ex-presidente e seus aliados, que questionam o fato da investigação tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF) e não na primeira instância.

Ao comentar o caso, Flávio Dino matou a charada. Segundo o ministro, quando investigados decidem ficar em silêncio diante de interrogatórios, é pelo fato de que falar poderia piorar a situação.

"Fui juiz federal por 12 anos. E sempre dizia aos acusados: o interrogatório é um momento precioso para a autodefesa. Poucos abriam mão desse direito. E quando o faziam, era em razão da avaliação deles de que falar era pior do que calar. A experiência sempre ensina muito", escreveu Dino em seus perfis nas redes sociais.

•        Silêncio de Bolsonaro

Advogados de Jair e de Michelle Bolsonaro realizaram um conluio e, em manobra jurídica, apresentaram uma justificativa para que o ex-presidente e a ex-primeira-dama ficassem em silêncio no depoimento simultâneo realizado nesta quinta-feira (31) na sede da Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

Os advogados de Fabio Wajngarten, advogado de Bolsonaro e ex-secretário de Comunicação da Presidência, e do militar Marcelo Câmara, também usaram a mesma estratégia para que os dois também ficassem em silêncio.

Já o tenente-coronel Mauro Cid, e o pai, o general Mauro Lourena Cid, decidiram falar e prestaram depoimentos longos.

Em três notas divulgadas após a chegada dos depoentes à PF, que marcou a oitiva para as 11h, os advogados questionam o fato da investigação tramitar no Supremo Tribunal Federal (STF) e não na primeira instância.

"Assim, considerando o respeito às garantias processuais, a observância ao princípio do juiz natural, colorário imediato do devido processo legal, os peticionários optam, a partir deste momento, por não prestar depoimento ou fornecer declarações adicionais até que estejam diante de um juiz natural competente", dizem Paulo Amador Bueno e Daniel Tesser, que defendem Jair Bolsonaro e Michelle.

A manobra jurídica usa um parecer rejeita da Procuradoria-Geral da República (PGR), que defendia que o caso tramitasse na 6ª Vara Federal de Guarulhos (SP) – onde havia uma apuração ligada às joias dadas pela Arábia Saudita e retidas no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

Em clara provocação, os advogados ignoram que no início do mês, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu anexar apuração ao inquérito das fake news.

Segundo Moraes, a investigação revelou "fortes indícios de desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao Presidente da República ou agentes públicos a seu serviço, e posterior ocultação da origem, localização e propriedade dos valores provenientes".

 

Ø  Gleisi diz que Michelle e Bolsonaro estão com medo: "Quem não deve, se defende"

 

A presidenta nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) declarou na manhã desta sexta-feira (1) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle ficaram em silêncio durante depoimento à Polícia Federal porque "estão com medo".

Para Gleisi, "quem não deve, se defende". "Essa história de que Bolsonaro e Michelle se calaram no depoimento é coisa de quem tem medo. Quem não deve, se defende a todo custo. Mas não vai adiantar, pelo que soubemos a PF tem muitas provas, conversas, e-mails, o celular do Wassef, o celular e a confissão do Mauro Cid", afirmou Gleisi.

Em seguida, a presidenta nacional do PT também afirma que outros escândalos devem aparecer. "Já há, inclusive, informações de que o esquema supera o contrabando de joias e vai na direção da negociação de imóveis nos EUA", escreveu Gleisi Hoffmann em seu perfil no Twitter.

Além disso, Gleisi Hoffmann afirma que "o contrabando foi grande". "E agora a gente fica sabendo que mais e mais joias foram desviadas, recompradas e outras guardadas pelo inelegível. O contrabando foi grande", finaliza.

 

       Bolsonaro recebeu 18 presentes caros, diz PF

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu 18 presentes caros, dos quais cinco estariam em uma propriedade do bicampeão mundial de Fórmula 1 Nelson Piquet, segundo a Polícia Federal (PF).

Bolsonaro ganhou 9.158 presentes durante seu mandato, 18 dos quais são de “alto valor”, diz um relatório de mais de 1,9 mil páginas divulgado pelo Jornal Nacional na noite desta quinta-feira (31).

O documento foi anexado ao inquérito que investiga Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) no caso das joias presentadas por governos estrangeiros.

O casal foi interrogado simultaneamente pela PF em Brasília na quinta, mas se manteve em silêncio.

Dos 18 presentes caros citados pela Polícia Federal, 10 foram devolvidos ao erário público por Bolsonaro após uma determinação do Tribunal de Contas da União.

No entanto, cinco itens, entre eles um relógio com diamantes presenteado pelos Emirados Árabes, “estariam guardados em uma fazenda de Nelson Piquet em Brasília”, segundo o relatório, elaborado com base em dados do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência e em ligações do ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

No relatório, a PF afirma que parte dos 18 itens caros foi vendida por Cid nos Estados Unidos.

 

Fonte: g1/Agencia Estado/Fórum/Ansa

 

Nenhum comentário: