segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Milicianos ameaçam e cobram taxas de empresas de energia solar na Região Metropolitana do Rio

Com alto índice de insolação, geografia plana e disponibilidade de conexão com a rede, a Região Metropolitana do Rio, incluindo cidades como Seropédica e Itaguaí, é bastante atraente para a implantação de fazendas solares. O local se torna ainda mais sedutor para empresas do mercado fotovoltaico porque o estado, além de ter uma tarifa de energia elétrica alta, oferece incentivos fiscais para renováveis. Um componente típico do ecossistema fluminense, entretanto, tem afastado as companhias dali: a presença da milícia.

O GLOBO ouviu funcionários de companhias do segmento, que estiveram à frente de projetos de instalação de usinas, e os relatos sobre a dinâmica das milícias na região são semelhantes. Em condição de anonimato, eles contam que é inviável empreender ali sem pagar uma mensalidade aos criminosos em troca da “segurança” no local. Além dessa cobrança, os milicianos exigem a contratação de serviços de suas próprias empresas ou das indicadas por eles — desde a alimentação dos encarregados da obra até máquinas para terraplenagem e diárias de drone. A abordagem, em geral, começa de forma mais sutil, passa pela intimidação com homens armados até chegar a ameaças e crimes com crueldade.

O engenheiro Pedro (nome fictício), de 32 anos, esteve à frente da implantação de uma fazenda em Seropédica em 2019. Os problemas começaram logo na primeira etapa do projeto, durante a prospecção de terrenos para arrendar e erguer a usina. Um analista fundiário terceirizado, que circulava pelas fazendas em busca da área, recebeu uma mensagem pelo WhatsApp questionando os motivos pelos quais estava ali. Em determinado trecho, o emissário alertava: “Imagino que você seja de fora e não conheça os costumes da região”.

— Se analisar friamente, não era nada muito crítico, parecia uma preocupação de quem mora na zona rural. Naquele momento, não levantei nenhuma bandeira, achei que era mais pelo jeito bronco desse analista — conta Pedro, que então viajou para Seropédica para assumir a missão.

•        Mensalidade de R$ 15 mil

Doutor em sociologia e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Cláudio Souza Alves conta que os milicianos chegaram à região em meados de 2014. Alves mora em Seropédica há dez anos e é um dos precursores nos estudos sobre o tema. Há 20 anos, seu livro “Dos Barões ao extermínio” descortinou a origem das milícias na Baixada Fluminense. Para ele, a milícia atual é a grande articuladora da estrutura política daquelas cidades, participando de contratos, licitações e financiamentos de terceirizados.

Nenhum pedido de propina foi aceito pela empresa, uma multinacional com normas de governança corporativa, mas a obra avançou mesmo assim porque o dono do terreno cobrou mais do que o negociado antes, “provavelmente para arcar com essas despesas”, segundo Pedro. Quando a empreiteira subcontratada deu início à construção, homens num tom relativamente pacífico, mas com armas aparentes na cintura, chegaram ao canteiro para comunicar que uma mensalidade de R$ 15 mil teria de ser paga, por se tratar de “uma zona rural, perigosa”.

Bruno Paes Manso, doutor em Ciência Política e autor do livro “A República das Milícias”, explica que o comportamento é característico das milícias, que se valem do controle territorial para extrair o máximo de receitas ilegais, com a conivência das autoridades e de grupos políticos.

— Isso é feito no fio do bigode, na informalidade, sem um contrato formal de segurança, mas uma extorsão. Eles cobram segurança contra eles próprios. E dizem: “Você me paga para eu não te atrapalhar”. É um tipo de chantagem. Além da cobrança por proteção, tem a lei do silêncio. Se alguém denunciar, corre o risco de morrer nos territórios — afirma Manso.

•        Até a quentinha

Pedro conta que, na terceira semana após o começo da obra, uma mulher contratada para fornecer as refeições dos encarregados chegou “desesperada” ao canteiro. A milícia havia batido em sua porta e a proibido de trabalhar. A alimentação, a partir daquele momento, deveria ser fornecida por uma empresa indicada por eles. A construção seguiu assim, com praticamente todos os serviços subcontratados de empresas de milicianos ou de pessoas indicadas por eles, diz Pedro.

A obra acabou atrasando e, no primeiro mês que a empreiteira não pagou a tal mensalidade, a usina foi invadida. As três mil placas solares tiveram seus cabos de conexão cortados, um prejuízo de cerca de R$ 1,8 milhão.

— Eles foram cirúrgicos, sabiam o que estavam fazendo. Não dava para emendar. As placas não serviam para mais nada — explica Pedro.

O último incidente ocorreu quando uma funcionária da empresa foi até a obra para fazer imagens aéreas da usina já pronta. Ao subir um drone, um carro em alta velocidade avançou pelo terreno. O condutor ordenou que parasse e indicou quem deveria fazer as imagens. Na ocasião, a empresa contratou uma equipe de segurança corporativa para acompanhar Pedro até a fazenda solar. Ele se demitiu da companhia na sequência, principalmente pelo estresse de trabalhar na região, e hoje está em outro grupo.

— É uma situação triste. A usina solar traz muito investimento para onde chega, contrata mão de obra local, maquinário, alimentação, hospedagem. Faria bastante diferença ali, que é uma região pobre. Toda oportunidade para a população, os milicianos tiram — lamenta.

A empresa não registrou nenhuma dessas ameaças à polícia.

 

       Com altas temperaturas, demanda por energia deve bater recorde para meses de setembro

 

Em meio à onda de calor registrada no país, o Operador Nacional do Sistema (ONS) estimou nesta semana que a demanda por energia elétrica deve bater recorde para meses de setembro.

Além das altas temperaturas, que impulsionam por exemplo o uso de ar condicionado, o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, avaliou que a aceleração da economia também tem influenciado a demanda por energia em setembro.

A primavera começou na madrugada deste sábado (23), e deve seguir a tendência de muito calor das últimas semanas. A previsão aponta para novos recordes de temperatura neste primeiro fim de semana da nova estação, o que tende a manter em alta a demanda por energia.

Apesar disso, a área técnica do Ministério de Minas e Energia avaliou não ser necessário retomar em 2023 o horário de verão - que está suspenso desde 2019. A avaliação é que a situação dos reservatórios e a oferta de fontes renováveis são suficientes para garantir o fornecimento de energia. A decisão final sobre uma eventual retomada, no entanto, não cabe à pasta.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo o retorno do horário de verão. Segundo a entidade, o horário de verão gera impacto direto no faturamento dos bares e restaurantes, com alta estimada de 10% a 15%.

•        Altas temperaturas

Neste domingo (24), doze capitais devem ter temperaturas acima de 35ºC, segundo dia da primavera no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em Cuiabá, a temperatura pode bater 42ºC. Já em Campo Grande e em Palmas, os termômetros podem marcar 39ºC.

A onda de calor atípico começou na segunda-feira (17), últimos dias de inverno. O aumento da intensidade da onda de calor que tem resultado em temperaturas acima da média para 11 estados e o Distrito Federal fez o Inmet ampliar o alerta de "grande perigo".

De modo geral, um alerta vermelho, segundo o instituto, é emitido quando é esperado um fenômeno meteorológico de "intensidade excepcional, com grande probabilidade de ocorrência de grandes danos e acidentes, com riscos para a integridade física ou mesmo à vida humana". O alerta é válido até as 18h de terça (26).

>>> Bloqueio atmosférico

Tecnicamente, os meteorologistas dizem que há um "bloqueio atmosférico" em atuação: uma área de alta pressão no centro do país que está ganhando força e que impede a entrada das massas de ar frio.

Mas bloqueios atmosféricos são comuns. O que faz o atual virar motivo de preocupação são os fatores listados abaixo:

•        El Niño atípico: o fenômeno que está mais intenso neste ano: ele aquece as águas do Oceano Pacífico e freia a atuação de frentes frias no Brasil; ele dá força para o bloqueio atmosférico;

•        Aquecimento global: especialistas afirmam que a queima de combustíveis fósseis torna eventos extremos (ciclones, enchentes e etc.) mais prováveis, e que ondas de calor recentes na Europa teriam sido praticamente impossíveis sem as mudanças climáticas;

•        Setembro: é naturalmente um mês de altas temperaturas no centro do Brasil devido à combinação do final do período seco e ao aumento da radiação solar.

>>> Economia aquecida

Na semana passada, os economistas do mercado financeiro elevaram a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) desse ano de 2,64% para 2,89%.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. O indicador serve para medir a evolução da economia.

A previsão de um crescimento maior da economia acontece após o anúncio de que o PIB do segundo trimestre deste ano teve alta de 0,9%, resultado que foi três vezes maior do que o esperado.

"As considerações do cenário econômico recente, associadas às informações meteorológicas do período são fatores que explicam o comportamento da carga durante o mês de setembro de 2023", informou o ONS, em relatório.

•        Rio tem queda de energia

Uma ocorrência na rede de Furnas deixou vários bairros do Rio de Janeiro sem energia elétrica no final da tarde deste sábado (23).

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirmou que houve, às 17h24, um desligamento de todo o setor de 500 kV da Subestação Grajaú. A ocorrência resultou na interrupção de 380 MW de carga, afetando bairros da cidade do Rio de Janeiro.

Furnas explicou que houve uma contingência dupla com desligamento das linhas de transmissão de 500 kV Adrianópolis-Grajaú e Grajaú-Nova Iguaçu, afetando a Subestação Grajaú.

Às 18h09 a carga foi totalmente restabelecida e todos os equipamentos estavam normalizados. O ONS afirmou que vai avaliar as causas da ocorrência.

Por volta das 18h20, a Light avisou que a energia tinha sido restabelecida, após autorização do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

O apresentador Edimilson Ávila registrava a falta de luz em um ponto da Lagoa Rodrigo de Freitas no momento exato em que a energia foi restabelecida. O vídeo mostra quando todas as luzes se acendem ao mesmo tempo (ASSISTA ABAIXO).

>>> O que dizem os envolvidos

•        Nota de Furnas

“A Eletrobras informa que ontem (23/09), às 17h24, houve uma contingência dupla com desligamento das linhas de transmissão de 500 kV Adrianópolis-Grajaú e Grajaú-Nova Iguaçu, afetando a Subestação Grajaú, da Eletrobras Furnas. A normalização do sistema para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) ocorreu às 17h45min e a empresa está apurando as causas da ocorrência.

A subestação alimenta as regiões Norte, Sul e Centro da cidade do Rio de Janeiro. A perda dupla levou à atuação de uma proteção sistêmica, desligando duas linhas de transmissão de 138 kV responsáveis pelo atendimento de parte da carga da cidade do Rio de Janeiro, produzindo um corte de carga de cerca de 350 MW.”

•        Nota do ONS

“O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirma que houve, às 17h24, um desligamento de todo o setor de 500 kV da Subestação Grajaú. A ocorrência resultou na interrupção de 380 MW de carga, afetando bairros da cidade do Rio de Janeiro. Às 18h09 a carga foi totalmente restabelecida e todos os equipamentos estavam normalizados. O ONS e o agente irão avaliar as causas da ocorrência.”

 

       Setor de bares e restaurantes pede o retorno do horário de verão

 

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) informou que enviou nesta sexta-feira (22) uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo o retorno do horário de verão, que está suspenso por decreto desde 2019.

O documento também foi enviado ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e ao ministro do Turismo, Celso Sabino.

•        Horário de Verão deve voltar?

Segundo a entidade, o horário de verão gera impacto direto no faturamento dos bares e restaurantes, com alta estimada de 10% a 15%.

"No momento em que o setor ainda se recupera dos prejuízos causados pela pandemia, a implementação da medida beneficiaria um setor que gera renda direta para mais de 7 milhões de brasileiros e tem cerca de 1,5 milhão de empreendimentos no país", acrescentou a Abrasel.

A Abrasel argumenta também que a medida "movimentará a economia, principalmente no comércio e no turismo, uma vez que os turistas tendem a aproveitar melhor os destinos, estendendo suas atividades até mais tarde".

 “O retorno do horário de verão proporcionaria mais tempo de luz natural durante os dias, o que favorece o consumo e a frequência de clientes nos estabelecimentos, além de trazer mais movimento e segurança às cidades de um modo geral”, avaliou Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.

O horário de verão foi instituído pela primeira vez em 1931, no governo de Getúlio Vargas. Mas só passou a ser adotado com constância a partir de 1985.

A medida foi criada para aproveitar a iluminação natural durante o verão, quando os dias são mais longos e as noites mais curtas. Dessa forma, haveria economia de energia e redução do risco de apagões.

•        Posição do Ministério de Minas e Energia

Nesta semana, a área técnica do Ministério de Minas e Energia avaliou não ser necessário retomar em 2023 o horário de verão. A decisão final sobre uma eventual retomada, no entanto, não cabe à pasta.

A avaliação é que a situação dos reservatórios e a oferta de fontes renováveis são suficientes para garantir o fornecimento de energia. Além disso, entendem que o comportamento de consumo mudou ao longo do tempo, tornando a medida menos eficaz.

De acordo com dados do Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), os níveis dos reservatórios das hidrelétricas devem chegar ao fim deste mês acima de 70% no Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte.

"É importante ressaltar que o período tipicamente seco está próximo do seu encerramento, o que torna os resultados de EAR [energia armazenada na forma de água nos reservatórios] mais relevantes", informou o ONS, nesta semana.

•        Suspensão no governo Bolsonaro

Em 2019, no governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL), o horário de verão foi suspenso. A medida já era avaliada no governo de Michel Temer (MDB ).

Na ocasião, o governo afirmou que o adiantamento dos relógios em uma hora perdeu "razão de ser aplicado sob o ponto de vista do setor elétrico", por conta de mudanças no padrão de consumo de energia e de avanços tecnológicos, que alteraram o pico de consumo de energia.

A suspensão do horário de verão resistiu inclusive à crise hídrica de 2021. Na época, o governo chegou a estudar a retomada da política, solicitando um parecer do ONS.

 

Fonte: O Globo

 

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