'Discurso anti-Rússia' ofusca história da 2ª Guerra Mundial e leva à
'travessura' nazista do Canadá
O discurso nos EUA e em algumas outras nações
ocidentais se tornou tão carregado de russofobia que, junto ao apagamento do
feito heroico do povo soviético para derrotar o nazismo na Segunda Guerra
Mundial, "uma farsa" como o escândalo nazista no Canadá foi
permitido, disse o jornalista independente e analista político Caleb Maupin à
Sputnik.
À medida que o escândalo continua a girar em torno
da decisão do Parlamento canadense de homenagear o veterano ucraniano da Waffen
SS, Yaroslav Hunka, o analista político Caleb Maupin lembrou que os
nacionalistas ucranianos sempre tiveram uma "tolerância" para com os
nazistas.
Yaroslav Hunka, um veterano nazista ucraniano de 98
anos que lutou nas fileiras da 14ª Divisão de Granadeiros Waffen da SS alemã
nazista na Galícia durante a Segunda Guerra Mundial, foi aplaudido de pé por
toda a legislatura canadense enquanto o presidente da Câmara dos Comuns,
Anthony Rota, fazia comentários introdutórios antes do discurso do presidente
ucraniano Vladimir Zelensky ao Parlamento do país.
Desde então, tem havido fortes apelos à
responsabilização vindos do líder da oposição do Canadá, da Polônia, de grupos
judaicos, da Rússia e das Nações Unidas. O embaixador da Rússia no Canadá, Oleg
Stepanov, disse à Sputnik que solicitaria explicações ao Ministério das
Relações Exteriores canadense e ao gabinete do primeiro-ministro em relação ao
incidente.
"Os cidadãos deste país devem mais uma vez
pensar sobre quem os seus líderes glorificam e que tipo de junta apoiam na
Ucrânia. A Rússia condena qualquer forma de glorificação do nazismo. E a Rússia
sempre se lembrará do heroísmo dos filhos e filhas canadenses que lutaram lado
a lado conosco para libertar o mundo da peste nazista", disse a embaixada
da Rússia na segunda-feira (25).
Este "sentimento pró-Hitler", como
evidenciado pelo recente escândalo envolvendo a glorificação de um veterano de
guerra nazista no Parlamento do Canadá, "não é novidade", refletiu
Caleb Maupin.
Relembrando seus anos de organização política em
Cleveland, Ohio, e, especificamente, nos subúrbios do lado oeste de Cleveland,
Parma Heights, disse:
"Sabe, há muitas pessoas do Leste Europeu lá.
Existe uma comunidade ucraniana muito forte. E, você sabe, em algum momento da
década de 1990, acho que eles descobriram um verdadeiro criminoso de guerra
nazista que estava lá e que havia sido guarda de um campo de concentração. E
houve uma espécie de escândalo na mídia local de que aquele homem muito velho
que havia sido guarda de um campo de concentração e cometeu muitas atrocidades
estava lá. Mas uma coisa que notei, e isso foi há anos, anos antes do golpe de
2014 e tudo isso, foi que havia uma queda pelos nazistas entre os nacionalistas
ucranianos", afirmou.
Caleb Maupin lembrou as muitas discussões que teve
com os ucranianos-americanos, que começariam com ele defendendo o legado da
União Soviética.
"E eles insistiriam que 'a União Soviética era
pior que Hitler, pior que os nazistas'. E à medida que a discussão progredia,
eles começavam a dizer coisas como 'o Holocausto não aconteceu realmente'. Eles
começavam a dizer coisas como 'bem, Hitler estava apenas tentando proteger o
povo ucraniano de Stalin'", disse o analista.
Tais argumentos deixaram o especialista
"frustrado", pois parecia haver "este ponto cego e esta
tolerância para com isso [nazismo] entre os ucranianos-americanos".
"As pessoas diriam 'bem, eles viveram sob o
comunismo e o comunismo é tão ruim que ser nazista é um erro compreensível.' E
eu diria 'não, não é um erro compreensível'. Quero dizer, todos conhecemos os
crimes dos nazistas e, especialmente no Leste Europeu, os crimes que cometeram
durante aquela guerra foram absolutamente horríveis", salientou Caleb
Maupin.
O especialista então opinou sobre os bilhões de
dólares em assistência que a administração Biden está enviando para alimentar a
guerra por procuração da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)
contra a Rússia na Ucrânia.
"Então, agora chegamos ao ponto em que os
Estados Unidos estão a despejar tanto dinheiro na Ucrânia e apenas a tentar
prolongar esta guerra, e agora temos um verdadeiro combatente nazista, um tipo
que lutou contra a União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Agora, de que
lado isso o coloca? Não deveria ser muito difícil de perceber, mas o discurso
nos Estados Unidos se tornou tão antirrusso e houve um enorme apagamento do
ativismo heroico do povo soviético e dos comunistas em todo o mundo para
derrotar o fascismo, que isso aconteceu", disse Caleb Maupin.
A "farsa" de um veterano nazista
ucraniano sendo convidado e homenageado no Parlamento canadense é o resultado
de um "esforço concertado para ofuscar a história real da Segunda Guerra
Mundial e quem estava de que lado", esclareceu Maupin.
Os comunistas "na maior parte do mundo
ocidental" tinham uma "reputação muito boa depois da Segunda Guerra
Mundial", sublinhou o especialista, porque "eles tinham estado muito
claramente do lado certo". Ele enfatizou que, "a partir da década de
1950 com o Programa do Congresso pela Liberdade Cultural, que era um programa
da CIA para mudar o discurso político e o diálogo acadêmico, começou a haver um
esforço para alterar a narrativa histórica e tentar equacionar a União
Soviética com os nazistas. E para fazer isso, eles tiveram que redefinir o que
era o fascismo".
"[...] fizemos este grande esforço ideológico
não para realmente explicar a base econômica do fascismo e o que o fascismo
realmente é, mas para fazer do fascismo apenas uma espécie de sinônimo de algum
tipo de movimento político fanático, algum tipo de sociedade onde as pessoas
estão sendo mobilizadas para levar a cabo definir um objetivo e depois, nessa
linguagem, equiparar a União Soviética aos nazistas e eles fazem isso há
décadas", ressaltou Maupin.
O fato de ter sido desprendido um esforço tão
grande para "igualar a União Soviética e o comunismo realmente existente
com o nazismo na mente do público" foi um desserviço ao registro histórico
real, destacou o analista. No entanto, para todos aqueles que promovem esta
narrativa, Caleb Maupin notou um fato indiscutível.
"Podemos ter críticas, podemos discordar, mas
temos de admitir que houve dois lados na Segunda Guerra Mundial [...]. Um lado
estava certo e um lado estava errado, e o lado certo venceu. E a União
Soviética, e Roosevelt e a América estavam do lado certo."
<><> Presidente da Câmara do Canadá
anuncia renúncia após escândalo da homenagem a soldado nazista
O presidente da Câmara dos Comuns do Canadá,
Anthony Rota, anunciou nesta terça-feira (26) que renunciará ao cargo após o
escândalo sobre o convite e reconhecimento pelo Parlamento do ucraniano
Yaroslav Hunka, um soldado nazista da Segunda Guerra Mundial.
"É com grande pesar que informo os membros [da
casa legislativa] da minha renúncia como presidente da Câmara dos Comuns",
disse o parlamentar.
Na última sexta-feira (22), Yaroslav Hunka, de 98
anos, recebeu aplausos na Câmara canadense pela sua atuação na Primeira Divisão
Ucraniana, também conhecida como Divisão Galícia. Na verdade essas tropas
atuavam em conjunto com a SS, exército paramilitar do Partido Nazista de Adolf
Hitler (1889–1945).
O caso se tornou um escândalo mundial. A
Organização das Nações Unidas (ONU) rechaçou a homenagem prestada pelos
parlamentares canadenses ao veterano nazista.
Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a divisão
foi incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS e foi organizada
exclusivamente para combater soviéticos. Composta por voluntários, muitos eram
admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano
durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados úteis para
tentar conquistar autonomia ante Moscou. Essa divisão foi acusada de praticar
diversos crimes de guerra.
O ato foi mal visto pela comunidade internacional e
canadense, com países como Rússia, Polônia e Israel exigindo retratações.
Antes de sua renúncia, o agora ex-presidente da
Câmara dos Comuns chegou a emitir um pedido de desculpas, dizendo ser o único
responsável pela homenagem e que, sob a luz das novas informações, se arrepende
de suas ações.
Imprensa, ativistas e líderes mundiais também
solicitaram um pedido de desculpas formal do primeiro-ministro do Canadá, Justin
Trudeau, que estava presente na sessão e também aplaudiu o soldado nazista. O
político, no entanto, afirmou que a decisão de homenagear Hunka foi
inteiramente de Rota, e que o pedido de desculpas do legislador foi "a
coisa certa a se fazer".
Trudeau também tentou imputar sua participação no
evento a uma suposta "propaganda russa".
O empresário americano Elon Musk rebateu a fala do
político canadense na rede social X (antigo Twitter).
"Não quero chocar ninguém, mas há uma
possibilidade de que nem tudo seja desinformação russa", escreveu Musk.
Maria Zakharova, representante oficial do
Ministério das Relações Exteriores da Rússia, comentou a renúncia de Rota.
Segundo ela, o chefe do Legislativo foi
"transformado em bode expiatório, deixando Trudeau e seus associados,
entre os quais, devo lembrar, são descendentes de colaboradores do Exército
insurgente ucraniano, a salvo das repercussões do caso. Pelos slogans nazistas
'Glória à Ucrânia', que saudaram Zelensky, ninguém se desculpou".
Zakharova também expressou a confiança de que
"o mesmo futuro deplorável aguarda todos aqueles que apoiam [as
organizações nazistas] 'Irmãos da Floresta', 'Galícia', as procissões de
tochas, os 'Banderitas' e outras escórias nazistas em todo o mundo".
Ø Reação dos EUA ao escândalo da glorificação de nazista no Canadá é
cínica, diz embaixador russo
A reação "indistinta" do porta-voz do
Departamento de Estado dos EUA Matthew Miller relativamente à presença do
nazista Yaroslav Hunka no Parlamento do Canadá parece particularmente cínica,
dado o suposto foco da administração dos EUA nos direitos humanos e na luta
contra o antissemitismo, disse o embaixador russo nos EUA Anatoly Antonov.
Miller disse anteriormente que não tem informações
sobre o escândalo em torno da glorificação do ex-membro de uma divisão SS
nazista porque estava ocupado nos eventos da ONU.
"A reação indistinta do porta-voz do
Departamento de Estado ao aparecimento de um membro da SS no mais alto órgão
legislativo de um dos aliados mais próximos dos EUA parece particularmente
cínica dada a alegada atenção elevada da administração ao tema dos direitos
humanos e à luta contra o antissemitismo", escreveu Antonov no canal de
Telegram da embaixada da Rússia nos EUA.
"A recusa em condenar atitudes neonazistas no
Parlamento canadense é uma profanação da memória de milhões de pessoas que
morreram durante a Segunda Guerra Mundial. É uma traição à memória dos soldados
e oficiais norte-americanos que perderam suas vidas pela independência dos
EUA", acrescentou o diplomata russo.
O embaixador destacou que a falta de vontade de
Washington em criticar um incidente ultrajante expõe a atitude real das
autoridades dos EUA em relação ao trágico legado do século XX, e também mostra
que aqui estão prontos para apoiar aqueles que com seus crimes passados
inspiram a atual "escória neonazista" em Kiev para lutar contra o seu
próprio povo e destruir tudo o que é russo.
Antonov concluiu que é inadmissível reescrever a
história da Segunda Guerra Mundial e que a "peste marrom [o nazismo] deve
ser parada". Isto é o que as Forças Armadas da Rússia estão fazendo no
âmbito da operação militar especial, observou o embaixador.
Ø Ministro da Polônia pede extradição de soldado nazista homenageado no
Canadá
O ministro da Educação da Polônia, Przemyslaw
Czarnek, fez um apelo ao presidente do país para que peça a extradição de
Yaroslav Hunka, ucraniano veterano do Exército nazista que foi ovacionado no
Parlamento canadense na última semana.
"Apelo ao Presidente [Andrzej Duda] para que
examine imediatamente os documentos para determinar se Yaroslav Hunka é
procurado por crimes contra a nação polaca e judeus polacos", afirmou
Czarnek em uma carta aberta publicada no X, antigo Twitter.
"As características de tais crimes constituem
a base para solicitar a sua extradição do Canadá."
Hunka foi aplaudido na Câmara dos Comuns do país
norte-americano, tendo sido também chamado de "herói ucraniano e
canadense".
O veterano atuou na Primeira Divisão Ucraniana ou
14ª Divisão de Granadeiros da SS, também conhecida como Divisão Galícia por
contar com muitos voluntários dessa região da Ucrânia.
Segundo a comunidade judia Amigos do Centro Simon
Wiesenthal (que estuda o Holocausto), "não há dúvidas" que a 14ª
Divisão de Granadeiros da SS, na qual participou Hunka, foi responsável por matar
civis "com um nível de brutalidade e rancor inimagináveis".
A divisão era composta por voluntários, dos quais
muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista
ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial. Outros viam nos nazistas aliados na
conquista de autonomia perante Moscou.
Na tarde desta terça-feira (26), o presidente da
Câmara dos Comuns do Canadá, Anthony Rota, anunciou a renúncia do cargo após o
escândalo ganhar proporção mundial.
Hunka pode ter se reunido pessoalmente com Justin
Trudeau e Zelensky
Em uma imagem publicada no Facebook, rede social
pertencente à Meta (cujas atividades são proibidas na Rússia por serem
consideradas extremistas), a nora de Yaroslav afirmou:
"Dedo [avô] está esperando na sala de recepção
por Trudeau e Zelensky". Ainda não é claro se no momento em que a imagem
foi veiculada Hunka já havia sido ovacionado pelo Parlamento. A introdução de
Hunka foi feita pelo agora ex-presidente Anthony Rota.
O próprio Trudeau afirmou que a celebração de Hunka
foi "extremamente perturbadora" e "profundamente embaraçosa para
o Parlamento do Canadá e, por extensão, para todos os canadenses".
Ele não mencionou qualquer encontro pessoal com o
veterano da SS, mas apelou a uma "resistência à propaganda russa".
·
Ministério das Relações Exteriores russo se
pronuncia
O ministério das Relações Exteriores russo
classificou a homenagem a Hunka como "a melhor maneira de caracterizar o
regime do primeiro-ministro Justin Trudeau, que abraçou a russofobia
desenfreada".
"Os colaboradores ucranianos que serviram aos
nazis escaparam da responsabilização pelo genocídio nos territórios ocupados da
União Soviética e da Europa para receber abrigo no Canadá após a Grande Guerra
pela Pátria", disse a pasta, em comunicado divulgado hoje (26).
O texto acrescenta que "não é por acaso que
existem monumentos aos líderes do nacionalismo ucraniano no país" e que a
esmagadora maioria dos nazistas que receberam asilo, como Yaroslav Hunka,
"estão vivendo os seus dias em segurança, honrados e cuidados como
combatentes do comunismo russo".
"Por mais que certos membros do Parlamento
canadense tentem pedir desculpa retrospectivamente depois de receberem uma
tempestade de indignação da comunidade judaica e até mesmo do aliado de Ottawa,
a Polônia, o fato é que a ideologia ultraliberal propagada no Canadá e permeada
de ódio pela Rússia, a sua cultura, valores religiosos e tradicionais, têm
essencialmente as mesmas raízes do nazismo", prossegue o documento.
"Esperamos que forças saudáveis na sociedade canadense se pronunciem contra a nazificação da história e
da vida cotidiana, encorajadas pelas autoridades do país, juntamente com a
russofobia desenfreada."
Fonte: Sputnik Brasil
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