quarta-feira, 27 de setembro de 2023

'Discurso anti-Rússia' ofusca história da 2ª Guerra Mundial e leva à 'travessura' nazista do Canadá

O discurso nos EUA e em algumas outras nações ocidentais se tornou tão carregado de russofobia que, junto ao apagamento do feito heroico do povo soviético para derrotar o nazismo na Segunda Guerra Mundial, "uma farsa" como o escândalo nazista no Canadá foi permitido, disse o jornalista independente e analista político Caleb Maupin à Sputnik.

À medida que o escândalo continua a girar em torno da decisão do Parlamento canadense de homenagear o veterano ucraniano da Waffen SS, Yaroslav Hunka, o analista político Caleb Maupin lembrou que os nacionalistas ucranianos sempre tiveram uma "tolerância" para com os nazistas.

Yaroslav Hunka, um veterano nazista ucraniano de 98 anos que lutou nas fileiras da 14ª Divisão de Granadeiros Waffen da SS alemã nazista na Galícia durante a Segunda Guerra Mundial, foi aplaudido de pé por toda a legislatura canadense enquanto o presidente da Câmara dos Comuns, Anthony Rota, fazia comentários introdutórios antes do discurso do presidente ucraniano Vladimir Zelensky ao Parlamento do país.

Desde então, tem havido fortes apelos à responsabilização vindos do líder da oposição do Canadá, da Polônia, de grupos judaicos, da Rússia e das Nações Unidas. O embaixador da Rússia no Canadá, Oleg Stepanov, disse à Sputnik que solicitaria explicações ao Ministério das Relações Exteriores canadense e ao gabinete do primeiro-ministro em relação ao incidente.

"Os cidadãos deste país devem mais uma vez pensar sobre quem os seus líderes glorificam e que tipo de junta apoiam na Ucrânia. A Rússia condena qualquer forma de glorificação do nazismo. E a Rússia sempre se lembrará do heroísmo dos filhos e filhas canadenses que lutaram lado a lado conosco para libertar o mundo da peste nazista", disse a embaixada da Rússia na segunda-feira (25).

Este "sentimento pró-Hitler", como evidenciado pelo recente escândalo envolvendo a glorificação de um veterano de guerra nazista no Parlamento do Canadá, "não é novidade", refletiu Caleb Maupin.

Relembrando seus anos de organização política em Cleveland, Ohio, e, especificamente, nos subúrbios do lado oeste de Cleveland, Parma Heights, disse:

"Sabe, há muitas pessoas do Leste Europeu lá. Existe uma comunidade ucraniana muito forte. E, você sabe, em algum momento da década de 1990, acho que eles descobriram um verdadeiro criminoso de guerra nazista que estava lá e que havia sido guarda de um campo de concentração. E houve uma espécie de escândalo na mídia local de que aquele homem muito velho que havia sido guarda de um campo de concentração e cometeu muitas atrocidades estava lá. Mas uma coisa que notei, e isso foi há anos, anos antes do golpe de 2014 e tudo isso, foi que havia uma queda pelos nazistas entre os nacionalistas ucranianos", afirmou.

Caleb Maupin lembrou as muitas discussões que teve com os ucranianos-americanos, que começariam com ele defendendo o legado da União Soviética.

"E eles insistiriam que 'a União Soviética era pior que Hitler, pior que os nazistas'. E à medida que a discussão progredia, eles começavam a dizer coisas como 'o Holocausto não aconteceu realmente'. Eles começavam a dizer coisas como 'bem, Hitler estava apenas tentando proteger o povo ucraniano de Stalin'", disse o analista.

Tais argumentos deixaram o especialista "frustrado", pois parecia haver "este ponto cego e esta tolerância para com isso [nazismo] entre os ucranianos-americanos".

"As pessoas diriam 'bem, eles viveram sob o comunismo e o comunismo é tão ruim que ser nazista é um erro compreensível.' E eu diria 'não, não é um erro compreensível'. Quero dizer, todos conhecemos os crimes dos nazistas e, especialmente no Leste Europeu, os crimes que cometeram durante aquela guerra foram absolutamente horríveis", salientou Caleb Maupin.

O especialista então opinou sobre os bilhões de dólares em assistência que a administração Biden está enviando para alimentar a guerra por procuração da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia na Ucrânia.

"Então, agora chegamos ao ponto em que os Estados Unidos estão a despejar tanto dinheiro na Ucrânia e apenas a tentar prolongar esta guerra, e agora temos um verdadeiro combatente nazista, um tipo que lutou contra a União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Agora, de que lado isso o coloca? Não deveria ser muito difícil de perceber, mas o discurso nos Estados Unidos se tornou tão antirrusso e houve um enorme apagamento do ativismo heroico do povo soviético e dos comunistas em todo o mundo para derrotar o fascismo, que isso aconteceu", disse Caleb Maupin.

A "farsa" de um veterano nazista ucraniano sendo convidado e homenageado no Parlamento canadense é o resultado de um "esforço concertado para ofuscar a história real da Segunda Guerra Mundial e quem estava de que lado", esclareceu Maupin.

Os comunistas "na maior parte do mundo ocidental" tinham uma "reputação muito boa depois da Segunda Guerra Mundial", sublinhou o especialista, porque "eles tinham estado muito claramente do lado certo". Ele enfatizou que, "a partir da década de 1950 com o Programa do Congresso pela Liberdade Cultural, que era um programa da CIA para mudar o discurso político e o diálogo acadêmico, começou a haver um esforço para alterar a narrativa histórica e tentar equacionar a União Soviética com os nazistas. E para fazer isso, eles tiveram que redefinir o que era o fascismo".

"[...] fizemos este grande esforço ideológico não para realmente explicar a base econômica do fascismo e o que o fascismo realmente é, mas para fazer do fascismo apenas uma espécie de sinônimo de algum tipo de movimento político fanático, algum tipo de sociedade onde as pessoas estão sendo mobilizadas para levar a cabo definir um objetivo e depois, nessa linguagem, equiparar a União Soviética aos nazistas e eles fazem isso há décadas", ressaltou Maupin.

O fato de ter sido desprendido um esforço tão grande para "igualar a União Soviética e o comunismo realmente existente com o nazismo na mente do público" foi um desserviço ao registro histórico real, destacou o analista. No entanto, para todos aqueles que promovem esta narrativa, Caleb Maupin notou um fato indiscutível.

"Podemos ter críticas, podemos discordar, mas temos de admitir que houve dois lados na Segunda Guerra Mundial [...]. Um lado estava certo e um lado estava errado, e o lado certo venceu. E a União Soviética, e Roosevelt e a América estavam do lado certo."

<><> Presidente da Câmara do Canadá anuncia renúncia após escândalo da homenagem a soldado nazista

O presidente da Câmara dos Comuns do Canadá, Anthony Rota, anunciou nesta terça-feira (26) que renunciará ao cargo após o escândalo sobre o convite e reconhecimento pelo Parlamento do ucraniano Yaroslav Hunka, um soldado nazista da Segunda Guerra Mundial.

"É com grande pesar que informo os membros [da casa legislativa] da minha renúncia como presidente da Câmara dos Comuns", disse o parlamentar.

Na última sexta-feira (22), Yaroslav Hunka, de 98 anos, recebeu aplausos na Câmara canadense pela sua atuação na Primeira Divisão Ucraniana, também conhecida como Divisão Galícia. Na verdade essas tropas atuavam em conjunto com a SS, exército paramilitar do Partido Nazista de Adolf Hitler (1889–1945).

O caso se tornou um escândalo mundial. A Organização das Nações Unidas (ONU) rechaçou a homenagem prestada pelos parlamentares canadenses ao veterano nazista.

Sediada na região da Galícia, na Ucrânia, a divisão foi incorporada à 14ª Divisão de Granadeiros da SS e foi organizada exclusivamente para combater soviéticos. Composta por voluntários, muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados úteis para tentar conquistar autonomia ante Moscou. Essa divisão foi acusada de praticar diversos crimes de guerra.

O ato foi mal visto pela comunidade internacional e canadense, com países como Rússia, Polônia e Israel exigindo retratações.

Antes de sua renúncia, o agora ex-presidente da Câmara dos Comuns chegou a emitir um pedido de desculpas, dizendo ser o único responsável pela homenagem e que, sob a luz das novas informações, se arrepende de suas ações.

Imprensa, ativistas e líderes mundiais também solicitaram um pedido de desculpas formal do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, que estava presente na sessão e também aplaudiu o soldado nazista. O político, no entanto, afirmou que a decisão de homenagear Hunka foi inteiramente de Rota, e que o pedido de desculpas do legislador foi "a coisa certa a se fazer".

Trudeau também tentou imputar sua participação no evento a uma suposta "propaganda russa".

O empresário americano Elon Musk rebateu a fala do político canadense na rede social X (antigo Twitter).

"Não quero chocar ninguém, mas há uma possibilidade de que nem tudo seja desinformação russa", escreveu Musk.

Maria Zakharova, representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, comentou a renúncia de Rota.

Segundo ela, o chefe do Legislativo foi "transformado em bode expiatório, deixando Trudeau e seus associados, entre os quais, devo lembrar, são descendentes de colaboradores do Exército insurgente ucraniano, a salvo das repercussões do caso. Pelos slogans nazistas 'Glória à Ucrânia', que saudaram Zelensky, ninguém se desculpou".

Zakharova também expressou a confiança de que "o mesmo futuro deplorável aguarda todos aqueles que apoiam [as organizações nazistas] 'Irmãos da Floresta', 'Galícia', as procissões de tochas, os 'Banderitas' e outras escórias nazistas em todo o mundo".

 

Ø  Reação dos EUA ao escândalo da glorificação de nazista no Canadá é cínica, diz embaixador russo

 

A reação "indistinta" do porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Matthew Miller relativamente à presença do nazista Yaroslav Hunka no Parlamento do Canadá parece particularmente cínica, dado o suposto foco da administração dos EUA nos direitos humanos e na luta contra o antissemitismo, disse o embaixador russo nos EUA Anatoly Antonov.

Miller disse anteriormente que não tem informações sobre o escândalo em torno da glorificação do ex-membro de uma divisão SS nazista porque estava ocupado nos eventos da ONU.

"A reação indistinta do porta-voz do Departamento de Estado ao aparecimento de um membro da SS no mais alto órgão legislativo de um dos aliados mais próximos dos EUA parece particularmente cínica dada a alegada atenção elevada da administração ao tema dos direitos humanos e à luta contra o antissemitismo", escreveu Antonov no canal de Telegram da embaixada da Rússia nos EUA.

"A recusa em condenar atitudes neonazistas no Parlamento canadense é uma profanação da memória de milhões de pessoas que morreram durante a Segunda Guerra Mundial. É uma traição à memória dos soldados e oficiais norte-americanos que perderam suas vidas pela independência dos EUA", acrescentou o diplomata russo.

O embaixador destacou que a falta de vontade de Washington em criticar um incidente ultrajante expõe a atitude real das autoridades dos EUA em relação ao trágico legado do século XX, e também mostra que aqui estão prontos para apoiar aqueles que com seus crimes passados inspiram a atual "escória neonazista" em Kiev para lutar contra o seu próprio povo e destruir tudo o que é russo.

Antonov concluiu que é inadmissível reescrever a história da Segunda Guerra Mundial e que a "peste marrom [o nazismo] deve ser parada". Isto é o que as Forças Armadas da Rússia estão fazendo no âmbito da operação militar especial, observou o embaixador.

 

Ø  Ministro da Polônia pede extradição de soldado nazista homenageado no Canadá

 

O ministro da Educação da Polônia, Przemyslaw Czarnek, fez um apelo ao presidente do país para que peça a extradição de Yaroslav Hunka, ucraniano veterano do Exército nazista que foi ovacionado no Parlamento canadense na última semana.

"Apelo ao Presidente [Andrzej Duda] para que examine imediatamente os documentos para determinar se Yaroslav Hunka é procurado por crimes contra a nação polaca e judeus polacos", afirmou Czarnek em uma carta aberta publicada no X, antigo Twitter.

"As características de tais crimes constituem a base para solicitar a sua extradição do Canadá."

Hunka foi aplaudido na Câmara dos Comuns do país norte-americano, tendo sido também chamado de "herói ucraniano e canadense".

O veterano atuou na Primeira Divisão Ucraniana ou 14ª Divisão de Granadeiros da SS, também conhecida como Divisão Galícia por contar com muitos voluntários dessa região da Ucrânia.

Segundo a comunidade judia Amigos do Centro Simon Wiesenthal (que estuda o Holocausto), "não há dúvidas" que a 14ª Divisão de Granadeiros da SS, na qual participou Hunka, foi responsável por matar civis "com um nível de brutalidade e rancor inimagináveis".

A divisão era composta por voluntários, dos quais muitos eram admiradores de Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial. Outros viam nos nazistas aliados na conquista de autonomia perante Moscou.

Na tarde desta terça-feira (26), o presidente da Câmara dos Comuns do Canadá, Anthony Rota, anunciou a renúncia do cargo após o escândalo ganhar proporção mundial.

Hunka pode ter se reunido pessoalmente com Justin Trudeau e Zelensky

Em uma imagem publicada no Facebook, rede social pertencente à Meta (cujas atividades são proibidas na Rússia por serem consideradas extremistas), a nora de Yaroslav afirmou:

"Dedo [avô] está esperando na sala de recepção por Trudeau e Zelensky". Ainda não é claro se no momento em que a imagem foi veiculada Hunka já havia sido ovacionado pelo Parlamento. A introdução de Hunka foi feita pelo agora ex-presidente Anthony Rota.

O próprio Trudeau afirmou que a celebração de Hunka foi "extremamente perturbadora" e "profundamente embaraçosa para o Parlamento do Canadá e, por extensão, para todos os canadenses".

Ele não mencionou qualquer encontro pessoal com o veterano da SS, mas apelou a uma "resistência à propaganda russa".

·         Ministério das Relações Exteriores russo se pronuncia

O ministério das Relações Exteriores russo classificou a homenagem a Hunka como "a melhor maneira de caracterizar o regime do primeiro-ministro Justin Trudeau, que abraçou a russofobia desenfreada".

"Os colaboradores ucranianos que serviram aos nazis escaparam da responsabilização pelo genocídio nos territórios ocupados da União Soviética e da Europa para receber abrigo no Canadá após a Grande Guerra pela Pátria", disse a pasta, em comunicado divulgado hoje (26).

O texto acrescenta que "não é por acaso que existem monumentos aos líderes do nacionalismo ucraniano no país" e que a esmagadora maioria dos nazistas que receberam asilo, como Yaroslav Hunka, "estão vivendo os seus dias em segurança, honrados e cuidados como combatentes do comunismo russo".

"Por mais que certos membros do Parlamento canadense tentem pedir desculpa retrospectivamente depois de receberem uma tempestade de indignação da comunidade judaica e até mesmo do aliado de Ottawa, a Polônia, o fato é que a ideologia ultraliberal propagada no Canadá e permeada de ódio pela Rússia, a sua cultura, valores religiosos e tradicionais, têm essencialmente as mesmas raízes do nazismo", prossegue o documento. "Esperamos que forças saudáveis ​​na sociedade canadense se pronunciem contra a nazificação da história e da vida cotidiana, encorajadas pelas autoridades do país, juntamente com a russofobia desenfreada."

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: