7 vezes em que Augusto Aras passou pano para Jair Bolsonaro
Augusto Aras deixa a Procuradoria-Geral da
República na próxima terça-feira (26/09) com um histórico de leniência em
diversos possíveis crimes de Jair Bolsonaro (PL). Segundo levantamento do
Globo, de setembro de 2019 a fevereiro de 2023, o engavetador Aras arquivou ou
extinguiu 132 processos contra o ex-presidente.
De todas as 185 representações contra Bolsonaro,
seus filhos e seus aliados, Aras foi favorável aos bolsonaristas em 95% das
vezes. De crimes contra a humanidade durante a pandemia e atos
antidemocráticos, a ataques às urnas, ao Congresso e às instituições. Relembre
sete casos:
• Interferência
na PF
Quando o ex-ministro da Justiça Sergio Moro alegou
que Bolsonaro havia interferido na Polícia Federal para proteger os filhos e
aliados, Augusto Aras se colocou contra à divulgação da fatídica reunião
ministerial de 22 abril de 2020. Naquele dia, Bolsonaro disse: “Eu não vou
esperar foder a minha família toda para trocar segurança, chefia da segurança
ou ministro”.
• Encher
de porrada
Bolsonaro ameaçou um repórter do Globo e disse que
estava com “vontade de encher sua boca de porrada”. O jornalista havia
perguntado sobre os depósitos em dinheiro de Fabrício Queiroz à então primeira-dama,
Michelle Bolsonaro.
• Aglomeração
na Pandemia
A PGR pediu ao Supremo Tribunal Federal e conseguiu
o arquivamento de uma ação contra as aglomerações de Bolsonaro em plena
pandemia de covid-19. Na época, Bolsonaro havia realizado um ato político em
Brasília, em abril de 2020, e em São Paulo, em uma motociata, em julho do mesmo
ano. Para Aras, a “conduta” de Bolsonaro não foi “irresponsável”.
• CPI
da Pandemia
Aras arquivou as acusações feitas contra Bolsonaro
pela CPI da Pandemia. O ex-presidente era acusado de incitar o descumprimento
das regras sanitárias durante a crise do coronavírus, prevaricação,
charlatanismo, uso irregular de verbas e infração de medidas sanitárias, entre
outros crimes. Foram cinco de sete acusações extintas. Sob assinatura de
Lindôra Araújo, a PGR disse que o arquivamento se deu por “critério técnico” e
que a CPI da Pandemia teve “caráter” político.
• 7 de
Setembro
Em 2021, Bolsonaro usou o palanque das celebrações
de 7 de Setembro, em Brasília e em São Paulo, para atacar o processo eleitoral,
o STF e o ministro Alexandre de Moraes. A PGR entendeu, à época, que o então
presidente não cometeu crime nenhum e sim usou de um “arroubo de retórica”.
• Ataque
às urnas
Em uma das incontáveis vezes que Bolsonaro atacou
as urnas e disse que o Tribunal Superior Eleitoral tinha uma “sala secreta”
onde se “contava os votos de qualquer forma”, Aras pediu o arquivamento de
queixas-crimes sobre o ocorrido em junho de 2021. Justificou que as declarações
do então presidente não passavam de “meras críticas ou opiniões”.
• Bolsonaro
e embaixadores
Mesmo depois que Bolsonaro deixou de ser
presidente, a PGR de Aras continuou protegendo-o. Em março de 2023, a
procuradoria defendeu o arquivamento de ação contra a divulgação de fake news
de Bolsonaro em reunião no Palácio da Alvorada em junho de 2022. Naquele dia,
Bolsonaro repetiu inverdades para mais de 60 embaixadores ou representantes de
outros países. “Os fatos relatados pelo representante não ensejam a instauração
de inquérito, tampouco contêm elementos informativos capazes de justificar, por
si só, a deflagração de investigação criminal em face do ex-presidente da
República”, justificou.
PGR
Aras se despede do STF: “Divergência faz parte da democracia”
Em sua última sessão no Supremo Tribunal Federal
(STF) como procurador-Geral da República, Augusto Aras usou seu espaço de fala
para fazer um balanço de sua atuação como PGR nos últimos quatro anos. Na
despedida, ele falou de incompreensão e de divergência de ideias, “que formam a
democracia”.
“Os desafios dos últimos quatro anos foram
adicionalmente cercados por incompreensões e falsas narrativas, dissonantes com
o trabalho realizado, documentado e publicizado, e agora também organizado no
relatório final de gestão que recém-divulgamos”, disse.
Para Aras, “parte das incompreensões deve-se à
equivocada expectativa de o Ministério Público protagonizar ou mesmo apoiar
projetos partidários. Ao Ministério Público, tal como ao Judiciário, a
Constituição veda expressamente a atividade político-partidária. Nossa missão
não é caminhar pela direita ou pela esquerda, mas garantir a todos justiça,
liberdade, igualdade e dignidade, no âmbito da ordem jurídica”, disse.
Citado por partidos e entidades como homem que
“blindou” o ex-presidente Jair Bolsonaro (PSL) de investigações, Aras ressaltou
que “o Ministério Público brasileiro deve caminhar na busca e guarda do caminho
aristotélico do equilíbrio, da harmonia entre os Poderes, da observância às
funções incumbidas separadamente à cada instituição de Estado, a extirpar o
risco da indesejada concentração de poderes e desajuste no sistema de freios e
contrapesos”.
Divergência
Augusto Aras analisou em seu discurso que “a
divergência faz parte da democracia. No campo político, a divergência pode
eventualmente polarizar, e se resolve pela regra da maioria. No campo jurídico,
a divergência há de convergir, uma vez que as instituições contramajoritárias
não têm compromisso com projetos partidários, mas com a coerência interna, a
força normativa da Constituição e a efetividade das normas postas, com
resolutividade dos conflitos”.
Aras deixa a PGR em 26 de setembro. Será de
responsabilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicar novo nome
para o cargo.
Lula
deve deixar definição da PGR para depois da cirurgia
O presidente Lula indicou a auxiliares que só deve
bater o martelo sobre quem indicará para a Procuradoria-Geral da República
(PGR) após a cirurgia que fará no quadril.
Segundo auxiliares presidenciais, antes de anunciar
sua escolha, Lula pretende conversar não só com outros subprocuradores cotados,
como com aliados do mundo jurídico.
Nesse cenário, a avaliação é de que não haverá
tempo hábil para fazer a indicação antes de sua cirurgia, que está marcada para
a próxima sexta-feira, dia 29 de setembro, em Brasília.
Se confirmada a sinalização de Lula, o petista não
indicará o substituto de Augusto Aras antes do término do mandato do atual
procurador-geral da República, em 26 de setembro.
Enquanto Lula não indicar o substituto e o Senado
aprovar a indicação, a subprocuradora Elizeta Ramos assumirá a chefia da PGR
interinamente.
Lula pede novas sugestões para PGR
Até a semana passada, os subprocuradores Paulo
Gonet e Antônio Carlos Bigonha eram considerados os favoritos para a vaga. Os
dois, inclusive, foram recebidos pelo presidente no Palácio do Planalto.
Lula, no entanto, disse a auxiliares não ter saído
satisfeito da conversa e pediu a auxiliares que o trouxessem novas sugestões de
subprocuradores para a sucessão de Aras.
Entre os novos nomes sugeridos ao petista, estão os
subprocuradores Luiz Augusto dos Santos Lima, Aurélio Rios e Carlos Frederico
Santos, os quais devem ser recebidos pelo presidente nos próximos dias.
• Bancada
evangélica espera conversa com Flávio Dino sobre STF
Apesar de o favorito da bancada evangélica para o
Supremo Tribunal Federal ser o advogado-geral da União, Jorge Messias,
parlamentares do segmento esperam um aceno do ministro da Justiça, Flávio Dino,
para uma conversa sobre uma possível indicação à Corte.
Deputados e senadores da bancada evangélica
consideram “impossível” que políticos de oposição apoiem Dino, mas ponderam
que, como um possível candidato ao STF, o ministro deve fazer o gesto de
diálogo com a oposição.
A bancada evangélica teve um espaço importante na
construção das duas últimas candidaturas ao STF, de André Mendonça e Cristiano
Zanin. Parlamentares auxiliaram no diálogo com a oposição e exposição de
“ideais conservadores”.
Dino não tem se movimentado para obter apoio para o
Supremo e nega que queira o posto. Qualquer conversa, portanto, só depois de
indicado por Lula.
Movimento
por vaga no STF tenta constranger Lula
A jurista Soraia Mendes, única candidata negra ao
Supremo Tribunal Federal, ainda não teve qualquer abertura de Lula para uma
conversa sobre a possível indicação da primeira mulher negra à Corte.
Mendes vem tendo encontros e conversas com pessoas
do entorno de Lula e já solicitou uma audiência com o presidente, mas não houve
aceno positivo.
A jurista, que foi apoiada publicamente pela
senadora Eliziane Gama, do Solidariedade, aliada de Lula, espera, contudo, que
Lula mude de posição e tenha uma conversa com ela, como vem tendo com os
candidatos a procurador-geral da República, como os subprocuradores Paulo Gonet
e Antônio Carlos Bigonha.
Ao contrário de Flávio Dino, Jorge Messias ou Bruno
Dantas, nomes mais cotados hoje para serem indicados por Lula ao STF, Mendes
não tem contato direto com o chefe do Executivo.
Desembargador
que insultou STF defendia corruptos
Em 2005, ele foi advogado de Maurício Marinho,
então funcionário dos Correios, flagrado por uma câmera recebendo propina em
dinheiro. A exposição de Marinho, que era indicado pelo PTB, levou o então
deputado Roberto Jefferson a delatar o esquema do mensalão.
No mesmo ano, Coelho defendeu o empresário
Sebastião Buani, que era dono de uma lanchonete na Câmara dos Deputados e
denunciou que pagava um “mensalinho” para o então presidente da Casa, Severino
Cavalcanti (PP-PE), forçado posteriormente a renunciar ao cargo.
O trabalho de Coelho como advogado na época ocorreu
em um intervalo em sua carreira de juiz do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal.
Ele pediu aposentadoria em 2004, mas que foi
revertida por decisão do Tribunal de Contas da União quatro anos depois, por
não-preenchimento dos requisitos mínimos. Reintegrado à carreira, voltou a se
aposentar no ano passado e retornou à advocacia.
Coelho defendeu Aécio Pereira, um dos réus pelos
ataques golpistas na praça dos Três Poderes. Durante o julgamento, disse aos
ministros do STF que eram “as pessoas mais odiadas do país”.
Procurado, o advogado afirmou que preferia não
fazer comentários sobre atividades suas do passado. “Não seria ético falar sem
a autorização dos ex-clientes”, declarou.
Flávio
Bolsonaro aciona AGU contra Gleisi por falas sobre TSE
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acionou neste
sábado (23) a Advocacia-Geral da União (AGU) contra a deputada federal Gleisi
Hoffmann (PT-PR) por críticas à Justiça Eleitoral. O pedido foi endereçado ao
ministro Jorge Messias, cotado para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal
(STF).
Em sessão na Câmara dos Deputados na última
quinta-feira (21), Gleisi defendeu o fim da Justiça Eleitoral e criticou as
multas aplicadas aos partidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo o
senador, as falas da parlamentar ‘subtraem a legitimidade do Poder Judiciário’.
“A presente
representação não possui qualquer intenção de cercear opiniões e as liberdades
e expressão de parlamentares que, inclusive, são invioláveis nos termos do Art.
53 da Constituição Federal. Porém, requer a este Órgão Técnico a apreciação da
conduta descrita neste episódio específico que se reveste de especial gravidade
por representar proposta de subtração da legitimidade do Poder Judiciário para
a condução das questões eleitorais e, em último grau, a preservação da
democracia”, afirmou Flávio.
A presidente do PT acusou a Justiça Eleitoral de
aplicar multas desproporcionais aos partidos. Ela ressaltou que o Brasil é um
dos poucos países que conta com uma Justiça específica para as eleições e
criticou o alto valor de manutenção do TSE.
“Eu queria falar das multas do TSE. Os valores
ditos aqui, R$ 750 mi, R$ 3 bi, R$ 23 bi, isso não é multa exequível, não tem
como pagar, nós não temos dinheiro […] elas trazem a visão subjetiva da equipe
técnica do Tribunal, que sistematicamente entra na vida dos partidos políticos,
querendo dar orientação, interpretando a vontade de dirigentes, a vontade de
candidatos. São multas que inviabilizam os partidos […] Não pode haver uma
Justiça Eleitoral, que, aliás, é uma das únicas do mundo, o que já é um
absurdo, e custa 3 vezes mais do que o financiamento de campanha para a disputa
eleitoral”, declarou Gleisi.
As falas de Gleisi Hoffmann repercutiram negativamente
entre as autoridades do Judiciário, que reafirmaram a independência e a
credibilidade da Justiça Eleitoral. Já partidos de oposição formaram coro a
petista e devem se unir na aprovação da PEC da Anistia.
Fonte: Metrópoles/iG/FolhaPress
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