Rebelião da Ilha
Anchieta: o primeiro grande massacre em prisão da história do Brasil
São
Paulo, 20 de junho de 1952. Às 8h30 daquela sexta-feira, um grupo de presos
assumia o controle do Instituto Correcional da Ilha Anchieta, no litoral norte
do Estado. A penitenciária, localizada num terreno íngreme, a 700 metros do
continente, contava então com um expediente reduzido.
Graças
aos festejos de São João, apenas 17 funcionários civis e 28 militares prestavam
serviço no dia — em datas comuns, esse número dobrava. Portugal de Souza
Pacheco, o chefe de disciplina, permanecia na ilha, assando leitões para uma
confraternização familiar. Depois disso, ele talvez se dedicasse a seus
afazeres mais cotidianos — espancamentos e sessões de tortura.
Ninguém
foi capaz de barrar os 453 detentos que ali cumpriam pena. Os encarcerados
libertaram companheiros, saquearam cofres, destruíram edificações, queimaram
prontuários e fugiram em canoas. Às 13h, 129 presos já haviam alcançado as
praias no município de Ubatuba, a 220 quilômetros da capital paulista — 108 seriam
recapturados, quinze morreriam e seis desapareceram. Nove guardas foram
executados — um deles, Bento Moreira, em circunstâncias desconhecidas.
No
dia 3 de setembro de 1955, a penitenciária encerrou suas atividades. Uma semana
depois, o filme Mãos Sangrentas, dirigido pelo argentino Carlos Hugo
Christensen, representaria o Brasil no Festival de Veneza. Trata-se de uma
coprodução internacional, livremente inspirada no caso: o galã mexicano Arturo
de Córdova interpreta um dos fugitivos, e Tônia Carrero, uma prostituta
apaixonada por ele. O longa-metragem circulou, com relativo sucesso, pela
Europa Ocidental, América Latina e Estados Unidos.
"A
imprensa francesa e a americana haviam repercutido todo o processo de captura
dos presos", afirma Dirceu Franco Ferreira, doutorando em História
Econômica pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Rebelião e Reforma
Prisional em São Paulo (Editora Revan).
"Tanto
na França como nos Estados Unidos, o assunto estava na ordem do dia. Foi um
período de grandes sublevações nos presídios daqueles países, e talvez por isso
a cobertura jornalística tenha assumido um caráter anedótico, com muitas
fantasias sobre homens que se embrenhavam nas serras e atravessavam o
mar".
No
Brasil, as manchetes vinham carregadas de superlativos. Segundo a revista O
Cruzeiro, aquela havia sido a "maior evasão do mundo". Os fugitivos,
de acordo com o Diário da Noite, eram "os mais perigosos elementos do
crime e da delinquência de São Paulo".
Para
José Guilherme Viegas, correspondente do jornal A Noite, o motim excedia
"a tudo que se pode imaginar em matéria de violência e selvageria",
ofuscando "com sua brutalidade a tudo o que já foi descrito nos romances
de aventura e nas produções cinematográficas".
Hoje,
uma análise do episódio passa por critérios diversos. "Em termos de
óbitos, os números parecem até tímidos, quando nos recordamos de massacres
posteriores", avalia Ferreira. "Por outro lado, aquela fuga era algo
sem precedentes, e só pode ser comparada a experiências mais contemporâneas.
Além disso, a rebelião teve um impacto fundamental na história do sistema
carcerário paulista, pois acelerou projetos ambiciosos que já estavam em pauta
há bastante tempo."
• Classes perigosas
O
mais significativo desses projetos, esboçado em 1928, foi entregue apenas três
décadas depois: a Casa de Detenção do Carandiru, aberta em 11 de setembro de
1956, em um terreno próximo à Penitenciária do Estado. No dia 2 de outubro de
1992, às vésperas das eleições municipais, 111 presos seriam chacinados no
pavilhão 9 — essa é considerada a pior tragédia já ocorrida num presídio
brasileiro.
As
fotografias do massacre, com suas vítimas nuas e corredores lavados de sangue,
ocupam no imaginário nacional um espaço antes preenchido pelos registros da
Anchieta. Complementadas por imagens em preto e branco, as narrativas dos anos
1950 estabeleciam um contraste entre a exuberante geografia local e a psique
supostamente bárbara dos encarcerados.
Assim,
o locutor de Mãos Sangrentas, já na abertura do filme, anunciava às plateias o
que elas veriam ao longo dos minutos seguintes: "Uma ilha de paz e beleza.
Paisagem cheia de poesia. Praias luminosas. Uma ilha de sonho. Ninguém poderia
imaginar as feras que ela oculta. Nem tigres, nem leões. Feras humanas. Homens
transformados em feras pelo destino e pela sociedade. Nossa história é apenas o
relato de um fato real."
Semelhante
perspectiva tinha raízes no século 19: "A Ilha Anchieta nasce como um
espaço de regeneração dos vícios urbanos", explica Ferreira. "A
princípio, seu objetivo era isolar os vagabundos, alcoólatras e degenerados,
para que se ocupassem ao ar livre".
O
Código Criminal de 1830, sancionado pouco antes da abdicação de Dom Pedro 1º,
já previa em seu artigo 311 a pena de "prisão com trabalho logo que
houverem casas de correção nos lugares em que os réus estiverem cumprindo as
sentenças".
O
Código Penal de 1890, promulgado no início da República, ampliaria essa
premissa, estipulando, para "vadios" e "capoeiras", até
três anos de reclusão em "colônias penais que se fundarem em ilhas
marítimas, ou nas fronteiras do território nacional, podendo para esse fim ser
aproveitados os presídios militares existentes".
São
Paulo atravessava então um período de grandes mudanças — suas indústrias se
expandiam, assim como suas lavouras cafeeiras e contingente populacional: em
1890, a capital contava com 70 mil habitantes; em 1920, eles seriam 580 mil.
A
estrutura urbana, porém, não absorveu um crescimento tão acelerado. Frente ao
desemprego, à pobreza e à criminalidade, os governantes reivindicavam a criação
de institutos para disciplinar as chamadas "classes perigosas". A
Penitenciária do Estado, que inauguraria o Complexo do Carandiru, atraiu para
si boa parte das verbas — seu projeto arquitetônico abrangia refeitórios e
alojamentos para 1,2 mil indivíduos.
Mas,
antes que o prédio iniciasse suas atividades, empreendimentos menos onerosos
saíram do papel — entre eles, a Colônia Correcional da Ilha dos Porcos, uma das
primeiras instituições carcerárias a serem fundadas no município de Ubatuba, em
14 de fevereiro de 1907. Dali a quatro décadas, seus pavilhões seriam
ampliados, e a cadeia ganharia o nome pelo qual se tornou mais conhecida —
Instituto Correcional da Ilha Anchieta. Suas celas, agora, confinavam não
apenas supostos vagabundos, mas também indivíduos à espera de um julgamento, ou
condenados a penas mais longas.
"É
um processo bem típico de países que se forjam na colonização", observa
Ferreira. "Essa experiência dilapida territórios e encara os trabalhadores
como uma grande massa a ser desgastada ao limite. Sempre que possível, as
classes populares serão excluídas do convívio social e trancafiadas num recinto
especialmente concebido para matá-las. Quando o povo sobrevive, é só uma
questão de sorte."
• Segurança máxima?
Nos
anos 1940, o sistema penitenciário paulista encontrava-se à beira do colapso,
em meio a uma atividade policial cada vez mais intensa. Para driblar a
superlotação, o governo estadual abriu xadrezes provisórios em cidades do
interior, detendo cerca de 50 mil pessoas ao ano.
"As
carceragens das delegacias já não suportavam mais", afirma Ferreira.
"Eram galpões improvisados e precários, verdadeiros depósitos humanos. Se
você gasta muito dinheiro na polícia, sem um investimento equivalente nas
prisões, o que acontece? Você degenera o sistema prisional, e as rebeliões
estouram."
A
transferência para a Ilha Anchieta tornou-se, assim, uma punição comum a
detentos envolvidos em brigas, fugas e motins: "Eles ficavam pelo menos
quinze dias trancados nas solitárias, para depois enfrentar castigos físicos e
o que havia de pior nos trabalhos forçados", explica o historiador.
"Criou-se toda uma aura, como se aquilo representasse um presídio de
segurança máxima, mas isso nunca correspondeu à realidade. Como prova, temos as
quase 130 pessoas que escaparam de lá".
Em
inquéritos conduzidos pelo Departamento Estadual de Ordem Política e Social
(Deops) e pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), os presos
relatariam às autoridades as causas da fuga em massa: uma rotina de fome, negligência
médica e, sobretudo, espancamentos.
Em
uma visita às instalações locais, os deputados paulistas enojaram-se com o
aspecto da cozinha e o mau cheiro das celas. Constataram, igualmente, que a
enfermaria não dispunha nem sequer de antibióticos, e que todo o discurso em
prol da labuta se resumia a uma falácia: "A laborterapia, como a
compreende a moderna ciência penal-penitenciária, não existe na ilha",
sentenciaram em relatório. "Cortar lenha no mato, para acender velho e
rudimentar fogão, não é trabalho que recupere ou regenere criminosos".
O
prisioneiro Eurico Silva Filho, vulgo Capitão Carnera Negro, comparava o
diretor do instituto, Fausto Sadi Ferreira, a um "chefe de campo de
concentração". Alcino Cândido Gomes, vulgo Mocoroa, queixava-se de dores
nas costas e sangue nas fezes — sequelas de uma surra que lhe custara dois
meses de internação. José Ballinger, vulgo Alemão, alegou não ter
"relações de amizade com outros detentos, por medo de ser identificado
como sem vergonha ou pederasta" — afinal, seus colegas Gerico e China Show
haviam "sido espancados por isso".
Jorge
Floriano, o China Show, tinha olhos puxados, trabalhava como funileiro e
cumpria sete anos de cadeia por furto. No inquérito do Deops, refere-se a si
mesmo como "uma das maiores vítimas desse regime" — pelo menos um
funcionário, o almoxarife José Teixeira Pinto, testemunhara sessões de tortura
nas quais o detento, com feridas abertas, era obrigado a tomar banho de mar.
O
delegado Benedito Nunes Dias, em seu livro O Motim da Ilha - Episódios
Policiais (Editora Soma), narra uma suposta origem para a alcunha do
presidiário: "Ele próprio gostava de demonstrar resistência física e
fortaleza de ânimo ao ser punido disciplinarmente. Praticava faltas para ser
castigado e, quando isso acontecia, o 'china' dava show, daí o apelido China
Show".
A
obra também aponta Floriano como "segundo homem do movimento" — o
primeiro seria João Pereira Lima.
Pereira
Lima nascera em 1921, no município paulista de Serra Negra. Em 1938, alistou-se
como voluntário na Força Pública, de onde teria sido expulso por má conduta.
Condenado pelo homicídio de Teodomiro Freitas, sargento do Exército que se
embriagava num prostíbulo da capital, empreendeu uma série de fugas até
conquistar a liberdade, em maio de 1946.
Pouco
depois, foi contratado como escriturário numa agência do banco Bradesco — ali,
preenchia formulários, orientava clientes e exercia funções de controle
administrativo. Seu registro profissional, anexado no inquérito da Alesp,
aponta que ele tinha formação primária, era casado com uma professora, vivia no
bairro de Santana e pedira demissão em 1947.
No
ano seguinte, foi indiciado por dois assaltos e conduzido ao presídio da
Avenida Tiradentes, no Centro da cidade. Em 23 de maio de 1948, junto a outros
detentos da instituição, liderou um motim que culminaria num longo tiroteio.
Embora não tenha deixado mortos, o enfrentamento com as tropas de choque durou
quatro horas, sendo descrito pelo Correio Paulistano como "um dos mais
graves acontecimentos dos últimos tempos".
Ao
Deops, Pereira Lima alegaria ter oito passagens pela Ilha Anchieta — a última,
três meses antes da rebelião.
• "Infelizmente, somos obrigados a
fazer isso"
Às
7h daquela sexta-feira, 20 de junho de 1952, 117 presos se dirigiam ao Morro do
Papagaio, um local utilizado para o corte e armazenamento de lenha na ilha.
Três praças militares e dois guardas civis, alheios aos planos dos
encarcerados, os escoltariam durante o trajeto de noventa minutos. Mas, naquela
manhã, os homens não estavam dispostos a trabalhar.
Às
8h30, o quinteto foi dominado. Geraldo Braga, um dos guardas, levou golpes de
machado na cabeça; os demais funcionários, imobilizados com cipó, teriam seus
armamentos subtraídos. Hilário Rosa, único soldado a oferecer resistência, foi
morto a tiros, o que contrariava uma ordem prévia, de se evitar ruídos — a
menos de um quilômetro, localizava-se o quartel da Força Pública, e a invasão
fracassaria caso as autoridades ouvissem qualquer disparo.
Jorge
Floriano, o China Show, declarava-se 'uma das maiores vítimas' do regime
instaurado na Ilha Anchieta. O detento foi submetido a inúmeras sessões de
tortura
Gerico
e Pereira Lima logo atravessaram a porta do edifício. Enquanto o pânico se
instaurava entre militares, os presos iam saqueando a reserva de armas. China
Show deu início a um tiroteio, e outros quatro soldados morreram. Os rebeldes,
por fim, se dividiram.
Um
grupo marchou até a casa do diretor, abrindo fogo contra as paredes do imóvel.
Do lado de fora, Pereira Lima anunciava uma proposta, imediatamente aceita: ele
garantia a integridade física de todos os moradores da ilha, sobretudo mulheres
e crianças, contanto que Sadi Ferreira deixasse sua residência.
Não
muito longe, Gerico coordenava o ataque ao presídio. Alguns funcionários haviam
fugido; outros, escondiam-se nos armários e banheiros dos pavilhões. Sem
maiores dificuldades, os revoltosos quebravam cadeados, libertando dezenas de
detentos.
Arrastado
pelas massas em direção ao pátio, o carcereiro Oswaldo Santos, vulgo Fairbanks,
morreu depois de um linchamento. Segundo testemunhas ouvidas pelo Deops, seus
agressores gritavam:
"Mata
essa peste."
"Vou
matar esse desgraçado para não sofrer mais."
"Não
vou lhe matar, que não sou covarde. Vou fazer só o que você fez para mim."
Amedrontado
na cozinha de casa, Portugal de Souza Pacheco já não assava leitões. Às 9h30, o
chefe de disciplina se uniu aos quatro filhos para rezar. Sua esposa, Odete,
também estava lá, e narraria aos investigadores a morte do marido.
Ao
pisar no quintal, Pacheco deu de cara com Gerico, descrito como um sujeito
"preto e forte, de nariz chato, com chapéu de palha na cabeça, armado de
mosquetão". As janelas da residência foram quebradas, e um preso,
conhecido pela alcunha de Durinho, perguntou a Odete se ela possuía armamentos.
A
viúva, exibindo ao detento uma Bíblia, teria dito que ali "havia apenas a
arma de Cristo". Durinho, segundo o Deops, respondeu: "A paz esteja
convosco. Feche bem a porta e fique quietinha, pois a senhora nada tem a temer.
Infelizmente, somos obrigados a fazer isso".
Quando
os disparos enfim ressoaram, nuvens de fumaça cobriam o céu. Eram 10h30, e o
fogo havia tomado os corredores do prédio administrativo. Logo em frente,
Benedito Filadelfo, vulgo Sacudo, e William Saud, vulgo Patolinha, desentenderam-se
com Melquíades Alves de Oliveira, sargento por eles acusado de "esculachar
os presos". O militar foi morto a tiros de espingarda e golpes de sabre.
No
armazém, os detentos se enfiavam em vestimentas roubadas, para despistar a
população assim que chegassem ao continente. Dali a alguns momentos, pilhariam
o barracão de pesca, retirando as canoas, lanchas e jangadas com os quais se
lançariam ao mar.
"O
massacre poderia ter sido bem pior", acredita Ferreira. "Se os presos
fossem mesmo tão bárbaros, chacinariam várias famílias que moravam ali na Ilha
Anchieta. Mas, pelo que mapeei, essas mortes ocorreram todas por vingança,
restringindo-se a um grupo de funcionários envolvidos em castigos corporais.
Antes, eles chicoteavam o China Show, e, agora, o China Show corria atrás deles
com uma Winchester."
• Democracia e barbárie
As
notícias não tardaram a chegar ao gabinete de Elpídio Reali, então secretário
de segurança do Estado de São Paulo. No dia 21, para os trabalhos de recaptura,
ele mobilizou o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, as polícias Civil e
Militar, além dos habitantes de municípios litorâneos que se dispusessem a
pegar em armas contra os detentos.
"Houve
um esforço desproporcional", afirma Ferreira. "Os caras deslocaram
até submarino de guerra para reprimir presos comuns. E a imprensa legitimava
essa abordagem, dizendo que os fugitivos portavam material bélico
pesadíssimo".
A
operação foi marcada por espancamentos, assassinatos à queima-roupa e supostos
suicídios — nenhum deles investigado pelo Deops. Os corpos, muitas vezes
disformes, eram expostos em praça pública, ou mutilados sob pretexto de
identificação datiloscópica.
Sacudo,
em retaliação à morte de Melquíades, seria executado numa diligência policial.
Francisco Barriento, vulgo Espanhol, não aderira ao motim e aguardava um alvará
de soltura, mas perdeu a vida ao render-se com as mãos para o alto.
Geraldo
Fonseca de Souza, vulgo Diabo Louro, levou um tiro na perna e outro na
omoplata, dentro da própria cela.
Benedito
Ferreira de Barros, após repetidas pancadas na cabeça, dorso e abdome, morreu
na Penitenciária do Estado, onde outros dois revoltosos, Sebastião Araújo e
Rubens Rosa, teriam se matado. José da Silva, um dos assassinos de Fairbanks,
alegadamente se enforcou num banheiro do Instituto Correcional da Ilha
Anchieta.
"Para
anunciar um reestabelecimento da ordem, era necessário prender o líder",
explica Ferreira. "Mas a rebelião tinha várias lideranças, de modo que os
policiais elegeram Pereira Lima, o último a ser encontrado. E assim ele se
transforma num grande troféu da pacificação, um símbolo daquela massa
carcerária que vinha ameaçando o litoral."
Incólume
a violências e linchamentos, Pereira Lima teve melhor sorte que seus
companheiros. No município paulista de Cunha, o ex-bancário foi introduzido
numa viatura, tirando fotos com os representantes da lei. Ao Deops, afirmou ter
sido muito bem tratado por Nicolau Mário Centola, o chefe da diligência.
"Devido
a uma tradição de enfrentamento com as autoridades, esses fugitivos já eram
célebres na crônica policial da época", argumenta Ferreira.
"Diferente, por exemplo, dos 111 mortos no Carandiru, todos anônimos e
réus primários".
O
historiador observa que não houve rebelião no dia 2 de outubro de 1992, mas sim
uma briga, que se alastrou pelo Pavilhão 9: "Como não havia rebelião, não
havia liderança. E como não havia liderança, não havia reivindicações. E como
não havia reivindicações, não havia o que ser negociado. Essa foi a chave para
que a polícia massacrasse todo mundo ali dentro."
Singularidades
à parte, Ferreira acredita que Anchieta e Carandiru tenham pontos em comum:
ambas as instituições foram vetores de barbárie em momentos pretensamente
democráticos da história nacional.
"Isso
gera um efeito político avassalador, explicitando os limites da nossa
civilização. Aquilo que a gente chama de constituição cidadã, o Estado rasga na
bala do fuzil. É esse o recado que eles estão dando desde sempre."
Fonte:
BBC News Brasil
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