A noção de “bem
público” de Bolsonaro era mais pessoal e equivocada do que a do servidor
O
presidente se chamava Jair Messias Bolsonaro. O funcionário, Mário de Marco
Rodrigues de Souza, conhecido na Receita como De Marco; O servidor – importante
frisar – era público. O presidente queria incorporar ao seu patrimônio –
privado – joias no valor de R$ 16,5 milhões que, pelo regulamento, pertenciam
ao Estado. Eram, assim, públicas – mas a noção de bem público do presidente era
mais abrangente, pessoal e imprecisa do que a do servidor.
“É
importante fazer uma diferenciação entre Estado e governo”, diz Gabriela Lotta,
professora de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas. “Os servidores
públicos são de Estado, representam instituições que permanecem para além dos
governos de plantão.”
Gabriela
Lotta é vice-presidente do conselho do Instituto República, organização voltada
para a melhoria do serviço público.
Dois
dias antes da conclusão de seu mandato, o presidente mandou um sargento reaver
as joias, retidas no Aeroporto de Guarulhos aos cuidados do servidor em
questão. Elas haviam entrado no País como contrabando, na mochila de um
assessor.
O
sargento mostrou documentos na tela do celular, pediu que o servidor atendesse
a ligações de seu superior – um tenente-coronel – e do superior dele – o secretário
da Receita Federal. O servidor sabia o significado estrito da palavra “público”
– e não atendeu os telefonemas.
O
sargento deu a carteirada final: disse que as joias pertenciam ao presidente,
que sairia do governo dali a dois dias: “Não pode ter nada do antigo para o
próximo, tem que tirar tudo e levar”. Não colou.
E
assim o servidor Marco Antônio Lopes Santanna, que continua no cargo, impediu o
malfeito do presidente Jair Messias Bolsonaro, hoje fora do posto.
“O
servidor precisa de estabilidade para, em momentos de confronto, defender o
Estado de algo que seja ilegal ou imoral”, diz Gabriela Lotta. Não que ele não
possa ser demitido. “Há regulamentos, estabilidade não significa
permissividade.” O ato de Santanna nada tem de heroico. Ele simplesmente
cumpriu sua função de forma correta. Se não cumprisse, poderia enfrentar um
processo administrativo.
Bolsonaro se finge de vítima e tenta
levar para arena política o julgamento no TSE
Rumo
a uma nova campanha, Donald Trump resolveu agitar o picadeiro. No fim de
semana, o ex-presidente americano disse ter recebido a informação de que seria
preso e convocou apoiadores para um protesto: “Retomem nossa nação!”.
Trump
seguiu a cartilha de sempre. O ex-presidente afirmou que é perseguido nas
investigações sobre o pagamento ilegal feito por seu advogado a uma estrela
pornô em troca de silêncio. Ele posou de vítima de uma conspiração, fez barulho
para chamar atenção e tentou usar seu eleitorado como escudo.
Se
o recente ciclo do populismo ensinou algo, ninguém deveria se surpreender com o
comportamento de imitadores do trumpismo em situações semelhantes.
Flávio
Bolsonaro deu pistas desse rito em entrevista à Folha. Com o pai na mira do
Tribunal Superior Eleitoral pelos ataques às urnas, o senador disse que os
processos contra Jair Bolsonaro são “ações políticas”.
Afirmou
que torná-lo inelegível “seria a maior atrocidade das últimas décadas” e
sentenciou que seria antidemocrático “tirar na canetada uma pessoa que
representa grande parte da sociedade”.
Está
quase tudo ali: a ideia de um conluio, o argumento de que a inelegibilidade
seria arbitrária e o esforço para atribuir uma falsa imunidade a um político
apenas porque ele carrega uma popularidade robusta.
Faltou
a incitação a uma insurgência, mas os bolsonaristas já mostraram que essa é uma
carta disponível.
Antes
da eleição, Flávio falava em “perigo de instabilidade” diante das suspeitas
sobre as urnas, que sua família alimentava, e dizia que era impossível conter a
reação de apoiadores em caso de derrota.
Testemunhas pró-Bolsonaro depõem em ação
de inelegibilidade no TSE
As
testemunhas de defesa do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) serão
ouvidas, nesta segunda-feira (27/3), em ação que tramita no Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e pode levar à inelegibilidade do ex-presidente. No total,
quatro pessoas serão ouvidas, por videoconferência ou presencialmente, a partir
das 14h.
Os
jornalistas Guilherme Fiuza e Augusto Nunes; o deputado federal Filipe Barros
(PL); o ex-deputado Major Vitor Hugo (PL); e a cientista política Ana Paula
Henkel são testemunhas chamadas pelos advogados de Bolsonaro para falar na Ação
de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) em tramitação na Corte eleitoral.
Na
ação, Bolsonaro é investigado por suposto abuso de poder político e uso
indevido dos meios de comunicação em decorrência do desvio de finalidade da
reunião promovida pelo ex-presidente com embaixadores a fim de favorecer a
candidatura à reeleição.
Na
ocasião, ele levantou suspeitas sobre as urnas eletrônicas e atacou o processo
eleitoral. Também repetiu outros argumentos que haviam sido desmentidos por
órgãos oficiais diante da comunidade internacional.
Todas
as testemunhas chamadas pela defesa foram intimadas pelo TSE, com documento
publicado no conjunto da ação, em 22 de março. Caso elas não compareçam, a
ausência será dada como desistência.
Ao
convocar essas testemunhas, a defesa de Jair Bolsonaro justificou que elas
poderão elucidar fatos.
• Segundo a defesa, Filipe Barros,
deputado federal relator da PEC que tratava do voto impresso, e que participou,
ativamente, com Jair Messias Bolsonaro do programa Pingo nos is, pode
contribuir com informações.
• Para os advogados, Guilherme Fiuza,
Augusto Nunes e Ana Paula Henkel também se enquadram no quesito contribuição, pois
são “jornalistas responsáveis pela condução do programa Pingos nos is, que
poderão elucidar “as reais e efetivas razões de se realizar o programa com esse
tema específico”, por serem as pessoas que “efetivamente participaram da
entrevista realizada com Bolsonaro em 4 de agosto de 2021 e, por conseguinte,
poderão contribuir com efetivos esclarecimentos sobre o contexto em que surgiu
o interesse jornalístico sobre o tema versado no Inquérito Policial
1361/2018-4/DF”.
• O ex-deputado federal Major Vitor Hugo
foi convocado porque “esteve presente na transmissão e poderá esclarecer
contexto, sentido, motivação e desenvolvimento da live”
É
nessa ação que foram ouvidos o ex-ministro das Relações Exteriores Carlos
França; o ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro Ciro Nogueira (PP); e o
ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson
Torres.
As
hipóteses são de que, além do abuso de poder, durante a reunião com
embaixadores de países estrangeiros, no Palácio da Alvorada, em julho do ano
passado, Bolsonaro esteja ligado à incitação de suspeitas sobre as urnas
eletrônicas e dos atos de 8 de janeiro em Brasília. É dentro dela que está a
“minuta do golpe” encontrada na casa de Anderson Torres.
Provas
As
oitivas dessas novas testemunhas fazem parte de uma série de pedidos da defesa
de Jair Bolsonaro, acatadas pelo TSE e pelo ministro Alexandre de Moraes, no
âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 23 de março, Moraes autorizou,
inclusive, o compartilhamento de provas colhidas em inquéritos da Corte contra
o ex-presidente Jair Bolsonaro com o TSE e determinou a remessa dos termos de
depoimento do ex-ministro da Justiça Anderson Torres ao corregedor-geral do
TSE, ministro Benedito Gonçalves.
Em
relação à minuta do golpe, contudo, o magistrado pontuou que o laudo ainda não
foi concluído; por isso, não será possível enviar as informações neste momento.
O
ministro disse não ter qualquer óbice em compartilhar as provas colhidas no
documento, mas lamentou não poder atender ao pedido neste momento, pois a
Polícia Federal ainda não concluiu os laudos.
“No
que diz respeito à minuta de decreto apreendida com Anderson Gustavo Torres, a
Polícia Federal ainda não concluiu a elaboração do laudo pericial
correspondente, tendo sido ‘requisitado ao Núcleo de Identificação da Polícia
Federal, conforme Ofício nº 232571/2023 — CINQ/CGRC/DICOR/PF, a elaboração de
análise papiloscópica no documento’, de modo que, quanto ao ponto, não é
possível atender, neste momento processual, à solicitação do Corregedor-Geral Eleitora”,
afirmou o ministro em sua decisão, publicada na quinta-feira (23/3).
Na
última segunda-feira (20/3), o corregedor-geral do TSE pediu ao STF que
disponibilizasse à Corte e à defesa de Jair Bolsonaro dados da investigação e
perícia realizada na minuta do golpe.
Depoimento
de Torres
Ex-ministro
do governo Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal,
Anderson Torres prestou depoimento no âmbito da ação do TSE na quinta-feira
(16/3). Na ocasião, afirmou que a minuta do golpe, encontrada em sua casa, é
“um texto folclórico”.
Ele
também classificou o documento como “lixo” e “loucura”. A informação foi
confirmada ao Metrópoles pelo advogado de defesa Rodrigo Roca.
Na
oitiva, Torres manteve a versão do depoimento apresentado à Polícia Federal, em
2 de fevereiro, de que desconhece a origem do documento. Na manifestação
anterior, ele havia dito à PF que uma empregada pode ter colocado a “minuta do
golpe” em uma estante “ao arrumar a casa” e que ela foi entregue em seu
gabinete no Ministério da Justiça, mas afirmou desconhecer quem a produziu.
À
época da tentativa de golpe, Torres chefiava a SSP-DF, mas estava nos Estados
Unidos de férias. Após os atos de vandalismo, acabou exonerado do cargo e
preso.
A
oitiva foi realizada por videoconferência. Torres está detido desde 14 de
janeiro no Batalhão de Aviação Operacional (Bavop), da Polícia Militar do
Distrito Federal, no Guará 2, sob suspeita de omissão nos atos terroristas de 8
de janeiro.
Na
condição de testemunha no caso, Torres respondeu a todas as perguntas.
O
que dizia a minuta
O
texto da minuta golpista dizia que, instalado o Estado de Defesa no TSE, seria
constituída uma Comissão de Regularidade Eleitoral.
O
grupo seria composto por oito membros do Ministério da Defesa (inclusive a
Presidência), dois membros do Ministério Público Federal (MPF), dois da Polícia
Federal com cargo de perito criminal federal e um integrante dos seguintes
órgãos: Senado Federal, Câmara dos Deputados, Tribunal de Contas da União
(TCU), Advocacia-Geral da União (AGU) e Controladoria-Geral da União (CGU).
O
documento citava, ainda, suposto restabelecimento da lisura do processo
eleitoral — apesar de as suspeitas de fraude sugeridas por Bolsonaro nunca
terem sido provadas.
Ø
Lata
de lixo da História: Bolsonaro faz inauguração de lanchonete nos EUA
Foram
longos 28 anos nos calabouços da Câmara Federal como deputado, escondido sempre
atrás de pautas patéticas e de uma personalidade forjada em bandeiras falsas e
forçadas, um alarido irritante que misturava anticomunismo anacrônico, defesa
escatológica de monstros da Ditadura Militar, misoginia e todo tipo de
besteirol que encanta os incautos.
A
grande mudança para o parlamentar de produtividade nula foi o turbilhão que
varreu o país na última década e, após uma ruptura institucional traumática e
meticulosamente planejada por diferentes setores poderosos, eis que a liderança
na disputa eleitoral pelo Palácio do Planalto cai no colo de uma insignificante
figura que gerava repulsa na totalidade do mundo político. Ele foi à disputa e
venceu mesmo, num país em frangalhos.
Só
que o resto todo mundo já sabe. Encerrados os desesperadores, conturbados,
caóticos e intermináveis quatro anos de asneiras e cenas grotescas, agora é o
momento de Jair Bolsonaro retornar à realidade. Sua inexpressão como qualquer
coisa nessa vida, exceto para seus milhões de seguidores fanáticos
que o veneram por mera assimilação do barbarismo, é notória e parece já se
sobressair após ele deixar a faixa presidencial.
Bolsonaro,
“foragido” nos EUA desde antes de seu mandato acabar, agora faz “presença vip”
em eventos, como um ator adolescente de Malhação, e nesta semana participou da
festa de inauguração de uma lanchonete na Flórida, com direito a abraços
constrangidos, fotos a contragosto e uma cara que reflete inteiramente o quão
inexpressivo e minúsculo o mau militar, inexistente deputado e grotesco
presidente é.
O
pior de tudo é que a internet ainda aproveitou para zuar a rocambolesca cena e
espalhar memes, que envolveu até Ronald McDonald
Fonte:
Agencia Estado/FolhaPress/Metrópoles/Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário