Militares
envolvidos em “manifesto golpista” foram promovidos
O Exército Brasileiro
confirmou à coluna, por meio de uma resposta oficial ao Serviço de Informações
ao Cidadão (SIC), que nove dos 37 militares que participaram da polêmica
"Carta ao Comandante" foram promovidos após a circulação do
documento até o presente momento. O levantamento detalha as promoções, que
incluem um militar ao posto de coronel, cinco a tenente-coronel, um a capitão e
dois a primeiro-tenente. Entre os promovidos, dois, atualmente, se encontram na
reserva.
A "Carta ao
Comandante" foi publicada em novembro de 2022 e gerou grande controvérsia
ao sugerir uma pressão para que o comando do Exército aderisse a um movimento
de ruptura institucional. O documento foi citado em depoimentos e investigações
da Polícia Federal e do próprio Exército, que instaurou sindicâncias e um Inquérito
Policial Militar (IPM) para apurar responsabilidades.
Como a carta é alvo de
investigações, o Exército resiste em apontar os nomes e identificações dos
envolvidos, inclusive tendo amparo legal para não fornecer tais identificações.
Dos 37 militares inicialmente
identificados como envolvidos na elaboração e assinatura do documento, 19
permaneceram na ativa, conforme foi revelado anteriormente
pela coluna. As promoções, reveladas agora,
intensificam os questionamentos sobre a resposta do Exército à crise interna e
sua postura diante de atos considerados graves por especialistas em disciplina
militar.
Vale ressaltar que a
maioria das promoções foram realizadas durante o governo Lula, sob o comando do
general Tomás Paiva, tido como um general legalista.
<><> Repercussão e críticas
A decisão de promover
militares que participaram de um movimento interpretado como desrespeito à
hierarquia militar gerou repercussão entre analistas. Alguns defendem que as
promoções podem ser vistas como sinais de continuidade de privilégios para um
grupo que, à época, buscava desafiar a instituição.
Por outro lado, fontes
do Exército argumentam que as promoções são processos administrativos baseados
em méritos e requisitos legais, sem ligação direta com o caso da carta.
"As promoções seguiram os ritos normais da corporação e não representam
aval às ações dos envolvidos no episódio", afirmou um oficial, sob
condição de anonimato.
<><> Contexto: carta e
investigações
A "Carta ao
Comandante" foi entregue em novembro de 2022 ao então comandante do
Exército, general Marco Antônio Freire Gomes. O documento foi descrito como uma
tentativa de influenciar decisões do alto comando em favor de movimentos de
ruptura institucional. Após ser descoberta, a carta foi anexada a investigações
que levaram à abertura de sindicâncias e à punição administrativa de 26 dos 37
militares envolvidos. As penalidades incluíram advertências e detenções
disciplinares.
Além disso, a carta é
um flerte velado a quebra de hierarquia na caserna, uma vez que era uma carta
de militares tentando intimidar o comandante do exército, o que é grave.
<><> Impacto na imagem do Exército
O caso reforça os
desafios enfrentados pela instituição militar para lidar com episódios que
colocam em xeque sua disciplina e hierarquia. Com 19 dos envolvidos ainda na
ativa e avanços em suas carreiras, a questão levanta debates sobre o rigor das
medidas adotadas e a capacidade do Exército de prevenir novos episódios
similares.
As promoções, apesar de
justificadas como baseadas em requisitos legais, trazem à tona o debate sobre a
necessidade de maior transparência nas decisões administrativas e o impacto
dessas ações na confiabilidade da instituição perante a sociedade.
¨ Lula e
a indisciplina militar
A relação entre o
governo Lula e as Forças Armadas sempre foi marcada por um misto de tensões
pontuais e permissividade. Desde seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva demonstra um padrão de anuência com atitudes controversas de
militares, reforçando uma postura leniente frente à indisciplina. A recente
polêmica envolvendo o vídeo da
Marinha, onde civis foram retratados de forma
pejorativa, reacende esse debate e evidencia a continuidade desse
comportamento.
O vídeo, divulgado no
último domingo (30), apresenta a Marinha do Brasil classificando a instituição
como composta por "trabalhadores" em oposição a civis retratados como
"preguiçosos" e "desocupados". A repercussão negativa foi
imediata, gerando críticas em diversas esferas. No entanto, até o momento, não
há indícios de que os responsáveis pela publicação enfrentem qualquer tipo de
punição ou sanção. Esse episódio não ocorre em um vácuo, mas se soma a uma
sequência de casos que ilustram a indulgência do governo Lula com a indisciplina
militar.
<><> Casos emblemáticos: Viegas
e Gonçalves Dias, o "general bolo"
Em 2004, o então
ministro da Defesa, José Viegas, pediu demissão após o Exército publicar uma
nota defendendo o golpe militar de 1964. A nota, divulgada sem consulta ao
governo, utilizava um tom elogioso aos métodos do regime ditatorial. Viegas, em
sua carta de renúncia, criticou duramente a postura do Exército e afirmou: “É
também inaceitável, a meu ver, que se apresente o Exército como uma instituição
que não precise efetuar qualquer mudança de posicionamento e de convicções em
relação ao que aconteceu naquele período histórico.” Apesar do caráter
emblemático da crítica, o governo Lula não tomou medidas contra os responsáveis
pela nota, ilustrando a resistência em confrontar as Forças Armadas.
Outro episódio
emblemático ocorreu em 2012, durante a greve de policiais militares na Bahia. O
general Marco Edson Gonçalves Dias, então comandante da 6ª Região Militar,
recebeu um bolo de aniversário dos grevistas, emocionando-se publicamente com o
gesto. A atitude foi vista como uma quebra da hierarquia e um gesto de
condescendência com um movimento que desafiava a ordem pública. O episódio lhe
rendeu o apelido de "General Bolo" e resultou em seu afastamento das
funções de comando. Apesar disso, Lula o trouxe de volta ao governo em 2023,
nomeando-o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mesmo com o
histórico problemático.
Em janeiro de 2023,
Gonçalves Dias foi novamente alvo de críticas, desta vez por sua atuação
durante os atos golpistas de 8 de janeiro. Imagens mostraram o general
circulando entre os invasores do Palácio do Planalto, reforçando a percepção de
permissividade e inação. Mais uma vez, apesar da gravidade, não houve sanções
formais além de sua saída do cargo.
<><> Padrões históricos e expectativas
Esses episódios
demonstram um padrão recorrente de leniência do governo Lula frente à
indisciplina militar. Em vez de enfrentar os problemas com assertividade, o
governo frequentemente opta por respostas discretas ou inócuas, evitando o
enfrentamento direto com as Forças Armadas. Esse comportamento envia um sinal
perigoso: a transgressão de normas democráticas ou disciplinares raramente terá
consequências reais.
O caso recente da
Marinha, aliado aos episódios de José Viegas e Gonçalves Dias, reforça essa
percepção. A ausência de respostas contundentes enfraquece a disciplina interna
e corrompe a confiança da sociedade nas instituições. Lula precisa reconhecer
que, sem mudanças estruturais na relação com os militares, sua leniência
histórica pode continuar a minar a credibilidade e a estabilidade democrática
do Brasil.
¨ O argumento de
Múcio que conteve a fúria de Lula contra a Marinha
No dia 1° de
dezembro deste ano a Marinha do Brasil postou um vídeo institucional em seus
perfis oficiais nas redes que foi um dos maiores atos de insubordinação ao
poder político civil de que se tem notícia nas últimas décadas. Na peça, uma
crítica ácida e nada indireta aos cortes nas mamatas dos militares propostos
pelo governo, os marinheiros aparecem como os únicos que trabalham de verdade,
enquanto civis vivem uma vida de festas e esbórnia. Lula ficou furiosíssimo.
Os autores do tal
vídeo usavam como desculpa o Dia do Marinheiro, comemorado no dia 13 do mesmo
mês, para a veiculação da propaganda institucional, mas era claro que as
imagens eram um ato de provocação e desobediência ao presidente da República,
que jamais permitiu tal petulância e que determinou a revisão das mordomias da
caserna. A partir do fato, Lula estava terminantemente decidido a demitir o
comandante da Marinha, o almirante Marco Sampaio Olsen, que deu aval e
autorizou o vídeo desavergonhado.
Quando a coisa
parecia superada, semanas depois, Lula seguia engasgado com Olsen e insistia a
todos os interlocutores e auxiliares do governo que não tinha jeito, ia mesmo
demiti-lo. Houve então uma reunião previamente marcada com o ministro da Defesa,
José Múcio, para tratar de outros temas, no período que o presidente passou em
São Paulo após dois procedimentos cirúrgicos na cabeça.
Lula já vinha,
novamente, com a decisão de colocar o almirante para fora do cargo, mas acabou
surpreendido com um comunicado do ministro na reunião desta semana: ele, Múcio,
queria deixar a pasta em breve. É óbvio que tal cenário mudava um pouco as
coisas em relação a demitir Olsen, mas não seria o suficiente para demover o
presidente de tal ideia. Foi aí que o ministro da Defesa usou um argumento que
fez Lula mudar de posição.
Múcio explicou que,
primeiramente, trocar o comando da Marinha ao mesmo tempo em que trocaria o
chefe do Ministério da Defesa deixaria tudo ainda mais complicado. Neste caso,
para evitar uma nova crise, seria melhor que ele, um civil, saísse do cargo, em
vez do almirante. E haveria ainda outra questão.
A Marinha é a força
militar com mais integrantes do Alto Comando com graves inclinações
reacionárias. Na prática, o almirantado é o grupo dos oficiais generais das
Forças Armadas do Brasil que mais odeia mortalmente o PT, Lula e qualquer coisa
ligada à esquerda, servindo como bajuladores de Jair Bolsonaro (PL) e da turba
de fundamentalistas da extrema direita que cerca o ex-presidente.
Múcio convenceu Lula
de que a demissão de Olsen seria uma nova crise com a Marinha e mostrou que os
outros almirantes que poderiam vir na linha de sucessão para ocupar o cargo
máximo da organização militar seriam figuras ainda mais difíceis, o que por fim
fez o presidente enterrar, pelo menos por ora, a ideia de demitir o comandante.
¨ Lula celebra
prisão de Braga Netto como marco contra a impunidade
O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em um encontro de confraternização com
ministros realizado na última sexta-feira (20), estar satisfeito com a prisão
do general Walter Braga Netto, por considerar a medida um passo importante para
combater a impunidade no país. As declarações de Lula foram confirmadas por
participantes da reunião e divulgadas
pela Folha de S. Paulo, que enfatizou o clima de coesão no Palácio
da Alvorada.
No evento, Lula destacou que a detenção de um militar de
alta patente demonstra que a punição não deve se restringir apenas às camadas
mais pobres da população. “O que eu não tive, eu quero que eles tenham: todo o
direito e todo o respeito para que a lei seja cumprida. Mas, se esses caras
fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente”, declarou
o presidente, em referência à prisão de Braga Netto ocorrida no sábado anterior
(14).
Durante a mesma fala, o chefe do Executivo lembrou que,
supostamente, havia sido arquitetado um plano para o assassinato dele próprio,
de seu vice e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal
(STF), a quem Lula se referiu como “Xandão”. Também reforçou que todos os
ministros devem permanecer em Brasília no dia 8 de janeiro, data que marca o
aniversário da depredação das sedes dos três Poderes, ocorrida no início de
2023. A intenção é manter vivos os debates sobre a defesa da democracia,
evitando que os ataques sejam esquecidos.
Na visão do presidente, a presença de autoridades
internacionais em eventos que celebrem a democracia brasileira e mundial também
será fundamental para combater o autoritarismo. Recentemente, Lula ressaltou o
direito de Braga Netto à presunção de inocência. No entanto, afirmou que
eventuais culpados por “crimes graves” contra as instituições precisam ser
“punidos severamente”.
A prisão de Braga Netto é um fato inédito na história do país, já que, até
então, nenhum militar do mais alto posto do Exército havia sido detido por
determinação do Judiciário, em um processo conduzido por civis. A decisão
partiu do ministro Alexandre de Moraes, do STF, após representação da Polícia
Federal que apontaria, de acordo com o procurador-geral da República, Paulo
Gonet, provas suficientes de autoria e materialidade dos crimes em questão. O
objetivo principal da medida cautelar seria mitigar riscos à ordem pública e
garantir a aplicação da lei penal.
As suspeitas que pesam contra o general ganharam força a
partir de setembro de 2023, quando o tenente-coronel Mauro Cid obteve
homologação de um acordo de colaboração premiada no STF. Desde então, surgiram
indícios de tentativas de interferência nas investigações, o que reforçou a
necessidade, segundo as autoridades, de prisão preventiva.
<><> Movimentações no
governo
No mesmo
encontro de sexta-feira, que misturou discussão política com celebração de fim
de ano, Lula reuniu ministros e líderes do Congresso para avaliar estratégias e
a possibilidade de promover uma reforma ministerial no início do próximo ano.
Apesar de não ter mencionado diretamente as futuras mudanças em seu discurso, o
presidente deu sinais de alteração na pasta de comunicação ao convidar o
marqueteiro Sidônio Palmeira para a reunião, indicando que ele poderia
substituir Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação.
Além disso, Lula demonstrou insatisfação com a condução da
“versão social” do G20, sob responsabilidade do ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Márcio Macedo. Ao fazer críticas públicas, o presidente sinalizou
uma possível substituição na pasta, levantando a hipótese de que Macedo pudesse
ser realocado e abrindo espaço para que Pimenta assuma uma nova função no
governo.
Fonte:
Fórum
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