sábado, 21 de dezembro de 2024

Dono da Folha se escondeu na sede do jornal com medo de morrer, durante a ditadura

O que era uma "lenda urbana" entre militantes de esquerda é fato confirmado pela pesquisa realizada por seis acadêmicos que durante dois anos se debruçaram sobre as relações do Grupo Folha com a ditadura militar (1964-1985): Octávio Frias de Oliveira, um dos pioneiros do Grupo Folha, escondeu-se em um apartamento privativo na sede do jornal, na alameda Barão de Limeira, centro de São Paulo, com medo de ser "justiçado" pela ALN, a Ação Libertadora Nacional.

Os pesquisadores escreveram o livro A Serviço da Repressão, Grupo Folha e Violações de Direitos Humanos na Ditadura, recém-lançado pela editora Mórula, que servirá de base para um documentário que será lançado em janeiro, dirigido por Chaim Litewski, o mesmo do documentário Cidadão Boilesen.

Escrito por Ana Paula Goulart Ribeiro, Amanda Romanelli, André Bonsanto, Flora Daemon, Joëlle Rouchou e Lucas Pedretti, o livro investigou vários aspectos da relação dos sócios Frias de Oliveira e o empresário Carlos Caldeira Filho com os golpistas de 1964 e a ditadura que durou 21 anos.

A dupla comprou o título da falida Folha de S. Paulo em 1962 e Caldeira seguiu na sociedade até 1992, antes se elegendo prefeito de Santos pelo partido auxiliar do regime, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA).

·        Emboscada e morte

O livro traz revelações importantes, como a confirmação da presença de veículos da Folha em uma emboscada onde morreram três integrantes da ALN.

Eventualmente, o grupo de resistência armada queimou três veículos da Folha em dois episódios distintos, contou à Fórum, em entrevista, a jornalista e historiadora Ana Paula Goulart Ribeiro, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das autoras do livro:

Todos os militantes [da ALN] sabiam que onde tinha um carro da Folha de São Paulo era suspeito, era uma informação que circulava em toda a militância e num determinado momento a ALN faz uma ação contra os carros da Folha [que foram queimados] justamente para denunciar que estavam sendo usados pela repressão.

Octávio Frias de Oliveira reagiu com um editorial de primeira página com o título de "Banditismo".

A ALN respondeu em seu próprio periódico, com uma ameaça de "justiçamento".

O dono da Folha, então, ficou escondido na própria sede do diário:

A partir desse momento ele [Frias] muda para um um apartamento que tinha dentro do jornal, que tinha sido construído pelo Caldeira, e ele e o Caldeira e suas famílias passam a ser escoltados justamente pelos agentes da repressão. Então, os funcionários lá do DOI-Codi passam a acompanhá-los. Não só eles mudam para morar no jornal, mas passam a ser acompanhados pela segurança pessoal, que é feita pelos agentes da ditadura durante um tempo.

·        Folha empregou agentes da repressão 

Um detalhe até então pouco conhecido é que a Folha empregou em sua alta hierarquia ao menos dois policiais diretamente ligados à repressão (a Fórum publicará detalhes em breve, como parte desta série de reportagens).

À época funcionava em São Paulo o maior centro de torturas da ditadura militar, o Destacamento de Operações de Informações -- Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), subordinado ao Exército.

Ele nasceu na Operação Bandeirantes, uma "fase de testes" financiada por empresários paulistas. Lá operou o único agente da repressão já condenado por torturar, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

O livro foi resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre o Ministério Público Federal e a Volkswagen, violadora dos Direitos Humanos no Brasil durante a ditadura militar.

O TAC originou financiamento para investigar outras empresas, como o Grupo Folha.

Como resultado da pesquisa, o MPF abriu um inquérito. Os herdeiros de Octávio Frias de Oliveira se negaram a dar entrevista sobre o tema aos autores.

O jornal considera que já fez e publicou sua própria investigação interna, comandada pelo herdeiro Octávio Frias Filho, já falecido, em que a empresa se afasta de qualquer tipo de dolo.

Ana Paula explica:

Existe um inquérito já aberto no Ministério Público Federal contra o Grupo Folha [como resultado da pesquisa que originou o livro]. E eu acho isso muito importante. Eu acho uma pena, realmente, a Folha não rever criticamente o seu lugar no passado. Eu acho que isso não seria nada absurdo. Outras empresas de comunicação no mundo, inclusive, já estão fazendo isso, revendo o seu lugar no passado. Eu acho que isso só fortaleceria, inclusive, a própria Folha, fortaleceria a sua contribuição -- como ela gosta de dizer -- no papel de "um jornal a serviço da democracia".

 

¨      Metaleiro nazista que vendia discos com apologia a Hitler é alvo da Polícia Federal

A Polícia Federal paranaense, em operação denominada "Trilha do Ódio", deflagrou uma ação contra a propagação de material ideológico nazista em plataformas digitais. O alvo da operação era uma pessoa que comercializava álbuns musicais do gênero Black Metal nazista, cujo nome é uma clara alusão ao partido liderado por Adolf Hitler no século 20.

Em cumprimento a ordem judicial, agentes da Polícia Federal realizaram buscas e apreensões no município de Almirante Tamandaré. A identidade do investigado permanece sob sigilo. 

A Polícia Federal localizou e apreendeu um vasto acervo de objetos que fazem apologia ao nazismo, tais como discos de NSBM, bandeiras e vestimentas de grupos neonazistas. As investigações indicam que o suspeito é um dos maiores distribuidores de discos de Black Metal Nazista em território nacional. O material apreendido será periciado.

De acordo com as investigações, o suspeito se valia das redes sociais para ampliar o alcance da venda de seus materiais.

"As investigações foram iniciadas após a identificação de um perfil em redes sociais que disseminava conteúdo de apologia ao nazismo, incitação ao ódio e discriminação contra a comunidade judaica", afirmou a PF, em nota.

Conforme a Polícia Federal, as ações do investigado configuram o crime previsto no artigo 20 da Lei nº 7.716/1989, que penaliza a prática de discriminação racial. A pena para esse delito é de reclusão de um a três anos, cumulada com multa.

 

¨      Mulher que levou coroa de flores à casa de Lula celebrou morte de Dona Marisa em 2017

Maria Cristina de Araújo Rocha, a bolsonarista de 77 anos que foi presa por injúria racial na quarta-feira (18) ao xingar um segurança de "macaco" após deixar uma coroa de flores fúnebres em frente à residência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, é reincidente em casos do tipo. 

Em fevereiro de 2017, a idosa de extrema direita foi ao Hospital Sírio-Libanês, onde a ex-primeira-dama Dona Marisa Letícia estava internada, para comemorar a morte da então companheira de Lula. Naquele dia, o hospital havia acabado de anunciar que Marisa tinha sofrido morte cerebral. 

A bolsonarista foi hostilizada por apoiadores de Lula e Marisa que estavam reunidos no hospital em vigília pela ex-primeira-dama. Maria Cristina foi retirada do local por seguranças. Antes, a extremista já havia feito um "protesto" em frente à unidade de saúde para pedir que Dona Marisa se tratasse no Sistema Único de Saúde (SUS). 

À época o fato foi repercutido pelo portal UOL, que veiculou um vídeo do momento em que Maria Cristina de Araújo Rocha é hostilizada após comemorar a morte de Dona Marisa e retirada do local. 

<><> Filha de militar 

A bolsonarista Maria Cristina de Araújo Rocha, de 77 anos, foi presa por injúria racial, nesta quarta-feira (18), em frente à residência de Lula (PT). Ela chamou um agente da segurança da Presidência da República de “macaco”.

A antipetista, que é filha de militar, levou uma coroa de flores à residência do presidente para ironizar o problema de saúde que ele teve, felizmente superado.

Ela chegou ao local em um carro com uma foto do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, atrás de grades. Junto à montagem, desenhos de uma caveira e de uma ratazana.

A mulher é figura frequente em manifestações da extrema direita, pois integra um pseudo-movimento chamado de “Ativistas Independentes”. Em 2020, levou um taco de beisebol para um ato na Avenida Paulista, e foi retirada do local, pela Polícia Militar, por se tratar de uma manifestação pacífica pela manutenção da democracia.

Maria Cristina também aparece em várias fotos, nas redes sociais, ao lado de políticos representantes da extrema direita, como Carla Zambelli (PL), Fernando Holiday (PL) e Kim Kataguiri (União Brasil).

Por ser filha de militar, o general do Exército Virgílio da Silva Rocha, ela recebe pensão mensal de R$ 14,5 mil. Tem o costuma de se gabar da amizade próxima do pai com o general do Exército, Eduardo Villas Bôas, com quem posta fotos, de acordo com reportagem do G1.

<><> Pensionista desde 2009

A representante da extrema direita recebe pensão mensal desde 2009 e, atualmente, está na casa de R$ 14,5 brutos, podendo variar. Em junho de 2024, por exemplo, ganhou R$ 17 mil líquidos por causa de uma gratificação.

Maria Cristina faz parte de uma lista de 30 mulheres parentes de militares, que tiveram a situação regularizada judicialmente, em dezembro de 2010, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) publicou um acórdão considerando legal a concessão do benefício.

 

Fonte: Fórum

 

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