Escoamento e custo de produção são desafio, na Bahia
Os desafios da indústria da Bahia são consequências
dos obstáculos externos ao país com a redução dos preços das commodities
vendidas pela indústria da Bahia (petroquímica, celulose e agronegócio) e de
questões nacionais, a exemplo dos juros altos e desemprego. A opinião é da
Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), que também cita os
problemas locais, como os de infraestrutura. No modal portuário, embora
significativos investimentos tenham ocorrido ou estão em curso, ainda há
gargalos no Porto de Aratu. No modal rodoviário, as condições precárias das BRs
324, 242, 116, entre outras, são também obstáculos importantes para o
escoamento da produção da Bahia, conforme a Fieb.
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Mas o maior motivo de preocupação do setor
industrial, de acordo com o superintendente da Fieb, Vladson Menezes, é a
reativação do modal ferroviário, “que tem mobilizado toda o setor produtivo
baiano nos últimos anos e deverá seguir para os próximos anos”. Para que a
ferrovia dê maior contribuição ao desenvolvimento do Estado da Bahia, considera
Vladson, “é preciso que se realize investimentos na malha, que é muito antiga,
tem traçado obsoleto, com muitas interferências urbanas, a exemplo da conhecida
travessia de Cachoeira – São Félix, em que o comboio ferroviário passa por uma
ponte inaugurada por D. Pedro II, mas há também problemas em Candeias, Santo
Amaro e Brumado”.
Ainda segundo o gestor, essas questões, entre
outras, limitam a velocidade do transporte, aumentam o custo e,
consequentemente, reduzem a atratividade de novas cargas. “O fato é que a VLI
(empresa de logística do Brasil que controla as concessionárias de transporte
ferroviário) manifestou intenção de não renovar o trecho baiano, devolvendo
para o governo federal. Esse fato está gerando grande preocupação e mobilizando
o setor industrial”, pontua.
·
Gastos operacionais
O presidente da Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), Kelsor Fernandes,
considera que, embora o desempenho do comércio seguiu favorável, ao longo de
2023, é necessário destacar os desafios enfrentados pelos empresários baianos.
“Os custos operacionais subiram muito ao longo da pandemia e pressionam as
margens dos produtos. As matérias-primas, os combustíveis e a mão-de-obra,
entre outros custos fundamentais para os negócios, ficaram mais caros e não
houve outra saída a não ser o repasse ao consumidor final. As empresas grandes
ainda conseguem um poder de barganha maior, porém os pequenos e médios
empresários ficam sem muitos recursos para aliviar os preços e sentem a perda
de atratividade na ponta”, pontua.
Além disso, explica Kelsor, o custo de capital
também prejudicou o andamento dos negócios. “O Brasil conviveu durante quase
dois anos com uma taxa de juros de quase 14% ao ano e com o crédito ainda mais
caro para as empresas. Em uma situação em que se faz necessário tomar crédito
para rodar o negócio, é natural que muitas empresas não tenham tido um
planejamento mais adequado dos seus fluxos de caixa. Tanto que, atualmente, o
patamar de empresas inadimplentes está em um nível histórico elevado”.
Na ótica do consumidor, o enfrentamento também se
deu para acertar as suas contas. “Qualquer recurso extra acabou indo para a
quitação do compromisso atrasado, o que tirou o potencial de compra no
comércio, deixando o empresário em uma situação ainda mais delicada e tendo que
buscar formas de deixar o seu produtivo sempre atrativo, com formas de
pagamento diferenciadas”, afirma o presidente do Fecomércio.
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Alta da produtividade
No setor da Agricultura, o maior desafio é
“alimentar uma população cada vez mais numerosa, sem ampliar a área de
produção”, na opinião de Humberto Miranda, presidente do Sistema Federação da
Agricultura e Pecuária da Bahia/ Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(Faeb/Senar). “Isso implica em ter que aumentar a produtividade naquela mesma
área, o que só é possível com ciência e tecnologia. Para isso, a irrigação
precisa ser entendida como investimento e não como uma atividade predatória.
Ela é capaz de aumento de produtividade, reduzindo a necessidade de aberturas
de novas áreas”.
Os desafios logísticos também estão em pauta. “A
Bahia precisa de estradas e ferrovias em melhores condições, para reduzir
custos, acidentes e poluição ambiental, e de ampliação da capacidade dos nossos
portos, evitando que os produtos baianos escoem por outros estados e gerando,
assim, fuga de divisas. Também destaco como desafio o fortalecimento da defesa
agropecuária do setor, tão importante para a segurança sanitária dos rebanhos e
dos produtos agropecuários, além, claro, de ser fundamental para a segurança
alimentar da população”, considera Miranda.
Só através desse fortalecimento e do investimento
nos órgãos fiscalizadores, aponta o gestor, será possível garantir registros de
novos produtos. “Precisamos de políticas de incentivo, como acesso a crédito
rural e à capacitação, principalmente a pequenos e médios produtores para que
tenham competitividade e abertura de novos mercados, nacional e internacional”,
diz.
Miranda cita a falta de investimento em
infraestrutura como uma das maiores dificuldades para a agricultura em 2023.
“Normalmente, os principais obstáculos estão da porteira para fora. Aqui eu
cito e nela estão inseridos rodovias, portos e aeroportos em situações
precárias e a falta de uma malha ferroviária para desonerar os custos e
desafogar as estradas, além de energia elétrica e conectividade que são os
grandes gargalos e impedem a ampliação do setor, através da instalação de
agroindústrias em regiões produtivas. A conectividade, aliás, é uma questão de
cidadania, pois ela desempenha um papel crucial na educação, nos serviços de
saúde, nas oportunidades de emprego e nas interações sociais, avalia o
dirigente da Faeb, destacando como outro obstáculo que o setor enfrenta é “a
insegurança pública, jurídica e fundiária, que coloca em risco a continuidade
de muitas empresas rurais”.
No âmbito econômico, o presidente da Faeb afirma
que o setor foi impactado negativamente com os elevados preços dos insumos, em
decorrência da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Em contrapartida,
temos preços menores na hora de vender a produção, com destaque para a arroba
do boi, que está em seu patamar mais baixo, e o litro do leite, com queda
histórica”, pontua. Apesar das dificuldades, as perspectivas de boa colheita
são esperançosas. “Eu sou sempre otimista e tenho as melhores expectativas para
o próximo ano, com aumento da produção e produtividade de culturas importantes
no nosso Estado, a exemplo do algodão, que deve ganhar mais área, ocupando
parte das lavouras de milho”.
·
Alimentos, bebidas e calçados seguram a indústria
A indústria de transformação da Bahia deve
apresentar, este ano, retração por conta, principalmente, do desempenho
negativo dos segmentos petroquímico e de refino e, em menor grau, ao resultado
desfavorável do setor de metalurgia, conforme avaliação da Federação das
Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Em contrapartida, a entidade acredita que
o resultado positivo dos segmentos de alimentos e de bebidas deverá
contrabalançar a queda da produção.
A Fieb aponta que, no acumulado de janeiro a
setembro de 2023, a Indústria de Transformação da Bahia sofreu queda de 2,8% na
produção, contra uma redução de 1,2% da indústria nacional. Apenas três setores
aumentaram a produção no Estado: Alimentos (13,6%), Couro e Calçados (7,5%) e
Bebidas (1,1%). Os outros setores apresentaram queda, com destaque para o de
Refino de Petróleo e de Biocombustíveis (-4,1%) e Produtos Químicos (-11,5%). A
indústria da Bahia segue a indústria brasileira, que apresentou uma queda de
1,2%.
Dado o peso dos setores de Refino e Petroquímico
(quase 50% da indústria), o superintendente da Fieb, Vladson Menezes, aponta um
cenário adverso devido ao forte ciclo de baixa no setor Petroquímico e uma
redução da demanda dos combustíveis. “A petroquímica mundial passa por um
momento delicado após a entrada em operação de novas capacidades de Polietileno
(PE) nos Estados Unidos e China, o que reduziu os spreads dos produtos
petroquímicos fabricados em Camaçari. Em consequência, todas as centrais petroquímicas
do Brasil operam, hoje, no menor nível da série história de utilização da
capacidade instalada”, avalia.
·
Cenário nacional
De acordo com o relatório trimestral da Braskem, a
utilização da capacidade de produção de eteno está, atualmente, em 68%, 11
pontos percentuais abaixo de igual período do ano anterior. Além dos efeitos
setoriais, destaca Menezes, obstáculos macroeconômicos afetaram a indústria,
como a política de juros altos, desemprego elevado e infraestrutura ruim.
“Para 2024, a indústria da Bahia, por ser em grande
parte produtora de bens tradable (comercializáveis), com forte ligações com o
comércio internacional, deverá sofrer com as perspectivas negativas da economia
global, que certamente vai atravessar um cenário de inflação global ainda
elevada; dólar forte e juros elevados; menor liquidez e crescimento; preços das
commodities em queda; e petróleo influenciado pela guerra da Ucrânia. O ciclo
de baixa da petroquímica mundial deve permanecer no próximo ano, afetando uma
grande parte da indústria local”, analisa o superintendente da Fieb, Vladson
Menezes.
No cenário nacional, ressalta o dirigente da Fieb,
está em curso a recuperação da economia brasileira, mas, em 2024, o ritmo de
crescimento deve desacelerar. As previsões atuais do relatório Focus/Banco
Central, completa, são de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 1,5%
em 2024, menor do que a previsão para 2023, que é de crescimento de 2,9%.
“Fatores que ainda travam a economia brasileira devem permanecer, como juros
elevados, taxa ainda alta de desemprego e incertezas fiscais. Esses indicadores
são motivo de preocupação para o desempenho da indústria baiana, por conta de
sua forte correlação com a economia brasileira”, considera.
De forma setorial, reforça, a petroquímica da Bahia
passa por um ciclo de baixa, com preços em queda. “Não é esperada uma
recuperação substantiva no próximo ano. De modo semelhante, o refino, também
impactado por redução de preços dos combustíveis, pode apresentar pequena
retração no próximo ano”. Um segmento de destaque, enaltece o gestor, é o da
Metalurgia, que tem apresentado resultados negativos significativos desde 2020.
“Essas perdas decorrem da reestruturação da principal empresa do setor na Bahia.
Em 2023, com dados de janeiro a setembro, a produção física continua em queda
(-2,7%). Espera-se que a principal empresa do setor, a Paranapanema, consiga
realizar a reestruturação e volte a sua produção normal”.
Por conta desse cenário, afirma Menezes, a Fieb tem
buscado reduzir os efeitos negativos sobre a indústria baiana. “No caso da
Petroquímica, todo o setor produtivo está mobilizado para a efetiva volta do
REIQ (Regime Especial da Indústria Química), bem como um urgente aumento da
taxação dos importados petroquímicos. Ainda nesse segmento, há necessidade de
mudar a política do gás natural para que a indústria de fertilizantes volte a
ser competitiva. Do ponto de vista da infraestrutura, o setor produtivo busca
uma solução para a questão ferroviária e de outros modais”, relata o
superintendente, complementando que, em todos os segmentos industriais. Segundo
ele, a Fieb tem atuado “para mitigar os efeitos adversos do cenário negativo,
por meio de um amplo apoio na formação de obra qualificada, pesquisa e inovação
e apoio institucional”.
Fonte: A Tarde

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