Ansiedade: expectativas e pressões podem gerar a síndrome do fim do ano
De acordo com a Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP), 9% dos brasileiros sofrem de ansiedade e, no final do ano,
esse número aumenta para mais de 12%. Nesta época, relatos sobre expectativas
abaladas, irritação
causada pelas festas e problemas financeiros são comuns e esperados, mas
quando essas preocupações se transformam em uma angústia intensa, podem indicar
o aparecimento da síndrome do fim de ano.
Esse estado mental pode afetar as relações, tanto
profissionais quanto pessoais. Segundo o psicólogo Lucas Freire, a dezembrite,
como também é chamada, reflete um turbilhão emocional. “Não é um diagnóstico
clínico formal. Caracteriza-se por um misto de estresse e ansiedade. Esses
sentimentos refletem o impacto das nossas interações sociais e expectativas
pessoais durante este período”, explica o profissional.
Mesmo sendo muitas relatadas pela maioria das
pessoas, em diferentes graus, a síndrome do fim do ano pode ser tratada com
terapia e outras atividades. Além disso,
é facilmente prevenida, com bons hábitos e cuidados com a saúde mental.
·
Causas
Essa síndrome depressiva pode afetar qualquer
pessoa, independentemente de idade ou gênero. Na maioria das vezes, é algo
passageiro, porém, se não for tratada, pode gerar transtornos recorrentes. Esse
tipo de manifestação está associada com problemas financeiros e desapontamentos
em relação à vida amorosa ou familiar. Segundo a psicóloga e neuropsicóloga
Juliana Gebrim, as causas podem variar de pessoa para pessoa, mas, geralmente,
estão relacionadas com um acúmulo de estresse ao longo do ano, combinado com as
altas expectativas e pressões associadas ao final do ano.
·
Sintomas
Os sinais mais comuns são ansiedade, depressão, intensa
obsessão pelas metas e cansaço mental, físico e emocional. “Além disso,
sentimentos de preocupação sobre o futuro e tristeza desencadeada pela reflexão
do ano podem ser observados nos quadros da síndrome do fim do ano”, ressalta
Juliana Gebrim.
·
Diagnóstico
O diagnóstico da "dezembrite", que não é
uma condição médica oficialmente reconhecida, é geralmente feito com base na
avaliação de um profissional de saúde mental — um psicólogo ou um psiquiatra.
“Esses profissionais vão avaliar sintomas relatados, a duração e a intensidade
deles”, explica a neuropsicóloga. A investigação dos fatores de estresse e os
eventos desencadeantes também é necessária para o diagnóstico.
·
Tratamento
O
tratamento varia conforme a gravidade dos sinais e as necessidades individuais. "Em
casos leves, é possível minimizar os sintomas apenas com estratégias de
cuidado, definindo limites claros para o trabalho e reservando tempo para o
descanso”, detalha Juliana. Já para casos mais graves, ela indica a busca de
acompanhamento psicológico para ajudar a identificar e tratar sintomas. “Assim,
é possível fornecer suporte emocional, estratégias de enfrentamento e técnicas
de gerenciamento do estresse.”
·
Prevenção
Para não desenvolver a síndrome, é necessário ficar
atento à rotina. Priorizar uma alimentação equilibrada, exercícios físicos
regulares e uma boa qualidade de sono são recomendações para o ano todo. Além
disso, conversar abertamente com amigos, familiares ou um profissional de
confiança sobre os sentimentos e as preocupações relacionadas ao final do ano
pode ajudar. “Estabelecer expectativas realistas e priorizar o autocuidado são
outras medidas muito necessárias“, completa a profissional.
* Dicas práticas para lidar com a dezembrite
- Veja o
próximo ano como uma oportunidade: use esse momento para traçar novas metas e
se motivar para alcançá-las.
- Celebre suas conquistas: reconheça o seu esforço e as suas realizações, por
menores que sejam.
- Viva o presente: foque no que você pode controlar e aproveite o momento
presente.
- Não se cobre perfeição: aceite que nem sempre as coisas vão sair como
planejado e esteja aberto a ajustes e adaptações.
- Seja otimista: confie em si mesmo para fazer as transformações necessárias em
sua vida.
>>>> Palavra do especialista - Lucas
Freire é psicólogo e criador do método playfulness
Qual a relação dos transtornos psicológicos com a
síndrome do fim do ano?
Indivíduos que já enfrentam transtornos, como
depressão e ansiedade, podem ser mais vulneráveis a se sentirem sobrecarregados
durante períodos de alta expectativa e mudança, como o fim do ano. Logo, esta é
uma época especialmente sensível para essas pessoas.
Como a internet pode influenciar no desenvolvimento
da síndrome?
Como sabemos, as redes sociais podem amplificar a
sensação de inadequação ou de não atingir padrões sociais, especialmente quando
as pessoas comparam suas experiências com as imagens idealizadas que outras
postam on-line.
Quais são outras opções de prevenção dessa
síndrome?
O playfulness, conjunto de práticas que atua como
resposta para as incertezas e as tensões emocionais, é uma boa forma de
prevenção para síndrome do fim do ano. Por meio da incorporação de diversão na
rotina, é possível reduzir o estresse, aumentar a sensação de conexão com
outros e ampliar a inteligência emocional. Assim, podemos não apenas prevenir
condições como a dezembrite, mas também enriquecer nossa experiência diária com
mais felicidade e satisfação.
Ø Conheça a
síndrome de Grinch
Natal é uma data popularmente conhecida como sendo
símbolo de celebração e união. No entanto, essa festividade pode despertar
sentimentos de aversão, apatia ou tristeza em algumas pessoas. Embora não seja
uma condição oficialmente reconhecida, o termo Síndrome de Grinch é aplicado a quem não se sente bem com as
tradições de fim de ano.
O nome foi inspirado em um personagem criado nos
anos de 1950 pelo autor infantil Dr. Seuss. Na trama, Grinch não gosta do Natal e faz de tudo para sabotar a festa na cidade de Whoville. Nesse
sentido, a psicóloga Daniele Leal, do Instituto de Psicologia da Universidade
de Brasília (UnB), explica que o apelo emocional que cerca o período natalino
pode gerar estresse por variados motivos, que vai desde um acontecimento
traumático a um aumento de um sentimento que pode estar presente o ano inteiro
e se intensificar justamente quando o trabalho, as aulas, outras atividades
cessam e a pessoa tem mais tempo para se deparar com lembranças e sentimentos
ainda não elaborados.
"É comum que a época do Natal seja associada
com encontros felizes, família reunida, amigos, jantar em volta de uma mesa
farta de comida, pessoas sorridentes, decorações natalinas, numa imagem que
seria o ideal de felicidade. O incentivo e o apelo emocional são muito grandes
no sentido de interpelar as pessoas a estarem felizes e realizadas, como se o
Natal promovesse um milagre em nossas vidas e tudo que não está bom tivesse um
desfecho positivo. É quase como se as pessoas se sentissem obrigadas a estarem felizes
e sorridentes, apenas porque é Natal", pontua a psicóloga.
Se para uma família o Natal é sinônimo de mesa
farta ou troca de presentes, para outra pode significar sofrimento. "Não
podemos esquecer que vivemos num país onde a desigualdade social é grande e o
número de pessoas que não tem uma perspectiva positiva para si e sua família
também é muito grande e isso causa sofrimento na sociedade em geral",
reflete Daniele.
·
Como lidar?
Segundo a psicóloga Daniele Leal, o primeiro passo
para lidar com a síndrome é ser honesto consigo mesmo e entender que está
tudo bem em não gostar do Natal e não querer participar das festividades.
"Outra coisa é que se você conhecer uma pessoa com a síndrome de Grinch,
respeite e entenda que o conceito e as fontes de felicidade não são iguais para
todos. Não insista se o seu amigo não quer participar das festividades com
você", cita a especialista.
"É muito importante que a pessoa entenda
que sentimentos são estes que a acometem, se são apenas no fim do ano, se é
algo passageiro ou permanente e se o que está associado a este sentimento não
ultrapassa os limites da saúde mental. É sempre bom estar atento e procurar um
profissional qualificado caso apresente sintomas persistentes como choro,
lembranças dolorosas ininterruptas, sentimentos de menos valia ou falta de
expectativa generalizada com relação à vida", emenda Daniele.
Outra estratégia que pode ajudar é ressignficar as
tradições de fim de ano, desde que a pessoa possa se liberar de culpas por
não atender as expectativas sociais sobre a data. Trocar a compra de presentes
pela confecção própria ou substituir a casa cheia de convidados para uma
atividade mais reservada e que faça sentido para si mesmo são bons caminhos
para vivenciar o Natal de maneira mais tranquila.
Fonte: Correio Braziliense

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