quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Ucrânia: qual o futuro do auxílio financeiro dos EUA ao país?

Após evitar por pouco uma paralisação do governo, o presidente estadunidense, Joe Biden, assinou um projeto de lei orçamentária de curto prazo na noite do último sábado (30). Notoriamente, a lei não prevê nenhum fundo para a Ucrânia. Qual será o futuro de Kiev? Será a nação capaz de extrair mais algum recurso de Washington?

Ao fundo do problema orçamentário do Congresso norte-americano, o Pentágono emite avisos de que os recursos de auxílio ao país eslavo estão chegando ao fim. Internacionalmente, funcionários e militares do alto escalão da União Europeia e do Reino Unido já demonstram cansaço em prover recursos à Ucrânia. Nesse contexto, cabe então a parlamentares americanos convencer seus colegas a aprovarem novos financiamentos à Ucrânia.

•        Legisladores do Congresso em desacordo

Apesar dos líderes democrata e republicano, Chuck Schumer e Mitch McConnell, afirmarem estar trabalhando de maneira ágil para encontrar uma solução orçamentária para o país, que inclua os pedidos do presidente Joe Biden de recursos para a Ucrânia, outros parlamentares querem cautela. Senador republicano da Flórida, Rick Scott afirmou que o Congresso precisa "conversar com o público americano".

"No meu estado, as pessoas querem ser úteis para a Ucrânia, mas também querem ser úteis para os americanos. Então eles querem realmente entender como esse dinheiro foi gasto."

Vale a pena notar que a ajuda de Washington ao regime de Kiev já atingiu um total impressionante de US$ 78,8 bilhões (R$ 406,19 bilhões), desde o início da operação militar especial russa na Ucrânia. Declarações do controlador do Pentágono, Michael McCord, apontam que ainda restam cerca de US$ 7 bilhões (R$ 36 bilhões) nos cofres americanos reservados para Kiev.

"Sem financiamento adicional agora, teríamos que atrasar ou reduzir a assistência para satisfazer as necessidades urgentes da Ucrânia, incluindo a defesa aérea e munições que são críticas e urgentes", afirmou McCord.

Para Michael Maloof, ex-analista sênior de política de segurança do Gabinete do Secretário de Defesa dos EUA, o povo americano não apoia o repasse de recursos a Zelensky. "É uma invenção da imaginação de Joe Biden e Victoria Nuland [subsecretária de Estado para Assuntos Políticos dos EUA]", disse.

"Eles não querem a guerra com a Rússia. Eles veem que é para onde isso está indo e eles estão preocupados porque estamos em uma ladeira escorregadia. Isso se reflete no que estamos vendo agora no Congresso em termos de uma potencial assistência futura à Ucrânia. Não sei se tudo será interrompido imediatamente, mas acho que será reduzido significativamente nos próximos meses."

•        Será possível para Biden continuar a armar a Ucrânia mesmo que fundos do Pentágono para Kiev sequem?

No domingo (1º), após assinar um projeto de lei de orçamento para evitar a paralisação do governo norte-americano, projeto no qual a ajuda à Ucrânia foi retirada, Joe Biden apelou aos legisladores estadunidenses para que aprovassem um novo pacote multimilionário separadamente.

Em um discurso na Casa Branca, o presidente disse que Kiev pode contar com o apoio sem precedentes dos Estados Unidos: "Não podemos, em circunstância alguma, permitir que o apoio americano à Ucrânia seja interrompido", afirmou.

Já nesta terça-feira (3), Biden promoveu uma ligação entre líderes da União Europeia, do G7, da OTAN e da organização Bucareste 9 "para coordenar o atual apoio à Ucrânia entre parceiros e aliados", segundo a Casa Branca.

Mas por que a ajuda militar à Ucrânia se tornou sagrada para o establishment dos EUA e até quando eles serão capazes de mantê-la?

Para o ex-analista sênior de Política de Segurança do gabinete do secretário de Defesa dos EUA, Michael Maloof, o apoio incasável de Washington a Kiev "é uma invenção da imaginação de Joe Biden e Victoria Nuland".

"É o fanatismo deles [Biden e Nuland] nessa direção. O povo americano não necessariamente apoia isso. Eles não querem guerra com a Rússia. Eles veem que é para onde esta coisa está indo. E eles estão preocupados porque estamos em uma ladeira escorregadia, e agora isso é refletido no que estamos vendo no Congresso em termos de assistência potencialmente futura à Ucrânia. Não sei se tudo será interrompido imediatamente, mas acho que será reduzido significativamente nos próximos meses", afirmou Maloof à Sputnik.

A oposição republicana para ajuda à Ucrânia parece estar ganhando força em Washington. Na quinta-feira (28), cerca de metade dos republicanos da Câmara votaram pela exclusão de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão) para a Kiev do projeto de lei de gastos do Pentágono.

Embora o dinheiro tenha sido posteriormente aprovado em uma proposta separada, a tendência suscitou preocupações no governo Biden. No sábado (30), o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, não incluiu os US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões) para Kiev no projeto de lei mencionado anteriormente.

"Apoio a possibilidade de fornecer armas à Ucrânia, mas a América vem em primeiro lugar. Mais americanos estão morrendo em nossa fronteira do que americanos na Ucrânia", afirmou McCarthy no fim de semana.

Maloof explicou que "não houve financiamento para Kiev nesta última resolução [...] simplesmente porque o Congresso, que inclui a Câmara dos Representantes e o Senado, não conseguiu chegar a acordo sobre um pacote [...]. O orçamento resolveu aumentar o financiamento para crises internas que temos aqui em termos de inundações e incêndios que tivemos recentemente no Havaí, por exemplo", afirmou o ex-analista.

"Portanto, tornou-se, na verdade, um pacote 'América Primeiro'. E em vez de defender as fronteiras da Ucrânia, a ideia era tentar defender as nossas próprias fronteiras, no entanto, este pacote também não incluiu financiamento adicional para a Patrulha de Fronteira [USBP] também. [...] Isso foi apenas para manter o governo aberto, para pagar suas contas por enquanto e para manter as agências funcionando", disse.

O especialista ainda afirma que, se projeto de lei não tivesse sido aprovado, "cerca de um milhão de trabalhadores federais teriam ficado desempregados ou dispensados [...]. As pessoas estão ficando cansadas disso. Eu sei que os funcionários federais estão, porque passamos por isso todos os anos. E agora o dinheiro que sobrou para a Ucrânia está rapidamente diminuindo até nada. O pacote inicial de US$ 25 bilhões [R$ 128 bilhões] ou o pacote de US$ 26 bilhões [R$ 134 bilhões] para munições e reabastecimento para a Ucrânia esgotou-se", continuou o ex-analista do Pentágono.

Para Maloof está claro que "o dinheiro do Pentágono para Kiev pode acabar muito em breve, dada a forma como os ucranianos estão a queimar toda esta munição". Nestas circunstâncias, não se sabe como o governo dos EUA planeja garantir ajuda contínua à Ucrânia, observou ele.

"Se não houver financiamento, a menos que o presidente tome medidas realmente drásticas e queira basicamente declarar lei marcial aqui nos Estados Unidos, isso simplesmente não vai acontecer. Se o Congresso não aprovar financiamento adicional, isso não vai acontecer."

Tanto os americanos como os europeus parecem estar cansados da guerra por procuração de Washington na Ucrânia, segundo o antigo analista do Pentágono.

No final de semana, as eleições parlamentares eslovacas resultaram na vitória do ex-primeiro-ministro Robert Fico, que tinha prometido suspender a ajuda militar de Bratislava a Kiev.

"Até os europeus estão fartos. Agora mesmo vemos refletido isso nas eleições eslovacas que acabaram de ser realizadas. A Eslováquia, que é membro da OTAN, decidiu que não vai continuar envolvida na ajuda à Ucrânia. Então, isso é bastante significativo. Portanto, estamos começando a ver o apoio europeu esgotar, e poderá se tornar ainda maior com o passar dos meses, especialmente à medida que se entra no que agora se projeta ser um inverno muito frio", analisou.

Na visão de Maloof, "as pessoas estão realmente acordando para essa realidade" e não só "as pessoas" como também o presidente Vladimir Zelensky.

"Acho que Zelensky não tem nada a mostrar por sua aposta. Foi uma aposta. E ele acreditou em Joe Biden. Se ele tivesse conversado com qualquer um de nós por cinco minutos, nós o teríamos desencorajado de acreditar naquele cara", complementou.

·         Prefeito ucraniano flagrado recebendo propina é mantido preso, com fiança estabelecida em US$ 80 mil

Aleksandr Lysenko foi preso na última segunda-feira (2), quando recebia propina cobrada de empresa de coleta de lixo. Caso é mais um envolvendo corrupção na Ucrânia.

O prefeito da cidade ucraniana de Sumy, Aleksandr Lysenko, preso nesta semana no momento que recebia propina, foi mantido sob custódia por um tribunal ucraniano, com fiança estabelecida em US$ 81,8 mil (cerca de R$ 422 mil). A informação foi dada nesta quarta-feira (4), em uma postagem no Telegram da emissora Public TV.

"O tribunal anticorrupção deixou o prefeito da cidade de Sumy, Aleksandr Lysenko, sob custódia até 2 de dezembro de 2023, com possibilidade de fiança no valor de 3 milhões de grívnias (US$ 81,8 mil)", diz a postagem da emissora.

Aleksandr Lysenko foi preso na última segunda-feira (2), junto com o diretor do departamento de infraestrutura de Sumy, Aleksandr Zhurba, no momento que os dois recebiam uma propina no valor de 1,4 milhão de grívnias (cerca de R$ 192 mil) de uma empresa responsável pela coleta de lixo na cidade.

Segundo informou o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla ucraniana), o montante era a última parcela de um total de 2,13 milhões de grívnias (cerca de R$ 293 mil) exigidos pela dupla para autorizar a empresa a prestar o serviço. Se condenados, ambos podem receber uma sentença de até oito anos de prisão, além do confisco de bens.

Caso paguem fiança, ambos erão de entregar seus passaportes, usar tornozeleira eletrônica e ficarão impedidos de deixar a cidade sem autorização.

O caso do prefeito ucraniano é mais um envolvendo corrupção em diversas esferas do governo da Ucrânia. A maior parte da população culpa o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, pelo avanço da corrupção no governo. Em setembro, em uma pesquisa conduzida pela Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv, 78% dos entrevistados afirmaram considerar que Zelensky é responsável direto pela corrupção no país.

 

Ø  Hungria propõe a UE reduzir pela metade pacote de ajuda à Ucrânia nos próximos 4 anos

 

A Hungria propôs à União Europeia (UE) reduzir o pacote de assistência à Ucrânia de € 50 bilhões (R$ 270,4 bilhões) para € 25 bilhões (R$ 135,2 bilhões) pelos próximos quatro anos, informou a Bloomberg nesta terça-feira (3).

O governo húngaro também expressou a preocupação de que o apoio econômico europeu a Kiev não obtenha resultados, depois de uma sinalização dos Estados Unidos de cortar o pacote de ajuda à Ucrânia, destacou a agência.

Em setembro, a Comissão Europeia propôs um pacote de ajuda à Ucrânia no valor de € 50 bilhões sob a forma de subvenções e empréstimos ao longo dos próximos quatro anos. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, considerou a proposta frívola, uma vez que não se sabe para onde foi o dinheiro dado a Kiev anteriormente.

"A Hungria informou aos Estados-membros na semana passada que € 25 bilhões seriam suficientes para a Ucrânia nesta fase", diz a matéria, que acrescentou a preocupação, por parte de Budapeste, de que os esforços europeus sejam prejudicados por potencial interrupção do apoio econômico norte-americano a Kiev.

Também nesta terça-feira, a imprensa divulgou que a Comissão Europeia voltou atrás e pretende descongelar cerca de € 13 bilhões (R$ 68,94 bilhões) em financiamento à Hungria, buscando um possível apoio de Orbán.

A UE congelou, em setembro, mais de € 6 bilhões (R$ 31,74 bilhões) previstos para pagamentos à Hungria, alegando que o país não cumpriu requisitos de combate à corrupção, de transparência nas compras públicas e de fortalecimento e independência do sistema judiciário. Na época, o chefe de gabinete de Orbán, Gergely Gulyas, disse que a Ucrânia não receberia um centavo do orçamento da UE até que a Hungria tivesse acesso aos valores devidos dos fundos europeus, uma vez que é necessário apoio unânime para mudar o orçamento do bloco.

A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que o órgão reviu o orçamento plurianual da UE para o período de 2024 a 2027 e convidou os países a aumentá-lo em € 66 bilhões (R$ 357 bilhões) para ajudar a Ucrânia a implementar programas de migração e apoio a refugiados, entre outras ações.

 

Ø  Ucrânia vira 'vitrine' e eleva exportação de armas até de Israel, diz mídia

 

Apesar de Israel ter se recusado a enviar armas a Kiev, os israelenses estão aproveitando o "negócio do momento" para vender armas para outros países que desejem fomentar e prolongar o confronto.

Em 2022, Israel autorizou diversos países a receberem suas exportações na área de defesa, fazendo com que suas vendas tivessem um aumento considerável, conforme a Bloomberg.

De acordo com o Ministério da Defesa de Israel, o país aprovou a solicitação de 61 países sobre compra de equipamento, munições e armas israelenses.

Além disso, outras 83 aprovações foram concedidas sobre a compra de inteligência artificial e segurança cibernética.

Apesar de não revelar os países de sua lista de compradores, sabe-se que recentemente foram entregues à Alemanha sistemas de defesa antiaérea Arrow 3.

Assim como Israel, a Turquia também está aproveitando o "mercadão" ucraniano para elevar suas exportações de defesa e "encher os bolsos" com a venda de seus drones.

Com isso, fica mais do que claro que o interesse deixou de ser a Ucrânia há tempo e passou a ser conquistar o mercado de defesa e outros interesses dos governantes que usam o território ucraniano para seus próprios e exclusivos interesses, inclusive prolongando o conflito.

 

Ø  Casa Branca revela quanto tempo resta à 'contraofensiva' da Ucrânia antes da chegada do frio

 

A Ucrânia tem de seis a oito semanas para continuar as tentativas de contraofensiva até a chegada do tempo frio, disse John Kirby, coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

"Sabemos que a contraofensiva não foi tão longe ou tão rápido quanto os ucranianos queriam", disse Kirby, observando que Kiev tem apenas mais seis a oito semanas antes que o tempo frio do inverno europeu torne a contraofensiva ucraniana ainda mais desafiadora.

"O tempo não é nosso amigo", disse ele.

O representante da Casa Branca notou também que a Ucrânia pode ter dificuldades para receber ajuda de outros países se a assistência dos Estados Unidos for suspensa devido à inação do Congresso.

"Sem o nosso apoio, não se pode descartar que alguns desses outros apoios sejam mais difíceis de conseguir para a Ucrânia", comentou ele durante a coletiva de imprensa nesta terça-feira (3).

O presidente russo, Vladimir Putin, sublinhou no mês passado que as tropas ucranianas não conseguiram alcançar quaisquer resultados tangíveis em todas as linhas da frente desde o início da sua contraofensiva em 4 de junho, algo que ele disse ter custado a vida de mais de 71.000 soldados ucranianos na altura.

 

Ø  Diplomata: objetivos da operação militar serão cumpridos, apesar do Ocidente querer quebrar Rússia

 

Todos os objetivos e tarefas da operação militar especial russa serão cumpridos apesar da tentativa do Ocidente de quebrar a Rússia com as mãos de Kiev, disse na reunião do Primeiro Comitê da Assembleia Geral da ONU o vice-chefe da delegação russa na ONU, Konstantin Vorontsov.

"É evidente que a tentativa de quebrar a Rússia com as mãos de Kiev é um elemento do rumo estratégico do Ocidente para reanimar o mundo unipolar", disse Vorontsov, acrescentando que "os países ocidentais não vão conseguir nada".

Ele declarou também que em 30 de setembro de 2022 ocorreu um evento decisivo e verdadeiramente histórico. Foram assinados acordos sobre a inclusão de quatro novas entidades constituintes na Rússia.

"Milhões de habitantes das regiões de Donbass, região de Kherson e Zaporozhie fizeram a sua escolha em referendos em plena conformidade com o direito internacional – para ficar com a sua pátria", salientou. Segundo o diplomata, nada e ninguém – nem Kiev nem seus mestres ocidentais – podem quebrar a vontade dessas pessoas.

"[…] Todos os objetivos e tarefas da operação militar especial serão cumpridos", concluiu ele.

Ontem (3), o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, disse em reunião que as tropas russas, na zona da operação militar especial, enfraqueceram significativamente o potencial de combate do adversário e lhe infligiram sérios danos.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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