Ucrânia: qual o futuro do auxílio financeiro dos EUA ao país?
Após evitar por pouco uma paralisação do governo, o
presidente estadunidense, Joe Biden, assinou um projeto de lei orçamentária de
curto prazo na noite do último sábado (30). Notoriamente, a lei não prevê
nenhum fundo para a Ucrânia. Qual será o futuro de Kiev? Será a nação capaz de
extrair mais algum recurso de Washington?
Ao fundo do problema orçamentário do Congresso
norte-americano, o Pentágono emite avisos de que os recursos de auxílio ao país
eslavo estão chegando ao fim. Internacionalmente, funcionários e militares do
alto escalão da União Europeia e do Reino Unido já demonstram cansaço em prover
recursos à Ucrânia. Nesse contexto, cabe então a parlamentares americanos
convencer seus colegas a aprovarem novos financiamentos à Ucrânia.
• Legisladores
do Congresso em desacordo
Apesar dos líderes democrata e republicano, Chuck
Schumer e Mitch McConnell, afirmarem estar trabalhando de maneira ágil para
encontrar uma solução orçamentária para o país, que inclua os pedidos do
presidente Joe Biden de recursos para a Ucrânia, outros parlamentares querem
cautela. Senador republicano da Flórida, Rick Scott afirmou que o Congresso
precisa "conversar com o público americano".
"No meu estado, as pessoas querem ser úteis
para a Ucrânia, mas também querem ser úteis para os americanos. Então eles
querem realmente entender como esse dinheiro foi gasto."
Vale a pena notar que a ajuda de Washington ao
regime de Kiev já atingiu um total impressionante de US$ 78,8 bilhões (R$
406,19 bilhões), desde o início da operação militar especial russa na Ucrânia.
Declarações do controlador do Pentágono, Michael McCord, apontam que ainda
restam cerca de US$ 7 bilhões (R$ 36 bilhões) nos cofres americanos reservados
para Kiev.
"Sem financiamento adicional agora, teríamos
que atrasar ou reduzir a assistência para satisfazer as necessidades urgentes
da Ucrânia, incluindo a defesa aérea e munições que são críticas e
urgentes", afirmou McCord.
Para Michael Maloof, ex-analista sênior de política
de segurança do Gabinete do Secretário de Defesa dos EUA, o povo americano não
apoia o repasse de recursos a Zelensky. "É uma invenção da imaginação de
Joe Biden e Victoria Nuland [subsecretária de Estado para Assuntos Políticos
dos EUA]", disse.
"Eles não querem a guerra com a Rússia. Eles
veem que é para onde isso está indo e eles estão preocupados porque estamos em
uma ladeira escorregadia. Isso se reflete no que estamos vendo agora no
Congresso em termos de uma potencial assistência futura à Ucrânia. Não sei se
tudo será interrompido imediatamente, mas acho que será reduzido
significativamente nos próximos meses."
• Será
possível para Biden continuar a armar a Ucrânia mesmo que fundos do Pentágono
para Kiev sequem?
No domingo (1º), após assinar um projeto de lei de
orçamento para evitar a paralisação do governo norte-americano, projeto no qual
a ajuda à Ucrânia foi retirada, Joe Biden apelou aos legisladores
estadunidenses para que aprovassem um novo pacote multimilionário
separadamente.
Em um discurso na Casa Branca, o presidente disse
que Kiev pode contar com o apoio sem precedentes dos Estados Unidos: "Não
podemos, em circunstância alguma, permitir que o apoio americano à Ucrânia seja
interrompido", afirmou.
Já nesta terça-feira (3), Biden promoveu uma
ligação entre líderes da União Europeia, do G7, da OTAN e da organização
Bucareste 9 "para coordenar o atual apoio à Ucrânia entre parceiros e aliados",
segundo a Casa Branca.
Mas por que a ajuda militar à Ucrânia se tornou
sagrada para o establishment dos EUA e até quando eles serão capazes de
mantê-la?
Para o ex-analista sênior de Política de Segurança
do gabinete do secretário de Defesa dos EUA, Michael Maloof, o apoio incasável
de Washington a Kiev "é uma invenção da imaginação de Joe Biden e Victoria
Nuland".
"É o fanatismo deles [Biden e Nuland] nessa
direção. O povo americano não necessariamente apoia isso. Eles não querem
guerra com a Rússia. Eles veem que é para onde esta coisa está indo. E eles
estão preocupados porque estamos em uma ladeira escorregadia, e agora isso é
refletido no que estamos vendo no Congresso em termos de assistência
potencialmente futura à Ucrânia. Não sei se tudo será interrompido
imediatamente, mas acho que será reduzido significativamente nos próximos
meses", afirmou Maloof à Sputnik.
A oposição republicana para ajuda à Ucrânia parece
estar ganhando força em Washington. Na quinta-feira (28), cerca de metade dos
republicanos da Câmara votaram pela exclusão de US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão)
para a Kiev do projeto de lei de gastos do Pentágono.
Embora o dinheiro tenha sido posteriormente
aprovado em uma proposta separada, a tendência suscitou preocupações no governo
Biden. No sábado (30), o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, não incluiu os
US$ 6 bilhões (R$ 30 bilhões) para Kiev no projeto de lei mencionado
anteriormente.
"Apoio a possibilidade de fornecer armas à
Ucrânia, mas a América vem em primeiro lugar. Mais americanos estão morrendo em
nossa fronteira do que americanos na Ucrânia", afirmou McCarthy no fim de
semana.
Maloof explicou que "não houve financiamento
para Kiev nesta última resolução [...] simplesmente porque o Congresso, que
inclui a Câmara dos Representantes e o Senado, não conseguiu chegar a acordo
sobre um pacote [...]. O orçamento resolveu aumentar o financiamento para
crises internas que temos aqui em termos de inundações e incêndios que tivemos
recentemente no Havaí, por exemplo", afirmou o ex-analista.
"Portanto, tornou-se, na verdade, um pacote
'América Primeiro'. E em vez de defender as fronteiras da Ucrânia, a ideia era
tentar defender as nossas próprias fronteiras, no entanto, este pacote também
não incluiu financiamento adicional para a Patrulha de Fronteira [USBP] também.
[...] Isso foi apenas para manter o governo aberto, para pagar suas contas por
enquanto e para manter as agências funcionando", disse.
O especialista ainda afirma que, se projeto de lei
não tivesse sido aprovado, "cerca de um milhão de trabalhadores federais
teriam ficado desempregados ou dispensados [...]. As pessoas estão ficando
cansadas disso. Eu sei que os funcionários federais estão, porque passamos por
isso todos os anos. E agora o dinheiro que sobrou para a Ucrânia está
rapidamente diminuindo até nada. O pacote inicial de US$ 25 bilhões [R$ 128
bilhões] ou o pacote de US$ 26 bilhões [R$ 134 bilhões] para munições e
reabastecimento para a Ucrânia esgotou-se", continuou o ex-analista do
Pentágono.
Para Maloof está claro que "o dinheiro do
Pentágono para Kiev pode acabar muito em breve, dada a forma como os ucranianos
estão a queimar toda esta munição". Nestas circunstâncias, não se sabe
como o governo dos EUA planeja garantir ajuda contínua à Ucrânia, observou ele.
"Se não houver financiamento, a menos que o
presidente tome medidas realmente drásticas e queira basicamente declarar lei
marcial aqui nos Estados Unidos, isso simplesmente não vai acontecer. Se o
Congresso não aprovar financiamento adicional, isso não vai acontecer."
Tanto os americanos como os europeus parecem estar
cansados da guerra por procuração de Washington na Ucrânia, segundo o antigo
analista do Pentágono.
No final de semana, as eleições parlamentares
eslovacas resultaram na vitória do ex-primeiro-ministro Robert Fico, que tinha
prometido suspender a ajuda militar de Bratislava a Kiev.
"Até os europeus estão fartos. Agora mesmo
vemos refletido isso nas eleições eslovacas que acabaram de ser realizadas. A
Eslováquia, que é membro da OTAN, decidiu que não vai continuar envolvida na
ajuda à Ucrânia. Então, isso é bastante significativo. Portanto, estamos
começando a ver o apoio europeu esgotar, e poderá se tornar ainda maior com o
passar dos meses, especialmente à medida que se entra no que agora se projeta
ser um inverno muito frio", analisou.
Na visão de Maloof, "as pessoas estão
realmente acordando para essa realidade" e não só "as pessoas"
como também o presidente Vladimir Zelensky.
"Acho que Zelensky não tem nada a mostrar por
sua aposta. Foi uma aposta. E ele acreditou em Joe Biden. Se ele tivesse
conversado com qualquer um de nós por cinco minutos, nós o teríamos
desencorajado de acreditar naquele cara", complementou.
·
Prefeito ucraniano flagrado recebendo propina é
mantido preso, com fiança estabelecida em US$ 80 mil
Aleksandr Lysenko foi preso na última segunda-feira
(2), quando recebia propina cobrada de empresa de coleta de lixo. Caso é mais
um envolvendo corrupção na Ucrânia.
O prefeito da cidade ucraniana de Sumy, Aleksandr
Lysenko, preso nesta semana no momento que recebia propina, foi mantido sob
custódia por um tribunal ucraniano, com fiança estabelecida em US$ 81,8 mil
(cerca de R$ 422 mil). A informação foi dada nesta quarta-feira (4), em uma
postagem no Telegram da emissora Public TV.
"O tribunal anticorrupção deixou o prefeito da
cidade de Sumy, Aleksandr Lysenko, sob custódia até 2 de dezembro de 2023, com
possibilidade de fiança no valor de 3 milhões de grívnias (US$ 81,8 mil)",
diz a postagem da emissora.
Aleksandr Lysenko foi preso na última segunda-feira
(2), junto com o diretor do departamento de infraestrutura de Sumy, Aleksandr
Zhurba, no momento que os dois recebiam uma propina no valor de 1,4 milhão de
grívnias (cerca de R$ 192 mil) de uma empresa responsável pela coleta de lixo
na cidade.
Segundo informou o Serviço de Segurança da Ucrânia
(SBU, na sigla ucraniana), o montante era a última parcela de um total de 2,13
milhões de grívnias (cerca de R$ 293 mil) exigidos pela dupla para autorizar a
empresa a prestar o serviço. Se condenados, ambos podem receber uma sentença de
até oito anos de prisão, além do confisco de bens.
Caso paguem fiança, ambos erão de entregar seus
passaportes, usar tornozeleira eletrônica e ficarão impedidos de deixar a
cidade sem autorização.
O caso do prefeito ucraniano é mais um envolvendo
corrupção em diversas esferas do governo da Ucrânia. A maior parte da população
culpa o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, pelo avanço da corrupção no
governo. Em setembro, em uma pesquisa conduzida pela Fundação de Iniciativas
Democráticas Ilko Kucheriv, 78% dos entrevistados afirmaram considerar que
Zelensky é responsável direto pela corrupção no país.
Ø Hungria propõe a UE reduzir pela metade pacote de ajuda à Ucrânia nos
próximos 4 anos
A Hungria propôs à União Europeia (UE) reduzir o
pacote de assistência à Ucrânia de € 50 bilhões (R$ 270,4 bilhões) para € 25
bilhões (R$ 135,2 bilhões) pelos próximos quatro anos, informou a Bloomberg
nesta terça-feira (3).
O governo húngaro também expressou a preocupação de
que o apoio econômico europeu a Kiev não obtenha resultados, depois de uma
sinalização dos Estados Unidos de cortar o pacote de ajuda à Ucrânia, destacou
a agência.
Em setembro, a Comissão Europeia propôs um pacote
de ajuda à Ucrânia no valor de € 50 bilhões sob a forma de subvenções e
empréstimos ao longo dos próximos quatro anos. O primeiro-ministro da Hungria,
Viktor Orbán, considerou a proposta frívola, uma vez que não se sabe para onde
foi o dinheiro dado a Kiev anteriormente.
"A Hungria informou aos Estados-membros na
semana passada que € 25 bilhões seriam suficientes para a Ucrânia nesta
fase", diz a matéria, que acrescentou a preocupação, por parte de
Budapeste, de que os esforços europeus sejam prejudicados por potencial
interrupção do apoio econômico norte-americano a Kiev.
Também nesta terça-feira, a imprensa divulgou que a
Comissão Europeia voltou atrás e pretende descongelar cerca de € 13 bilhões (R$
68,94 bilhões) em financiamento à Hungria, buscando um possível apoio de Orbán.
A UE congelou, em setembro, mais de € 6 bilhões (R$
31,74 bilhões) previstos para pagamentos à Hungria, alegando que o país não
cumpriu requisitos de combate à corrupção, de transparência nas compras
públicas e de fortalecimento e independência do sistema judiciário. Na época, o
chefe de gabinete de Orbán, Gergely Gulyas, disse que a Ucrânia não receberia
um centavo do orçamento da UE até que a Hungria tivesse acesso aos valores
devidos dos fundos europeus, uma vez que é necessário apoio unânime para mudar
o orçamento do bloco.
A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen,
disse que o órgão reviu o orçamento plurianual da UE para o período de 2024 a
2027 e convidou os países a aumentá-lo em € 66 bilhões (R$ 357 bilhões) para
ajudar a Ucrânia a implementar programas de migração e apoio a refugiados,
entre outras ações.
Ø Ucrânia vira 'vitrine' e eleva exportação de armas até de Israel, diz
mídia
Apesar de Israel ter se recusado a enviar armas a
Kiev, os israelenses estão aproveitando o "negócio do momento" para
vender armas para outros países que desejem fomentar e prolongar o confronto.
Em 2022, Israel autorizou diversos países a
receberem suas exportações na área de defesa, fazendo com que suas vendas
tivessem um aumento considerável, conforme a Bloomberg.
De acordo com o Ministério da Defesa de Israel, o
país aprovou a solicitação de 61 países sobre compra de equipamento, munições e
armas israelenses.
Além disso, outras 83 aprovações foram concedidas
sobre a compra de inteligência artificial e segurança cibernética.
Apesar de não revelar os países de sua lista de
compradores, sabe-se que recentemente foram entregues à Alemanha sistemas de
defesa antiaérea Arrow 3.
Assim como Israel, a Turquia também está
aproveitando o "mercadão" ucraniano para elevar suas exportações de
defesa e "encher os bolsos" com a venda de seus drones.
Com isso, fica mais do que claro que o interesse
deixou de ser a Ucrânia há tempo e passou a ser conquistar o mercado de defesa
e outros interesses dos governantes que usam o território ucraniano para seus
próprios e exclusivos interesses, inclusive prolongando o conflito.
Ø Casa Branca revela quanto tempo resta à 'contraofensiva' da Ucrânia
antes da chegada do frio
A Ucrânia tem de seis a oito semanas para continuar
as tentativas de contraofensiva até a chegada do tempo frio, disse John Kirby,
coordenador de comunicações estratégicas do Conselho de Segurança Nacional da
Casa Branca.
"Sabemos que a contraofensiva não foi tão
longe ou tão rápido quanto os ucranianos queriam", disse Kirby, observando
que Kiev tem apenas mais seis a oito semanas antes que o tempo frio do inverno
europeu torne a contraofensiva ucraniana ainda mais desafiadora.
"O tempo não é nosso amigo", disse ele.
O representante da Casa Branca notou também que a
Ucrânia pode ter dificuldades para receber ajuda de outros países se a
assistência dos Estados Unidos for suspensa devido à inação do Congresso.
"Sem o nosso apoio, não se pode descartar que
alguns desses outros apoios sejam mais difíceis de conseguir para a
Ucrânia", comentou ele durante a coletiva de imprensa nesta terça-feira
(3).
O presidente russo, Vladimir Putin, sublinhou no
mês passado que as tropas ucranianas não conseguiram alcançar quaisquer
resultados tangíveis em todas as linhas da frente desde o início da sua
contraofensiva em 4 de junho, algo que ele disse ter custado a vida de mais de
71.000 soldados ucranianos na altura.
Ø Diplomata: objetivos da operação militar serão cumpridos, apesar do
Ocidente querer quebrar Rússia
Todos os objetivos e tarefas da operação militar
especial russa serão cumpridos apesar da tentativa do Ocidente de quebrar a
Rússia com as mãos de Kiev, disse na reunião do Primeiro Comitê da Assembleia
Geral da ONU o vice-chefe da delegação russa na ONU, Konstantin Vorontsov.
"É evidente que a tentativa de quebrar a
Rússia com as mãos de Kiev é um elemento do rumo estratégico do Ocidente para
reanimar o mundo unipolar", disse Vorontsov, acrescentando que "os
países ocidentais não vão conseguir nada".
Ele declarou também que em 30 de setembro de 2022
ocorreu um evento decisivo e verdadeiramente histórico. Foram assinados acordos
sobre a inclusão de quatro novas entidades constituintes na Rússia.
"Milhões de habitantes das regiões de Donbass,
região de Kherson e Zaporozhie fizeram a sua escolha em referendos em plena
conformidade com o direito internacional – para ficar com a sua pátria",
salientou. Segundo o diplomata, nada e ninguém – nem Kiev nem seus mestres
ocidentais – podem quebrar a vontade dessas pessoas.
"[…] Todos os objetivos e tarefas da operação
militar especial serão cumpridos", concluiu ele.
Ontem (3), o ministro da Defesa da Rússia, Sergei
Shoigu, disse em reunião que as tropas russas, na zona da operação militar
especial, enfraqueceram significativamente o potencial de combate do adversário
e lhe infligiram sérios danos.
Fonte: Sputnik Brasil

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