Tensão entre políticos e 'Supremos' pressiona
democracias pelo mundo, diz pesquisador americano
Enquanto parlamentares e
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) participam no Brasil de um cabo de
guerra sobre quais são as funções e os limites do poder Legislativo e a mais
alta corte do Judiciário, outros países estão testemunhando também esse tenso
"jogo" entre poderes.
México, El Salvador, Mali
e Polônia são alguns dos países em que essa tensão emergiu nos últimos anos em
menor ou maior medida — desde projetos partindo do Executivo ou do Legislativo
para limitar as decisões de supremas cortes ou cortes constitucionais até ações
que efetivamente tiraram juízes de seus mandatos e mudaram a composição dos
tribunais (confira mais detalhes sobre esses países abaixo).
Há também o caso de
Israel, onde, até a véspera dos ataques do grupo palestino Hamas em 7 de
outubro e a decorrente retaliação israelense, uma reforma no Judiciário
proposta pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estava causando uma ebulição
doméstica.
O pesquisador americano
Tom Ginsburg, professor da Universidade de Chicago, tem como trabalho
acompanhar a situação do Judiciário ao redor do planeta: ele é especializado em
direito internacional e é codiretor do projeto Comparative Constitutions,
dedicado a reunir informações das constituições pelo mundo.
Quando perguntado se as
altas cortes estão atualmente mais vulneráveis à pressão política, Ginsburg
responde: "Acho que sim. E é uma tendência ruim".
"Estamos vendo em
muitos países políticos tentando controlar os membros [das altas cortes]. Isso
é perigoso, porque se tivermos pessoas muito ligadas à política, provavelmente
elas não serão os melhores juízes, tecnicamente", aponta Ginsburg, em
entrevista à BBC News Brasil por videoconferência.
"Eu não gosto dessa
tendência. Ao mesmo tempo, não acho que os juízes devem sair de sua esfera.
Eles devem respeitar o que a lei exige e não impor as suas preferências
pessoais", diz o pesquisador, dedicado também à ciência política.
Ginsburg tem doutorado em
Jurisprudência e Políticas Sociais pela Universidade da Califórnia em Berkeley
e é autor de vários livros, como Democracies and International
Law (2021) e How to save a Constitutional Democracy (2018).
O pesquisador já esteve
no Brasil e, ao conversar com a BBC, mostrou que estava antenado com a situação
do país.
Por aqui, o mais recente
capítulo da tensão entre a política e o STF é protagonizado por parlamentares —
sucedendo anos de ataques do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à corte.
Há vários projetos
tramitando na Câmara e no Senado que propõem medidas como a anulação de
decisões do STF pelo Legislativo, a limitação do tempo de mandato de ministros
do STF e de decisões individuais (monocráticas).
O presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), indicou a colegas que deve ser votada no plenário em
novembro uma proposta de emenda constitucional (PEC) que proíbe decisões
monocráticas de suspenderem leis ou atos do Executivo ou do Legislativo
federal. A discussão sobre a PEC está prevista para começar nessa terça-feira
(24/10).
Pacheco tem liderado no
Congresso a defesa de mudanças no STF — ela já se manifestou favoravelmente à
limitação do tempo de mandato dos ministros e ao aumento da idade mínima para
se entrar no STF.
Durante um evento na
França, Pacheco afirmou à CNN Brasil no sábado (14/10) que "não há
crise" entre poderes, apenas uma "busca de convergências" por
mudanças.
A movimentação no
Congresso se intensificou depois que o STF começou a julgar temas como a
descriminalização do aborto e do porte de maconha, e decidiu, em setembro, derrubar a tese do marco temporal.
"O Legislativo é
formado por 594 parlamentares votados diretamente pelo povo. Então, a essência do
que é a vontade popular — e que todo poder emana do povo é uma premissa que nós
temos que considerar —, ela é do Legislativo. Portanto, as grandes definições
nacionais, para onde o Brasil deve se encaminhar, é um papel muito genuíno do
poder Legislativo", afirmou Pacheco.
"Nós não deixamos de
legislar. Quando há algum tipo de opção de não se deliberar sobre determinado
tema e fazer prevalecer a lei atual, essa também é uma forma de posição
política do Congresso."
O presidente do STF, Luís
Roberto Barroso, deu uma entrevista coletiva em 4 de outubro sobre as
tentativas de mudanças e afirmou ver "com muita ressalva" projetos
que visam reverter decisões da corte.
O ministro defendeu que a
questão dos mandatos já foi bastante discutida na preparação da Constituição de
1988 — em que ficou decidida que os ministros do STF teriam cargo vitalício,
embora desde 2015, haja aposentadoria compulsória aos 75 anos.
Ele também mencionou
novas regras internas do STF introduzidas pela ex-ministra Rosa Weber (que deixou a
corte no final de setembro para se aposentar), as quais limitaram as decisões
individuais e impuseram um prazo para pedidos de vista.
"Considerando uma
instituição que vem funcionando bem, eu não vejo muita razão para se procurar
mexer na composição e no funcionamento do Supremo. Mas o debate público no
Congresso é legítimo e nós participamos também desse debate público",
afirmou Barroso.
·
Independência, mas também
fiscalização
Tom Ginsburg destaca que,
após um ciclo de "judicialização da política", o mundo está vivendo
agora o ciclo da "politização da Justiça".
"Na década de 1990,
houve uma espécie de vitória da democracia liberal, e parte disso inclui o
empoderamento dos tribunais. Havia um sentimento de que os juízes, em virtude
da sua disciplina profissional, eram necessários para proteger os fundamentos
da democracia, para proteger os direitos e para tomar decisões importantes
sobre a constitucionalidade."
"Como resultado
dessa época, vimos os tribunais de muitos países expandirem o seu papel na
sociedade, e por vezes chamamos isso de judicialização da política: coisas que
normalmente eram resolvidas na política, pelo povo, agora estavam nos
tribunais."
"A situação em que
estamos agora é: estamos vendo em muitos países o que eu chamaria de
politização da Justiça. As forças políticas não estão necessariamente
satisfeitas com algumas das decisões tomadas pelos tribunais e querem mais
controle."
Questionado se a
politização da Justiça é algo bom ou ruim, Ginsburg brinca: "Depende do
quanto você gosta das decisões que os tribunais estão tomando."
Depois, responde mais
seriamente.
"A politização do
Judiciário é algo natural. Não deveríamos olhar para ela como se fosse de todo
ruim. É uma reação natural a juízes tomando grandes decisões. Críticas a
decisões, é disso que é feita a democracia, certo? É assim que funciona a
democracia."
"O problema nos
nossos tempos é que a negociação política fracassou em muitas sociedades em uma
era polarizada. Temos sociedades muito divididas. O Brasil está assim, o
Estados Unidos estão asssim."
O pesquisador usa como
exemplo o frequente apelo de partidos à Justiça para contestar decisões do
Executivo ou do Legislativo com as quais não concordam — algo frequente no Brasil
e, segundo Ginsburg, também em outros países.
"Se a competição é
polarizada e intensa, os partidos vão buscar ter qualquer vantagem que puderem
na instituição que for", diz.
"Só de se ter mais
um fórum, quem perde na esfera política comum sempre pode ir ao tribunal. Isso
coloca pressão sobre os tribunais porque agora eles têm muito mais decisões a
tomar. Tornou-se um trabalho muito mais difícil."
Ginsburg aponta para um
outro fator complicador na combinação de elementos de tensão entre poderes: uma
certa impotência do Legislativo nas democracias contemporâneas.
"Vimos nos últimos
anos um grande crescimento do poder Executivo. O Estado é muito maior do que já
foi. Isso dá ao Executivo muito poder para interferir na vida das
pessoas."
"Por outro lado, o
Legislativo ficou bem mais fraco. As formas de governar modernas se tornaram
muito complicadas para que eles [parlamentares] tomem decisões. Então você tem
muito Executivo, e poucas políticas públicas vindo do Legislativo."
Mas o professor da
Universidade de Chicago reconhece que tentativas — às vezes ameaçadoras à
democracia — de controlar as altas cortes podem vir tanto do Legislativo quanto
do próprio Executivo.
"O mais preocupante
é uma situação como a da Venezuela, onde você tem um partido forte controlando
tudo", aponta, destacando também que esforços prejudiciais contra as
cortes podem partir tanto de políticos de esquerda quanto de direita.
"Não acredito que
qualquer lado político tenha o monopólio de governos ruins, do populismo e de
valores antidemocráticos."
Para Ginsburg, outro
problema dos nossos tempos "com certeza" é a colocação indevida de
visões de mundo dos juízes em suas decisões — e ele fala disso se referindo
principalmente ao cenário dos EUA, onde a mais alta corte do país é considerada majoritariamente
conservadora.
"No meu país, temos
um problema de verdade agora, em que a Suprema Corte — não em todos os casos,
mas em muitos casos — parece estar impondo suas visões políticas
particulares."
"Nem todos os países
são assim, mas nos Estados Unidos é bastante claro que o partido do presidente
que nomeia [um juiz da Suprema Corte] é muito importante para decisões em casos
de alto impacto, e não para casos comuns."
"Mas não devemos
simplesmente presumir que os juízes só votarão ao encontro do presidente que os
nomeou. Temos muitos exemplos de juízes que mudaram [de posição], e é isso que
chamamos de questão empírica. Você tem que analisar os dados."
"Todos falam da
independência da Justiça, mas também há o outro lado, que é a fiscalização do
Judiciário."
"Alguns tribunais
estão se excedendo, inserindo suas próprias [vontades] políticas."
Para Ginsburg, há
tentativas de mudanças do Judiciário que partem de um "bom espírito"
democrático e são bem-vindas, enquanto outras atendem a projetos de poder
particulares de políticos e partidos.
O pesquisador cita como
um bom exemplo na conciliação entre política e Judiciário o chamado modelo de
Commonwealth — grupo de países com origens no Império Britânico.
"Vemos isso no
Canadá, na Nova Zelândia e no Reino Unido. Você tem essa ideia de que a corte
pode tomar uma decisão e se o Legislativo realmente não gostar dela, pode
derrubar a decisão."
"Vários acadêmicos
realmente gostam desse modelo, porque na maior parte das vezes, a decisão da
corte vai prevalecer. Mas se for uma decisão muito maluca, ela pode ser
derrubada."
"Eu não estou
dizendo que esse é um bom modelo para todos os casos — eu não iria querer isso
para ao meu país, porque eu não confio no nosso Congresso. Mas esse tipo de
iniciativa, em que você tem um diálogo entre as cortes e outros poderes, é
bom."
Ainda sobre boas
iniciativas para fiscalizar o judiciário, Ginsburg menciona a importância de
"rígidas normas éticas" para membros da corte e o predomínio de
decisões coletivas (colegiadas).
"Acho também que a
possibilidade de apelar para cortes internacionais é boa. Se o tribunal decidir
algo realmente negativo para um indivíduo, essa decisão pode estar sujeita a um
exame mais minucioso a nível internacional. Esse é um tipo de mecanismo de
controle dos tribunais. O Brasil tem isso na Corte Interamericana de Direitos
Humanos."
"E é isso que vemos
na União Europeia. É por isso que Orbán [Viktor Orbán, primeiro-ministro da
Hungria] e Kaczynski [Jaroslaw Kaczynski, líder do partido PiS, que comanda a
Polônia desde 2015] estão limitados na sua capacidade de abusar totalmente dos
direitos dos cidadãos, porque estão inseridos na Convenção Europeia de Direitos
Humanos."
>>>> Países que passaram recentemente
ou estão passando por tensões entre política e altas cortes
- México: Uma reforma do
Instituto Nacional Eleitoral (INE) defendida pelo governo de Andrés Manuel
López Obrador e aprovada no Congresso em fevereiro gerou grandes protestos
no país. Em maio, a Suprema Corte do país derrubou a primeira parte da
reforma eleitoral, e poucos dias depois López Obrador anunciou que iria
propor uma reforma constitucional para que juízes — incluindo ministros da
corte — sejam eleitos pela população. O presidente tem tomado também
iniciativas para reduzir o orçamento do Judiciário, afirmando que seus
membros são "privilegiados".
- El Salvador: Com maioria na Assembleia Legislativa, o partido do jovem (e polêmico) presidente Nayib Bukele conseguiu aprovar a destituição, em 2021, de cinco juízes da
Câmara Constitucional da Corte Suprema de Justiça. A tensão entre a corte e o Executivo
chegou a um ápice após os magistrados barrarem algumas medidas de
prevenção à covid-19 defendidas pelo governo. Após a destituição, novos
membros da corte foram nomeados.
- Israel: Argumentando que
os tribunais estão intervindo demais nas decisões políticas, o governo do
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu anunciou no início do ano que iria
propor uma ampla reforma judicial, o que logo despertou protestos em todo
o país. Em julho, uma primeira parte da reforma — a qual limita o poder da
Suprema Corte de rejeitar decisões do Executivo — foi aprovada no Parlamento. Entretanto, a própria Suprema Corte
começou a julgar a validade da reforma, o que pode levar meses, ainda mais
depois dos ataques do Hamas e da ofensiva de Israel em retaliação.
- Mali: Em julho de 2020,
em um ambiente político e social conturbado, o então presidente de Mali
Ibrahim Boubacar Keïta decidiu dissolver a Corte Constitucional do país e
nomear novos membros, indicados por ele, pelo presidente da Assembleia
Nacional e por um conselho jurídico. No mês seguinte, o próprio Keïta foi
retirado do cargo por um golpe militar, que continua no poder até hoje —
apesar de haver a promessa de que eleições ocorram em 2024. Segundo um relatório da organização americana Freedom House, o Judiciário do país
está submetido ao Executivo e não tem independência. Além disso, por conta
de ataques de milícias a juízes, muitos magistrados abandonaram seus
cargos.
- Polônia: A partir de 2018,
o partido PiS, que assumiu o poder do país em 2015, começou a instalar
câmaras de correção para juízes, incluindo os da Suprema Corte. O governo
argumentou que isso era necessário para conter a corrupção no Judiciário.
Um tribunal da União Europeia (da qual o país é membro) já impôs multas
pelas iniciativas do governo em relação ao judiciário — incluindo, além
das câmaras de correção, a divulgação da afiliação política de juízes e a
ligação deles a ONGs — e decidiu que elas violam as normas do bloco. Com
eleições realizadas em 15 de outubro, o cenário indica que o PiS não
conseguirá formar um governo de coalizão, o que pode alterar o curso dos
esforços contra o Judiciário.
>>>> Israel: crise doméstica antes do
ataque do Hamas
Após os ataques do Hamas
a Israel em 7 de outubro, alguns analistas e políticos de oposição têm apontado
que o contexto doméstico na véspera fragilizou a defesa do país.
A reforma do Judiciário
levada a cabo por Netanyahu se tornou uma verdadeira crise interna — levando a protestos inclusive nas forças armadas, situação
que levou à demissão do ministro da Defesa e que fez militares enviarem cartas
abertas ameaçando parar seu serviço.
Depois dos ataques do
Hamas, o líder da oposição Yair Lapid disse que "o sistema de Israel
colapsou porque ele se desconectou de seu DNA".
"Israel sempre disse
ao mundo: somos a única democracia no Oriente Médio, somos o país mais forte no
Oriente Médio. Nós simplesmente esquecemos, mas essas duas coisas não estão
desconectadas. Elas são causa e efeito."
Tom Ginsburg endossa a
avaliação. "A situação de Israel ilustra o que acontece quando populistas
gastam muito tempo tentando minar as cortes. O governo israelense estava tão
distraído com a tomada do poder que eles se provaram completamente
incompetentes e despreparados para o ataque do Hamas", diz o pesquisador
americano.
"Muitos em Israel
estão percebendo isso agora, e isso será uma mancha para Netanyahu por toda a
história."
Ginsburg afirma que,
mesmo que ele seja um crítico da Suprema Corte israelense, ela é necessária.
"Eles [juízes da
Suprema Corte israelense] fizeram realmente algumas decisões malucas. Eles se
inseriram muito em muitos assuntos da política. Mas eu acho que Israel seria um
país muito pior se eles não tivessem essa corte, porque eles têm um modelo de
representação proporcional puro", diz.
Ele se refere ao sistema
eleitoral israelense, baseado no parlamentarismo e onde tem se mostrado quase
impossível um único partido conquistar um número suficiente de assentos para
formar governo sem alianças. Partidos pequenos normalmente são necessários para
formar uma coalizão — e, para Ginsburg, isso faz com que minorias consigam usar
o governo contra o direito de outras minorias.
"Me preocupo muito
com os direitos das minorias, por exemplo a minoria árabe em Israel, que compõe
cerca de 20% da população do país."
·
‘Se há aposentadoria
compulsória, limite de mandato é ruim’
Outra preocupação do
especialista é com iniciativas como projetos do Congresso brasileiro para
limitar mandatos de juízes do STF.
Ao defender essa mudança,
o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou em entrevista coletiva no dia
2 de outubro que a limitação é aplicada "em outros países do mundo e
defendida em diversos segmentos, inclusive por ministros e ex-ministros do
STF".
Tom Ginsburg avalia que a
regra brasileira atual é boa: não há limite de mandato, mas há aposentadoria
compulsória. Por outro lado, ele critica o sistema americano, onde não há
mandato e nem aposentadoria compulsória — o cargo é realmente vitalício.
"Não há fim para o
trabalho deles [ministros dos EUA]. Isso seria bom se eles estivessem fazendo
apenas coisas pequenas, e não tomando decisões substantivas sobre grandes temas
para a vida dos americanos."
"Se há aposentadoria
compulsória, um limite de mandato é ruim. Um limite de idade é muito bom: a
pessoa se dedica muito ao tribunal, mas depois tem que sair."
"Já o limite de
mandato em um país como o Brasil significará que os juízes estarão sempre
pensando no que farão depois. Isso é muito perigoso em um tribunal, porque eles
podem pensar: 'Tem um empresário na minha frente e, quer saber, farei um belo
favor a ele. Aí, depois que eu me aposentar, posso ir falar com ele'. Acho que
é algo que leva à corrupção."
O pesquisador cita também
o risco de juízes vislumbrarem uma carreira política depois de um eventual
mandato no STF.
"É extremamente
perigoso quando os juízes estão fazendo o seu trabalho e pensando na esfera
política. Isso põe em dúvida todo o sistema jurídico, como se fosse um sistema
político. A legitimidade da lei vem de haver técnica, e não política",
conclui.
Fonte: BBC News Mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário