STF manda recado ao Congresso: não é hora de falar em mandato fixo
Diante do debate sobre a aprovação de um mandato
fixo para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), integrantes da Corte
enviaram recados para a cúpula do Congresso de que o momento é de reforçar a
democracia, combater o desemprego e acabar com a fome no Brasil. Não de ficar
discutindo temas polêmicos e que gerem tensão entre os Poderes, como mudanças
no tribunal.
Os recados foram enviados para líderes do
Congresso, entre eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tem
defendido a discussão de projetos que fixam um mandato com prazo definido para
os futuros ministros da Suprema Corte.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, candidato à
vaga de Rosa Weber, defende a ideia de fixar em 11 anos o mandato de
integrantes do tribunal.
Em resposta aos recados enviados ao Legislativo,
interlocutores de Rodrigo Pacheco lembram que foi o STF que decidiu colocar em
evidência temas polêmicos, classificados como uma interferência do Supremo em
atribuições do Congresso Nacional.
Entre eles, o marco temporal de terras indígenas,
aborto e descriminalização do porte de maconha, julgamentos agendados pela
ex-presidente Rosa Weber na reta final do seu mandato.
Ou seja, o debate sobre o mandato fixo para o STF
teria sido uma reação às decisões de Rosa Weber. A expectativa, agora, é que
esses temas polêmicos não voltem tão cedo a julgamento no plenário da Corte.
Líderes do Congresso esperam que o novo presidente
do Supremo, Luís Roberto Barroso, busque uma pacificação entre Judiciário e
Legislativo.
• Agenda
do Planalto
Nesta terça-feira (04), ministros do STF destacaram
como positivas as declarações do ministro das Relações Institucionais,
Alexandre Padilha, garantindo que esses temas, incluindo o mandato fixo para
integrantes do tribunal, não fazem parte da agenda prioritária do Palácio do
Planalto.
Segundo ministros do STF, a discussão de um projeto
sobre mandato fixo para o Supremo logo incluiria também mudanças na forma de
indicação de integrantes do tribunal.
Nas palavras de um ministro, o Congresso quer, na
verdade, ter o poder de também indicar integrantes do STF. "Isso aqui iria
se transformar num grande TCU", avaliou o ministro.
• Gilmar
critica mandato fixo no STF e questiona por que ideias 'supostamente
reformistas' se dirigem só ao Supremo
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar
Mendes criticou nesta terça-feira (3) a ideia de mandato com prazo fixo para os
cargos de ministro da Corte. A tese ganhou força novamente com recentes
julgamentos no STF sobre temas de forte impacto social (veja mais abaixo).
Em uma rede social, Gilmar disse ser
"comovente ver o esforço retórico feito para justificar a empreitada:
sonham com as Cortes Constitucionais da Europa (contexto parlamentarista),
entretanto o mais provável é que acordem com mais uma agência reguladora
desvirtuada. Talvez seja esse o objetivo".
"A pergunta essencial, todavia, continua a não
ser formulada: após vivenciarmos uma tentativa de golpe de Estado, por que os
pensamentos supostamente reformistas se dirigem apenas ao Supremo?",
continuou.
Atualmente, um ministro do STF pode ficar no posto
até completar 75 anos, idade-limite para aposentadoria no serviço público.
A declaração de Gilmar ocorre no dia seguinte a uma
fala do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que defendeu o mandato
com prazo fixo na Corte. Pacheco disse que a tese "é algo que é bom para o
poder judiciário, é bom para a Suprema corte e é bom para o país".
O presidente do Senado fez o comentário após ser
questionado por jornalistas sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) que
tramita no Senado sobre o tema. De autoria do senador Plínio Valério (PSDB-AM),
o texto fixa em oito anos o mandato dos ministros da Corte, sem direito a
recondução.
Pacheco também afirmou que é favorável à mudança da
idade mínima para a condução ao cargo, que atualmente é de 35 anos.
"Acho que duas coisas são fundamentais:
elevação da idade mínima, que hoje é de 35 anos pela Constituição, e também
alguma forma de aposentadoria, após o fim do mandato do ministro", disse
Por fim, o presidente do Senado comentou que o
momento para se debater o assunto será após a próxima indicação do presidente
Lula para preencher a vaga que era ocupada pela ex-presidente, ministra Rosa
Weber, que se aposentou na última quarta-feira (27).
• Clima
tenso
A relação entre Pacheco e o STF tem estado
estremecida nas últimas semanas.
Dias depois de o STF formar placar de 5 a 1 a favor
de liberar porte de maconha para consumo pessoal (o julgamento está suspenso, a
pedido do ministro André Mendonça), o presidente do Senado apresentou uma
proposta para incluir na Constituição a proibição do porte de qualquer tipo de
droga.
Já na semana passada, após o Supremo decidir contra
a aplicação da tese na demarcação de áreas indígenas por 9 votos a 2, a
proposta do marco temporal foi pautada e aprovada pelo plenário do Senado, por
43 votos a favor, contra 21.
A votação ocorreu após a ameaça de obstrução de
pautas, pela oposição.
Barroso
já defendeu mandato para ministros do STF, mas acha que 'ficar mudando' é
péssimo
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Luís Roberto Barroso, tem conversado com interlocutores sobre o
debate, reacendido nos últimos dias, sobre a definição de mandatos com prazo
definido para ministros da Corte.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e
o ministro da Justiça, Flávio Dino, defendem mandatos com prazo fixo. Hoje, os
ministros podem ficar no posto até completar 75 anos – a limitação de tempo é
somente a idade.
Segundo interlocutores, Barroso mantém a posição
que expôs na sabatina dele há 10 anos – quando defendeu a ideia de um mandato
de 12 anos para ministros do Supremo, a exemplo da regra adotada em Supremas
Cortes europeias.
Essa opinião, no entanto, não coloca Barroso como
"aliado" dos defensores do mandato fixo que têm encampado essa
discussão no Congresso atualmente.
Ao contrário: o presidente do STF tem dito que,
apesar de ter defendido a ideia no passado, a tese não prevaleceu. E que pior
que não chegar ao modelo ideal é ter um modelo que nunca se consolida.
Em outras palavras, Barroso demonstra que é contra
a proposta em debate no Senado porque mudar de tempos em tempos significa
interferir no modelo por conveniência política – ou por questões que não passam
pelo interesse público e pelo respeito às instituições.
CCJ
aprova PEC que limita decisões monocráticas e pedidos de vista no Judiciário
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou
nesta quarta-feira, 4, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 8/2021, do
senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), que limita decisões monocráticas
(proferida por apenas um magistrado) e pedidos de vista nos tribunais
superiores. De acordo com a Agência Senado, a PEC recebeu voto favorável do
relator, senador Esperidião Amin (PP-SC), e será encaminhada para deliberação
do plenário do Senado.
A PEC veda a concessão de decisão monocrática que
suspenda a eficácia de lei ou ato normativo com efeito geral ou que suspenda
ato dos presidentes da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou
do Congresso Nacional. Ficarão submetidas a essas mesmas regras os processos no
Supremo Tribunal Federal (STF) que peçam a suspensão da tramitação de
proposições legislativas ou que possam afetar políticas públicas ou criar
despesas para qualquer ente federativo.
A PEC estabelece também que quando forem deferidas
decisões cautelares em ações que peçam declaração de inconstitucionalidade de
lei ou ato, ou questionem descumprimento de preceito fundamental, o mérito da
ação deve ser julgado em até seis meses. Depois desse prazo ele passará a ter
prioridade na pauta sobre os demais processos. Pela medida, os pedidos de vista
devem ser concedidos coletivamente e por prazo máximo de seis meses.
O autor da PEC alega que a medida é um contraponto
a atual insegurança jurídica. "São enormes os riscos à separação de
Poderes e ao Estado de Direito provocados pelo ativismo irrefletido, pela
postura errática, desconhecedora de limites e, sobretudo, pela atuação
atentatória ao princípio da colegialidade verificado no Supremo Tribunal
Federal", destacou Oriovisto à Agência Senado. Segundo ele, estudo mostra
que entre 2012 e 2016 o STF teria tomado 883 decisões cautelares monocráticas,
em média, oitenta decisões por ministro. O mesmo estudo indica que o julgamento
final dessas decisões levou em média, entre 2007 e 2016, dois anos.
Na mesma linha, Esperidião Amin diz, no relatório,
que "a decisão monocrática deixou de ser a exceção para se tornar presente
na quase totalidade dos julgados do STF". Ele também afirma que a
preocupação com esse tipo de decisão não tem viés ideológico, uma vez que
propostas semelhantes já foram apresentadas por parlamentares de outros
partidos.
Supremo
vê Pacheco fazendo jogo calculado e celebra enterro de minirreforma eleitoral
Integrantes do Supremo Tribunal Federal têm reagido
publicamente à pregação por mandatos fixos para ministros da Corte, encampado
até pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Internamente, os ministros minimizam o cenário e
veem Pacheco fazendo um jogo calculado, de olho em sua sucessão interna e na
eleição estadual de 2026.
Pacheco namora com a possibilidade de ser candidato
a governador de Minas e tem relatado dificuldades em circular por seus redutos
diante do papel que exerceu na legislatura passada de anteparo a ataques de
Jair Bolsonaro ao Supremo.
O Estado elegeu Romeu Zema em primeiro turno. O
governador era uma espécie de caixa de ressonância do bolsonarismo no Estado.
Além disso, a atitude de Pacheco de impor um debate
sobre o papel do STF tem espaço no próprio Senado, onde o grupo mais radical de
apoio a Bolsonaro diz abertamente sonhar com um pedido de impeachment de
integrantes da Corte.
Em conversas recentes com integrantes da magistratura,
Pacheco apresentou a conjuntura, numa sinalização de iria buscar o equilíbrio
na corda bamba, entre a atenção a uma agenda que prevê reformas no
funcionamento do Supremo, e a blindagem a excessos.
Um ministro ouvido pelo blog resume: "Não há
estresse [com Pacheco]. Faz parte do jogo de cada Casa. O presidente do Senado
fez um importante gesto à Justiça eleitoral, 'matando' as duas reformas
eleitorais. A minirreforma e a PEC (proposta de emenda constitucional) da
anistia".
Na
contramão de Pacheco, Lira é contra PEC que estabelece mandato temporário no
STF
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
(PP-AL), disse ser contra estabelecer mandato temporário para ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF).
O parlamentar avalia que a proposta não tem efeito
prático para melhorar a relação entre os magistrados e o Congresso.
Atualmente, os mandatos dos ministros do Supremo
são limitados apenas pela idade – os magistrados são aposentados
compulsoriamente ao chegar aos 75 anos.
Senadores de diversos partidos, incluindo da cúpula
da casa, entretanto, passaram a defender a aprovação de uma PEC de autoria do
senador Plínio Valério (PSDB-AM), que fixa o mandato dem 8 anos, sem direito à
recondução.
A ideia – que não é nova – voltou a circular depois
que o STF, na visão desses parlamentares, começou a discutir temas que o
Legislativo considera não estarem maduros, como a descriminalização do aborto.
Na segunda-feira (2), o presidente do Senado
Rodrigo Pacheco (PSD-MG) se mostrou favorável ao mandato temporário para o
Supremo.
“Acho que a tese do mandato para ministro do STF é
algo que é bom para o poder judiciário, é bom para a Suprema corte e é bom para
o país.”, afirmou ele.
Na avaliação de Lira, entretanto, o ideal para
melhorar relação entre Congresso e Supremo é abordar medidas que não tratem dos
mandatos dos ministros – como prazo ou, mesmo impeachment –, e sim que foquem
nos impactos das decisões monocráticas da Corte, por exemplo.
Nesse sentido, nesta quarta (4), a Constituição de
Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou uma proposta de emenda à
Constituição (PEC) que altera, entre outros pontos, as regras para pedido de
vista (prazo extra) e para decisões individuais de ministros do STF.
Senadores
reagem a Gilmar Mendes e dizem que mandato do STF tornaria ministros ‘normais’
Os senadores Hamilton Mourão (Republicanos-RS),
Alessandro Vieira (MDB-SE), Plínio Valério (PSDB-AM) e Sérgio Moro (União
Brasil-PR) rebateram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes
nesta terça-feira, 3, e saíram em defesa da discussão do mandato para os
magistrados da Corte.
A proposta de ter um período fixo para um ministro
ficar no cargo foi defendida pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)
nesta segunda-feira, 2. Gilmar Mendes reagiu à declaração e afirmou que a ideia
é “inoportuna” e que o Congresso quer transformar a Corte em “agência
reguladora desvirtuada”.
Plínio Valério é autor de uma proposta para
estabelecer um mandato aos membros do STF. O senador disse, ao rebater Gilmar,
que, tendo um mandato, os ministros “certamente se sentirão como seres humanos
normais”.
“Minha intenção ao propor a PEC foi promover visão
equilibrada e democrática do funcionamento do STF. Com mandato, certamente se
sentirão como seres humanos normais, juízes que exercerão uma função na Suprema
Corte e que estão sujeitos a avaliações e aperfeiçoamentos periódicos”,
escreveu o tucano nas redes sociais.
Alessandro Vieira chamou o posicionamento de Gilmar
Mendes de “ridículo” e disse que o decano do STF “se recusa a respeitar os
limites constitucionais da sua própria atuação”.
“É ridículo, pois se trata de integrante da Corte
que justamente interpreta e defende os limites da Constituição. O Congresso tem
óbvia e ampla legitimidade para discutir mandatos para o STF”, afirmou.
Hamilton Mourão, senador e ex-vice-presidente,
classificou como “lamentável” a atitude de Gilmar e afirmou que o ministro
“desdenha” da discussão do Senado. “O que o ministro chama de ‘esforço
retórico’, nós chamamos de trazer ao debate político e democrático as legítimas
demandas e anseios do povo que nos elegeu”, disse.
Senador e ex-juiz da Operação Lava Jato, Sérgio
Moro também criticou a reação do ministro. “Estabelecer mandatos para os
ministros do STF (novos) é mero aperfeiçoamento institucional, não é golpe ou
retaliação.”
Moro e Gilmar já protagonizaram vários embates
públicos e são desafetos declarados. O ministro critica o senador por causa da
condução da força-tarefa e Moro atribui ao magistrado uma conduta leniente com
o combate à corrupção.
• Discussão
foi reacendida após declaração de Pacheco
A discussão envolvendo Gilmar Mendes nesta
terça-feira começou com a declaração do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
Segundo o senador, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
indicar o nome para substituir Rosa Weber, a Casa deverá retomar o debate sobre
a criação de mandato para os ministros do Supremo.
“Seria bom para o Poder Judiciário, para a Suprema
Corte do nosso País, para a sociedade brasileira, termos uma limitação ao
mandato de ministros do Supremo”, disse o senador durante uma coletiva de
imprensa nesta segunda.
Nesta terça, Gilmar criticou a proposta nas redes
sociais. “É comovente ver o esforço retórico feito para justificar a
empreitada: sonham com as Cortes Constitucionais da Europa (contexto
parlamentarista), entretanto o mais provável é que acordem com mais uma agência
reguladora desvirtuada. Talvez seja esse o objetivo”, afirmou o ministro.
Ele também afirmou que o momento da discussão é
inoportuno. “Após vivenciarmos uma tentativa de golpe de Estado, por que os
pensamentos supostamente reformistas se dirigem apenas ao Supremo?”, questionou
Gilmar.
Hoje, o mandato dos ministros do Supremo é
vitalício, porque eles usufruem das mesmas prerrogativas da carreira da
magistratura, estabelecidas em lei. A aposentadoria compulsória aos 75 anos não
retira, por exemplo, o título de ministro.
• Discussões
no STF incomodam Legislativo
A discussão sobre o mandato para ministros do
Supremo é antiga e já foi endossada por Lula neste ano. Há diversos projetos de
lei na Câmara e no Senado sobre o tema. Um deles é de autoria do atual ministro
da Justiça, Flávio Dino, cotado para vaga no STF, e foi proposto quando ele era
deputado federal.
O fato de o Supremo Tribunal Federal ter encampado
discussões, como o marco temporal, tem provocado incômodo nos parlamentares.
Aprovado na Câmara por ampla maioria, impondo um
revés ao governo Lula, o projeto foi para o Senado com a promessa de Pacheco de
que seria votado sem regime de urgência, passando por comissões e com
audiências públicas.
Antes de o trâmite ser concluído, o STF declarou a
inconstitucionalidade do marco temporal. Pacheco pautou o projeto de lei, que
foi aprovado pela Casa. Como mostrou a Coluna do Estadão, quando o texto chegar
a Lula, ele deve ser vetado, mas já existem articulações no Congresso para
derrubar um possível veto do presidente.
Outros casos que alimentam esse ruído entre
Legislativo e Judiciário são a descriminalização do porte de drogas para
consumo pessoal e a descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação. Os
dois temas estão sob análise do STF.
No final de setembro, a Câmara dos Deputados voltou
a discutir a Proposta de Emenda à Constituição nº 50/2023, que prevê a
possibilidade de o Congresso derrubar decisões do Supremo. Especialistas
ouvidos pelo Estadão afirmam que há clima para que a PEC seja aprovada, mas o
texto pode ser derrubado pelo próprio STF.
Fonte: g1/Agencia Estado

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