Presença de 300 militares dos EUA na selva da
Amazônia pode ameaçar a soberania do Brasil na região?
Militares estadunidenses
se preparam para vir à Amazônia para exercícios conjuntos com o Exército
Brasileiro. Especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil analisam as possíveis
ameaças geradas pela presença estrangeira na região.
O Brasil receberá cerca
de 300 militares estadunidenses que desembarcarão em Belém, no Pará, a partir
do dia 31 de outubro, para participar de exercícios conjuntos com militares do
Exército Brasileiro.
Os exercícios conjuntos
fazem parte da CORE 23 (sigla para Combined Operation and Rotation Exercise),
operação que é parte de um acordo de cooperação na área de Defesa entre Brasil
e EUA, assinado em 2015 pela então presidente Dilma Rousseff. A edição deste
ano, será na Amazônia, em regiões do Pará e Amapá, entre os dias 1º e 16 de
novembro.
Em entrevista à Sputnik
Brasil, especialistas em defesa e segurança analisaram os objetivos da operação
e como a entrada de militares estrangeiros em um território tão crítico para o
Brasil poderia afetar a segurança ou a soberania nacional.
Danilo Bragança,
pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política Externa Brasileira (LEPEB)
da Universidade Federal Fluminense (UFF) explica que esses intercâmbios entre
militares são comuns, mas afirma que a presença de militares estadunidenses em
território nacional incomoda, mesmo que seja para exercícios.
"Utilizar o
território nacional em regiões como o Pará e o Amapá [para os exercícios
conjuntos], que são regiões que estiveram em voga por conta da exploração de
petróleo, do acesso ao rio Amazonas, do acesso à própria Amazônia, pela
Amazônia Azul, causa certo incômodo em setores mais cientes da história e da
proximidade normalmente tóxica em relação ao Brasil e Estados Unidos",
explica Bragança.
Já Rubens de Siqueira
Duarte, professor do programa de pós-graduação em ciências militares da Escola
de Comando e Estado-Maior do Exército e coordenador do Laboratório de Análise
Política Mundial (Labmundo) aponta que os exercícios conjuntos também são uma
forma de criar laços entre militares, além de passar um recado de confiança
mútua.
"Você tem uma
aproximação simbólica, pessoal e política entre esses dois Estados [Brasil e
EUA], demonstrando que existe uma aliança, que existe amizade, reduzindo,
então, uma certa desconfiança que possa existir entre os dois."
A edição deste ano da
CORE 23 será a primeira a ser realizada na Amazônia. Questionado sobre o porquê
da escolha de um território alvo de cobiça internacional, Rubens descarta a
possibilidade de existência de interesses escusos por trás da operação.
"Numa possibilidade
de uma invasão estrangeira tradicional, ou seja, uma invasão de Estado para
Estado, para contestar parte da Amazônia ou sua totalidade, muito provavelmente
essa guerra não vai se dar na Amazônia. Porque a Amazônia é muito difícil de
ser ocupada, uma região de mata densa. Se houver uma batalha pela Amazônia, a
primeira coisa que eles vão fazer é tentar derrotar Brasília, ou obviamente
outras partes do Brasil", explica o especialista.
Ele afirma "não
considerar razoável que os EUA, por meio de um exercício simulado conjunto com
o Brasil, treine para uma evasão da Amazônia".
"Acho que não é por
aí. Até porque a principal ameaça que temos na Amazônia hoje não é de guerra
tradicional, não é de um Estado querendo invadir a Amazônia, e sim a grande
quantidade de grupos que são irregulares, que atravessam a fronteira na
Venezuela, da Colômbia, do Peru, ou o avanço do crime organizado brasileiro na
Amazônia, que está se associando com grilagem, com tráfico de drogas, com
madeireiros, com mineração ilegal. O grande risco que a gente tem hoje não é de
forças regulares, mas sim de forças irregulares", explica Rubens.
Ele acrescenta que, nesse
contexto, faz todo sentido a realização de treinamentos na região que
"aprimorem a capacidade do Estado brasileiro de responder a essas
ameaças". "Acho que é um dos princípios que vão guiar esse
exercício", diz o especialista.
Porém, ele destaca que os
EUA podem usar outros meios que não militares para tentar pressionar o Brasil
para explorar, de alguma forma, a Amazônia, e ter acesso a água, minérios e
riquezas biológicas existentes na região.
"Eles podem fazer
isso por meio de grupos não estatais, sejam empresas ou organizações internacionais.
Com muito cuidado para não cair naquela teoria da conspiração de que todas as
ONGs estão lá a serviço do capital estrangeiro, não é por aí", explica
Rubens.
Ele acrescenta que
"a cobiça internacional existe, mas isso não significa que haverá uma
invasão tradicional e não significa que não existam pessoas de bem que estão
atuando na Amazônia para melhorar a situação da região".
Danilo Bragança, por sua
vez, destaca que "a Amazônia é um recurso natural de pé e extremamente
rentável".
Diante disso, ele afirma
que o Brasil precisa ter liderança e protagonismo para que a agenda da Amazônia
seja controlada pelo país.
"Há interesses
nacionais e estrangeiros que são muito lesivos à Amazônia, inclusive no sentido
de derrubar a floresta. Esse interesse estrangeiro faz parte de uma linha de
raciocínio do mundo que tem a ver com o internacionalismo, com a gestão de
recursos de maneira compartilhada, com a governança global e a governança
regional, que o Brasil precisa ter a liderança. Porque a maior parte do território
da Amazônia está sob o nosso território", argumenta Bragança.
Ele afirma que, para
garantir a soberania sobre a Amazônia o Brasil precisa, primeiro, assegurar que
ele continue de pé.
"É a partir daí que
a gente vai começar a administrar a Amazônia de maneira correta, gerindo a
agenda de maneira internacional e administrando recursos de maneira racional e
sustentável", explica o especialista.
Rubens concorda que a
preservação é de extrema importância e destaca que a soberania do Brasil deve
vir acompanhada de responsabilidade.
"Não adianta nada o
Brasil bater no peito e dizer que a Amazônia é brasileira, mas ter políticas
absolutamente irresponsáveis para a região, inclusive na questão ambiental,
pelo lado climático. Porque é óbvio, a questão das mudanças climáticas já
provou que será um dos grandes temas desse século. Então não adianta uma
postura ultrassoberanista, porque o problema é global, as mudanças climáticas
afetam o mundo inteiro."
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Troca de experiências e
operações conjuntas são benéficas para Exército Brasileiro
Para o coronel da reserva
do Exército Brasileiro Marco Antonio de Freitas Coutinho o objetivo de
exercícios conjuntos como a CORE 23 é a interoperabilidade, ou seja, realizar
trocas de experiências relativas à técnicas e procedimentos que nos ajudem a
desenvolver nossas capacidades operativas.
Ele destaca que o Brasil
é signatário do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que
visa a defesa mútua, e ressalta que o Exército Brasileiro realiza, anualmente,
exercícios combinados regulares com outros países.
"Com a Argentina,
com a Operação Arandú; o Paraguai, com a Operação Paraná; a França, a Operação
Fer de Lance e diversas atividades conjuntas na nossa faixa de fronteira com a
Guiana Francesa, que também é na Amazônia, e é um departamento da França, ou
seja, um país integrante da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte].
Realizamos a Operação Viking com a Suécia, que está fora do contexto americano,
mas é o principal exercício de operações de paz do mundo, em 2022 foi no
Brasil. E a CORE, com os EUA, que é realizada um ano no Brasil e no ano
seguinte nos Estados Unidos."
Coutinho destaca que
"o relevante nesses exercícios não é o lugar onde são realizados".
"Para um Exército
como o nosso, é importantíssimo realizar intercâmbios com o maior número
possível de parceiros internacionais, a fim de obter conhecimentos que nos
levem a atingir um nível avançado de prontidão operacional, que vão nos
permitir realizar a defesa de nossos interesses e da nossa soberania, sempre
que se fizer necessário."
Danilo Bragança concorda
em relação à importância de aprender com exércitos de outros países. Porém, ele
afirma que os exercícios conjuntos podem não ser a forma mais relevante para
obter expertise.
"O que há aí, na
verdade, com esses exercícios é que eles contribuem com a expertise que, de
alguma maneira, poderia ser alcançada de outra forma. Essa expertise é uma
expertise de prática. Isso quer dizer que você aprende a fazer com alguém. Mas
como você não tem o mesmo recurso, como você não tem o mesmo maquinário,
aprender desse jeito pode não surtir o efeito desejado. Participei de alguns
exercícios militares e parece muito mais demonstração, exibição do que
necessariamente alguma coisa vital para o Exército Brasileiro. O que é vital
para o Exército Brasileiro é despolitizar", explica Bragança.
"Vital [para o
Exército Brasileiro] é ter uma base industrial de defesa, com incentivo
tecnológico, com formação de pessoal, melhor redistribuição do programa de
cargos e salários, favorecer melhor praças, cabos e sargentos. E desmobilizar a
gigante parcela de generais e patentes altas que a gente tem num Exército como
o nosso que não tem nenhuma serventia, a não ser tirar dinheiro dos cofres
públicos", acrescenta o especialista.
Ø EUA transformam economia global em novo teatro
de guerra, diz especialista
O especialista do jornal
South China Morning Post Alex Lo afirmou que a economia global se transformou
em um novo teatro de guerra para os EUA em meio à crescente rivalidade com a
China.
Ele argumenta que os
norte-americanos estão utilizando para atacar a China ferramentas econômicas,
como sanções e restrições comerciais, que resultam em consequências para a
economia global como um todo.
Além disso, o
especialista destaca que os EUA não se preocupam com seus aliados, e que apenas
os usam como instrumentos de combate por seus próprios interesses.
Um exemplo disso, a
Alemanha foi um dos principais aliados norte-americanos atingidos pelas sanções
ocidentais contra a Rússia, utilizadas como instrumento de guerra pela
administração Biden para tentar conter o avanço russo.
Usando a desculpa da
"unidade ocidental" os EUA utilizam seus meios e sua
"liderança" para controlar o cenário econômico a seu favor, tornando
seus aliados cada vez mais dependentes dos americanos, formando um
"monopólio", sem dar a mínima para seus aliados europeus.
O jornal ainda destaca
que, ao usar a economia e o dólar como armas e instrumentos de pressão, os EUA
acelerarão a desdolarização na economia global, uma vez que outros países
deixarão de confiar nas investidas da administração Biden e procurarão a
independência em busca de prosperidade, crescimento e uniões mais justas.
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Conflito no Oriente Médio
rompe mercados de petróleo e desestabiliza economia mundial
O economista norte-americano
e acadêmico da Universidade de Columbia Jeffrey Sachs afirmou à Sputnik que o
conflito no Oriente Médio, entre Israel e Palestina, pode romper os mercados de
petróleo e desestabilizar a economia global.
"Se houver uma
grande guerra no Oriente Médio, os mercados de petróleo serão rompidos. [...]
Claro que isso desestabilizaria a economia mundial", afirmou Sachs.
Para o analista, uma
invasão terrestre de Israel em Gaza vai provavelmente desencadear uma grande
guerra, uma vez que o mundo muçulmano não ficará apenas observando a matança em
massa em Gaza.
Sachs também afirmou que
o mundo muçulmano deveria instar imediatamente a uma solução política da atual
crise regional, estabelecendo um Estado palestino e planejando a
desmilitarização do conflito, incluindo o desarmamento do Hamas e a introdução
de pacificadores da ONU.
O analista destacou que o
último discurso do presidente americano, Joe Biden, foi mais um chamado para
mais guerra do que um plano diplomático para resolver os problemas globais, afirmando
que os EUA deveriam aumentar o apoio a Israel e à Ucrânia.
"O discurso de Biden
foi um desastre, um apelo a mais guerra, e não à diplomacia", afirmou.
Por fim, o analista
afirmou que apenas com a diplomacia será possível solucionar o conflito na Ucrânia,
a guerra entre Israel e Palestina, a tensão entre os EUA e o Irã, bem como
outros problemas não resolvidos.
Ø Estados da UE acumulam quase 100 mil toneladas
de fertilizantes russos destinados a países pobres
Fertilizantes que seriam
destinados como ajuda humanitária permanecem em portos europeus. Ministério das
Relações Exteriores russo diz que situação é mais um exemplo da hipocrisia de
países ocidentais.
Países da União Europeia
(UE) mantêm retidos em seus portos cargas de fertilizantes russos destinados
por Moscou como ajuda humanitária a países pobres do continente africano. A
informação foi dada em comunicado do Ministério das Relações Exteriores da
Rússia.
Segundo o órgão, mais de
96 mil toneladas de fertilizantes russos estão retidas em portos de países da
UE.
"Como parte do
acordo entre Rússia e ONU, de setembro de 2022, a Rússia tomou a iniciativa de
destinar 262 mil toneladas de fertilizantes minerais bloqueados nos portos da
Letônia, Estônia, Bélgica e Países Baixos como ajuda humanitária aos países
mais pobres. Desde então, no entanto, apenas duas entregas foram
concluídas", diz o comunicado.
Segundo o ministério, as
duas entregas citadas são referentes a 20 mil toneladas enviadas para o Malawi
e 34 mil toneladas para o Quênia.
"A liberação de três
outros carregamentos planejados – para a Nigéria (34 mil toneladas), Zimbabué
(23 mil toneladas) e Sri Lanka (55 mil toneladas) – foi paralisada, apesar de
todos os procedimentos preparatórios terem sido concluídos", acrescentou o
ministério.
O ministério destacou que
a situação é mais um exemplo da hipocrisia dos países ocidentais e destacou que
a UE declarou repetidamente que as sanções não se aplicam diretamente aos
fertilizantes e às exportações de alimentos russos, mas na realidade Bruxelas continua
a bloquear mesmo entregas gratuitas e puramente humanitárias de fornecimentos
russos.
"É hora de Bruxelas,
Londres e Washington vincularem suas ações com suas palavras sobre a não
extensão das sanções ilegais aos produtos agrícolas russos, ou pararem de
mentir aos consumidores, especialmente dos países do Sul Global, que suportam o
fardo das consequências das restrições impostas [à Rússia]", concluiu o
ministério.
Ø Sanções antirrussas expõem fraqueza,
vulnerabilidade e insignificância da UE na geopolítica
O jornal New Statesman
afirmou que a União Europeia (UE) pode quebrar em um futuro próximo, uma vez
que as sanções antirrussas causaram mais danos à Europa do que à Rússia.
A mídia também ressaltou
que os líderes ocidentais subestimaram a Rússia, e não tiveram ideia de o quão
difícil é isolar um país tão grande quanto este.
Por sua vez, a mídia
destacou que mesmo a UE tendo riqueza e ambição, a região é fraca e tem
influência limitada no cenário global.
Outro fato destacado é
que a UE não tem uma estratégia definida em relação à China e aos EUA, e que
sua política externa frequentemente encontra obstáculos devido aos interesses
divergentes dos Estados-membros.
Além disso, a região é
vulnerável a pressões externas, como a crise migratória, e incapaz de agir em
conjunto devido à falta de união fiscal e política.
Por fim, o jornal sugere
que a UE repense sua abordagem geopolítica, caso pretenda ter alguma
significância no mundo em desenvolvimento.
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Dívida externa da Rússia
fica abaixo de 15% do PIB pela 1ª vez na história
Dados do Banco Central da
Rússia mostram que o nível da dívida externa em relação ao PIB do país ficou
abaixo de 15% ao final do segundo trimestre deste ano. O balanço foi realizado
pela Sputnik. Essa é a primeira vez na história que o valor atinge esse
percentual.
Conforme o levantamento,
a dívida externa tem reduzido de forma considerável nos últimos anos: enquanto
no final de 2020 representava 31%, em 2021 passou para 26,2%, e no final do ano
passado, era de apenas 16,6%. No primeiro trimestre de 2023, reduziu um pouco
mais, chegando a 15,45%.
Já no segundo semestre
deste ano, o indicador foi a 14,86%. O valor leva em consideração a dívida
tanto governamental quanto corporativa e, no final de junho de 2023, era de US$
343,4 bilhões (R$ 1,7 trilhão), ou cerca de 29,9 trilhões de rublos.
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Índice per capita
Os dados do Banco Central
russo também mostram que a dívida externa per capita ao final do segundo
trimestre diminuiu 4%, para US$ 2,3 mil (R$ 11,5 mil). O índice é o menor desde
2006, quando atingiu US$ 2,2 mil (R$ 11 mil).
Em junho, o chefe do
departamento analítico do banco BKF russo, Maksim Osadchy, lembrou que a
"dívida externa da Rússia atingiu um recorde histórico de US$ 732,8
bilhões [R$ 3,51 trilhões] em 1º de julho de 2014, antes de iniciar um declínio
relativamente constante devido às sanções e à retirada de capital de não
residentes no exterior".
Segundo o analista, a
redução da dívida se acentuou após a operação militar especial russa. "Por
isso, a redução da dívida externa da Rússia no primeiro trimestre de 2023 é a
continuação de uma tendência de longo prazo que, sem dúvida, continuará",
explicou.
Fonte: Sputnik Brasil
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