Os argumentos de Israel para rejeitar resolução da ONU por trégua em
Gaza
Israel respondeu com irritação ao rejeitar uma
resolução da ONU que apelava por uma “trégua humanitária” em Gaza, prometendo
que continuará a se defender.
Os membros da Assembleia Geral da ONU votaram
esmagadoramente por uma trégua humanitária imediata entre Israel e o Hamas.
O embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, disse
que a ONU não tinha mais "nem um pingo de legitimidade ou
relevância".
Os EUA votaram contra a resolução, mas apelaram por
uma “pausa humanitária” nas operações militares de Israel em Gaza.
Militares israelenses dizem estar expandindo suas
operações, à medida que seus ataques se intensificam em toda a região de Gaza.
O porta-voz Daniel Hagari afirmou que as forças
"aumentaram os ataques em Gaza. A força aérea ataca amplamente alvos
subterrâneos e infra-estruturas terroristas, de forma muito
significativa".
Ele disse novamente que os residentes de Gaza devem
se deslocar rumo ao sul.
Israel tem bombardeado Gaza desde os ataques do
Hamas em 7 de outubro, que mataram 1.400 pessoas em Israel e fizeram 229
pessoas serem feitas reféns pelo Hamas.
A Assembleia Geral da ONU votou na sexta-feira
(27/10) a favor de uma trégua imediata em Gaza. Foram 120 votos a favor, 14
contra e 45 abstenções.
A resolução – apresentada pela Jordânia em nome do
grupo de países árabes – também condena todos os atos de violência contra civis
palestinos e israelenses, incluindo “ataques terroristas e indiscriminados”.
A votação não cria obrigações legais, mas tem peso
moral devido à universalidade dos membros da ONU.
O embaixador de Israel, Erdan, disse que era “um
dia sombrio para a ONU e para a humanidade”, prometendo que o seu país usaria
“todos os meios” na luta contra o Hamas.
"Hoje é um dia que será considerado infame.
Todos testemunhamos que a ONU já não tem nem um pingo de legitimidade ou
relevância", disse ele.
Ele acusou aqueles que votaram sim de preferir
apoiar “a defesa dos terroristas nazistas” em vez de Israel.
O porta-voz da segurança nacional dos EUA, John
Kirby, disse que os EUA apoiaríam pausas nos combates para ajudar reféns a
saírem de Gaza e para permitir a entrada de mais ajuda.
“Apoiaríamos pausas humanitárias para que as coisas
entrem, bem como para a saída de pessoas, e isso inclui defender que cargas de
combustível entrem e a restauração da energia elétrica”, disse.
A Casa Branca não comentou o anúncio feito pelas
forças armadas de Israel (IDF) de que o país está expandindo suas operações
terrestres em Gaza.
O ministério da saúde de Gaza, administrado pelo
Hamas, afirma que 7.000 pessoas morreram desde o início dos bombardeios de
Israel.
Há no momento uma escassez crítica de serviços
essenciais, enquanto milhares de pessoas fugiram de suas casas e a
infraestrutura da região foi gravemente danificada.
Entre os líderes internacionais que pediram um
cessar-fogo está o presidente da França, Emmanuel Macron.
Em fala anterior a Israel dizer que estava
ampliando seus ataques em Gaza, ele afirmou ter dito ao primeiro-ministro de
Israel, Benjamin Netanyahu, e ao presidente de Israel, Isaac Herzog, que a
população de Gaza deve ser protegida.
“Uma trégua humanitária é importante hoje para
proteger aqueles que estão no terreno e que foram atingidos por bombardeios”,
disse ele no final de uma reunião de dois dias entre líderes da União Europeia
em Bruxelas.
Macron reiterou que Israel tem o direito de se
defender, mas disse que “o bloqueio total, o bombardeio indiscriminado e ainda
mais a perspectiva de uma operação terrestre em massa” representam riscos
significativos para a população civil em Gaza.
Já a Jordânia alertou que o resultado daquilo que
chamou de “guerra por terra” seria uma catástrofe humanitária.
Israel pediu esta semana que o secretário-geral da
ONU renunciasse após comentários que ele fez sobre a guerra em Gaza.
António Guterres disse num discurso no Conselho de
Segurança que condenava inequivocamente os ataques mortais do Hamas em Israel
há duas semanas, mas que eles "não aconteceram no vácuo".
Israel acusou Guterres de “justificar o terrorismo”
e apelou à sua demissão imediata.
Ø Apagão em Gaza pode esconder atrocidades em massa, diz Human Rights
Watch
A ONG Human Rights Watch (HRW) alegou que o apagão
das telecomunicações em Gaza, realizado em meio a um bombardeio israelense ao
território palestino, pode acobertar atrocidades em passa. Por toda Faixa de
Gaza, o acesso à internet e a rede telefônica foram completamente cortados
nesta sexta-feira (27).
"Ocorreram interrupções generalizadas de
telefone e Internet em Gaza em 27 de outubro de 2023, em meio a um bombardeio
israelense planejado, isolando quase totalmente os 2,2 milhões de residentes do
mundo exterior", disse a HRW em um comunicado.
"Este apagão de informações corre o risco de
fornecer cobertura para atrocidades em massa e contribuir para a impunidade das
violações dos direitos humanos", disse Deborah Brown, pesquisadora sênior
de tecnologia e direitos humanos do grupo, no comunicado.
Organizações internacionais como a Cruz Vermelha,
os Médicos sem Fronteiras, a Anistia Internacional, a Organização Mundial da
Saúde (OMS) e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos
Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) disseram perder todo o contato com seus
funcionários.
Esta é a terceira semana de bombardeios ao enclave,
iniciados após um ataque dos militantes do Hamas que pegou de surpresa as
autoridades israelenses.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, ao todo
7.326 pessoas morreram em decorrência dos ataques israelenses desde 7 de
outubro. Autoridades israelenses colocam seus números de mortos em 1.400.
Ø O complexo papel do Catar como mediador para libertar reféns
sequestrados pelo Hamas
O sequestro de mais de 200 pessoas no sul de Israel
pelo grupo militante palestino Hamas em 7 de outubro colocou o Catar no centro
das atenções. O destino dos civis está, até certo ponto, nas mãos do pequeno
Estado do Golfo Pérsico.
Por quê? Pela simples razão de que esse país árabe
está desempenhando um papel único como principal mediador entre os dois lados
do conflito.
Tanto o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden,
como o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, agradeceram ao Catar por
intermediar a libertação de quatro reféns.
Na quarta-feira, em um gesto considerado incomum,
uma vez que Catar e Israel não possuem relações diplomáticas, o agradecimento
veio do conselheiro de segurança nacional de Israel, Tzachi Hanegbi.
O Catar está confiante de que, com tempo, paciência
e persuasão, será capaz de negociar a libertação de mais dezenas de reféns nos
próximos dias, embora qualquer incursão terrestre israelense no território
palestino da Faixa de Gaza tornaria isso muito mais difícil.
É muito provável que entre esses reféns, dizem as
autoridades do Catar, haja não-israelenses e outros civis com dupla
nacionalidade.
Acredita-se, no entanto, que o Hamas deve mantar em
cativeiro os soldados israelenses que sequestrou na esperança de trocá-los por
prisioneiros palestinos detidos em prisões em Israel.
Mas esse papel de mediação traz sérios riscos para
o Catar.
À medida que surgem mais detalhes dos ataques
brutais do Hamas a Israel, alguns questionam por que razão esse aliado
ocidental no Oriente Médio, que abriga uma base militar dos EUA, apoia uma
organização considerada como terrorista pelo Reino Unido, Estados Unidos e
União Europeia.
Se os esforços do Catar no futuro se revelarem em
grande parte infrutíferos, então a sua posição no Ocidente será afetada e
poderá surgir pressão sobre o país para deixar de abrigar o escritório político
do grupo palestino em seu território.
·
Escritório do Hamas em Doha
Dizer que as negociações sobre os reféns em Gaza
são delicadas seria um eufemismo.
Israel ainda está se recuperando dos ataques do
Hamas no dia 7 de outubro, quando homens armados invadiram o seu território
após romperem a cerca da fronteira, matando cerca de 1.400 pessoas.
A Faixa de Gaza é o lar de 2,3 milhões de
palestinos e do braço militar do Hamas, que governa o território desde 2007.
Nas últimas duas semanas, ataques aéreos
israelenses quase ininterruptos mataram mais de 5 mil pessoas, segundo o
Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.
A ONU pede um cessar-fogo urgente.
Israel prometeu destruir o Hamas. Não surpreende,
portanto, que ambas as partes precisem de um mediador.
Então, como funcionam essas negociações de reféns?
O Catar abriga a liderança política do Hamas, que
tem um escritório na capital Doha desde 2012, chefiado pelo seu líder, Ismail
Haniyeh.
No meio dos brilhantes arranha-céus de vidro e aço
da moderna Doha, as lideranças do Hamas têm se reunido com diplomatas do
Ministério das Relações Exteriores do Catar para resolver a questão da complexa
libertação de reféns.
Os mediadores do Catar pertencem a um departamento
especial que supervisiona a relação com o Hamas em Gaza.
Atualmente, o Catar envia centenas de milhões de
dólares por ano ao Hamas em ajuda humanitária e para o pagamento de combustível
e dos salários dos funcionários públicos.
Muitas das autoridades do Catar estiveram em Gaza e
são bem conhecidas das lideranças do Hamas.
Ao contrário dos seus vizinhos do Golfo, Bahrein e
dos Emirados Árabes Unidos, o Catar não tem relações diplomáticas com Israel —
os dois países cortaram laços em 2009 — antes disso, porém, acolheu um
escritório de promoção comercial israelense em Doha, que foi fechado naquele
ano, coincidindo com a guerra entre Israel e o Hamas.
Mas há comunicações através de canais secundários e
em momentos-chave — durante as discussões sobre os reféns, as autoridades do
Catar conseguiram falar por telefone com os seus interlocutores israelenses.
·
Tarefa complicada
Existem muitos fatores em jogo aqui.
O Hamas parece ganhar pouco com a libertação dos
seus reféns, mas a organização, um acrônimo árabe para Movimento de Resistência
Islâmica, já foi criticada por sequestrar mulheres e crianças.
Isso, diz um importante príncipe saudita, Turki
al-Faisal, vai contra os mandatos islâmicos.
Alguns analistas acreditam que o Hamas quer
livrar-se desses reféns, e possivelmente também de todos os estrangeiros, o
mais cedo possível.
"É uma imagem ruim para eles", afirma à
BBC Justin Crump, da consultoria estratégica Sibylline.
Ele observa que manter em segredo a localização de
tantos reféns de Israel, bem como alimentá-los e cuidar deles durante uma
guerra, deve ser um grande desafio logístico para o Hamas.
No entanto, autoridades do Catar dizem que a
libertação dos raptados dá tempo ao Hamas.
Com tantas famílias em Israel e noutros lugares
desesperadas para garantir a libertação dos seus entes queridos através de
meios pacíficos, cresce a pressão sobre o governo israelense para adiar a sua
tão esperada incursão terrestre em Gaza.
Supõe-se que se e quando a invasão de larga escala
for lançada, não haverá mais negociação.
·
Desafio
Além disso, outra questão diz respeito à forma como
esses reféns vão ser libertados.
Não seria surpreendente que o Hamas os tenha
mantido escondidos em túneis subterrâneos. Os poucos que foram libertados foram
entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Mas libertar o restante dos reféns civis, como
mencionado, exigiria uma pausa nos ataques aéreos incessantes.
O Hamas gostaria de transformar essa pausa num
cessar-fogo.
Mas o governo israelense do primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu prometeu prosseguir com esta guerra até que o Hamas seja
destruído e está, portanto, relutante em conceder ao grupo qualquer tipo de
trégua.
E esta não é a primeira vez que o Catar surge como
um mediador útil.
O Catar foi fundamental para as negociações do
grupo extremista Talebã com os Estados Unidos em 2020.
Durante anos, abrigou uma embaixada de facto do
Talebã quando o grupo estava fora do poder no Afeganistão.
Lembro-me de ter noticiado isso em 2013, quando os
talebãs irritaram o governo afegão em Cabul ao hastear a sua bandeira branca
dentro do seu complexo em Doha.
Embora os Estados Unidos e os seus aliados
estivessem em guerra com o Talebã, era, na verdade, do interesse de Washington
ter uma porta aberta para dialogar com o grupo, resultando no controverso
acordo de paz de 2020 que levou à caótica retirada ocidental de Cabul no ano
seguinte.
Os moradores de Doha costumavam destacar a visão
extraordinária dos comandantes talebãs corpulentos e barbudos, vestidos com os
seus trajes salwar, levando as suas esposas às compras nas mais recentes
boutiques da moda ocidental nos shopping centers climatizados de Doha.
No Iraque e na Síria, os catarianos usaram os seus
contatos de inteligência para garantir a libertação de alguns reféns detidos
pelo autoproclamado Estado Islâmico (ISIS).
E, mais recentemente, neste ano, o Catar negociou o
regresso às suas famílias de quatro crianças ucranianas que alegadamente tinham
sido sequestradas pela Rússia, na sequência de um pedido da Ucrânia para que o
país negociasse com Moscou em seu nome.
Tudo isto faz do Catar um parceiro valioso para
muitos países, alguns dos quais têm se aproximado dele em busca de ajuda para
retirar seus cidadãos de Gaza.
Mas o Catar já caminhava numa curiosa corda bamba
diplomática mesmo antes desta crise.
A forma como o país vai sair deste conflito
dependerá, portanto, em grande parte da sua capacidade de acalmar a terrível
situação em Gaza e de prosseguir os seus esforços para garantir a libertação do
maior número possível de reféns.
Fonte: BBC News Mundo/Sputnik Brasil
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