“Não existe transição energética sem a mineração”, avalia Carballal,
presidente da CBPM
A nova mineração na Bahia e outros temas foram
tratados na entrevista com o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral
(CBPM), Henrique Carballal. O gestor é categórico ao afirmar que a sociedade
precisa compreender a importância da atividade minerária no desenvolvimento
socioeconômico do estado e do país.
LEIA A ENTREVISTA
• Como
avalia o cenário atual da mineração na Bahia e quais as perspectivas de
crescimento para os próximos anos?
Importante começar dizendo que a Bahia possui a
terceira maior produção minerária do país, perdendo só para Minas Gerais e
Pará. As nossas perspectivas são muito grandes porque, se somos o terceiro
estado em produção, temos uma multiplicidade de minérios, fruto das nossas
características geológicas. E esta característica natural nos permite enxergar
uma perspectiva grandiosa no que se refere à transição energética. Não existe
retirada de carbono na atmosfera sem mineração. Então, o grande ponto que todos
devem compreender é que para retirar carbono da atmosfera, é preciso
desenvolver atividade minerária. Por exemplo, quando se tira um carro de motor
à explosão para um carro de motor elétrico, precisa das baterias e estas são
feitas de minerais, como o lítio. Mas além do lítio, a gente precisa de zinco,
cobalto, terras raras, grafita, cobre. Os minerais da transição energética,
portanto, se encontram no solo da Bahia. Nós temos uma grande quantidade de
minerais que são uma riqueza de extrema relevância para o desenvolvimento da
nossa economia. Estamos em um processo, agora, de licitação de uma mina de
silício, justamente para ser implantada uma indústria na Bahia de alta
tecnologia de produção desse mineral. Estamos também negociando outras áreas de
silício com a China, visando a implantação de fábricas de produção de placas
solares.
• Qual
a importância da mineração para a humanidade?
As pessoas precisam entender que a mineração está
em tudo na vida delas. Quando você se senta na mesa, além do prato que é feito
de cerâmica e os talheres, de alumínio, prata e etc., temos a própria comida
que é feita através da agricultura que, por sua vez, precisa de fertilizantes,
que precisa de remineralizador do solo, e ambos são produzidos através da
atividade minerária. As vacinas e os insumos dos animais também são produzidos
a partir da mineração. Então, nós precisamos compreender a importância da
mineração e desenvolvê-la, respeitando as políticas dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) e as
práticas ESG de defesa e proteção do meio ambiente. Quando as pessoas pensam em
mineração, vem logo na cabeça a ideia de cavar buracos no meio ambiente. E a
atividade minerária é infinitamente menor, do ponto de vista do dano ao meio
ambiente, em relação, por exemplo, à agricultura e à pecuária em grande escala.
A postura do governador Jerônimo é de nos apoiar com a visão de que a atividade
minerária é uma fronteira econômica e que é preciso ser desbravada e ampliada e
ele tem isso como um legado que quer deixar para o povo da Bahia.
• A que
se deve o crescimento do setor e o que esta fase positiva representa em termos
de desenvolvimento socioeconômico da Bahia?
Primeiro se deve às características geológicas da
Bahia e segundo é o acerto de termos a CBPM. Ao longo desses 50 anos de
existência da companhia, seus técnicos, engenheiros de minas, geólogos
produziram dados e conhecimentos relevantes e muito consistentes sobre onde
estão as áreas de potencial mineral no nosso estado e que nos permitem apontar
esse horizonte de crescimento e desenvolvimento. E agora temos um elemento que
traz muita força, que é a decisão política do governador Jerônimo Rodrigues de
não perder esta oportunidade que o mundo está nos dando de ampliar as fronteiras.
O nosso governante entende que este é um momento importante da humanidade que
corre para diminuir o carbono na atmosfera e desacelerar o processo de
aquecimento global. E neste momento crucial, a Bahia pode e deve contribuir
para garantir isso. A determinação do governador é que esta produção seja
desenvolvida no próprio estado. A Bahia não pode ser apenas exportadora de
commodities, precisamos dar um salto qualitativo. Queremos também exportar
produtos com tecnologia. As fábricas de alta tecnologia serão fundamentais
neste processo. É o caso da BYD, que veio graças ao esforço do governador
Jerônimo, mas não veio para ser simplesmente uma montadora. Veio para ser uma
fábrica de automóveis. Então, as peças serão produzidas na Bahia e um
compromisso da BYD firmado com o governador é que a Bahia produzirá tecnologia
nessa área.
• Um
dos desafios do setor é a necessidade de ampliação da sua cadeia produtiva. De
que forma a CBPM tem atuado neste sentido?
Quando cheguei na CBPM, tínhamos, em Jacobina, uma
licitação em curso de uma mina de calcário para a produção de cimento. Eu
suspendi essa licitação porque esta vai ser feita obrigatoriamente implantando
uma indústria de cimento no município. Ou seja, ao invés de entregar a mina
para produzir calcário a ser levado para fora, o elemento será utilizado na
fábrica. Em um outro município, que ainda não posso citar o nome, a pedido da
empresa, fizemos uma licitação de calcário que vai servir para a
remineralização do solo e o compromisso é a montagem de uma unidade que vai
produzir esse calcário para ser utilizado na agricultura baiana. Em Irecê, já
posso anunciar, teremos uma produção de fosfato para produção de fertilizantes
e acreditamos que em 2026, 900 empregos diretos estarão sendo criados na cidade
para produção de fertilizantes, o que irá garantir que o estado se torne
independente da importação desse produto da Rússia ou de qualquer outro país.
Estamos para anunciar também uma fábrica de alta tecnologia voltada à energia
fotovoltaica que será implementada graças à parceria de exploração de sílica na
região de Belmonte. O governador deverá anunciar, ainda este ano, essa
indústria que será implantada na Bahia.
• Outro
desafio é a afirmação de práticas sustentáveis onde as mineradoras estão
instaladas. Como a CBPM tem trabalhado isso?
Vamos fazer um seminário, em novembro, com a
parceria do Jornal A TARDE e a participação de várias empresas chinesas, para
discutirmos a questão da mineração com sustentabilidade, visando apontar como a
mineração deve respeitar as políticas ESG (Environmental, Social and
Governance). Tem que respeitar o meio ambiente, tem que garantir que haja a
incorporação das comunidades do entorno na divisão da riqueza. Essas
comunidades que são superficiárias (proprietárias do solo onde ficam as jazidas
minerais) e mesmo aquelas afetadas precisam perceber que o que se extrai do
solo gera riqueza, emprego, desenvolvimento cultural, educação, saúde. A ideia
é conectar a produção mineral com o desenvolvimento das atividades de
preservação do meio ambiente e ajudar o mundo neste momento de transição
energética e garantir o desaquecimento do planeta, ou melhor, frear o
aquecimento global. E o nosso desafio é justamente fazer essas realizações,
respeitando todas as comunidades que tiverem nas áreas de mineração e que elas
tenham seus direitos assegurados, incluindo o de acesso a essas riquezas que é
produzida.
• Algum
exemplo de empresa com a qual a CBPM vem tratando de perto essas questões de
sustentabilidade?
A chinesa Sulamericana de Metais (SAM), que há um
tempo está no Brasil, quer fazer um mineroduto vindo de Minas, passando pela
Bahia, para o Porto de Ilhéus, e vão montar uma unidade de produção, que a
gente chama de empelotar o minério de ferro da região de Ilhéus para exportar.
Eles estão há dez anos tentando montar esse mineroduto e a CBPM, que também é
uma empresa de fomento, assumiu essa implantação e estamos auxiliando na
elaboração desse projeto. Estamos dialogando para que, quando o mineroduto for
instalado, a água que vem com o mineral, possa ser tratada e ser reutilizada
pela população para o desenvolvimento da agricultura, da pecuária ou outras
atividades que essa água possa ser utilizada. A própria SAM já manifestou
interesse em utilizar uma parte significativa dessa água para produzir
hidrogênio verde. Ou seja, uma empresa mineradora precisa, na região em que
está estabelecida, investir em cultura, educação, qualificação de mão de obra.
E nós estamos trabalhando neste sentido. Inclusive, estamos resgatando o
Projeto Prisma, do senador Otto Alencar, de qualificação da mão de obra na
mineração e que foi realizado há décadas. Estamos dialogando com as grandes
mineradoras no sentido de melhorar a comunicação para que as comunidades
entendam a importância da mineração; que ela deve acontecer de forma
sustentável; e que saiba que é um movimento necessário para toda a humanidade.
• Qual
a importância de equipamentos como a Fiol e o Porto Sul para o avanço da
mineração na Bahia?
Tanto a Fiol como a Porto Sul serão fundamentais
para a mineração. A Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) vai ligar o Oeste começando de
Caetité, onde terá uma grande produção de ferro, e o Porto Sul, vai permitir
que grandes embarcações possam chegar e, com isso, vamos ter o escoamento dessa
grande produção de ferro. E, para quem não sabe, na própria região, temos
várias outras mineradoras, como a Pedra Cinza, que atua na área da CBPM e vai
produzir chumbo e zinco. Essa produção também vai ser escoada através da Fiol.
Então, o que quero dizer, é que a infraestrutura é extremamente necessária para
o desenvolvimento. A Bahia faz grandes investimentos em estradas e precisa
encontrar, junto ao Governo Federal, as formas de ampliar essa logística. A
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) vem assumindo
com grande destaque o desenvolvimento dessas pesquisas para avançar nesses
estudos e apontar como a logística pode contribuir não só para a produção
minerária, como também a industrial e agrícola. Para avançar na mineração,
precisamos de logística. E, hoje, temos graves problemas nesse sentido. A
Coelba, por exemplo, é uma subsidiária extremamente problemática, que atrasa o
desenvolvimento da Bahia. Há problemas com a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA),
que vem sendo sucateada criminosamente e nos parece ser uma ação orquestrada
para justamente não permitir que a Bahia possa desenvolver e avançar em suas
atividades econômicas.
• Que
impactos positivos estão sendo colhidos nas regiões onde há atividade de
mineração e como estão sendo gerenciados os entraves?
Estamos com a expectativa de geração de muita mão
de obra. Para se ter uma ideia, só a Bamin, com a construção da Fiol, já está
gerando muitos empregos diretos. Só a produção de fosfato, em Irecê, vai gerar
900 empregos diretos no município. Estamos iniciando um processo de diálogo com
as empresas. Existem conflitos no noroeste do estado, que envolvem duas
empresas mineradoras e uma delas, a Galvani, nós a procuramos e está super
aberta ao diálogo com aquela comunidade. Procuramos a outra empresa, a Tombador
Iron, e não obtivemos nem respostas. Ela foi desrespeitosa comigo como
presidente da CBPM, imagina com a comunidade local. A Galvani está aberta para
o debate e há uma semana, uma equipe nossa, da CBPM, juntamente com outras
equipes das secretarias estaduais de Reparação, de Ação Social, de Direitos
Humanos e de Relações Institucionais, viajou para Juazeiro, para se reunir com
as comunidades afetadas por essas duas empresas, capitaneada pelo bispo de
Juazeiro, Dom Beto, e mediarmos esse conflito naquilo que concerne a
intervenção do estado para garantir o direito das pessoas. Não só estamos
preocupados com as empresas, no sentido de fomentar, mas também com as pessoas
que vivem naquelas comunidades.
• Que
investimentos em tecnologias e apoio às comunidades do entorno das empresas de
mineração a CBPM tem realizado?
Somos uma empresa de fomento. Semana passada,
assinei a homologação em um processo licitatório para a contratação de uma
empresa de estudos aerogeofísicos, com um investimento de R$ 7 milhões. Vamos
avançar nos estudos de uma área no noroeste do estado. Em paralelo, estamos
investindo R$ 22 milhões em testemunhos de sondagens, que são perfurações do
subsolo para o reconhecimento de solos e minérios que o constituem.
Continuaremos investindo em pesquisas em todo o estado da Bahia, mas a nossa
intenção é mudar a modelagem de negócios da CBPM. Estamos dialogando com o
governador Jerônimo e a ideia é que a CBPM, além de fomentar, se torne uma
empresa mineradora. Estamos buscando construir alternativas para o
desenvolvimento minerário do estado, que gere empregos e renda. Esta é a
disposição do governo. O povo da Bahia pode esperar que estaremos desenvolvendo
a atividade minerária com responsabilidade e a certeza de que ela é um grande
avanço para a economia e também para o desenvolvimento social do nosso estado.
Na CBPM, que fez 50 anos em 2022, ao longo desse tempo, surgiram boas ideias de
pesquisa de desenvolvimento das áreas, mas, hoje, precisamos fomentar. A
empresa vem auxiliando a Secretaria de Desenvolvimento do Estado (SDE) no
sentido do fomento da mineração. Estamos de portas abertas para orientar e,
inclusive, abertos a negócios de parcerias, de sociedade, de investimentos.
Fonte: A Tarde
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