quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Mais um legado de Zé Ronaldo: Prefeitura de Feira de Santana ignorou laudo pericial sobre Shopping Popular

Um desequilíbrio financeiro de R$ 23 milhões no contrato de concessão firmado entre a Prefeitura de Feira de Santana e a Concessionária Feira Popular, responsável pela administração do Shopping Cidade das Compras, foi apontado em um laudo pericial, em setembro de 2021, e foi ignorado pela gestão municipal.

O documento, obtido pelo Portal A TARDE, foi elaborado pelo perito Tiago Vilaça da Cunha Pereira Afonso, membro da Associação dos Peritos Judiciais de Minas Gerais. O documento, que conta com 26 páginas, concluiu que houvesse um pedido de reequilíbrio financeiro, mas que jamais foi analisado.

De acordo com o laudo, a solicitação por parte da Prefeitura em conceder 12 meses de carência/isenção dos valores dos aluguéis para os camelôs e feirantes cadastrados, além do período pandêmico de 2020, provocou o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão.

As isenções determinada por outros decretos da prefeitura, mesmo após pedido de reequilíbrio, já chegam a mais de 20 meses, aumentando, ainda mais, o impacto financeiro na Concessionária Feira Popular.

A carência no pagamento de aluguéis, por exemplo, aos mais de 1.500 camelôs cadastrados no projeto, e mais a inserção de mais de 500 espaços para pequenos produtores e feirantes, gerou uma perda de receita acentuada mês a mês, por parte da Concessionária Feira Popular.

O laudo pericial apontou, após análise do plano de negócios, por exemplo, que no primeiro ano de funcionamento do Shopping Cidade das Compras o valor total de receitas previstas era de R$9,84 milhões.

Entretanto, apenas foi recebido a título de receitas um total de R$2,45 milhões, não alcançando nem mesmo a 25% do valor de receitas previstas.

O perito Tiago Vilaça constatou, após todas as análises, conforme o laudo pericial, que a Prefeitura de Feira de Santana deveria promover o reequilíbrio financeiro do contrato, através de indenização, no valor de R$ 23,23 milhões.

Esse montante teria como data base 30 de setembro de 2021. Vale lembrar que o reequilíbrio econômico e financeiro está garantido em contrato firmado entre as partes.

        INTERVENÇÃO

Alegando inconformidades no contrato de concessão, a Prefeitura determinou no último dia 6 de outubro uma intervenção no empreendimento, por um prazo previsto de 180 dias.

A intervenção ocorre na operação e administração do Shopping Cidade das Compras, com a justificativa de garantir a continuidade do serviço do shopping.

O prazo de concessão firmado entre a Prefeitura e a Concessionária Feira Popular é de 30 anos. O subsídio da Prefeitura para a construção do empreendimento foi de R$ 13 milhões, enquanto o investimento da Concessionária foi de R$ 118,6 milhões.

        CPI do Shopping Popular

Nesta semana, testemunhas começaram a ser ouvidas na CPI do Shopping Popular na Câmara de Feira de Santana. Comissão investiga as possíveis irregularidades no contrato do consórcio empresarial responsável pela gestão do equipamento.

Na etapa inicial, a CPI analisou 54 volumes de documentos. A avaliação e informações obtidas junto a várias fontes de A TARDE possibilitou "avanços importantes na investigação".

O trabalho preliminar da Comissão foi prejudicado após secretarias municipais e o próprio Gabinete do Prefeito deixarem de encaminhar documentos requisitados, embora tenham sido notificados três vezes.

O Shopping Popular encontra-se sob intervenção da Prefeitura, que recentemente decidiu afastar da gestão do empreendimento, pelo período inicial de seis meses, o consórcio comandado pelo empresário Elias Tergilene.

O relator da CPI é o vereador Luiz da Feira (Avante). Sílvio Dias (PT), membro, completa o trio de vereadores que compõe o colegiado.

        "Prefeitura de Feira foi truculenta em intervenção", diz advogado

Em resposta à intervenção decretada no último dia 6 de outubro, pela Prefeitura de Feira de Santana, no Shopping Popular Cidade das Compras, o advogado da concessionária que administra o equipamento, expressou preocupações.

"Questiono a legalidade da ação, exijo transparência e fundamentação adequada ao caso, já que a concessionária está estudando as medidas judiciais cabíveis", disse Bernardo Martins.

De acordo com decreto municipal, o que justificou a intervenção teria sido o "descumprimento contratual por parte da Concessionária no que tange a questões estruturais e ao bom funcionamento do empreendimento: elevadores e esteira rolante sem funcionamento", além de "irregularidades nas cobranças de taxas realizadas pela Concessionária, único boleto com diversas exigências: condomínio, internet, aluguel e energia".

Martins reiterou que a intervenção foi realizada de forma abrupta e truculenta, com a presença do secretário Wilson, da Guarda Municipal e da Polícia Militar, que ordenaram o desligamento dos computadores das funcionárias, mantendo todos no local até a entrega das senhas bancárias e das máquinas, sem comunicação oficial prévia.

"Estamos em 2023 e não cabe mais essa truculência por parte do poder público. Recebi diversas ligações de investidores preocupados com o que está acontecendo em Feira de Santana. Isso afasta potenciais investidores. Ninguém vai fazer um contrato com uma prefeitura que intervém sem aviso prévio e sem um plano de trabalho. Estamos estudando as medidas judiciais cabíveis e levaremos o tema ao Tribunal de Contas do Estado”, afirmou.

Nesta terça-feira, 24, a CPI que investiga irregularidades no contrato firmado entre o consórcio empresarial responsável pela construção e gestão do equipamento, bem como na relação deste com os comerciantes transferidos do centro da cidade para o local. O trabalho preliminar da Comissão teria sido prejudicado em razão de que secretarias municipais e o próprio Gabinete do Prefeito deixaram de encaminhar documentos requisitados, embora tenham sido notificados três vezes.

Ao Portal A TARDE, o secretário de Trabalho, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Feira de Santana, Wilson Falcão, alegou que a administração do equipamento vinha cometendo uma série de arbitrariedades, como por exemplo, fechar, lacrar os boxes com mercadorias de permissionários que estavam em atraso de pagamento sem ordem judicial .

"Isso acontecia mesmo todos estando vinculados da lei do inquilinato. Isso é proibido. Eles não podiam fazer", disse Falcão.

Quanto a forma truculenta alegada pela defesa da concessionária, Falcão disse que todos os pedidos feitos para que os funcionários deixassem o local, foi com a presença do procurador-geral do Município.

"Eu cheguei dez ou quinze minutos depois com o secretário de desenvolvimento econômico e algumas funcionárias estavam descontroladas. Não passou disso e está tudo filmado e gravado e pode ser provado", finalizou.

·         Testemunhas são ouvidas na CPI do Shopping Popular

A fase de oitivas da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada pela Câmara de Feira de Santana para investigar possíveis irregularidades no contrato do Shopping Popular começa nesta terça-feira, 24. A investigação visa o contrato firmado entre o consórcio empresarial responsável pela construção e gestão do equipamento, bem como na relação do local com os comerciantes transferidos do centro da cidade ao centro comercial.

De acordo com o vereador Jhonatas Monteiro (PSOL), presidente da CPI do Shopping Popular, inicialmente estão previstos os depoimentos de cinco testemunhas, entre terça e quarta-feiras, no plenário da Câmara Municipal. Os nomes dos depoentes são mantidos em sigilo, por estratégia da Comissão.

De acordo com o presidente, pelo menos mais nove pessoas, entre agentes públicos e pessoas responsáveis por pagamentos do consórcio, vão ser convocadas pela CPI nesta etapa de audiências.

Na etapa inicial, a CPI analisou 54 volumes de documentos. A avaliação e informações obtidas junto a várias fontes possibilitou "avanços importantes na investigação". Jhonatas diz que já é possível verificar contradições, como é o caso da falta de notas fiscais para comprovação de despesas alegadas pela concessionária. "Qualquer pessoa consegue perceber que tem algo muito errado", diz.

O trabalho preliminar da Comissão foi prejudicado após secretarias municipais e o próprio Gabinete do Prefeito deixarem de encaminhar documentos requisitados, embora tenham sido notificados três vezes. O presidente garante que "todos vão ser responsabilizados" pela omissão.

O Shopping Popular encontra-se sob intervenção da Prefeitura, que recentemente decidiu afastar da gestão do empreendimento, pelo período inicial de seis meses, o consórcio comandado pelo empresário Elias Tergilene. O relator da CPI é o vereador Luiz da Feira (Avante). Sílvio Dias (PT), membro, completa o trio de vereadores que compõe o colegiado.

 

Fonte: A Tarde

 

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