segunda-feira, 2 de outubro de 2023

El Niño e mudanças climáticas afetam safras e dificultam previsão para agricultura em 2024

Os últimos meses — atípicos em relação às condições meteorológicas — devem afetar as safras de diversos cultivos, além de dificultar as projeções para a agricultura em 2024.

A meteorologista Desireé Brandt, da Nottus, explica que, além das anormalidades no curto prazo, as mudanças climáticas em nível global também têm afetado o regime de chuvas no Brasil, o que prejudica os trabalhos agrícolas.

“Nós temos um El Niño, e por conta das mudanças climáticas, os efeitos dele podem ser ainda mais fortes, ainda mais evidentes”, afirma.

O El Niño é um padrão climático que se origina no Oceano Pacífico ao longo da Linha do Equador e afeta o clima em todo o mundo.

A água quente normalmente está confinada no Pacífico ocidental pelos ventos que sopram de leste a oeste, em direção a Indonésia e a Austrália.

No entanto, durante o El Niño, os ventos diminuem e podem até inverter a direção, permitindo que a água mais quente se espalhe para o leste, chegando até a América do Sul.

A formação do El Niño costuma aumentar as temperaturas e provocar estiagem em partes das regiões Norte e Nordeste do Brasil.

Já no outro extremo, em algumas partes do Sul, o fenômeno causa excesso de chuva — e, neste ano, a atuação do El Niño coincidiu com a chegada da primavera, que já costuma ser uma época de temporais na região.

“E justamente agora, ao longo desta estação, o El Niño vai atingir o seu ápice, então a gente sente ainda mais os efeitos dele”, explica Desireé.

•        Impacto negativo na agricultura

Esta semana, está previsto o término do vazio sanitário no Rio Grande do Sul — período em que é proibido cultivar plantas vivas.

Quando o período se encerra, os agricultores costumam dar início ao plantio de grãos.

“Mas quem é que vai plantar soja agora, no meio do caos que o Rio Grande do Sul está? Existem muitas áreas de cultura de inverno que foram afetadas pelas chuvas das últimas semanas, principalmente. Tem muita lavoura debaixo d’água”, destaca Desireé.

A meteorologista explica que o processo de recuperação das lavouras de inverno acaba prejudicando o início do plantio da soja.

“Algumas áreas do noroeste do Rio Grande do Sul até vão conseguir começar esse plantio, mas as que foram mais prejudicadas pelo excesso de chuva ainda terão uma certa dificuldade”, avalia.

•        Primavera terá muita chuva no Sul

Ao longo da primavera, a expectativa é de muita chuva no Rio Grande do Sul, o que é comum para esta época do ano.

No entanto, os efeitos do El Niño devem piorar este cenário e provocar chuva acima da média para o período no estado.

“Sim, já choveu muito; sim, o Rio Grande do Sul está debaixo d’água, e sim, ainda tem muita água para cair, e muitas vezes na forma de tempestades, com ventania, com descargas elétricas e com alto risco para queda de granizo”, alerta a meteorologista.

Desireé explica que, neste momento, o grande desafio do estado gaúcho é enfrentar o excesso de chuva, o que atrapalha o manejo e o preparo do solo, além dos trabalhos em campo de forma geral.

“Além disso, mesmo que a lavoura não esteja debaixo d’água, se temos poucas horas de luminosidade, isso também acaba prejudicando a qualidade dessas lavouras. A planta precisa, sim, de água, mas ela também precisa de temperatura adequada e da quantidade de luz solar ideal para que a lavoura tenha melhor qualidade”, explica.

Já para as regiões Norte e Nordeste, que costumam sofrer com a seca em períodos de El Niño, os modelos de previsão do tempo não indicam seca severa, assim como as que ocorreram nos anos de 2015 e 2016.

Apesar disso, os trabalhos de agricultura também devem ser desafiadores nessas regiões.

Algumas áreas do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) terminam o vazio sanitário neste fim de semana. Porém, na contramão da região Sul, o solo está extremamente seco nessas localidades, o que também dificulta os trabalhos de plantio.

“O início do plantio da safra de verão vai se dar de forma bem escalonada — conforme a chuva vai chegando, vai ocorrendo o plantio, exceto em áreas que têm sistema de irrigação. Agora, onde não tem, o solo está extremamente seco. É uma das áreas com solo mais seco do Brasil neste momento”, diz Desireé.

A meteorologista afirma que a chuva um pouco mais expressiva só deve acontecer — e de forma gradual — a partir da segunda quinzena de outubro.

Já no Sudeste e no Centro-Oeste, a primavera terá cara de verão, com muitos dias de sol pela manhã, calor e chuva à tarde.

“Claro que vez ou outra a gente vai ter dias com maior quantidade de nuvens, até com alguns episódios de chuva, mas já vai ser bem mais raro isso. Na maioria das vezes, a chuva virá na forma de pancada”.

No entanto, Desireé destaca que, para a agricultura, mais importante do que a quantidade de chuva é a qualidade da precipitação nessas regiões.

“O que importa é como que essa chuva vai acontecer. Em algumas localidades, o modelo [de previsão] até indica a chuva acima da média, mas se ela vier na forma de pancada rápida, ou se chover num canto da Fazenda e no outro não, será uma chuva mal distribuída”, explica.

Para a meteorologista, a qualidade da chuva é o grande desafio das duas regiões.

“Vai faltar chuva? Não, não vai faltar. Mas como eu falei: este é o desafio do Sudeste e do Centro-Oeste”, conclui.

•        Conab prevê queda na produção do milho

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a safra de milho caia em 9,1% em relação ao ciclo anterior, com estimativa de 119,8 milhões de toneladas.

Os valores são consequência de uma redução de 4,8% na área plantada, que abrange 21,2 milhões de hectares, além de retração de 4,6% nas produtividades esperadas, após os recordes de 2022/23.

Por outro lado, apesar da previsão de chuvas intensas na região Sul, a Conab estima que a produção de soja no Brasil para o período 2023/24 atinja um recorde de 162,4 milhões de toneladas. O valor representa aumento de 5,1% em relação à safra anterior.

A estimativa foi impulsionada pelo crescimento de 2,8% na área de plantio, que abrange 45,3 milhões de hectares — aumento de 2,2% na produtividade, com 3.585 quilos por hectare.

Já para o arroz, a Conab prevê aumento de 12,8% no volume nacional, totalizando 11,3 milhões de toneladas. Além disso, a área plantada do grão deve se expandir em 10,2% na próxima safra, com incremento de produtividade de 2,4%.

 

       Outubro deve ter temperaturas acima da média e possível onda de calor no Brasil, diz Climatempo

 

O mês de outubro promete manter as temperaturas elevadas em todas as regiões do país, de acordo com um comunicado divulgado pela Climatempo.

Segundo a empresa de meteorologia, estados das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-oeste devem ter temperaturas acima da média; na região Sul, as temperaturas devem estar um pouco acima da média.

Outubro já é um mês tipicamente quente, em que costumam ocorrer registros de temperaturas extremas, de acordo com a Climatempo. Associado a isso, neste ano, a atuação do El Niño pode propiciar mais uma onda de calor.

A expectativa é de que o fenômeno continue influenciando as temperaturas globais até o verão.

Basicamente, o El Niño é um evento que causa o aquecimento acima do normal do Oceano Pacífico Equatorial. Como consequência, há alteração na circulação dos ventos e no padrão de pressão atmosférica em diversas regiões.

Tendência da temperatura para outubro de 2023 no Brasil / Arte: Climatempo

Os especialistas explicam que, se surgirem áreas de alta pressão atmosférica muito fortes e persistentes, pode haver bloqueio na atmosfera, afastando as frentes frias, deixando o ar seco e podendo resultar em uma onda de calor.

Além do aumento das temperaturas, o El Niño também deve provocar o aumento das chuvas na região Sul e reforçar as condições de seca no Norte e Nordeste.

“Com a atuação forte do fenômeno El Niño este ano, as pancadas de chuva que já podem ocorrer naturalmente por causa do calor nesta época, ficam mais irregulares. Isso significa que durante esse mês de outubro, será comum termos períodos de 3 a 5 dias praticamente sem nenhuma chuva, que é um reflexo dessa irregularidade, dessa mudança da circulação de ventos causada pelo El Niño”, explica o meteorologista da Climatempo Vinícius Lucyrio.

Na região Sudeste, a maior parte das chuvas deve estar associada ao calor — modalidade de precipitação que os meteorologistas chamam de convectiva.

No Centro-Oeste, as altas temperaturas também devem influenciar no regime de chuvas, com precipitações irregulares, e possibilidade de pancadas de chuva, em geral à tarde ou à noite.

 

       Com onda de calor extremo, Brasil deve ter recorde de demanda por energia elétrica em outubro

 

A onda de calor e a gangorra térmica, com termômetros indo de um extremo ao outro em poucos dias, têm afetado não só a rotina e a saúde dos brasileiros como também o consumo de energia elétrica e, consequentemente, o bolso. Isso porque os dias mais quentes induzem a um maior uso de aparelhos como ventiladores e ar-condicionado, enquanto os mais frios fazem a demanda por banhos quentes aumentar.

Segundo um boletim divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o mês de outubro deve ter uma demanda nacional por energia elétrica de 77,5 gigawatts médios (GWmed), o que significa um consumo 6,2% superior ao de outubro de 2022.

Boa parte desse aumento vem da subida do consumo de energia elétrica esperado para a região Norte, uma das mais quentes do País. Lá, devem ser utilizados 7.700 megawatts médios (MWmed) no mês, 10,6% mais que em 2022.

Na região Sul, é esperado um aumento de 7,3% (12.940 MWmed). No Sudeste/Centro-Oeste, 6,2% (44.144 MWmed). Já no Nordeste, a perspectiva de aumento é menor, de 3% (12.690 MWmed).

A análise leva em consideração que as temperaturas médias previstas para outubro de 2023 são, em grande parte do País, maiores que o normal para esta época do ano.

O ONS avalia também que o acúmulo de água dos reservatório das redes hidrelétricas está diferente do padrão – por sorte, com valores acima da média, atingindo os níveis necessários para suprir a subida da demanda.

A projeção mais elevada de Energia Natural Afluente (ENA) é a do subsistema da região Sul, que deve atingir 188% da Média de Longo Termo (MLT), índice que mede o volume de água dos reservatórios, em outubro. Em seguida, a região Sudeste/Centro-Oeste deve ter o maior MLT, com 76%.

A título de comparação, o índice projetado para o Sul é o mais alto para o mês desde outubro de 2015, quando foi de 227% da MLT. As regiões Norte e Nordeste devem atingir 59% e 50% em 31 de outubro, respectivamente.

“Tivemos um período de forte elevação da demanda por carga e a resposta do SIN (Sistema Interligado Nacional de energia) a esse crescimento foi positiva, com a garantia de atendimento”, diz Luiz Carlos Ciocchi, diretor-geral do ONS.

“Estamos atentos aos próximos meses, em especial o período do verão, cujas temperaturas médias devem ser mais elevadas. Mesmo assim, temos um cenário geral favorável, com os reservatórios em bons níveis. A perspectiva é que, quando entrarmos na estação chuvosa, estaremos numa situação bem mais confortável que a de anos anteriores”, diz Ciocchi.

•        Onda de calor: consumo de energia elétrica cresce em residências e pequenas empresas

Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que reúne o mercado das distribuidoras que abastece residências e pequenas empresas, mostram que a demanda de energia nas duas primeiras semanas de setembro foi de 41.442 megawatts médios, aumento de 4,2% na comparação com o mesmo período do ano passado.

De acordo com a CCEE, esse foi o segundo maior avanço do ano nesse segmento, provocado pela onda de calor que o Brasil enfrentou no período, aumentando a utilização de equipamentos de refrigeração, como ventiladores e ar-condicionado.

As altas temperaturas também contribuíram para um aumento expressivo na produção das fazendas solares, que entregaram 2.657 MW médios para a rede, um avanço de 42,5% no comparativo anual.

Os maiores produtores foram Minas Gerais (1.108 MW médios), Bahia (522 MW médios) e Piauí (277 MW Médios).

 

       Ondas de calor não devem se repetir no Brasil nas próximas semanas, diz meteorologista

 

O meteorologista da Nottus, Alexandre Nascimento, explicou à CNN que o Brasil não deve voltar a registrar nas próximas semanas ondas de calor, 

Em entrevista neste sábado (30), Nascimento disse que a “onda de calor que nos pegou durante a segunda quinzena de setembro já perdeu completamente a intensidade e, pelo menos nas próximas semanas, não deve voltar”.

“Já estamos com sistemas de baixa pressão – as frentes frias – começando a se deslocar pelo país. Tivemos durante a semana o retorno das chuvas em diversas áreas do Brasil central. Isso é um indício que a primavera meteorológica começa a dar seus primeiros passos”, acrescentou.

O especialista explicou que pode ser que cidades registrem temperaturas na casa dos 30 °C. No entanto, para classificar como uma onda de calor, o fenômeno deveria perdurar de cinco a dez dias com temperaturas ao menos 5 graus acima da normalidade.

“Para se ter uma ideia, na cidade de São Paulo, a temperatura máxima observada nas últimas semanas foi de 36,5 °C, sendo que o normal não chega a 25 °C em setembro. Isso não vai se repetir nas próximas semanas de forma alguma”, completou.

•        Frente fria leva chuvas ao Sul, Centro-Oeste e Sudeste

De acordo com a MetSul, uma frente fria deve provocar chuvas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil neste final de semana.

“O sistema frontal será impulsionado por uma massa de ar frio mais forte e estará associado a uma área de baixa pressão no Atlântico Sul a Leste da Argentina”, afirma a MetSul.

“Os maiores volumes de chuva trazidos por esta frente no Centro-Sul do Brasil tendem a ocorrer no Paraná e em diferentes áreas do Sudeste do Brasil com acumulados de 30 mm a 50 mm em diversas localidades. Estes volumes mais altos vão se dar no Leste paranaense, interior de São Paulo e no Centro-Sul de Minas com caráter isolado”, completou.

 

Fonte: CNN Brasil/Agencia Estado

 

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