El Niño e mudanças climáticas afetam safras e dificultam previsão para
agricultura em 2024
Os últimos meses — atípicos em relação às condições
meteorológicas — devem afetar as safras de diversos cultivos, além de
dificultar as projeções para a agricultura em 2024.
A meteorologista Desireé Brandt, da Nottus, explica
que, além das anormalidades no curto prazo, as mudanças climáticas em nível
global também têm afetado o regime de chuvas no Brasil, o que prejudica os
trabalhos agrícolas.
“Nós temos um El Niño, e por conta das mudanças
climáticas, os efeitos dele podem ser ainda mais fortes, ainda mais evidentes”,
afirma.
O El Niño é um padrão climático que se origina no
Oceano Pacífico ao longo da Linha do Equador e afeta o clima em todo o mundo.
A água quente normalmente está confinada no Pacífico
ocidental pelos ventos que sopram de leste a oeste, em direção a Indonésia e a
Austrália.
No entanto, durante o El Niño, os ventos diminuem e
podem até inverter a direção, permitindo que a água mais quente se espalhe para
o leste, chegando até a América do Sul.
A formação do El Niño costuma aumentar as
temperaturas e provocar estiagem em partes das regiões Norte e Nordeste do
Brasil.
Já no outro extremo, em algumas partes do Sul, o
fenômeno causa excesso de chuva — e, neste ano, a atuação do El Niño coincidiu
com a chegada da primavera, que já costuma ser uma época de temporais na
região.
“E justamente agora, ao longo desta estação, o El
Niño vai atingir o seu ápice, então a gente sente ainda mais os efeitos dele”,
explica Desireé.
• Impacto
negativo na agricultura
Esta semana, está previsto o término do vazio
sanitário no Rio Grande do Sul — período em que é proibido cultivar plantas
vivas.
Quando o período se encerra, os agricultores
costumam dar início ao plantio de grãos.
“Mas quem é que vai plantar soja agora, no meio do
caos que o Rio Grande do Sul está? Existem muitas áreas de cultura de inverno
que foram afetadas pelas chuvas das últimas semanas, principalmente. Tem muita
lavoura debaixo d’água”, destaca Desireé.
A meteorologista explica que o processo de
recuperação das lavouras de inverno acaba prejudicando o início do plantio da
soja.
“Algumas áreas do noroeste do Rio Grande do Sul até
vão conseguir começar esse plantio, mas as que foram mais prejudicadas pelo
excesso de chuva ainda terão uma certa dificuldade”, avalia.
• Primavera
terá muita chuva no Sul
Ao longo da primavera, a expectativa é de muita
chuva no Rio Grande do Sul, o que é comum para esta época do ano.
No entanto, os efeitos do El Niño devem piorar este
cenário e provocar chuva acima da média para o período no estado.
“Sim, já choveu muito; sim, o Rio Grande do Sul
está debaixo d’água, e sim, ainda tem muita água para cair, e muitas vezes na
forma de tempestades, com ventania, com descargas elétricas e com alto risco
para queda de granizo”, alerta a meteorologista.
Desireé explica que, neste momento, o grande
desafio do estado gaúcho é enfrentar o excesso de chuva, o que atrapalha o
manejo e o preparo do solo, além dos trabalhos em campo de forma geral.
“Além disso, mesmo que a lavoura não esteja debaixo
d’água, se temos poucas horas de luminosidade, isso também acaba prejudicando a
qualidade dessas lavouras. A planta precisa, sim, de água, mas ela também
precisa de temperatura adequada e da quantidade de luz solar ideal para que a lavoura
tenha melhor qualidade”, explica.
Já para as regiões Norte e Nordeste, que costumam
sofrer com a seca em períodos de El Niño, os modelos de previsão do tempo não
indicam seca severa, assim como as que ocorreram nos anos de 2015 e 2016.
Apesar disso, os trabalhos de agricultura também
devem ser desafiadores nessas regiões.
Algumas áreas do Matopiba (Maranhão, Tocantins,
Piauí e Bahia) terminam o vazio sanitário neste fim de semana. Porém, na
contramão da região Sul, o solo está extremamente seco nessas localidades, o
que também dificulta os trabalhos de plantio.
“O início do plantio da safra de verão vai se dar
de forma bem escalonada — conforme a chuva vai chegando, vai ocorrendo o
plantio, exceto em áreas que têm sistema de irrigação. Agora, onde não tem, o
solo está extremamente seco. É uma das áreas com solo mais seco do Brasil neste
momento”, diz Desireé.
A meteorologista afirma que a chuva um pouco mais
expressiva só deve acontecer — e de forma gradual — a partir da segunda
quinzena de outubro.
Já no Sudeste e no Centro-Oeste, a primavera terá
cara de verão, com muitos dias de sol pela manhã, calor e chuva à tarde.
“Claro que vez ou outra a gente vai ter dias com
maior quantidade de nuvens, até com alguns episódios de chuva, mas já vai ser
bem mais raro isso. Na maioria das vezes, a chuva virá na forma de pancada”.
No entanto, Desireé destaca que, para a
agricultura, mais importante do que a quantidade de chuva é a qualidade da
precipitação nessas regiões.
“O que importa é como que essa chuva vai acontecer.
Em algumas localidades, o modelo [de previsão] até indica a chuva acima da
média, mas se ela vier na forma de pancada rápida, ou se chover num canto da
Fazenda e no outro não, será uma chuva mal distribuída”, explica.
Para a meteorologista, a qualidade da chuva é o
grande desafio das duas regiões.
“Vai faltar chuva? Não, não vai faltar. Mas como eu
falei: este é o desafio do Sudeste e do Centro-Oeste”, conclui.
• Conab
prevê queda na produção do milho
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê
que a safra de milho caia em 9,1% em relação ao ciclo anterior, com estimativa
de 119,8 milhões de toneladas.
Os valores são consequência de uma redução de 4,8%
na área plantada, que abrange 21,2 milhões de hectares, além de retração de
4,6% nas produtividades esperadas, após os recordes de 2022/23.
Por outro lado, apesar da previsão de chuvas
intensas na região Sul, a Conab estima que a produção de soja no Brasil para o
período 2023/24 atinja um recorde de 162,4 milhões de toneladas. O valor
representa aumento de 5,1% em relação à safra anterior.
A estimativa foi impulsionada pelo crescimento de
2,8% na área de plantio, que abrange 45,3 milhões de hectares — aumento de 2,2%
na produtividade, com 3.585 quilos por hectare.
Já para o arroz, a Conab prevê aumento de 12,8% no
volume nacional, totalizando 11,3 milhões de toneladas. Além disso, a área
plantada do grão deve se expandir em 10,2% na próxima safra, com incremento de
produtividade de 2,4%.
Outubro
deve ter temperaturas acima da média e possível onda de calor no Brasil, diz
Climatempo
O mês de outubro promete manter as temperaturas
elevadas em todas as regiões do país, de acordo com um comunicado divulgado
pela Climatempo.
Segundo a empresa de meteorologia, estados das
regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-oeste devem ter temperaturas acima da
média; na região Sul, as temperaturas devem estar um pouco acima da média.
Outubro já é um mês tipicamente quente, em que
costumam ocorrer registros de temperaturas extremas, de acordo com a
Climatempo. Associado a isso, neste ano, a atuação do El Niño pode propiciar
mais uma onda de calor.
A expectativa é de que o fenômeno continue
influenciando as temperaturas globais até o verão.
Basicamente, o El Niño é um evento que causa o
aquecimento acima do normal do Oceano Pacífico Equatorial. Como consequência,
há alteração na circulação dos ventos e no padrão de pressão atmosférica em
diversas regiões.
Tendência da temperatura para outubro de 2023 no
Brasil / Arte: Climatempo
Os especialistas explicam que, se surgirem áreas de
alta pressão atmosférica muito fortes e persistentes, pode haver bloqueio na
atmosfera, afastando as frentes frias, deixando o ar seco e podendo resultar em
uma onda de calor.
Além do aumento das temperaturas, o El Niño também
deve provocar o aumento das chuvas na região Sul e reforçar as condições de
seca no Norte e Nordeste.
“Com a atuação forte do fenômeno El Niño este ano,
as pancadas de chuva que já podem ocorrer naturalmente por causa do calor nesta
época, ficam mais irregulares. Isso significa que durante esse mês de outubro,
será comum termos períodos de 3 a 5 dias praticamente sem nenhuma chuva, que é
um reflexo dessa irregularidade, dessa mudança da circulação de ventos causada
pelo El Niño”, explica o meteorologista da Climatempo Vinícius Lucyrio.
Na região Sudeste, a maior parte das chuvas deve
estar associada ao calor — modalidade de precipitação que os meteorologistas
chamam de convectiva.
No Centro-Oeste, as altas temperaturas também devem
influenciar no regime de chuvas, com precipitações irregulares, e possibilidade
de pancadas de chuva, em geral à tarde ou à noite.
Com
onda de calor extremo, Brasil deve ter recorde de demanda por energia elétrica
em outubro
A onda de calor e a gangorra térmica, com
termômetros indo de um extremo ao outro em poucos dias, têm afetado não só a
rotina e a saúde dos brasileiros como também o consumo de energia elétrica e,
consequentemente, o bolso. Isso porque os dias mais quentes induzem a um maior
uso de aparelhos como ventiladores e ar-condicionado, enquanto os mais frios
fazem a demanda por banhos quentes aumentar.
Segundo um boletim divulgado pelo Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS), o mês de outubro deve ter uma demanda nacional por
energia elétrica de 77,5 gigawatts médios (GWmed), o que significa um consumo
6,2% superior ao de outubro de 2022.
Boa parte desse aumento vem da subida do consumo de
energia elétrica esperado para a região Norte, uma das mais quentes do País.
Lá, devem ser utilizados 7.700 megawatts médios (MWmed) no mês, 10,6% mais que
em 2022.
Na região Sul, é esperado um aumento de 7,3%
(12.940 MWmed). No Sudeste/Centro-Oeste, 6,2% (44.144 MWmed). Já no Nordeste, a
perspectiva de aumento é menor, de 3% (12.690 MWmed).
A análise leva em consideração que as temperaturas
médias previstas para outubro de 2023 são, em grande parte do País, maiores que
o normal para esta época do ano.
O ONS avalia também que o acúmulo de água dos
reservatório das redes hidrelétricas está diferente do padrão – por sorte, com
valores acima da média, atingindo os níveis necessários para suprir a subida da
demanda.
A projeção mais elevada de Energia Natural Afluente
(ENA) é a do subsistema da região Sul, que deve atingir 188% da Média de Longo
Termo (MLT), índice que mede o volume de água dos reservatórios, em outubro. Em
seguida, a região Sudeste/Centro-Oeste deve ter o maior MLT, com 76%.
A título de comparação, o índice projetado para o
Sul é o mais alto para o mês desde outubro de 2015, quando foi de 227% da MLT.
As regiões Norte e Nordeste devem atingir 59% e 50% em 31 de outubro,
respectivamente.
“Tivemos um período de forte elevação da demanda
por carga e a resposta do SIN (Sistema Interligado Nacional de energia) a esse
crescimento foi positiva, com a garantia de atendimento”, diz Luiz Carlos
Ciocchi, diretor-geral do ONS.
“Estamos atentos aos próximos meses, em especial o
período do verão, cujas temperaturas médias devem ser mais elevadas. Mesmo
assim, temos um cenário geral favorável, com os reservatórios em bons níveis. A
perspectiva é que, quando entrarmos na estação chuvosa, estaremos numa situação
bem mais confortável que a de anos anteriores”, diz Ciocchi.
• Onda
de calor: consumo de energia elétrica cresce em residências e pequenas empresas
Dados da Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE), que reúne o mercado das distribuidoras que abastece
residências e pequenas empresas, mostram que a demanda de energia nas duas
primeiras semanas de setembro foi de 41.442 megawatts médios, aumento de 4,2%
na comparação com o mesmo período do ano passado.
De acordo com a CCEE, esse foi o segundo maior
avanço do ano nesse segmento, provocado pela onda de calor que o Brasil
enfrentou no período, aumentando a utilização de equipamentos de refrigeração,
como ventiladores e ar-condicionado.
As altas temperaturas também contribuíram para um
aumento expressivo na produção das fazendas solares, que entregaram 2.657 MW
médios para a rede, um avanço de 42,5% no comparativo anual.
Os maiores produtores foram Minas Gerais (1.108 MW
médios), Bahia (522 MW médios) e Piauí (277 MW Médios).
Ondas
de calor não devem se repetir no Brasil nas próximas semanas, diz
meteorologista
O meteorologista da Nottus, Alexandre Nascimento,
explicou à CNN que o Brasil não deve voltar a registrar nas próximas semanas
ondas de calor,
Em entrevista neste sábado (30), Nascimento disse
que a “onda de calor que nos pegou durante a segunda quinzena de setembro já
perdeu completamente a intensidade e, pelo menos nas próximas semanas, não deve
voltar”.
“Já estamos com sistemas de baixa pressão – as
frentes frias – começando a se deslocar pelo país. Tivemos durante a semana o
retorno das chuvas em diversas áreas do Brasil central. Isso é um indício que a
primavera meteorológica começa a dar seus primeiros passos”, acrescentou.
O especialista explicou que pode ser que cidades
registrem temperaturas na casa dos 30 °C. No entanto, para classificar como uma
onda de calor, o fenômeno deveria perdurar de cinco a dez dias com temperaturas
ao menos 5 graus acima da normalidade.
“Para se ter uma ideia, na cidade de São Paulo, a
temperatura máxima observada nas últimas semanas foi de 36,5 °C, sendo que o
normal não chega a 25 °C em setembro. Isso não vai se repetir nas próximas
semanas de forma alguma”, completou.
• Frente
fria leva chuvas ao Sul, Centro-Oeste e Sudeste
De acordo com a MetSul, uma frente fria deve
provocar chuvas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil neste final
de semana.
“O sistema frontal será impulsionado por uma massa
de ar frio mais forte e estará associado a uma área de baixa pressão no
Atlântico Sul a Leste da Argentina”, afirma a MetSul.
“Os maiores volumes de chuva trazidos por esta
frente no Centro-Sul do Brasil tendem a ocorrer no Paraná e em diferentes áreas
do Sudeste do Brasil com acumulados de 30 mm a 50 mm em diversas localidades.
Estes volumes mais altos vão se dar no Leste paranaense, interior de São Paulo
e no Centro-Sul de Minas com caráter isolado”, completou.
Fonte: CNN Brasil/Agencia Estado
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