Caso Tronox: Inema-BA pode responder judicialmente
por omissão. Cadê os laudos?
Mais de dois meses se
passaram desde que o Ministério Público Estadual notificou o instituto do
meio-ambiente e recursos hídricos (Inema) para fornecer, no prazo de 20 dias,
os documentos comprobatórios do cumprimento do termo de ajustamento de conduta
(TAC) firmado em 2012 com a indústria de pigmentos Tronox, a fim de cessar a
poluição do lençol freático no litoral de Camaçari.
O promotor do MP
responsável pelo caso, Luciano Pitta, que em maio deste ano determinou a
reabertura do inquérito após denúncia veiculada pela coluna CARASCO, em A
TARDE, confirmou que vai oficiar o órgão ambiental para que apresente os laudos
solicitados.
A empresa, instalada
desde 1966 na orla de Arembepe, vizinha à comunidade de Areias, é apontada como
responsável pela contaminação do ar e do subsolo do entorno com ácido sulfúrico
e metais pesados, o que seria causa da alta incidência de câncer, doenças de
pele e respiratórias ao longo de décadas.
A despeito disso, o Inema
tem renovado, reiteradamente, as licenças ambientais nas quais a Tronox vem se
amparando. E, nem o órgão responsável pela fiscalização e nem a empresa
apresentam estudos e análises que possam comprovar o represamento dos resíduos
resultantes da operação da referida indústria.
• Precedentes
Moradores de Areias
procuraram o professor e advogado especialista em direito ambiental, Georges
Humbert, para avaliar a possibilidade de responsabilização do Inema pelo
descumprimento do acordo firmado pela Tronox com o Ministério Público.
Humbert, que é presidente
do instituto brasileiro de direito e sustentabilidade (Ibrades), se baseia na
lei federal, 10.650 de 2003, segundo a qual é obrigação dos órgãos públicos
fornecerem, no prazo de 30 dias, todas as informações ambientais que estejam
sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico.
"Alguns moradores e
associações nos procuraram para ajudar nesta causa. Entretanto, mesmo diante do
princípio da gestão democrática do meio ambiente e o da publicidade, ambos
materializados na lei da transparência e de acesso a informação (LAI), estamos
com dificuldade de acesso à informação, para escolher a melhor ou as melhores
vias, judiciais e administrativa, para a defesa dos direitos humanos e
ambientais notoriamente afetados pela Tronox."
Professor e pós-doutor em
legislação ambiental, Georges Humbert, que tem 41 livros publicados e mais de
duas décadas de atuação na área jurídica e de sustentabilidade, relata que um
morador da região, em condição de anonimato, manifestou o receio de que a
comunidade de Areias, Arembepe e adjacências acabe como a de Santo Amaro,
contaminada pela mineração de chumbo.
"Casos como este de
Santo Amaro, que parece se repetir em Areias, é o desenvolvimento
insustentável, que suga toda a riqueza, destrói a natureza e a saúde das
pessoas, e deixa um rastro de degradação e pobreza irreparáveis. Como mostram
os dados, a ciência e a história de Santo Amaro, casos como esse precisam de
medidas rápidas, cautelares, de prevenção e precaução", aponta Humbert.
Recentemente, uma decisão
da justiça do Paraná condenou o Instituto Água e Terra (IAT) por omissão, pelo
fato de ter permitido que uma indústria química operasse em área de preservação
permanente em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. De
acordo com a Justiça, a construção da empresa Siderquímica é irregular, devido
à proximidade das margens do afluente do rio Miringuava-Mirim.
• Sem pendências
Procurada por A
TARDE, a Tronox, através de sua
asseassoria, informa que "todas as cláusulas do TAC firmado com o
Ministério Público da Bahia em 2012 foram integralmente cumpridas, sendo que
seu arquivamento definitivo foi homologado pelo Conselho Superior do MP em
2013, de forma que não existe qualquer obrigação pendente de cumprimento
relativa à entrega de qualquer espécie de documento, bem como não há qualquer
inquérito em andamento perante o Ministério Público".
Ainda segundo a nota,
"atualmente, o Inema é o único responsável pelo acompanhamento da licença
de operação da fábrica, e todas as condicionantes estão sendo rigorosamente
cumpridas dentro dos prazos e comprovadas através de documentos, relatórios de
coletas de material e laudos enviados periodicamente, e as seguidas renovações
da licença de operação são a prova mais evidente deste cumprimento".
Caso Tronox: laudos de 2014 comprovam contaminação
Há pelo menos 9 anos a
água consumida pela comunidade de Areias, na orla de Camaçari, apresenta volumes
de metais pesados superiores ao tolerável, de acordo com o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (Conama). São altas concentrações de ferro, titânio, alumínio,
bário, bromo, manganês, chumbo, cobalto, níquel, cromo e sulfato de cromo utilizados pela Tronox na
fabricação de pigmentos industriais.
Os dados integram
relatório da secretaria de saúde de Camaçari de 2014, com base em estudo
realizado pela Fundação José Silveira, um ano depois da renovação de licença
ambiental da empresa junto ao Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos (Inema), em 2013. Mesmo ano em que foi celebrado, junto ao Ministério
Público (MP), um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para interromper o
lançamento de metais pesados no solo do entorno da comunidade de Areias,
contaminando o lençol freático.
O inquérito instaurado
para investigar a contaminação da área foi reaberto após uma nota publicada na
coluna "Carrasco" do Grupo A TARDE e matéria publicada no dia 28 de
maio. Ambas as publicações foram anexadas ao processo. A Tronox não encaminhou
laudos que comrovassem o cumprimento do TAC. Em vez disso, apresentou as
licenças emitidas pelo Inema, a última delas em 2018, quatro anos após a
constatação de níveis alarmantes de metais pesados na água que abastece a
comunidade de Areias.
A Promotoria de Meio
Ambiente e Urbanismo da Procuradoria Regional do MP em Camaçari fixou prazo de
15 dias, contados a partir do último dia 19, para que a Tronox apresente os
estudos de análise da água, do solo e de poluição atmosférica. Em seguida, o
Inema também deve ser notificado para apresentar os laudos que embasaram a
concessão das licenças ambientais.
No documento enviado pela
secretaria de saúde de Camaçari ao MP, a análise conclui que a qualidade da
água consumida pelos habitantes da comunidade de Areias está comprometida,
incluindo alta concentração de coliformes fecais, atribuídas à falta de
saneamento no local.
Apesar disso, o relatório
considerou inviável proceder a interdição dos poços que abasteciam a comunidade
à época, devido à "intermitência do fornecimento de água por parte da
Embasa", orientando os moradores a não usar a água dos referidos poços
para consumo humano, sem, no entanto, exigir da Tronox que fornecesse água
potável enquanto não fosse possível assegurar um abastecimento com água de
qualidade.
"Essa empresa tem que ser fechada", dispara Zé
Eduardo sobre a Tronox e supostos crimes ambientais
O apresentador da Rádio
Metrópole, José Eduardo repudiou nesta segunda-feira (23) os prejuízos causados
pela empresa de pigmentação Tronox, à saúde dos moradores e ao meio ambiente,
na comunidade de Areias, em Camaçari.
“A Tronox permanece
contando com a omissão de órgãos fiscalizadores e deixando rastro de prejuízo
ao meio ambiente e à saúde dos moradores. Matando as pessoas, dano ambiental
violentíssimo, espalhando veneno e não dá nada. Temos aqui Secretaria de Saúde
do Estado que já condenou, Ministério Público em cima e a empresa continua
espalhando veneno. [...] Essa empresa, no mínimo, tem que ser fechada,
suspender as atividades até o final da investigação”, disse no Jornal da Bahia
do Ar.
O rastro causado pela empresa, que já recebeu
nome de Tibrás, Cristal e Millenium, foi tema do Jornal Metropole e do Prego
Metropole. Os danos começaram a ser evidenciados em 2008, com o surgimento de
uma mancha amarela de cerca de 2 km de extensão no mar de Jauá.
Desde então, os elevados
índices de casos de doenças no sangue, câncer, problemas respiratórios e de
pele passaram a chamar atenção na comunidade.
A respeito da mancha, o
Ministério Público da Bahia (MP-BA) abriu um inquérito, que terminou com a
assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) em 2012. Agora, 11 anos
após a assinatura do TAC, o MP-BA voltou ao caso para acompanhar o cumprimento
do acordo. No entanto, o trabalho tem esbarrado também na atuação do Inema,
que, mesmo renovando reiteradamente as licenças da fábrica, não consegue
fornecer informações que comprovem a regularidade da atuação da empresa.
Fonte: A Tarde/Metro1
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