Por que algumas pessoas são péssimas em lembrar nomes
Todos nós já passamos por isso: o momento
desconfortável em que um rosto familiar se aproxima, mas seu nome permanece
frustrantemente na ponta da língua. Entretanto, esse lapso comum não é uma
falha pessoal, mas sim uma consequência de como nosso cérebro processa as
informações.
De acordo com o neurocientista Dean Burnett, “os nomes são uma das coisas mais comuns que esquecemos sobre as
pessoas, ao contrário dos rostos”.
·
Rostos vs. nomes: por que
nos lembramos mais de um do que do outro
Nossa capacidade de lembrar de rostos geralmente
supera nossa capacidade de lembrar de nomes. Os rostos contêm uma infinidade de
sinais exclusivos, como olhos, cabelos, dentes, nariz, cor da pele e expressões
faciais. Os nomes, entretanto, são relativamente
arbitrários e transmitem pouco mais do que um vago senso de origem cultural.
“Os rostos têm muito a seu favor”, afirma Burnett.
Mas como os nomes não têm essas dicas adicionais, eles tendem a ser armazenados
na memória de curto prazo e facilmente substituídos por novas informações. Para
que um nome seja transferido para a memória de longo prazo, ele deve ser
ensaiado ou associado a outros atributos memoráveis da pessoa.
A complexidade do
reconhecimento e da recordação
Outro fator que complica a recordação de nomes é
que nosso cérebro é mais proficiente
no reconhecimento do que na recordação. O reconhecimento indica
familiaridade com a existência de uma pessoa e a lembrança de tê-la conhecido.
A recordação, no entanto, envolve o acesso às especificidades dessa memória, o
que pode ser desafiador sem fortes conexões emocionais.
“A
recordação fica mais difícil quanto mais descemos na lista de pessoas com as
quais não temos fortes conexões emocionais”, explica Burnett. Quanto mais
estímulos vincularem a pessoa à memória, mais fácil será acessá-la, de
preferência incluindo seu nome.
·
Esquecer nomes é comum
O esquecimento de nomes é uma experiência universal
devido à forma como nosso cérebro está conectado. Precisamos de uma conexão
emocional ou pessoal para que nosso cérebro registre a existência de alguém a
longo prazo. Como os nomes estão entre os aspectos mais arbitrários da
identidade de uma pessoa, eles geralmente são esquecidos primeiro.
Um estudo de
2019 descobriu que as pessoas geralmente se sentem
menosprezadas quando são esquecidas por outras, o que leva a um sentimento de
diminuição da importância. Esse estresse pode fazer com que as pessoas que
tentam se lembrar de um nome entrem em pânico, prejudicando ainda mais sua
capacidade de se concentrar na tarefa.
Em alguns casos, o esquecimento pode ser devido a
um tipo leve de afasia chamado afasia anômica ou disnomia, que dificulta a
recuperação de substantivos e verbos da memória.
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Esquecer não é um bicho
de sete cabeças
Para concluir, é fundamental lembrar que esquecer
nomes não é necessariamente um sinal de desrespeito; pode ser simplesmente
devido à forma como nosso cérebro funciona. Pode haver milhares de coisas que
as pessoas lembram sobre você; se o seu nome lhes escapar momentaneamente, não
há motivo para alarme.
Como Burnett explica, “A maioria de nós nunca terá
o privilégio de ter um assistente que possa lembrar os nomes de todas as
pessoas que conhecemos. Talvez seja hora de todos nós reconhecermos que é um
deslize social que todos nós já cometemos em um momento ou outro e seguir em
frente.”
Ø O que sua avó comeu décadas atrás pode afetar seu cérebro hoje
Dizem que você é o que você come, mas é muito
provável que você seja também o que sua mãe e avó comeram antes de você. Isto é
o que indica um novo
estudo sobre sobre gravidez animal que analisa a forma
como o ambiente de uma mãe pode impactar o metabolismo de sua prole a longo
prazo.
Esta repercussão intergeracional foi primeiramente
observada em 1909 em mariposas jovens. O comportamento
desses insetos durante o inverno não é determinado por genes herdados
especificamente, mas emerge de como seus corpos interpretam esses genes,
ativando ou desativando-os, e este padrão foi modulado pelo ambiente da mãe.
O potencial para tais transformações “epigenéticas”
foi reconhecido em diversas outras espécies animais, incluindo a nossa, mas ainda
não se sabe como elas atravessam as fronteiras
intergeracionais.
Pesquisadores da Monash University na Austrália
descobriram que (Caenorhabditis elegans) transmitem proteção cerebral adicional a seus filhos e netos quando
ingerem certos tipos de alimentos. Este estudo não foi realizado em seres
humanos, mas como C. elegans compartilha muitos genes com a nossa espécie,
oferece insights interessantes sobre como as alterações epigenéticas podem
operar na natureza.
Se as células germinativas, como óvulos ou
espermatozoides, são de alguma forma alteradas pela dieta da mãe enquanto estão
no útero, os estudos indicam que essas mudanças podem perdurar na prole, para
melhor ou pior.
Quando os cientistas alimentaram larvas
dos nematódeos com ácido ursólico, uma molécula comum em maçãs e ervas,
notaram que a prole estava ligeiramente protegida de uma falha natural na
comunicação neural. Especificamente, o ácido ursólico parece ativar um gene nos
vermes que produz um tipo específico de gordura, a esfingosina-1-fosfato,
conhecida como esfingolipídio. Esta gordura impede que os axônios dos neurônios
no cérebro se enfraqueçam, e os resultados iniciais sugerem que a gordura pode
se deslocar do intestino dos vermes para os ovos em seu útero.
Na descendência dos vermes, os pesquisadores
descobriram que níveis elevados de esfingolipídios específicos resultaram em
alterações metabólicas significativas, que foram mantidas ao longo do
desenvolvimento e persistiram por mais uma geração adicional.
Uma visão recém-adquirida do artigo do pesquisador
de epigenética norte-americano Nicholas Burton na revista
Nature nos oferece um contexto relevante. “C. elegans é
um ser ovíparo”, descreve Burton, indicando que seus ovos passam pelo processo
de eclosão após serem postos. Ainda é uma incógnita se os achados deste estudo
se aplicam aos animais vivíparos, aqueles que dão à luz filhotes vivos, como
os mamíferos.
Todavia, como Burton ressalta, estudos epidemiológicos
em seres humanos sugerem que um peso abaixo do normal ao nascer, por vezes
resultante de deficiências nutricionais durante a gestação, pode ampliar o
risco dos descendentes enfrentarem problemas metabólicos futuros, como doenças
cardíacas e diabetes tipo 2. Burton vislumbra que “investigando organismos como
o C. elegans, pode-se trilhar o caminho para uma série de novas
descobertas sobre o modo como e por que os animais estabelecem a conexão entre
o metabolismo materno e o da prole”.
Fonte: Só Cientifica
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