Juiz afastado se diz 'vítima cruel do lava-jatismo' e pede a Toffoli
para voltar ao cargo
O juiz afastado Eduardo Appio pediu ao STF (Supremo
Tribunal Federal) nesta sexta-feira (22) para voltar ao comando da 13ª Vara
Federal de Curitiba, que abriga os processos remanescentes da Operação Lava
Jato.
Em uma petição ao ministro Dias Toffoli, os
advogados de Appio argumentam que ele é "vítima cruel do lava-jatismo"
e que seu afastamento tem relação com a postura crítica que manteve sobre
decisões de ex-autoridades da operação, como o ex-juiz Sergio Moro, hoje
senador.
Na petição, encabeçada pelo advogado Pedro Serrano,
a defesa afirma que o afastamento cautelar foi uma medida "desarrazoada e
extrema" e que ele é "perseguido exclusivamente em razão do que
representa enquanto legítimo contraponto crítico à Operação Lava Jato".
O pedido é feito na mesma semana em que o ministro
Toffoli anulou a suspeição de Appio declarada pela 8ª Turma do TRF-4 (Tribunal
Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, onde são julgados os processos
da Lava Jato em segunda instância.
No último dia 6, os juízes de segunda instância
tinham acolhido argumentos do Ministério Público Federal para considerar Appio
suspeito para julgar todos os casos da Lava Jato.
Segundo a petição apresentada nesta sexta, Appio se
tornou alvo de pressões no seu ambiente de trabalho desde o primeiro dia, com a
redução do número de servidores para atuar na vara, e que o objetivo
"sempre foi o de inviabilizar uma prestação jurisdicional que viesse a
esbarrar nas ilegalidades perpetradas ao longo dos últimos 10 anos na 13ª Vara
Federal de Curitiba".
Até o início da noite desta sexta, o ministro
Toffoli não havia analisado o pedido. A petição foi protocolada um dia depois
de o corregedor-nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, negar a volta de
Appio ao cargo.
O corregedor informou que foi marcada uma audiência
de mediação com o juiz afastado para o dia 18 de outubro.
Appio assumiu a titularidade da vara da Lava Jato
em fevereiro e, em 22 de maio, foi afastado por decisão da Corte Especial
Administrativa do TRF-4, que, naquela data, abriu um procedimento preliminar
contra o magistrado e o afastou temporariamente de suas funções na vara da Lava
Jato.
Em julho, esse procedimento gerou um processo
disciplinar, instaurado por ordem do mesmo colegiado. E o afastamento
temporário dele foi mantido, até a apuração total do caso.
Na quarta-feira (20), o corregedor-nacional de
Justiça, atendendo a um pedido do juiz afastado, e também por sugestão do
ministro Toffoli, decidiu avocar o processo disciplinar para o CNJ (Conselho
Nacional de Justiça). Na decisão, contudo, Salomão manteve o afastamento
cautelar do magistrado.
Appio responde ao processo disciplinar porque é
suspeito de ter feito uma ligação para o advogado João Eduardo Barreto
Malucelli em abril, fingindo ser outra pessoa, e aparentemente tentando
comprovar que falava com o filho do juiz federal Marcelo Malucelli, então
relator da Lava Jato em segunda instância.
João Eduardo gravou a ligação, e um laudo da PF
encomendado pela Corregedoria do TRF-4 aponta que o áudio "corrobora
fortemente a hipótese" de que se trata da voz de Appio. O juiz afastado
nega.
João Eduardo é sócio do senador e ex-juiz Sergio
Moro em um escritório de advocacia e, na época do telefonema, Marcelo Malucelli
e Appio tinham decisões judiciais conflitantes,
Na petição desta sexta ao STF, a defesa de Appio
lembra da ligação entre Moro e Marcelo Malucelli e cita o fato de o ex-juiz ter
ajudado na entrega da gravação do telefonema às autoridades do TRF-4.
"É sabido que a prova que ensejou o
afastamento [de Appio] –e é a espinha dorsal da sua acusação disciplinar em
curso– consiste em vídeo realizado pelo genro de Sergio Moro, um dos mais
notórios patriarcas da Operação Lava Jato –senão o maior", escrevem os
advogados, que alegam que o processo disciplinar está "severamente
maculado em sua origem".
Os advogados pedem que Appio seja reconduzido à
condição de juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba e sugerem que, se isso
não for possível, que o magistrado ao menos seja designado para atuação em
qualquer outra vara federal ou, ainda, em "esquema de mutirão".
CNJ
abre investigação inédita contra Moro; PF vai apurar possíveis crimes
O senador Sergio Moro (UB-PR), pela primeira vez,
terá sua conduta como juiz da operação Lava Jato investigada de maneira
aprofundada. Nesta sexta-feira (22), o corregedor Nacional de Justiça, ministro
Luis Felipe Salomão, determinou a abertura de uma reclamação disciplinar contra
o ex-juiz e Gabriela Hardt, magistrada que o substituiu na 13ª Vara Federal de
Curitiba, por supostas irregularidades no manejo de recursos milionários da
Petrobras.
A investigação foi aberta com base no relatório
preliminar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) produzido a partir da
correição na 13ª Vara Federal e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região
(TRF-4). Após a divulgação do documento, o ministro Flávio Dino, da Justiça,
informou que a Polícia Federal (PF), em parceria com o CNJ, criará uma
força-tarefa para apurar a conduta de ex-integrantes da Lava Jato na seara
criminal.
Moro e Gabriela Hardt, segundo Luís Felipe Salomão,
podem ter violado "transparência e prudência" no repasse de recursos
milionários à Petrobrás que teriam como objetivo criar a chamada "Fundação
Lava Jato".
"Em período compreendido entre o ano de 2015 e
o ano de 2019, na cidade de Curitiba, Paraná, o então juiz federal Sergio
Fernando Moro e a juíza federal substituta Gabriela Hardt, da 13ª Vara Federal
de Curitiba, em atendimento aos interesses do então procurador da república
Deltan Dallagnol, de procuradores da república da denominada força-tarefa da
Lava Jato e de representantes da Petrobras, violaram reiteradamente os deveres
de transparência, de prudência, de imparcialidade e de diligência do cargo ao
promoveram o repasse de R$ 2.132.709.160,96 à estatal, atribuindo a essa
companhia a posição de vítima, conscientes de que a Petrobras estava sob
investigação por autoridades americanas desde novembro de 2014, por conduta
ilícita da empresa nos Estados Unidos da América", diz um trecho do
relatório preliminar do CNJ destacado por Salomão em seu despacho, obtido pela
jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
O corregedor Nacional de Justiça, ao instaurar
investigação contra Moro e Gabriela Hardt, diz ainda que "o alegado
combate à corrupção não pode servir de biombo para se praticar, no processo e
na atividade judicante, as mesmas condutas que se busca reprimir".
"Durante a operação titulada Lava Jato, foi
adotado pelo então juiz federal Sergio Fernando Moro, juntamente com
integrantes da força-tarefa que se formou para executar aquela operação,
critério de destinação dos valores decorrentes dos acordos de colaboração e de
leniência absolutamente distante do critério legal de decretação de
perda", prossegue Salomão.
PF também investiga
O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou na
última segunda-feira (18) que acionou a Polícia Federal (PF) para apurar
possíveis crimes cometidos por integrantes da antiga Lava Jato em Curitiba (PR)
na destinação de recursos manejados pela operação. O anúncio vem após Dino
receber, do Corregedor Nacional de Justiça, ministro Luís Felipe Salomão, o
relatório da Correição realizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na 13ª
Vara Federal e no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
"Recebi ofício do Corregedor Nacional de
Justiça, ministro Luís Felipe Salomão, encaminhando relatório da investigação
administrativa realizada sobre procedimentos de movimentação financeira na 13ª
Vara Federal do Paraná, quando da 'operação Lava Jato'. O Corregedor sugere a
constituição de um grupo de trabalho para aprofundar análises e adotar medidas
preventivas, inclusive sobre cooperação jurídica internacional", escreveu
Dino através das redes sociais.
"Além de concordar com tal proposta, enviarei
o relatório da Corregedoria Nacional para análise da Polícia Federal, no
tocante a possíveis crimes perpetrados acercar da destinação dos recursos
financeiros manuseados pela 'Lava Jato'", prosseguiu o ministro da
Justiça.
Os possíveis crimes da Lava Jato citados por Dino
estariam ligados aos R$ 2,5 bilhões de ativos recuperados em acordos de
leniência e colaboração envolvendo a Petrobras. Sergio Moro, ex-titular da 13ª
Vara Federal de Curitiba, e Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa
pelo Ministério Público Federal (MPF), que firmou tais acordos, podem vir a ser
responsabilizados.
<><> Além de Moro, CNJ investiga
desembargadores e juízes ligados à Lava Jato
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) anunciou uma ampliação nas investigações
relacionadas à Operação Lava Jato, uma das maiores apurações sobre corrupção no
Brasil. Além do ex-juiz Sergio Moro, agora os desembargadores Loraci Flores,
João Pedro Gebran Neto e Marcelo Malucelli, todos vinculados ao Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), bem como os juízes Gabriela Hardt e
Danilo Pereira Júnior, estão sob escrutínio por possíveis condutas inadequadas
no exercício de suas funções.
A decisão de investigar esses magistrados foi
tomada pelo corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, com base no
relatório da correição extraordinária realizada na Justiça Federal do Paraná.
As reclamações disciplinares têm como foco as condutas dos desembargadores em
relação a um recurso apresentado pela Petrobrás contra a decisão da 13.ª Vara
Federal de Curitiba. Essa decisão previa a transferência de mais de R$ 43
milhões ao Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) e à Conta Única do Tesouro
Nacional. O processo está pendente de julgamento há um período de um ano e
cinco meses, passando pela relatoria dos três desembargadores sem que haja uma
análise definitiva.
O corregedor Luis Felipe Salomão justificou a
abertura das investigações afirmando que "há necessidade de se perquirir,
na esfera administrativa, se a paralisação na condução do processo indicado,
que possui relevante conexão com todo o sistema de destinação de valores e bens
da operação denominada Lava Jato, pode revelar atuação a macular o previsto na
Constituição Federal, na Loman e no regramento traçado por este Conselho, em
referência aos magistrados vinculados".
Essas investigações se somam à já anunciada
apuração sobre o ex-juiz Sergio Moro e a juíza Gabriela Hardt, que estão sendo
acusados de graves violações praticadas na Lava Jato, entre os anos de 2015 e
2019. Um grupo específico na Polícia Federal está sendo criado para conduzir a
investigação, em uma colaboração entre o CNJ e o ministro da Justiça e
Segurança Pública, Flávio Dino. Caso Moro seja punido, ele passará à condição
de ficha suja, tornando-se inelegível.
Além das investigações já em curso envolvendo a
Lava Jato, Salomão, determinou a instauração de uma reclamação disciplinar
adicional. Desta vez, de acordo com a colunista Mônica Begamo, na Folha de
S.Paulo, os desembargadores federais Loraci Flores de Lima e Carlos Eduardo
Thompson Flores Lens, juntamente com o juiz federal Danilo Pereira Júnior,
estão sob escrutínio por supostamente descumprirem ordens emanadas pelo Supremo
Tribunal Federal (STF).
• Caso
está ligado à suposta suspeição de Eduardo Appio
O caso em questão está diretamente relacionado com
a decisão dos magistrados do TRF-4, Gebran Neto, Malucelli, Loraci Flores de
Lima e outros, de determinar a suspeição do juiz Eduardo Appio, o qual atuava
nos processos da Lava Jato. Essa decisão gerou controvérsia e se tornou objeto
de discussão perante o STF, que emitiu ordens específicas para o cumprimento da
determinação.
Como
era o dia a dia dos executivos do ‘setor de propinas’ da Odebrecht
Nove horas da manhã. Você liga o computador e se
conecta à Internet por meio de uma espécie de VPN – uma rede privada virtual –
a um computador remoto, hospedado em um data center em Estocolmo, na Suécia. É
como usar um computador normal, exceto pelo fato de que todos os arquivos e
registros estão armazenados no país nórdico. Nada fica no Brasil: mesmo que
alguém leve o seu computador embora, nenhuma informação poderia ser acessada.
Uma vez conectado, você então faz login no sistema
de gestão empresarial (conhecido pela sigla em inglês ERP). A versão “normal”
deste sistema é usada pelos outros funcionários da empreiteira Odebrecht para
atividades mundanas, como pagar fornecedores, emitir ordens de serviço etc.
Mas não para você: como executivo do Departamento
de Operações Estruturadas, você usa o sistema para lançar pagamentos atrelados
a codinomes. Cada um deles representa um dos políticos mais importantes da
República. “Operações estruturadas” foi o eufemismo criado pela gigante da
engenharia civil para referir-se ao pagamento de propinas a políticos de todos
os pontos do espectro ideológico, da direita à esquerda.
Ao registrar um pagamento de propina, você se
certifica de informar também o local, seu nome como responsável pela negociação
e o “centro de custo” – que pode ser uma obra de engenharia, um evento ou até
um órgão público. Os pagamentos podem ser tanto em reais quanto em dólares ou
euros. Tanto as contas de destino quanto de origem podem estar no Brasil ou
fora do país..
Antes de ir embora, uma última tarefa: você deve
organizar a entrega de uma mala de dinheiro vivo a um assessor parlamentar em
um quarto de hotel. Todas as informações – contato de quem vai receber, hora, local,
etc. também estão registradas no sistema.
Os sistemas informatizados acima são,
respectivamente, o Drousys (a “VPN”) e o MyWebDay B (o sistema ERP). É
precisamente o conteúdo destes dois sistemas informatizados, mantidos pela
empreiteira Odebrecht (hoje rebatizada de Novonor) que foi invalidado como
prova pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão
no começo de setembro.
Ao todo, o acervo de provas soma pouco mais de
53,08 terabytes de dados – suficiente para lotar 11.293 DVDs comuns. Empilhados
sem as capas, os DVDs formariam uma coluna de 13,5 metros de altura, o
equivalente a um prédio de quatro andares. Por segurança, Drousys e MyWebDay B
mantinham as mesmas informações em dois servidores distintos: um na Suíça, e o outro
na Suécia.
Fonte: FolhaPress/Tribuna da Bahia
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