quarta-feira, 27 de setembro de 2023

'Jovens estão servindo de carne de canhão': especialista vê corrosão do apoio ocidental à Ucrânia

Corrupção, falta de transparência e desorganização. O conflito na Ucrânia completou um ano e meio e vive uma fase de questionamentos sobre o apoio ocidental a Kiev. Só dos EUA, o governo de Vladimir Zelensky já recebeu somas que ultrapassam US$ 114 bilhões (R$ 562,1 bilhões), montante que é superior ao PIB de países como Croácia, Paraguai e Sérvia.

Na última semana, um grupo de senadores dos EUA chegou a encaminhar carta ao diretor do gabinete de Gestão e Orçamento sobre a ausência de informações dos reais gastos americanos no conflito. "É difícil imaginar uma explicação benigna para esta falta de clareza", enfatizou o texto.

Com isso, cresce a pressão do Congresso sobre o presidente Joe Biden e até sobre Zelensky no que diz respeito a prestação de contas.

"A grande maioria do Congresso permanece inconsciente de quanto os Estados Unidos gastaram até agora neste conflito, informação necessária para que o Congresso exerça prudentemente o seu poder de apropriação", afirma a carta.

Tradicional aliada ucraniana, a Polônia também anunciou o fim do fornecimento de armas, enquanto políticos franceses como Florian Philippot, antigo membro do Parlamento Europeu, cobram um posicionamento parecido.

Para analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, tudo isso demonstra um "certo cansaço" com o conflito e a falta de qualquer possibilidade de vitória da Ucrânia, diante da ineficiência do governo local, que também começa a enfrentar questionamentos internos — estudo do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev aponta que 78% dos ucranianos culpam Zelensky pela corrupção no governo e nas administrações militares.

"Na verdade, o que os ucranianos veem é que eles não estão ganhando a guerra, o governo está desorganizado administrativamente, os jovens estão servindo de carne de canhão e a vida só vai piorando, embora para uma elite isso não seja verdade", explica Ricardo Quiroga Vinhas, pesquisador da Segunda Guerra Mundial e servidor do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, no Rio de Janeiro.

O especialista cita ainda o maior poderio militar e econômico da Rússia.

"Então a gente vai assistir esta mudança no perfil do Zelensky, de um cara que trabalha para financiar a sua guerra para uma figura que vai ter que negociar", diz Vinhas.

Tudo isso já tem levado às discussões nas altas esferas tanto dos Estados Unidos, da União Europeia e também da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) sobre um eventual fim do apoio a Kiev.

"É fornecido armamento que não está fazendo a menor diferença, apenas prolonga o sofrimento dos ucranianos sem a possibilidade de vencer. A contraofensiva demonstra isso e implica no aumento da pobreza na União Europeia e nos Estados Unidos, porque boa parte do orçamento está sendo deslocada para a guerra na Ucrânia e os preços vão subindo."

·         Caminho é a negociação

Mesmo com o envio de armas e recursos, o especialista aponta que falta estratégia e capacidade de se organizar ao Exército ucraniano.

Sem isso, mesmo com os melhores equipamentos, não conseguirão êxito na contraofensiva.

"E se não houver avanço efetivo, vai ser bom eles começarem a repensar o apoio e talvez começarem a forçar o Zelensky a sentar para negociar. Quero lembrar que no início da guerra o Zelensky já havia sentado para negociar, e foi por influência do Ocidente que ele não aceitou construir pontos de paz em comum com os russos para dar um fim ao conflito", disse Quiroga.

Antes da operação militar especial, o analista lembra que Zelensky tinha baixa popularidade, o que chegou a ser revertido no início, quando o presidente ucraniano era visto como um herói da resistência. "Mas, com o tempo, vai se vendo a incompetência do governo, a desorganização administrativa, a questão da corrupção voltando a aparecer de uma maneira bem explícita", acrescenta.

Para Quiroga, não há sequer possibilidade de o governo prestar contas dos gastos e do armamento que chegou ao território — há, inclusive, denúncias de armas que caíram nas mãos de grupos supremacistas.

O coordenador do mestrado profissional em governança global e formulação de políticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Tomaz Paoliello, ainda questiona a capacidade de uma eventual negociação de Zelensky para o cessar-fogo do conflito em entrevista à Sputnik Brasil.

Caso não fosse o próprio Ocidente, que pressionou a Ucrânia, a operação militar especial russa sequer teria começado, aponta o analista.

As exigências eram consideradas, segundo ele, "tranquilas": garantir a independência e a autonomia ampliada das repúblicas do leste da Ucrânia, além de neutralidade em relação à OTAN e à União Europeia.

"Ele se vendeu como o cara da guerra, do combate e do enfrentamento. Eu não sei qual vai ser a capacidade dele nesta segunda etapa. Já deu para perceber isso nos discursos, sempre indo nas viagens ao Ocidente cobrando mais dinheiro, mais recursos, e isso não está se segurando assim", analisa.

·         Eleições podem mudar panorama

Diante do envio de vultosos recursos e da falta de efetividade e transparência dos gastos, o ex-presidente Donald Trump já começa a aproveitar os questionamentos a Joe Biden na corrida à Casa Branca do ano que vem.

Em comício na Carolina do Sul na última segunda-feira (25), um dos principais nomes republicanos para a disputa chegou a prometer rápida resolução do conflito caso retorne à presidência.

"Se o Biden ganhar a eleição, acho que [a situação] se mantém muito no cenário que está. Com o Trump no governo, muda totalmente. Trump ou um trumpista, teremos muito o que ver. Se mudar a posição dos EUA com relação à Rússia, e com relação à Ucrânia, isso pode levar as negociações para outro lado", argumenta Tomaz Paoliello.

Além dos EUA, Zelensky, que chegou a adiar o processo eleitoral na Ucrânia para se perpetuar no poder, ainda encontra grande apoio da França e Alemanha.

Enquanto isso, a contraofensiva ucraniana, que prometia grandes resultados no último verão, falhou e já acumula mais de 71 mil baixas.

Durante encontro com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, Zelensky foi alvo de diversos protestos de manifestantes contrários à manutenção do conflito. O encontro ainda recebeu fortes críticas após aplausos efusivos ao ucraniano Yaroslav Hunka, de 98 anos, veterano nazista da Segunda Guerra Mundial.

 

Ø  Presidente búlgaro diz que país deve focar sua própria Defesa em vez de enviar mísseis à Ucrânia

 

Em um movimento semelhante ao concretizado na última semana pela Polônia, que suspendeu o envio de armas à Ucrânia após questionamentos internos, o presidente búlgaro, Rumen Radev, fez duras críticas à iniciativa de parlamentares do país de enviar mísseis S-300 defeituosos para Kiev.

Segundo Radev, a Bulgária não deve se tornar uma fornecedora de armas para exércitos estrangeiros.

"O governo e a Assembleia Nacional têm que manter e desenvolver a capacidade de defesa das Forças Armadas búlgaras em vez de usá-las como fornecedoras para exércitos estrangeiros", disse Radev à imprensa do país.

Os equipamentos defeituosos são usados nos sistemas de defesa área S-300 e se somam a diversos outros já enviados pelo Ocidente.

Na última segunda-feira (25), a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, chegou a admitir publicamente que o país enviou equipamentos militares desatualizados ou quase nada funcional em diversas ocasiões.

Já o plano de envio das armas pelo Parlamento búlgaro foi elaborado pelos partidos Nós Continuamos a Mudança e Democracia Búlgara, além da coligação composta pelos partidos União da Força Democrática e Cidadãos Europeus pelo Desenvolvimento da Bulgária.

Mais cedo, o presidente do Comitê de Defesa do Parlamento da Bulgária, Hristo Gadzhev, afirmou que fornecer mísseis S-300 com mau funcionamento à Ucrânia não colocaria em perigo a defesa aérea do país, com o Ministério da Defesa também aprovando o plano.

Enquanto isso, o Partido Socialista Búlgaro se posicionou duramente contra a iniciativa, já que tal "presente" poderia ser tratado como traição por desalojar do país equipamentos de sua defesa aérea.

Os países ocidentais têm fornecido apoio financeiro, humanitário e militar à Ucrânia desde o início da operação especial militar russa, em fevereiro de 2022. O apoio evoluiu de munições de artilharia mais leves para armas mais pesadas, incluindo tanques. O Kremlin tem consistentemente alertado contra mais entregas de armas a Kiev, afirmando que serão consideradas um alvo militar legítimo.

·         Polônia interrompe fornecimento de armas

Na última semana, o primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, divulgou a suspensão do envio de armamento das Forças Armadas para a Ucrânia — o país vinha sendo um dos mais ferrenhos aliados do regime de Vlamidir Zelensky. Conforme o político, o motivo foi priorizar o aparato bélico do Exército polonês.

"Não estamos mais transferindo armas para a Ucrânia com base no fato de que nós mesmos estamos, agora, nos armando com as armas mais modernas", disse o primeiro-ministro.

Até o final de julho, o país polaco, que era o terceiro que mais fornecia armas à Ucrânia, já havia prestado assistência militar com curto em torno de três bilhões de euros (R$ 15 blhões). Em mais um indício de afastamento do atual governo ucraniano, a Polônia também proibiu a entrada de grãos ucranianos, que são mais baratos, para proteger a agricultura do país.

 

Ø  Rússia: recusa de países vizinhos da Ucrânia de cumprir decisões de Bruxelas pode ser contagiosa

 

A recusa da Eslováquia, Hungria e Polônia de seguir a decisão da Comissão Europeia sobre a importação de produtos agrícolas ucranianos pode se tornar um "exemplo contagioso" para outros países da União Europeia (UE) que não queiram cumprir decisões desfavoráveis para eles, disse à Sputnik o representante interino da Rússia na UE, Kirill Logvinov.

"O mais recente conflito causado pela política de Bruxelas de apoio abrangente a Kiev é o problema do aumento da importação para a UE de produtos agrícolas ucranianos, que enfrentam Bratislava, Budapeste e Varsóvia. E não é só para eles que pode se tornar séria a questão de quanto tempo as capitais europeias estarão dispostas a sofrer prejuízos em nome da 'luta de Kiev pelo destino da Europa'. Enquanto as ações dos três Estados-membros da UE que têm fronteiras com a Ucrânia, e que se recusaram a se submeter a condições desfavoráveis, podem se tornar um exemplo contagioso para outros países do bloco", observa Logvinov.

Ele salientou que, recentemente, as decisões políticas da UE entram cada vez mais em confronto com os interesses econômicos dos países-membros e de setores inteiros de suas economias.

Segundo o diplomata, é difícil falar agora do mercado único da UE, "quando algumas capitais europeias estabelecem restrições nacionais ao fornecimento de produtos, e outros seguem a linha de Bruxelas para retirar tais medidas".

Na semana passada, a Comissão Europeia decidiu não estender as restrições às importações de produtos agrícolas da Ucrânia impostas por cinco países da União Europeia que fazem fronteira com a Ucrânia, mas obrigou Kiev a tomar medidas para controlar as exportações. Depois disso, as autoridades da Eslováquia, Hungria e Polônia anunciaram a manutenção unilateral da proibição.

Em 19 de setembro, a Ucrânia entrou com processo judicial contra Polônia, Hungria e Eslováquia na Organização Mundial do Comércio (OMC) para demandar a retirada de embargo imposto contra a sua exportação de grãos. Esta ação causou indignação nos países mencionados.

 

Ø  Musk defende Rússia após acusações de desinformação por parte do Canadá

 

O empresário americano Elon Musk comentou na rede social X (antigo Twitter) o comunicado do premiê canadense Justin Trudeau, que chamou as publicações sobre o convite a um nazista para o Parlamento canadense de propaganda russa.

"Não quero chocar ninguém, mas há uma possibilidade de que nem tudo seja desinformação russa", escreveu Musk.

Toda a polêmica começou quando Anthony Rota, presidente da Câmara dos Comuns, casa baixa do Parlamento canadense, saudou e ovacionou o veterano da Segunda Guerra Mundial Yaroslav Hunka, de 98 anos, que lutou na 1ª Divisão Ucraniana antes de imigrar para o Canadá. As falas de Rota foram feitas durante a introdução de Vladimir Zelensky no Parlamento canadense.

Esse grupo também ficou conhecido como Divisão Galícia e foi incorporado à 14ª Divisão de Granadeiros da SS, exército paramilitar do Partido Nazista. Composta por voluntários, muitos eram admiradores do líder fascista Stepan Bandera (1909–1959), colaboracionista nazista ucraniano durante a Segunda Guerra Mundial, ou viam os nazistas como aliados capazes de garantir autonomia perante Moscou.

 

Ø  Nicarágua declara apoio 'invariável' à Rússia na Assembleia Geral da ONU

 

Em discurso durante a 78ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, o ministro das Relações Exteriores nicaraguense, Denis Moncada, exaltou o esforço russo para garantir a paz e a segurança internacional e criticou medidas restritivas unilaterais e ilegais impostas a várias nações do mundo.

"Nosso apoio à Federação da Rússia é invariável e uma aliança humana inevitável", afirmou o chanceler da Nicarágua ao ler uma mensagem escrita pelo presidente Daniel Ortega no encontro mundial, que terminou hoje (26) nos EUA.

Moncada destacou o apoio "solidário e combatente às heroicas lutas da Federação da Rússia" pela paz e segurança internacional".

O ministro criticou as sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos a várias nações do planeta, e expressou solidariedade ao povo de Cuba pelos 62 anos do embargo comercial aplicado à ilha pelos Estados Unidos, país chamado por ele de "assassino".

A assembleia, que começou na última terça-feira (19), reuniu 193 Estados-membros da ONU para debater os desafios globais e buscar soluções para os problemas que afetam as populações do planeta.

O representante nicaraguense exigiu indenização por parte dos Estados Unidos à Nicarágua, com base na sentença proferida em 1986 pela Corte Internacional de Justiça de Haia que condenou o governo norte-americano por financiar a guerra contra o governo revolucionário sandinista, sobretudo na década de 1980.

"Não será possível resgatar as vidas perdidas ou aliviar o coração partido das famílias e cidadãos, mas pelo menos será possível reconstruir, para todos os nicaraguenses, as infraestruturas econômica, social, produtiva, cultural, que foram destruídas por essa grotesca intervenção", declarou ele ao defender a construção de uma nova ordem mundial multipolar para por fim ao "modelo imperialista e colonialista" vigente.

A decisão da Corte foi considerada histórica por reconhecer que os EUA violaram os princípios internacionais, como o da soberania territorial, ao dar apoio financeiro, militar e logístico e fornecer armas a grupos paramilitares para derrubar o governo nicaraguense da época.

Tal ingerência contribuiu para uma guerra civil que se arrastou por mais de uma década, deixando milhares de mortos e uma severa crise política, humanitária e econômica.

Na sentença, os Estados Unidos foram obrigados a repararem os prejuízos, inclusive por meio de indenização, que ainda não foi paga.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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