Brasil tem mais gado bovino do que habitantes humanos, diz IBGE
O Brasil tem mais gado bovino do que pessoas. São
234,4 milhões de cabeças de gado bovino para 203,1 milhões de cabeças humanas.
É o que revela o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na
pesquisa Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) divulgada na última quinta-feira,
21 de setembro. O número de habitantes foi extraído do Censo Demográfico 2022
do mesmo instituto.
No mesmo período de 2022, outro relatório. Este
intitulado O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)”,
divulgado em julho passado pela Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura (FAO), apresenta uma piora dos indicadores de fome
e insegurança alimentar no Brasil, o que contrasta com a pujança da nossa
produção de bois.
Segundo o relatório, 70,3 milhões de pessoas
estavam no ano passado em estado de insegurança alimentar moderada, que é
quando possuem dificuldade para se alimentar (o que inclui falta de proteínas).
O levantamento também aponta que 21,1 milhões de pessoas no país estavam em
condição de insegurança alimentar grave, caracterizado por estado de fome.
Segundo o ministro do Desenvolvimento e Assistência
Social, Família e Combate a Fome, Wellington Dias, essa piora é reflexo do
desmonte das políticas públicas sociais que vivemos nos últimos anos.
Já para Rafael Zavala, representante da FAO no
Brasil, o relatório mostra uma tendência de que será difícil atingir a meta de
acabar com a fome no mundo até 2030. “Além dos problemas de saúde causados pela
pandemia globalmente, o mundo enfrenta dois grandes desafios: a fome e a má nutrição.
Um em cada dez pessoas no mundo passa fome. Vemos que o mundo produz alimentos
suficiente, mas há um grande problema de distribuição. Contudo, o caso do
Brasil é diferente, graças as políticas publicas fortalecidas recentemente e à
gigante produção alimentar, estamos certos de que o país irá sair novamente do
mapa da fome, sem dúvidas”, ponderou.
• Recorde
bovino e crescimento de outros animais
Com 15,4% superior à população humana, em 2022, o
rebanho bovino cresceu pelo quarto ano consecutivo e alcançou novo recorde da
série histórica. Os dados são da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), do IBGE.
O crescimento de 4,3% fez o número de cabeças chegar ao no patamar atual.
“A produção de bovinos vem aumentando, desde 2019,
devido aos bons preços da arroba e do bezerro vivo. Houve um processo de
retenção de fêmeas para reprodução, devido aos preços mais atrativos. Ainda
temos em 2022, uma consequência desse comportamento iniciado no final de 2019.
Mas a expectativa é de que a alta dos preços tenha se encerrado em 2022, quando
observamos, também, aumento no abate de fêmeas”, explica Mariana Oliveira,
analista da PPM.
Toda as criações de animais pesquisadas
apresentaram crescimento, menos a de de codornas (-8,2%). Os bovinos e suínos
aumentaram 4,3% cada um; o de bubalinos 3,0%; equinos, 0,9%; caprinos, 3,9%;
ovinos, 4,7%; galináceos, 3,8%; e galinhas, 2,4%. Houve ainda recorde nas
produções de mel, que cresceu 9,5%, e de ovos de galinha com alta de 1,3%.
“Com a demanda interna enfraquecida e poder de
compra da população reduzido, a exportação de produtos pecuários derivados do
rebanho bovino, sobretudo as carnes, foi a alternativa adotada para o
escoamento da produção. As exportações atingiram um recorde e a China
consolidou-se como importante mercado para as carnes, seja ela de frangos,
suínos ou bovinos”, analisa Mariana Oliveira.
• Rebanho
bovino cresceu em todas as Grandes Regiões em 2022
O rebanho bovino cresceu em todas as Grandes
Regiões em 2022. Mato Grosso lidera com 34,2 milhões de cabeças, ou 14,6% do
efetivo nacional. Em seguida veio o Pará (10,6%) ultrapassando Goiás (10,4%).
No ranking municipal, São Félix do Xingu (PA) manteve a liderança, alcançando
2,5 milhões de cabeças.
• Valor
da produção pecuária cresce 17,5% e chega a R$116,3 bilhões
O valor de produção de todos os produtos pecuários
levantados na pesquisa, incluindo os da aquicultura, chegou a R$116,3 bilhões,
significando um aumento de 17,5%. A produção de leite concentrou 68,8% deste
valor, seguida pela produção de ovos de galinha (22,4%). No ranking municipal,
considerando os seis principais produtos (leite, ovos de galinha, ovos de
codorna, mel, lã e casulos de bicho-da-seda), Santa Maria de Jetibá (ES)
apresentou o maior valor da produção, com R$ 1,6 bilhão, dos quais 95,0% são
provenientes da venda de ovos de galinha, produto no qual lidera o ranking.
Castro (PR) assumiu a segunda posição com R$ 1,2 bilhão, 98,7% proveniente da
produção de leite. Bastos (SP) fecha o TOP3, sendo o segundo maior produtor
nacional de ovos de galinha.
• Produção
de leite cai 1,6% e preço médio atinge maior valor da série
A produção de leite foi estimada em 34,6 bilhões de
litros em 2022, redução de 1,6%. A produção tem sido decrescente desde 2020,
quando alcançou o recorde da série (35,3 bilhões de litros). A alta dos custos
e a redução das margens têm desestimulado a produção. O número de vacas
ordenhadas caiu 1% e representou 6,7% do efetivo total de bovinos em 2022, o
que pode indicar desinvestimento na produção de leite – observamos que
produtores estão migrando ou arrendando terras para a produção de grãos, como a
soja, estimulados pelas altas nos preços dos grãos nos últimos anos.
Os preços do leite subiram 19,7% e corroboram com
essa informação ao manterem-se em alta acumulada desde 2017 e fechando 2022 a
R$2,31 por litro, o maior valor da série. “Com isso, mesmo com a queda no
volume, o valor de produção do leite aumentou 17,7% para R$ 80,0 bilhões”,
ressalta a analista da pesquisa.
Entre as Regiões, o Sul manteve a liderança
reconquistada em 2021, com uma participação de 33,8%, seguido de perto pelo
Sudeste com 33,6%. Na contramão das demais regiões, que apresentaram quedas, o
Nordeste, terceiro maior produtor nacional (16,5%) desde 2017, vem aumentando
sua produção. Esse crescimento é fruto, principalmente, das condições
climáticas favoráveis na Região nos últimos anos e de investimentos em genética
e tecnologia. Minas Gerais manteve a maior produção, com 27,1% do total ou 9,4
bilhões de litros. Entre os municípios a liderança permanece de Castro (PR),
com 426,6 milhões de litros. Carambeí (PR) ficou em segundo lugar, com 255,6
milhões de litros. Cabe destacar que seis dos dez principais municípios em
produção de leite foram mineiros e três do Paraná.
• Criações
de suínos e de galináceos batem recorde
O rebanho de suínos cresceu 4,3% em 2022, chegando
ao recorde de 44,4 milhões de animais. A Região Sul reúne 51,9% do efetivo
nacional. Com a Peste Suína Africana na China, o crescimento do rebanho de
matrizes e de suínos foi estimulado, e passamos a ter a China como principal
destino das nossas exportações de carne. Além disso, as associações ligadas ao
setor vêm trabalhando para reduzir os gargalos no consumo interno de carne
suína, trazendo novos cortes e facilidades no preparo, e o consumo per capita nacional
vem crescendo.
O efetivo de galináceos subiu 3,8% também atingindo
o recorde de 1,6 bilhão de animais, com destaque para o Paraná com 470,3
milhões (29,7%). A Região Sul lidera com 49,3%. O Brasil é o maior exportador
mundial de frangos, e a Região Sul, liderada pelo Paraná, concentra a maior
parte do abate de frangos do Brasil. Em 2022, o Brasil teve incrementos no
abate e nas exportações, esta última influenciada pelos casos de gripe aviária
nos principais países produtores de frangos, visto que o Brasil é livre da
doença.
Cascavel (PR), em 2021 e em 2022, manteve a maior
quantidade de galináceos do País (21,1 milhões de cabeças), seguido agora por
Itaberaí (GO), com 16,2 milhões de galináceos, e por Santa Maria de Jetibá
(ES), com 15,7 milhões de galináceos, dos quais 13,0 milhões são galinhas, o
maior efetivo do país.
• Criação
de galinhas cresceu 2,4% e chegou a 259,5 milhões de aves
O efetivo nacional de galinhas em 2022 chegou a
259,5 milhões e o Sudeste foi responsável por 35,1% desse total, ou 91,2
milhões de animais. Entre as unidades da federação, São Paulo lidera, com 21,2%
do total nacional de galinhas. Santa Maria de Jetibá (ES), com 13,0 milhões de
galinhas, tem o maior efetivo do país, seguido por Bastos (SP), com 11,0
milhões e Primavera do Leste (MT) com 4,3 milhões de galinhas.
A produção de ovos de galinha subiu 1,3% para o
recorde de 4,9 bilhões de dúzias. O Sudeste destaca-se com 39,9%, seguido do
Sul com 23,1% e o Nordeste, com 19,6%. O ovo, por muitos anos tratado como
vilão, hoje é reconhecido como um produto saudável. O preço mais acessível
também influencia em uma demanda crescente por essa proteína, levando a
recordes sucessivos na produção coletada na pesquisa. Parte destes ovos também
são destinados à incubação e viram frangos de corte, atividade que também
esteve em expansão em 2022.
• Piscicultura
e criação de camarões atingem recorde de produção e de valor
A produção nacional de peixes atingiu novo recorde
de 617,3 mil toneladas. A atividade segue em franca ascensão no País, com
destaque para a produção de tilápia, que representou 66,1% do total de peixes
produzidos. O valor de produção total também apresentou aumento (16,4%),
chegando a R$ 5,7 bilhões. O Paraná, maior produtor de peixes, produziu 27,1%
da produção nacional e 75,7% da Região Sul. Rondônia apareceu na segunda
posição, tendo se destacado na criação de peixes redondos.
A criação de camarão foi de 113,3 mil toneladas,
com alta de 5,9% frente ao ano anterior. O setor tem mantido ritmo crescente
desde 2017, com a recuperação dos efeitos da mancha branca. A produção está
concentrada no Nordeste do País (99,6%), destacando-se o Ceará, o Rio Grande do
Norte e a Paraíba, com 54,1%, 22,2% e 6,4% da produção, respectivamente.
Aracati (CE) liderou o ranking de municípios, com a produção de 12,7 mil
toneladas ou 11,2% da produção nacional.
Ø Estudo aponta aumento de suicídio entre jovens indígenas no AM e no MS
Pesquisadores da Fiocruz e da Universidade de
Harvard realizaram o primeiro estudo nacional que avalia o suicídio entre
indígenas e não indígenas no Brasil. O estudo avaliou taxas de suicídio durante
o período de 2000 a 2020 e mostrou um risco desproporcionalmente maior em
indígenas, principalmente naqueles de 10-24 anos. As regiões Norte e
Centro-oeste foram as que apresentaram maior risco de suicídio, principalmente
estados como Amazonas e Mato Grosso do Sul.
O estudo foi publicado na revista The Lancet
Regional Health – Americas. A pesquisa aborda nuances sobre este grave e
negligenciado problema de saúde pública em pleno Setembro Amarelo, mês dedicado
à prevenção do suicídio no Brasil, conforme destaca um dos coautores do estudo,
o epidemiologista Jesem Orellana, chefe do Laboratório de Modelagem em
Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) do Instituto Leônidas
& Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia).
As análises foram efetuadas a partir do banco de
dados oficial de mortalidade do Ministério da Saúde do Brasil e teve como
objetivo estimar taxas de suicídio e suas tendências entre indígenas e não
indígenas no Brasil. No artigo intitulado Suicídio entre povos indígenas no
Brasil de 2000 a 2020: um estudo descritivo (Suicide among Indigenous peoples
in Brazil from 2000 to 2020: a descriptive study, no original em inglês), os
pesquisadores uma longa e abrangente análise sobre o comportamento das taxas de
suicídio entre indígenas no Brasil.
“De forma geral, as taxas de suicídio em indígenas
foram maiores em homens e indivíduos de 10-24 anos. Em homens de regiões como a
Centro-Oeste e Norte, essas taxas chegaram a alcançar 73,75 e 52,05 por 100 mil
habitantes, em 2018 e 2017, respectivamente. Em indivíduos de 10-24 anos da
região Norte, o grupo etário de maior risco para o suicídio indígena, essas
taxas aumentaram substancialmente de 2013 em diante, contrariando o padrão de
queda observado na região Centro-Oeste. Este é um diferencial importante, em
comparação ao grupo de maior risco na população geral do Brasil, pois o grupo
etário de indivíduos com 60 anos e mais, historicamente, é o que apresenta
maior risco de suicídio”, explica Orellana.
O estudo também mostrou que, em nível nacional,
tanto as taxas de suicídio da população indígena brasileira quanto as taxas da
população não indígena apresentaram tendência de aumento de 2000 a 2020. “No
entanto, esse padrão não pode ser generalizado, especialmente entre os
indígenas, pois estados como o do Amazonas na região Norte e Mato Grosso do Sul
na região Centro-Oeste, parecem ser os responsáveis pelas substanciais
diferenças que se observa ao se comparar dados nacionais entre indígenas e
não-indígenas”, observa.
O pesquisador salienta que os resultados do estudo
reforçam a extrema vulnerabilidade de indígenas ao suicídio no Brasil,
sobretudo homens, na faixa etária de 10-24 anos e residentes nos estados do
Amazonas e Mato Grosso do Sul, apontando para a necessidade de priorização na
alocação de recursos financeiros e no planejamento de estratégias que visem
reduzir os fatores de risco associados ao suicídio, especialmente a
desigualdade social e o limitado acesso a cuidados de saúde mental.
“Precisamos encarar o suicídio indígena como um
grave e invisibilizado problema de saúde pública, o qual pode ser influenciado
por uma gama de peculiaridades contextuais e culturais, como conflitos
territoriais, crises sanitárias, racismo estrutural, bem como questões de ordem
econômica, política e psicológica”, finalizou.
Fontes: IBGE, FAO e MDS/Fiocruz AM
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