terça-feira, 26 de setembro de 2023

A covardia em verde-oliva

A extrema-direita usa até hoje como subterfúgio para suas teses golpistas uma suposta “coragem” dos militares para enfrentar qualquer desafio. Porém, quando a realidade bate a porta o que podemos perceber é sempre o oposto, a frouxidão dos fardados nos momentos em que são confrontados.

Desta vez, quem assumiu o papel de frouxo foi o general Augusto Heleno, que apesar da idade avançada ainda tem garganta e alguns neurônios para sair em defesa de golpista. Pois bem, o ex-chefe do GSI do Governo Bolsonaro resolveu recorrer ao STF (risos) para não depor a CPMI do Golpe.

A defesa do general enviou o pedido a Suprema Corte nesta segunda-feira, 25. O argumento principal é que Heleno não seja obrigado a prestar depoimento. Vale lembrar que a oitiva para ouvir o militar está previsto para acontecer nesta terça-feira, 26.

Ainda no pedido, a defesa alega que apesar do general ter sido convocado como testemunha, ele está sendo alvo de acusações na própria convocação, supostamente colocando em uma posição de investigado. Com isso, a defesa diz que Heleno tem o direito de não comparecer ao depoimento para evitar a autoincriminação. 

“O Paciente está, portanto, na iminência de sofrer nova ilegalidade, em razão de a sua convocação para prestar depoimento naquela comissão na suposta condição de testemunha, quando todos os demais atos daquela Comissão indicam que, na realidade, o Paciente está sendo investigado”, afirma a defesa no documento. O relator do pedido será o ministro Cristiano Zanin.

É preciso lembrar da ironia do destino, pois sabidamente o general Augusto Heleno foi um dos fizeram coro aos ataques golpistas de Jair Bolsonaro contra a Suprema Corte. Foi o mesmo Heleno que, durante os anos de governo da extrema-direita, passou a mão na cabeça de Bolsonaro quando o mesmo atentava contra as instituições.

Em 10 de setembro de 2021, três dias após os ataques de Bolsonaro contra o STF durante as manifestações do 7 de Setembro, Heleno publicou um vídeo no Twitter onde tentou colocar panos quentes diante do iminente risco de prisão do seu chefe.

“A esquerda, apesar de sua passagem desastrosa pelo poder, segue unida e querendo voltar. Ela sofreu também um duro revés: descobriu que o presidente Bolsonaro não tinha qualquer intenção de dar o golpe”, disse no vídeo.

Na sanha de defender o golpista, Heleno chegou a insultar a inteligência dos brasileiros quando disse que Bolsonaro tinha “um formidável senso político”. “Nosso presidente possui um formidável senso político. Ele quer país que preserve as liberdades individuais, instituições nacionais, a independência e harmonia dos poderes, a paz e a democracia”, disparou. Heleno encerrou o vídeo com a afirmação folclórica de que o governo Bolsonaro não era corrupto.

Relembre!

<><> General sobre teses golpistas: “veteranos que nada sabem do que realmente ocorreu”

O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, que comandou o Comando Militar do Planalto (CMP), durante o 8 de janeiro foi alvo de uma quebra de sigilos telemáticos pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o 8 de janeiro.

E nos documentos obtidos com exclusividade pela coluna, é possível ver que o general recebia inúmeras mensagens de teor golpista e de ataques ao presidente Lula de outros militares de menor patente.

Em uma conversa com um perfil identificado como Heyno Araújo, o militar se cansa dos diversos e afirma: “O que vemos hoje são alguns veteranos que nada sabem do que realmente ocorreu espalhando mentiras para denegrir a sua própria instituição”.

Ele também afirma em outras mensagens que a sua saída do CMP foi estratégica e necessária para “sair do foco para baixar a fervura”.

 

Ø  Braga Netto e os que perderam a fé. Por Moisés Mendes

 

Há um momento em que se dá a ruptura da caminhada em direção ao golpe e se esfarela algo que, mesmo na hora derradeira, o general Braga Netto vislumbrava como alguma coisa sólida, mas ainda em construção.

No dia 18 de novembro do ano passado, cercado por militantes derrotados e chorosos no Alvorada, Braga Netto diz, como um pregador religioso do novíssimo testamento da extrema direita:   

“Vocês, não percam a fé. É só o que eu posso falar agora”.

É preciso “dar um tempo”, ele completa, pedindo calma com as mãos. Que tivessem paciência, mas sempre preservando a ambição do que estava por vir. O que mais Braga Netto não podia falar? Que segredo poderia ter o general derrotado cercado por golpistas?

Logo depois, no dia 24, Bolsonaro chamaria os comandantes militares ao Alvorada. A fé começa a ser desfeita, como já se sabe. Só Almir Garnier Santos, da Marinha, topa ir em frente com o golpe, e Bolsonaro, pela versão que mais circula, ouve o comandante do Exército, Freire Gomes, dizer que, se insistir com o plano, ele irá mandar prendê-lo.

O Brasil merece saber como, depois do alerta do general, as coisas se acomodam entre os comandantes, mas não a ponto de conter os que apostaram no 8 de janeiro.

É a parte ainda encoberta do enredo. Sabemos, começando lá pelo início, que em março de 2021 o general Fernando Azevedo e Silva renuncia ao Ministério da Defesa, levando junto os três chefes militares.

Sabemos que Bolsonaro chama Braga Netto para o lugar de Azevedo e Silva, escala os novos comandos e a situação fica controlada.

Vemos que, no final de 2021, Azevedo e Silva se prepara para assumir a direção geral do TSE, numa jogada que parecia interessante de Edson Fachin e Alexandre de Moraes. E ficamos sabendo, em fevereiro de 2022, que o general saltaria fora da missão de ajudar na defesa da democracia.

O resumo, desde março de 2021, é pavoroso. O chefe da Defesa e comandos militares desistem de seguir com Bolsonaro e logo adiante o mesmo chefe que renunciara se dá conta de que, sem quartel e sem tropas, não poderia enfrentar a fúria de colegas fardados. Foi-se embora o guardião do TSE e da eleição.

Temos então a caminhada em direção à preparação do golpe, com o novo chefe da Defesa, com novos comandantes e sem uma trincheira com moral fardada na porta do tribunal encarregado de fazer com que a eleição acontecesse de qualquer jeito.  

O caminho fica aberto e o núcleo bolsonarista se convence de que tudo daria certo, se todos tivessem fé. Deveriam ter fé de que venceriam a eleição e, depois, se a eleição falhasse, no caos que levaria ao golpe.

Braga Netto é quem surge até agora como o provável encarregado por Bolsonaro de levar, pelo histórico, pela força e pela reputação, a pregação da fé aos anônimos em desespero e de juntar os comandos na reunião de 24 de novembro.

O que se tem a partir daí pode resultar no que a ciência política e a ficção, na literatura e no cinema, já consagraram. A verdade tem detalhes que se afirmam ou se depreciam conforme as versões de quem conta a história, na maioria das vezes com sombras que mais confundem do que esclarecem.

Mas os detalhes, nas versões de cada envolvido, não podem desfigurar o essencial. E a essência está nas atitudes dos que aderiram ao golpe, dos que o rejeitaram e dos que se calaram diante da ameaça.

Os que tiveram fé e a perderam, os que nunca a tiveram e os que fingiram não ter nada a ver com a fé dos outros, todos eles são personagens do golpe. Pela participação ativa, pela rejeição categórica e pelo falso distanciamento que empurrou manés e terroristas para o 8 de janeiro.

Braga Netto sabe, muito mais do que Mauro Cid, quem ajudou a construir a fé, quem absorveu a fé espargida desde o Alvorada e quem, num último momento, deixou que a covardia (e não o legalismo) comesse todas as fés que estivessem por perto.

Por isso, o general deve ser ouvido pela CPI do Golpe no dia 5 de outubro. No fascismo religioso, muito mais do que por falta de comandantes, soldados e armas, o golpe pode ter fracassado por falta de fé dos que deveriam ser os mais fervorosos.

 

Ø  O alerta da PF que poderia ter evitado o 8 de janeiro

 

Logo depois que tomou posse como diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues recebeu informações sobre a gravidade dos atos terroristas de apoiadores de Jair Bolsonaro contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília, no 8 de janeiro.

Segundo reportagem da Folha, o diretor-geral da PF nomeado pelo presidente Lula enviou essas informações para a Secretaria de Segurança do Distrito Federal no dia 7 de janeiro, véspera dos atos golpistas. O documento cita que a área de inteligência da PF identificou a possibilidade da manifestação tentar invadir prédios públicos e impedir o funcionamento das instituições.

Ironicamente, esse alerta foi enviado no mesmo dia em que o então secretário de Segurança do DF, Anderson Torres, fugiu para os Estados Unidos e não participou da reunião entre a PF e a pasta responsável por ele.

Por sua vez, o chefe da PF disse em depoimento que recebeu as informações entre os dias 2 e 5 de janeiro, sobre o iminente perigo que os atos terroristas representavam naquele momento.

“Tomei conhecimento por fontes abertas, acho que era recorrente em redes sociais todo o movimento que havia naquele período, e também por diálogos e despachos diários com a área de inteligência interna nossa”, declarou.

Ele ainda disse que marcou a reunião com a pasta de Segurança do DF para “entender o que estava sendo planejado e organizado e levar a preocupação em razão de todos os fatos que notadamente iriam acontecer e aconteceram”.

“Eu tomei conhecimento, reitero aqui, por parte da nossa inteligência, onde por mais de uma oportunidade foi alertado, [que] o movimento era notadamente com esse viés de violência, de ‘vamos tomar o poder’ —acho que era expressão muito usada naquele período—, onde nas redes sociais era notório e se poderia facilmente identificar que havia sim movimento violento sendo planejado para o dia 8 como aconteceu”, detalhou.

Como Anderson Torres havia fugido, a reunião foi com o então número dois da pasta distrital, Fernando Oliveira. “Nosso pleito era levar à Secretaria de Segurança essa preocupação, uma vez que houve reuniões anteriores que a Polícia Federal não havia sido chamada. Então, eu provoquei essa reunião para também colocar nossa preocupação em relação a esse evento”, ressaltou Rodrigues.

 

Ø  Delação de Cid: isolado no Planalto após derrota, Bolsonaro estava obcecado por “fraude”

 

O tenente-coronel Mauro Cid foi um dos poucos indivíduos que acompanharam o ex-presidente Jair Bolsonaro após o término do segundo turno das eleições de 2022. Durante esse tempo, Bolsonaro se isolou no Palácio da Alvorada, recebendo apenas um seleto grupo de aliados e se recusando a admitir publicamente a vitória de Lula.

Segundo Cid, Bolsonaro estava convencido de que venceria a eleição e ficou tão abalado com a derrota que desenvolveu uma infecção na perna, conhecida como erisipela, devido à baixa imunidade. O ex-presidente frequentemente questionava o que faria com “o povo que está na rua”, referindo-se aos seus apoiadores que contestavam o resultado, e reiterava suas críticas ao resultado. “Fui roubado, fui roubado. O PT vai destruir o Brasil”, dizia Bolsonaro.

Em sua busca para encontrar uma suposta fraude eleitoral, Bolsonaro, de acordo com Cid, estava focado em encontrar evidências que pudessem servir de base para algum tipo de contestação ao resultado das eleições.

Conforme relatado por veículos de comunicação como O Globo e UOL, Cid informou à Polícia Federal que Bolsonaro chegou a se encontrar com os comandantes das três Forças Armadas para discutir a possibilidade de reverter o resultado eleitoral. Segundo essas fontes, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, estava disposto a participar de um plano golpista, mas o chefe do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, rejeitou qualquer tentativa nesse sentido.

Em diálogos com aliados, Cid evita usar a palavra “golpe”. Ele acredita que a situação dentro da Presidência e do Exército reflete um momento e uma sociedade divididos. Por isso, havia uma espécie de impasse: muitos defendiam que algo deveria ser feito, mas poucos estavam dispostos a liderar qualquer tipo de ação.

“Mas para isso se tornar um golpe… Os generais conversaram com Bolsonaro e disseram que não havia nada a ser feito. Qualquer intervenção militar levaria a décadas de regime autoritário. Ninguém quer mais isso, não é mais viável”, declarou o tenente-coronel a um confidente.

Cid firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal em 9 de setembro. Em seus depoimentos, ele confessou ter manipulado o sistema do Ministério da Saúde para emitir um falso certificado de vacinação contra a Covid-19 e admitiu ter vendido dois relógios recebidos pelo governo brasileiro, repassando o dinheiro ao ex-presidente.

 

Fonte: O Cafezinho/Brasil 247

 

Nenhum comentário: