Bolsonaro inelegível e Lula pressionado: quem ganhou e quem perdeu na
política em 2023
O ano de 2023, o primeiro do terceiro mandato de
Lula (PT) na Presidência, foi marcado na política pelos ataques golpistas de 8
de janeiro, a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) e os atritos entre o
Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).
Foram fatos que alteraram o jogo de poder em
Brasília, fortalecendo e enfraquecendo alguns dos principais personagens. Lula
tentou se equilibrar diante da pressão vinda de diferentes frentes, como o
centrão, liderado por Arthur Lira (PP-AL), o mercado e integrantes de seu
próprio partido.
Em seu ministério, Marina Silva (Rede), por exemplo,
ficou enfraquecida, enquanto Fernando Haddad (PT) terminou o ano com saldo
positivo.
<<<< Veja quem saiu ganhando, quem saiu
perdendo e quem se manteve estável na política em 2023:
• Lula
(PT), presidente - estável
Vencedor por uma pequena margem nas eleições
passadas, o petista teve um ano arrastado na Presidência, mais refém do
Congresso e do centrão; mesmo com dificuldade, conseguiu aprovar projetos de
interesse, como a reforma tributária; nas pesquisas Datafolha de avaliação suas
taxas de ótimo/bom oscilaram de 37% a 38%, cristalizando a polarização
verificada no pleito de 2022.
• Geraldo
Alckmin (PSB), vice-presidente - estável
Alckmin manteve algum protagonismo na política ao
assumir o Palácio do Planalto com as diversas viagens de Lula, visando melhorar
a imagem do Brasil no cenário internacional; ao mesmo tempo, como ministro do
Desenvolvimento, emplacou políticas como a volta do carro popular.
• Jair
Bolsonaro (PL), ex-presidente - saiu perdendo
Mais um ano ruim para o ex-presidente, que agora
está inelegível após julgamentos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela
reunião com embaixadores e pelas festividades do 7 de Setembro em 2022; fora da
política institucional, tem dificuldades para se manter em evidência, e está
envolto em uma série de investigações, que podem levá-lo a condenações civis e
criminais, como no 8/1 e no caso das joias sauditas.
• Michelle
Bolsonaro (PL), ex-primeira-dama - estável
Ex-primeira-dama ganhou maior visibilidade política
ao ser considerada um nome do bolsonarismo para 2026, tanto para o Planalto
quanto para o Senado; entretanto, vem sendo investigada em casos de corrupção,
assim como o marido, como na venda das joias.
• Fernando
Haddad (PT), ministro da Fazenda - saiu ganhando
Haddad conseguiu a aprovação da reforma tributária,
uma pauta de mais de 30 anos, e levou adiante medidas importantes para o
governo federal, como a taxação de offshores e o arcabouço fiscal; sofre para
manter viva a meta de déficit fiscal zero, atacada até por Lula, e passou por
fritura dentro do PT.
• Arthur
Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados - saiu ganhando
O presidente da Câmara saiu fortalecido deste ano,
após emplacar uma reforma ministerial no governo petista, além de tornar-se o
principal articulador das pautas do centrão e das negociações para liberação de
emendas parlamentares e de cargos em estatais e outros órgãos federais; teve
ainda uma investigação envolvendo a compra de kits robótica, que o atingia,
anulada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.
• Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado - saiu ganhando
O presidente do Senado tem protagonizado um embate
entre o Congresso e o STF e obteve a aprovação de uma PEC limitando as decisões
monocráticas na corte. A proposta, porém, deve ficar travada na Câmara; apesar
de ter boa relação com o governo, tem acenado aos bolsonaristas para emplacar
um sucessor na chefia da Casa em 2025 e para viabilizar uma candidatura ao
governo mineiro em 2026.
• Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), senador - saiu ganhando
Após o revés sofrido ao ser impedido de
candidatar-se novamente à presidência do Senado em 2021, o parlamentar é
ventilado para voltar à chefia da Casa em 2025, além de ter emplacado neste ano
três ministros no governo Lula e de ser um dos principais controladores das
emendas parlamentares; à Folha de S.Paulo, em outubro, afirmou ser "menos
poderoso do que pensam".
• Romeu
Zema (Novo), governador de Minas Gerais - saiu perdendo
O mineiro tentou ganhar maior visibilidade nacional
e se viabilizar como uma opção do bolsonarismo em 2026, mas fez uma série de
declarações polêmicas, gafes e demonstrou falta de conhecimento até sobre o
estado que governa; ainda ficou acuado nas negociações sobre a dívida que Minas
tem com a União, onde Pacheco tomou a dianteira. Agora tenta ganhar espaço nas
tratativas.
• Tarcísio
de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo - estável
O ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro passou
o primeiro ano à frente do Palácio dos Bandeirantes recuando de medidas
anunciadas durante o mandato e chegando até a recuar de recuos. Distanciou-se
um momento de Bolsonaro por políticas públicas vistas como progressistas e pela
articulação com o governo federal. Entre suas vitórias, está a aprovação da
privatização da Sabesp, em dezembro.
• Eduardo
Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul - saiu perdendo
Apesar dos esforços para reerguer o PSDB, o
governador gaúcho teve um ano de dificuldades com os desastres climáticos no
estado e decidiu deixar a presidência da sigla; além disso, passou o ano com
baixa visibilidade nacional e sem se firmar como liderança de oposição a Lula,
o que o atrapalha nos planos de tentar a Presidência em 2026.
• Raquel
Lyra (PSDB), governadora de Pernambuco - saiu perdendo
A pernambucana teve um ano difícil na relação com o
Legislativo estadual, com reclamações sobre o espaço no governo e na
articulação política. Sofreu derrotas com a reeleição do presidente da Casa,
além da derrubada dos vetos ao Orçamento de 2024; ainda enfrenta crises na
saúde e na segurança pública, herdadas de Paulo Câmara (PSB). Apesar das
derrotas locais, porém, se aproximou do governo Lula, ampliou sua articulação
nacional e é cobiçada por outros partidos.
• Marina
Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente - saiu perdendo
A ministra do Meio Ambiente, prestigiada por Lula,
se viu com menos poderes após o centrão alterar a MP (medida provisória) da
Esplanada e transferir algumas das suas funções para outras pastas, restaurando
estruturas do governo Bolsonaro; já Lula, ameaçado por uma histórica derrota,
não reagiu e manteve as alterações. Ainda foi contrariada no caso da exploração
de petróleo na Foz do Amazonas.
• Aécio
Neves (PSDB-MG), deputado federal - saiu ganhando
O candidato à Presidência em 2014 saiu fortalecido
no PSDB e projeta voos mais altos na política mineira para os próximos anos.
Foi absolvido no caso de corrupção com a JBS, revelado após os áudios de
Joesley Batista, e foi reabilitado internamente entre os tucanos; teve grande
influência na chapa para a diretoria nacional da legenda e pensa em
candidatar-se ao governo mineiro em 2026.
• Flávio
Dino (PSB), futuro ministro do STF e ministro da Justiça - saiu ganhando
Apesar de um ano coberto por embates com a oposição
no Congresso, as crises de segurança pública no Rio de Janeiro e na Bahia, e o
desgaste com a visita ao Ministério da Justiça de uma acusada de lavagem de
dinheiro para o tráfico, Dino foi indicado por Lula à vaga no STF de Rosa Weber
e aprovado pelo Senado, tornando-se novo ministro da corte.
• Alexandre
de Moraes, ministro do STF - estável
O magistrado mantém protagonismo na corte com a
relatoria e os julgamentos dos casos dos ataques golpistas de 8 de janeiro, mas
tem sido alvo de críticas com a condução dos processos; também se desgastou com
a morte do réu Cleriston Pereira da Cunha no Complexo da Papuda, em Brasília,
mesmo após a PGR (Procuradoria-Geral da República) pedir sua liberdade sob
restrições. Mesmo assim, ainda conseguiu influenciar a escolha de Paulo Gonet,
novo chefe do Ministério Público, por Lula.
• Luís
Roberto Barroso, presidente do STF - estável
Empossado presidente do STF após ter dito que
"derrotamos o bolsonarismo", Barroso administra a corte durante o
julgamento dos casos dos ataques golpistas de 8 de janeiro sob série de
críticas e lida com o embate envolvendo o Congresso, que tenta aprovar medidas
restringindo a atuação do tribunal. Apesar disso, manteve parada a análise da
corte sobre o aborto, em um aceno ao conservadorismo.
Cristiano Zanin, ministro do STF - saiu ganhando
Advogado de Lula na Operação Lava Jato e amigo do
presidente, Cristiano Zanin deixou a advocacia e tornou-se ministro do STF após
a aposentadoria de Ricardo Lewandowski; conseguiu agradar também aos senadores
conservadores e foi aprovado para a corte com folga --foram 58 votos a favor, e
18 contra.
• Deltan
Dallagnol (Novo), ex-deputado federal - saiu perdendo
Deputado federal mais votado do Paraná em 2022, o
ex-procurador da República perdeu seu mandato em junho deste ano após decisão
unânime do TSE com base na Lei da Ficha Limpa; a corte eleitoral entendeu que
Deltan havia pedido demissão antecipadamente para burlar a inelegibilidade
prevista na lei a membros do Ministério Público, que não poderiam concorrer se
tivessem processos administrativos em aberto.
• Gleisi
Hoffmann, deputada federal e presidente do PT - estável
Gleisi manteve papel de influência no governo Lula,
mas não foi ouvida em todos os momentos pelo presidente: o principal caso é a
indicação de Gonet para a PGR --ele havia defendido a abertura de ação penal
contra ela e seu ex-marido, Paulo Bernardo.
Sergio Moro (União Brasil-PR), senador - saiu
perdendo
Moro é réu em uma ação de investigação eleitoral
sob suspeita de abuso de poder econômico na pré-campanha das eleições passadas
e tem recorrido a integrantes do Judiciário na tentativa de impedir a cassação
de seu mandato; o ex-juiz está isolado politicamente e não obtém apoio para
emplacar iniciativas ou para manter a projeção nacional.
• Gilberto
Kassab, presidente do PSD - saiu ganhando
O secretário de Governo de Tarcísio, homem forte do
governo estadual e articulador político, viu seu partido multiplicar por sete o
número de prefeitos no estado de São Paulo desde dezembro de 2022 --de 46 para
329; além disso, manteve forte influência na tomada de decisões do governador,
controlando ainda repasse de emendas e convênios estaduais. No plano nacional,
mantém proximidade com o governo Lula.
Fonte: FolhaPress