domingo, 31 de dezembro de 2023

Bolsonaro inelegível e Lula pressionado: quem ganhou e quem perdeu na política em 2023

O ano de 2023, o primeiro do terceiro mandato de Lula (PT) na Presidência, foi marcado na política pelos ataques golpistas de 8 de janeiro, a inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) e os atritos entre o Congresso Nacional e o STF (Supremo Tribunal Federal).

Foram fatos que alteraram o jogo de poder em Brasília, fortalecendo e enfraquecendo alguns dos principais personagens. Lula tentou se equilibrar diante da pressão vinda de diferentes frentes, como o centrão, liderado por Arthur Lira (PP-AL), o mercado e integrantes de seu próprio partido.

Em seu ministério, Marina Silva (Rede), por exemplo, ficou enfraquecida, enquanto Fernando Haddad (PT) terminou o ano com saldo positivo.

<<<< Veja quem saiu ganhando, quem saiu perdendo e quem se manteve estável na política em 2023:

•        Lula (PT), presidente - estável

Vencedor por uma pequena margem nas eleições passadas, o petista teve um ano arrastado na Presidência, mais refém do Congresso e do centrão; mesmo com dificuldade, conseguiu aprovar projetos de interesse, como a reforma tributária; nas pesquisas Datafolha de avaliação suas taxas de ótimo/bom oscilaram de 37% a 38%, cristalizando a polarização verificada no pleito de 2022.

•        Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente - estável

Alckmin manteve algum protagonismo na política ao assumir o Palácio do Planalto com as diversas viagens de Lula, visando melhorar a imagem do Brasil no cenário internacional; ao mesmo tempo, como ministro do Desenvolvimento, emplacou políticas como a volta do carro popular.

•        Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente - saiu perdendo

Mais um ano ruim para o ex-presidente, que agora está inelegível após julgamentos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pela reunião com embaixadores e pelas festividades do 7 de Setembro em 2022; fora da política institucional, tem dificuldades para se manter em evidência, e está envolto em uma série de investigações, que podem levá-lo a condenações civis e criminais, como no 8/1 e no caso das joias sauditas.

•        Michelle Bolsonaro (PL), ex-primeira-dama - estável

Ex-primeira-dama ganhou maior visibilidade política ao ser considerada um nome do bolsonarismo para 2026, tanto para o Planalto quanto para o Senado; entretanto, vem sendo investigada em casos de corrupção, assim como o marido, como na venda das joias.

•        Fernando Haddad (PT), ministro da Fazenda - saiu ganhando

Haddad conseguiu a aprovação da reforma tributária, uma pauta de mais de 30 anos, e levou adiante medidas importantes para o governo federal, como a taxação de offshores e o arcabouço fiscal; sofre para manter viva a meta de déficit fiscal zero, atacada até por Lula, e passou por fritura dentro do PT.

•        Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados - saiu ganhando

O presidente da Câmara saiu fortalecido deste ano, após emplacar uma reforma ministerial no governo petista, além de tornar-se o principal articulador das pautas do centrão e das negociações para liberação de emendas parlamentares e de cargos em estatais e outros órgãos federais; teve ainda uma investigação envolvendo a compra de kits robótica, que o atingia, anulada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.

•        Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado - saiu ganhando

O presidente do Senado tem protagonizado um embate entre o Congresso e o STF e obteve a aprovação de uma PEC limitando as decisões monocráticas na corte. A proposta, porém, deve ficar travada na Câmara; apesar de ter boa relação com o governo, tem acenado aos bolsonaristas para emplacar um sucessor na chefia da Casa em 2025 e para viabilizar uma candidatura ao governo mineiro em 2026.

•        Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), senador - saiu ganhando

Após o revés sofrido ao ser impedido de candidatar-se novamente à presidência do Senado em 2021, o parlamentar é ventilado para voltar à chefia da Casa em 2025, além de ter emplacado neste ano três ministros no governo Lula e de ser um dos principais controladores das emendas parlamentares; à Folha de S.Paulo, em outubro, afirmou ser "menos poderoso do que pensam".

•        Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais - saiu perdendo

O mineiro tentou ganhar maior visibilidade nacional e se viabilizar como uma opção do bolsonarismo em 2026, mas fez uma série de declarações polêmicas, gafes e demonstrou falta de conhecimento até sobre o estado que governa; ainda ficou acuado nas negociações sobre a dívida que Minas tem com a União, onde Pacheco tomou a dianteira. Agora tenta ganhar espaço nas tratativas.

•        Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo - estável

O ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro passou o primeiro ano à frente do Palácio dos Bandeirantes recuando de medidas anunciadas durante o mandato e chegando até a recuar de recuos. Distanciou-se um momento de Bolsonaro por políticas públicas vistas como progressistas e pela articulação com o governo federal. Entre suas vitórias, está a aprovação da privatização da Sabesp, em dezembro.

•        Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul - saiu perdendo

Apesar dos esforços para reerguer o PSDB, o governador gaúcho teve um ano de dificuldades com os desastres climáticos no estado e decidiu deixar a presidência da sigla; além disso, passou o ano com baixa visibilidade nacional e sem se firmar como liderança de oposição a Lula, o que o atrapalha nos planos de tentar a Presidência em 2026.

•        Raquel Lyra (PSDB), governadora de Pernambuco - saiu perdendo

A pernambucana teve um ano difícil na relação com o Legislativo estadual, com reclamações sobre o espaço no governo e na articulação política. Sofreu derrotas com a reeleição do presidente da Casa, além da derrubada dos vetos ao Orçamento de 2024; ainda enfrenta crises na saúde e na segurança pública, herdadas de Paulo Câmara (PSB). Apesar das derrotas locais, porém, se aproximou do governo Lula, ampliou sua articulação nacional e é cobiçada por outros partidos.

•        Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente - saiu perdendo

A ministra do Meio Ambiente, prestigiada por Lula, se viu com menos poderes após o centrão alterar a MP (medida provisória) da Esplanada e transferir algumas das suas funções para outras pastas, restaurando estruturas do governo Bolsonaro; já Lula, ameaçado por uma histórica derrota, não reagiu e manteve as alterações. Ainda foi contrariada no caso da exploração de petróleo na Foz do Amazonas.

•        Aécio Neves (PSDB-MG), deputado federal - saiu ganhando

O candidato à Presidência em 2014 saiu fortalecido no PSDB e projeta voos mais altos na política mineira para os próximos anos. Foi absolvido no caso de corrupção com a JBS, revelado após os áudios de Joesley Batista, e foi reabilitado internamente entre os tucanos; teve grande influência na chapa para a diretoria nacional da legenda e pensa em candidatar-se ao governo mineiro em 2026.

•        Flávio Dino (PSB), futuro ministro do STF e ministro da Justiça - saiu ganhando

Apesar de um ano coberto por embates com a oposição no Congresso, as crises de segurança pública no Rio de Janeiro e na Bahia, e o desgaste com a visita ao Ministério da Justiça de uma acusada de lavagem de dinheiro para o tráfico, Dino foi indicado por Lula à vaga no STF de Rosa Weber e aprovado pelo Senado, tornando-se novo ministro da corte.

•        Alexandre de Moraes, ministro do STF - estável

O magistrado mantém protagonismo na corte com a relatoria e os julgamentos dos casos dos ataques golpistas de 8 de janeiro, mas tem sido alvo de críticas com a condução dos processos; também se desgastou com a morte do réu Cleriston Pereira da Cunha no Complexo da Papuda, em Brasília, mesmo após a PGR (Procuradoria-Geral da República) pedir sua liberdade sob restrições. Mesmo assim, ainda conseguiu influenciar a escolha de Paulo Gonet, novo chefe do Ministério Público, por Lula.

•        Luís Roberto Barroso, presidente do STF - estável

Empossado presidente do STF após ter dito que "derrotamos o bolsonarismo", Barroso administra a corte durante o julgamento dos casos dos ataques golpistas de 8 de janeiro sob série de críticas e lida com o embate envolvendo o Congresso, que tenta aprovar medidas restringindo a atuação do tribunal. Apesar disso, manteve parada a análise da corte sobre o aborto, em um aceno ao conservadorismo.

Cristiano Zanin, ministro do STF - saiu ganhando

Advogado de Lula na Operação Lava Jato e amigo do presidente, Cristiano Zanin deixou a advocacia e tornou-se ministro do STF após a aposentadoria de Ricardo Lewandowski; conseguiu agradar também aos senadores conservadores e foi aprovado para a corte com folga --foram 58 votos a favor, e 18 contra.

•        Deltan Dallagnol (Novo), ex-deputado federal - saiu perdendo

Deputado federal mais votado do Paraná em 2022, o ex-procurador da República perdeu seu mandato em junho deste ano após decisão unânime do TSE com base na Lei da Ficha Limpa; a corte eleitoral entendeu que Deltan havia pedido demissão antecipadamente para burlar a inelegibilidade prevista na lei a membros do Ministério Público, que não poderiam concorrer se tivessem processos administrativos em aberto.

•        Gleisi Hoffmann, deputada federal e presidente do PT - estável

Gleisi manteve papel de influência no governo Lula, mas não foi ouvida em todos os momentos pelo presidente: o principal caso é a indicação de Gonet para a PGR --ele havia defendido a abertura de ação penal contra ela e seu ex-marido, Paulo Bernardo.

Sergio Moro (União Brasil-PR), senador - saiu perdendo

Moro é réu em uma ação de investigação eleitoral sob suspeita de abuso de poder econômico na pré-campanha das eleições passadas e tem recorrido a integrantes do Judiciário na tentativa de impedir a cassação de seu mandato; o ex-juiz está isolado politicamente e não obtém apoio para emplacar iniciativas ou para manter a projeção nacional.

•        Gilberto Kassab, presidente do PSD - saiu ganhando

O secretário de Governo de Tarcísio, homem forte do governo estadual e articulador político, viu seu partido multiplicar por sete o número de prefeitos no estado de São Paulo desde dezembro de 2022 --de 46 para 329; além disso, manteve forte influência na tomada de decisões do governador, controlando ainda repasse de emendas e convênios estaduais. No plano nacional, mantém proximidade com o governo Lula.

 

Fonte: FolhaPress

 

Semelhanças e diferenças entre o Lula de 2003 e o de agora em 2023

O presidente Lula (PT) completa os primeiros 12 meses de seu terceiro mandato com semelhanças e diferenças em relação a 2003, quando assumiu o comando do país pela primeira vez.

Vinte anos mais velho (hoje ele tem 78 anos) e diante de um cenário político conflagrado, o petista repetiu estratégias na relação com o Congresso e voltou a oscilar entre um discurso de pacificação nacional e de críticas a seu antecessor.

No campo econômico, manteve os sinais trocados de pregar investimento em áreas sociais como prioridade absoluta, mas, ao mesmo tempo, conceder vitórias à ala do governo que preza pelo aperto nas contas públicas como forma de estabilizar a economia.

Diferentemente de 2003, no entanto, desta vez o mandatário encontrou um inimigo para culpar por eventuais problemas na condução da economia. Agora, o Banco Central goza de autonomia e é chefiado por Roberto Campos Neto, indicado por seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em diversas ocasiões, fez duros ataques ao presidente do BC por não reduzir a taxa de juros logo no início de seu mandato à frente do país.

Vinte anos atrás, porém, Lula tinha liberdade para demitir o chefe da autoridade monetária, mas não o fez mesmo ele tendo aumentado a taxa de juros em várias oportunidades como forma de segurar a inflação -- mesmo argumento usado por Campos Neto em suas decisões que, agora, contrariam o mandatário.

Pessoas próximas que convivem com o petista há muitos anos também apontam uma mudança na forma de Lula governar.

O chefe do Executivo sempre centralizou as principais decisões, mas, em 2003, tinha um núcleo duro formado por ministros que foram decisivos em sua trajetória política e também na vitória eleitoral de 2002.

Os auxiliares tinham mais proximidade e mais liberdade com o presidente e não havia melindres para apresentar divergências.

Os ministros da Casa Civil, José Dirceu, da Fazenda, Antonio Palocci, da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken, e o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, tinham intimidade com Lula e eram ouvidos nas principais tomadas de decisão.

Eles foram contemporâneos de Lula em praticamente toda sua vida política, enquanto os auxiliares mais próximos atualmente têm grande diferença de idade para o presidente e se aproximaram mais recentemente do petista.

A relação do presidente com os outros Poderes também mudou. Em 2003, Lula escolheu três nomes para o STF (Supremo Tribunal Federal) que não frequentavam seu círculo mais íntimo.

O presidente indicou para a corte, de uma só vez, o então desembargador Cezar Peluso, Joaquim Barbosa, que era subprocurador da República, e o advogado Carlos Ayres Britto.

Dos três, apenas Ayres Britto tinha uma relação pessoal com Lula, mas nada comparado à proximidade do presidente com seu advogado criminal, Cristiano Zanin, e com seu ministro da Justiça, Flávio Dino, os dois escolhidos para o Supremo neste ano.

A estratégia também mudou em relação à PGR (Procuradoria-Geral da República). Quando assumiu o poder pela primeira vez, Lula escolheu para o cargo Claudio Fontelles, o mais votado na lista tríplice formada pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República).

Desta vez, no entanto, ignorou a eleição interna da categoria e indicou Paulo Gonet. Ele era apoiado pelos ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. O presidente preferiu agradar os dois magistrados do STF em vez de fazer uma sinalização à entidade que representa os integrantes da PGR.

Também pesou na escolha o fato de o presidente ter sofrido duras acusações do Ministério Público Federal após ter deixado o Poder, em 2010, no âmbito da Lava Jato.

A ampliação de espaço para partidos do centrão no governo a fim de criar uma base mais sólida no Congresso também se repetiu de maneira similar neste ano.

A diferença, porém, é que o beneficiado em 2003 foi o MDB --que no terceiro mandato de Lula já começou o governo com três integrantes no primeiro escalão.

Na época, o então deputado Eunício Oliveira (MDB-CE) assumiu o Ministério das Comunicações e o então senador Amir Lando (MDB-RO) passou a comandar o Ministério da Previdência.

Agora, o fortalecimento das siglas do centrão na Esplanada se deu por meio da indicação de André Fufuca (PP-MA) para o Ministério dos Esportes e de Sílvio Costa Filho (Republicanos-PE) para a pasta de Portos e Aeroportos.

No primeiro mandato, o presidente também começou a desenhar durante o primeiro ano e concretizou no começo de 2004 mudanças no primeiro escalão devido ao desempenho de cada pasta, o que pode voltar a ocorrer no início de 2024.

Na época, ele deslocou o então chefe da Secretaria Especial do Conselho Econômico de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, que tinha status de ministro, para o Ministério da Educação, e nomeou Patrus Ananias para a pasta da Assistência Social para o lugar de José Graziano.

Em sua primeira experiência à frente do Executivo, o presidente também enfrentou maiores problemas dentro de seu próprio partido.

A atuação mais conservadora na economia irritava integrantes do PT e o partido chegou a expulsar quatro deputados, em dezembro de 2003, que tinham descumprido orientações do partido em votações e criticavam a Reforma da Previdência proposta pelo governo.

Desta vez, diversos petistas também atacam medidas econômicas de Lula, mas não com a mesma ênfase.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), por exemplo, criticou publicamente a possibilidade de o governo não prorrogar a isenção de impostos sobre combustíveis e também a proposta de zerar o déficit do governo em 2024.

No entanto, Lula acabou por assinar as duas medidas.

 

       Governo diz ter empenhado mais de R$ 34 bilhões em emendas este ano, o dobro do ano passado

 

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, afirmou nesta sexta-feira, 29, que o valor empenhado em emendas parlamentares este ano foi mais que o dobro em relação ao último ano do governo passado. Segundo ele, foram destinados R$ 34,681 bilhões para emendas, um aumento de 106,1% quando comparado com os R$ 16,824 bilhões de 2022.

Entende-se por empenho o dinheiro reservado para quitar serviços concluídos ou compras entregues. O ministro disse que a destinação do dinheiro leva em conta o conhecimento dos parlamentares para as diferentes realidades locais.

Além do aumento do montante total, Padilha salientou que todas as quantias separadas para as demandas segmentadas do parlamento tiveram elevação. De acordo com ele, para as demandas individuais dos parlamentares, o aumento foi de 93% a mais do que em 2022, chegando a R$ 20,6 bilhões. Já para as bancadas, o crescimento foi de 27,2%, no total de R$ 7,3 bilhões; Nas emendas de comissões, a elevação foi de 2.050%, que saiu de R$ 308 milhões para R$ 6,6 bilhões.

Em sua fala, o ministro tratou ainda do aumento da quantia que é voltada aos municípios indicados pelos parlamentares, as chamadas transferências especiais. Este ano, de acordo com o Ministério, será pago todo o montante inicial de R$ 7,09 bilhões, além de R$ 1,7 bilhão do governo anterior.

Padilha afirmou que foi criada a “Caravana Federativa”, que irá levar representantes de vários ministérios para se encontrar com prefeituras e governos estaduais a fim de esclarecer sobre como funciona, pela via da legalidade, a liberação e aplicação dos recursos.

Aumento das emendas não impediu repetidos reveses

As emendas parlamentares são conhecidas como moeda de troca para a aprovação de projetos do governo no Congresso Nacional. Mesmo com o aumento do valor deste recurso, o Executivo não foi capaz de impedir derrotas nas duas Casas.

O primeiro grande revés sofrido pelo governo no Congresso Nacional ocorreu no dia 3 de maio. Quando 295 deputados derrubaram trechos de dois decretos editados pelo presidente com regras vistas por parlamentares e pelo mercado como afronta ao Marco Legal do Saneamento, em vigor desde 2020, por dar sobrevida à operação de estatais. O governo teve o apoio de apenas 136 parlamentares dos 513 que compõem Câmara na análise da matéria.

Um dia antes, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), adiou a votação do PL das Fake News cuja redação, alterada pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), era de interesse do governo. O texto foi fatiado para facilitar a tramitação, mas a votação foi mais uma vez adiada e o PL continua emperrado na pauta da Câmara ate hoje.

Outra derrota marcante foi a aprovação da tese do marco temporal das terras indígenas pelo Congresso, e depois a derrubada dos vetos impostos pelo presidente da República. Quando tramitou na Câmara dos Deputados, a proposta foi aprovada por 283 votos a 155, com o apoio de 98 parlamentares que compõem a base do governo.

 

Fonte: Agencia Estado

 

'A luta pelo poder global continua': o futuro da política internacional em 2024

2024 marcará a continuação da luta pelo poder global. De um lado, o Ocidente manterá esforços para fortalecer instituições como a OTAN e o papel do G7 no planejamento econômico internacional, enquanto iniciativas políticas como o BRICS e o G20 prometem brigar por maior representatividade para as potências emergentes dentro do sistema.

Comecemos então pelo Ocidente. Capitaneado pelos Estados Unidos, a expectativa é de que a OTAN em 2024 aumente sua cooperação com países do Indo-Pacífico, impulsionando a dinâmica de 'globalização' da Aliança Atlântica, em oposição à Rússia e China no continente asiático.

Diante desse quadro, Washington deverá empreender esforços para cooptar também a Índia no âmbito do QUAD (Diálogo Quadrilateral de Segurança) no sentido de se opor à crescente influência chinesa no plano regional.

A Índia de Narendra Modi, no entanto, como uma das grandes potências do sistema internacional, vem apresentando um relativo grau de autonomia estratégica, mantendo ao mesmo tempo relações amistosas com a Rússia de Putin, apesar do desagrado de Washington.

Os Estados Unidos, não obstante, em 2024 lutarão para manter seu predomínio internacional justamente por meio de iniciativas minilaterais (como o QUAD) e multilaterais (como o G7) de forma a atingir seus objetivos estratégicos no mundo.

Entre outras coisas, tal política empreendida pela Casa Branca promete aumentar a instabilidade regional nos diversos continentes, antagonizando países como a China (na Ásia), a Rússia (na Europa), a Venezuela (na América do Sul) e o Irã (no Oriente Médio).

Na Ásia, os Estados Unidos utilizarão suas bases militares em países como o Japão, Coreia do Sul e Tailândia para monitorar as atividades de Pequim no mar do Sul da China. No Leste Europeu, deverão prosseguir os pacotes de apoio militar e financeiro à Ucrânia para o financiamento do esforço de guerra do Ocidente contra a Rússia até o 'ultimo ucraniano'.

No Oriente Médio, com a invasão das tropas israelenses à Faixa de Gaza, os americanos continuarão apoiando Israel em suas operações, ainda que elas venham a aumentar a tensão e instabilidade no Oriente Médio.

Com uma agenda definida para supostamente combater o Hamas em Gaza, o aumento no número de mortes palestinas na região tende a piorar a situação reputacional de Israel perante o Sul Global, comprometendo ao mesmo tempo a retórica americana e ocidental de defesa da democracia e dos direitos humanos.

Na sequência dos desenvolvimentos acima mencionados, grupos como o BRICS, a Organização para a Cooperação Islâmica e os Estados árabes pressionarão por uma resolução pacífica do conflito, apoiada na diplomacia e no respeito ao Direito Internacional e no respeito à integridade da população palestina em Gaza.

No mais, independentemente de Biden vencer ou não as próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos, Washington continuará a usar a dependência de diversos Estados-chave ao redor do globo de seu guarda-chuva nuclear e militar para chantagear seus aliados políticos, seja na Europa ou na Ásia.

Ainda em se tratando de eleições, a expectativa é de que Vladimir Putin obtenha nova vitória no pleito eleitoral a ser realizado na Rússia em março de 2024, confirmando sua permanência no comando do país até 2030.

Enquanto isso, a cooperação militar, econômica e geoestratégica da Rússia com a China promete se fortalecer ainda mais em 2024, sobretudo em vista da dura política de sanções do Ocidente contra Moscou em decorrência da operação militar especial. Em vista justamente dessa parceria sino-russa, por sua vez, o Ocidente empreenderá esforços no âmbito da OTAN e do G7 para minar a cooperação entre os dois países, no intuito de manter sua supremacia internacional.

Para tal, a expectativa é de que tanto Washington como os países europeus continuam a fomentar sua guerra-proxy contra a Rússia na Ucrânia e, possivelmente, contra a própria China num futuro próximo, utilizando-se das tensões políticas em torno de Taiwan.

Em resumo, os americanos atuarão em 2024 na coerção de seus parceiros ocidentais, de modo a que eles priorizem não seus objetivos nacionais, mas sim os objetivos de política externa definidos e formulados em Washington.

No continente Euroasiático, ainda assim, a China permanece aumentando sua influência regional por meio de sua Nova Rota da Seda, prosseguindo em seus investimentos e no desenvolvimento de infraestruturas de transporte em diversos países do continente, desde a Ásia Central até a Europa.

No âmbito dos BRICS, com a esperada entrada de cinco novos países no grupo em 2024 (Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arábia Saudita e Irã), devem materializar-se uma série de iniciativas ousadas, envolvendo não somente uma defesa mais contundente da multipolaridade nas relações internacionais, como também o processo de desdolarização da economia mundial por meio de transações comerciais em moedas locais.

Considerando essas realidades, a presidência do Brasil no G20 em 2024 deverá promover um conjunto de ferramentas políticas, econômicas e financeiras que visem compensar o peso das políticas erráticas dos países ocidentais representados pelo G7, o que promete um maior envolvimento de potências emergentes no planejamento de ações que objetivem a um desenvolvimento global mais justo e inclusivo.

2024, em resumo, marcará um novo equilíbrio de poder na política internacional, em meio a um ambiente de confrontação cada vez mais evidente entre as duas superpotências do século XXI, Estados Unidos e China.

Nesse ínterim, a Europa será incapaz de se posicionar de forma autônoma, dada sua submissão aos desígnios de Washington no continente, que envolvem sacrificar as economias e o bem-estar dos europeus em prol de enfraquecer a Rússia.

Diante de tudo isso, a tendência é de que o Ocidente enfrente cada vez mais dificuldades para sustentar sua posição de primazia no sistema, especialmente por conta da oposição firme de países importantes como Rússia, China, Irã e demais países pertencentes tanto ao BRICS quanto ao G20.

Ao final, em 2024 o calendário muda, mas a luta pelo poder global continua mais viva do que nunca. Uma luta marcada por potências em declínio agarradas a um mundo que não existe mais e por potências em ascensão anunciando a chegada de um novo mundo que está por vir.

 

Ø  Reino Unido demonstra 'visão colonialista' após enviar navio de guerra a Essequibo, diz especialista

 

A Venezuela e a Guiana acordaram a manutenção de relações pacíficas em meio à disputa sobre a região de Essequibo, mas o envio de um navio de guerra britânico poderia complicar a situação.

Em 14 de dezembro, os presidentes da Venezuela e da Guiana concordaram em resolver pacificamente a disputa territorial sobre a região de Essequibo, um território de 159.000 km2, de acordo com o direito internacional, em uma reunião do mais alto nível em São Vicente e Granadinas.

Georgetown e Caracas concordaram em vários pontos, incluindo o fato de que "não ameaçarão nem usarão a força um contra o outro em nenhuma circunstância, incluindo aquelas decorrentes de qualquer disputa entre os dois Estados".

Eles também concordaram "que qualquer disputa entre os dois Estados será resolvida de acordo com o direito internacional, incluindo o Acordo de Genebra de 17 de fevereiro de 1966".

No entanto, as tensões estão novamente subindo depois que o Reino Unido anunciou o envio de um navio de patrulha para a costa de Essequibo. Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, considerou o passo "uma ameaça militar de Londres", e ordenou uma "ação defensiva" para a quinta-feira (28), com a ativação de manobras conjuntas das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas na costa do território em disputa.

"O que a presença do navio britânico demonstra é que o Reino Unido mantém uma visão colonialista, cujo interesse é proteger seus interesses econômicos resultantes do investimento em poços de petróleo na Guiana ou nas áreas de fronteira com a Venezuela", explicou Orlando Romero Harrington, um jornalista e analista venezuelano, em entrevista à Sputnik.

A presença britânica "viola todos os tratados e acordos que têm sido referidos pelos dois presidentes sul-americanos e demonstra que os interesses do Reino Unido não levam em conta as decisões regionais e locais dos dois países em conflito", apontou.

"Para o Reino Unido, as conversações, o diálogo e os processos diplomáticos que ocorrem entre os dois países não são sua prioridade", que é "defender seus interesses econômicos, violando precisamente esses acordos", acusou Harrington.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Ano Novo: os rituais mais curiosos para a virada na América Latina

Como a América Latina celebra a chegada do Ano Novo?

Em cada país há distintas formas de comemorar o Réveillon.

No imaginário popular, são rituais que servem para encerrar um ciclo e começar o outro de forma positiva.

Muitas dessas simpatias possuem semelhanças, com uma ou outra variação.

Alguns rituais são muito conhecidos, como as famosas 12 uvas, uma para cada batida do relógio, que precisam ser consumidas à meia-noite enquanto a pessoa faz um pedido.

Há também aqueles que guardam uma nota no bolso ou uma moeda no sapato para que não falte dinheiro no ano seguinte.

Existe também uma simpatia na qual a pessoa anda com uma mala por um quarteirão, ou até mesmo dentro de casa, para que não faltem viagens no ano seguinte. Há, inclusive, quem faça esse ritual com o passaporte nas mãos.

Conhecidos ou não, similares ou diferentes, todos esses rituais têm um ponto em comum: a busca por um novo ano com prosperidade. Há quem peça dinheiro, saúde, amor ou mesmo tudo isso junto. Mas há também quem faça essas simpatias por pura diversão.

Em meio aos diversos rituais adotados nos países da América Latina, nem todos são tão conhecidos. Abaixo, conheça alguns deles:

Jogar água pela janela

Em alguns países, é preciso tomar cuidado nesse período do ano para não ser atingido por um balde de água enquanto anda na rua.

No Uruguai é celebrado o "baldazo", no qual as pessoas jogam um balde cheio de água pela janela. Dizem que essa tradição afasta as tristezas do ano que termina e dá boas-vindas a um novo ano cheio de prosperidade.

Como é verão no Cone Sul, muitas pessoas não levam isso a sério e veem mais como uma brincadeira (ou algo ruim, dependendo se você é a pessoa que lança ou recebe a água).

Outras versões dessa simpatia economizam na quantidade de água: em vez do balde, jogam uma "bombita", um balão cheio d'água, ou um apenas um copo com o líquido.

Em Cuba é feito algo semelhante, chamado "el cubazo", que, como no Uruguai, consiste em jogar um balde de água pelas janelas ou sacadas. Isso tem dois objetivos: limpar as energias e divertir os vizinhos.

Uma variação da água é jogar papéis pelas janelas.

·        Jogar fora calendários velhos

No Uruguai, também é costume jogar fora calendários velhos, que estão rasgados ou queimados.

Isso pode ser por causa da tradição de desfazer de tudo o que é antigo para dar lugar a novos objetos.

Essa tradição de se livrar de tudo o que é velho não envolve necessariamente os calendários. Em alguns países, costumam limpar a casa completamente como um ato de purificação, seja aqueles sapatos que não usa mais ou algo que não precisa mais.

Em outros lugares, há quem varra a casa, certificando-se de que tirou todo o pó para fora da porta. Mas você tem que limpar o mais profundamente possível, para evitar que as energias do ano velho permaneçam na residência.

·        A queima de fim de ano e 'as viúvas'

Como a água, o fogo é um elemento que significa renovação ou purificação.

Em muitos países da América Latina, um boneco feito com materiais inflamáveis, como papel, serragem e roupas velhas, é queimado.

No Equador, a "queima do ano velho" é uma prática popular, com origens no período colonial, que consiste em queimar um boneco que costuma representar uma pessoa famosa, real ou fictícia — como um político ou o protagonista de um filme.

Essa tradição vem acompanhada pelas "viúvas": homens vestidos de mulheres com maquiagem exagerada e perucas que "choram" pelo "velho", enquanto caminham no trânsito pedindo doações que, posteriormente, serão usadas para uma festa.

Minutos antes da meia-noite, essas "viúvas" começam a leitura do testamento, preparado com muito humor e sátira, em meio a gritos de dor. As pessoas assistem enquanto fazem outros rituais, como o das 12 uvas ou o passeio com a mala.

Já no norte do Chile, é feita uma tradicional queima de bonecos, que são enormes figuras montadas para a data, que simbolizam as experiências ruins do ano que está acabando.

Essa prática de queima também se estende pela Nicarágua, Colômbia, Peru, México e algumas regiões da Venezuela e da Argentina.

Outra variação que é praticada em muitos países, muito mais simples, é escrever desejos para o ano novo (geralmente três) em um papel, ou anotar coisas ruins do ano que está passando, e queimar à meia-noite com as devidas precauções para evitar acidentes.

·        Lentilhas, mas não só para comer

Se você quer ter sorte, uma simpatia recomendada é comer lentilhas. Há quem acredite que esse alimento pode significar fortuna.

Para alguns, a lentilha não é apenas alimento nesse período e a colocam em locais onde costuma haver dinheiro, como os bolsos ou a carteira.

Há também quem receba o Ano Novo abraçando seus entes queridos com um punhado de lentilhas na mão, ou quem coloque esses grãos nos cantos da casa para que a sorte chegue ao local.

O costume não se limita a lentilhas, mas também a diversos tipos de grãos, como o arroz. O grão é colocado em um prato com uma vela, que é deixada acesa durante a noite do dia 31 e depois é enterrada.

Muitos acreditam que esse costume da lentilha veio da Itália e justificam que surgiu porque o grão lembra as moedas da Roma Antiga.

Nem todas as pessoas confiam apenas em um punhado de lentilhas ou arroz para chamar sorte e dinheiro.

No México, muitos costumam dar lembrancinhas de ovelhas como presente porque consideram que o animal traz coisas positivas.

Na Costa Rica, as pessoas carregam um ramo de Santa Lúcia, flor que acreditam que traga boa sorte. É colocado em carteiras ou malas para que não falte dinheiro.

·        Como estará o tempo?

Se você está no México ou na Colômbia, talvez saiba o que são as "cabañuelas".

Mas caso você não saiba, se trata de um método tradicional de previsão meteorológica, que começa a partir do ano novo. E muita gente acredita na veracidade disso e usa como referência para saber como será o clima no novo período.

Há quem observe que esse método não tem qualquer rigor científico. Mas isso não impede que muitos aproveitem esse ritual para ver como estará o clima nos próximos meses e até fazer planos com base nisso.

O método é o seguinte: os primeiros 12 dias de janeiro representam um mês de forma crescente (dia 1 é janeiro, dia 2 é fevereiro e assim por diante).

E de 13 a 24 de janeiro é ao contrário (13 de janeiro é dezembro, 14 de janeiro é novembro, e assim vai).

Depois, de 25 a 30 de janeiro, cada dia representa dois meses em ordem crescente dependendo do horário (de meia-noite de 25 de janeiro ao meio-dia representa janeiro, e de meio-dia até meia-noite seguinte representa fevereiro).

E, finalmente, o dia 31 de janeiro, onde cada trecho de duas horas representa um mês de forma decrescente (da meia-noite às 2h é dezembro, das 2h às 4h é novembro etc).

O tempo observado nesses dias servirá de base para as previsões dos meses seguintes.

Ekeko

No Peru e na Bolívia não pode faltar o ekeko, uma estatueta de poucos centímetros que representa um homem vestido de maneira típica do altiplano andino.

Embora o culto a esse personagem não se limite ao Ano Novo, as pessoas enxergam esse período como uma oportunidade ideal para a presença dessa divindade.

Dizem que ekeko está carregado com um grande número de fardos cheios de alimentos e necessidade. E se você cuidar bem, trará abundância e alegria. Mas cuidado, porque se for negligenciado ou abandonado, o ekeko pode reverter as coisas e causar infortúnios.

O cuidado deste amuleto no final do ano também coincide com o fato de que em janeiro é celebrada a Feira da Alasita, uma festa tradicional que tem o ekeko como figura central.

·        O ovo

Em alguns países da América Central é comum quebrar um ovo e colocá-lo em um copo d'água. Há quem o deixe pernoitar no dia 31 de dezembro no lado de fora, pela janela, ou mesmo o coloque embaixo da cama.

Dizem que a forma que o ovo vai assumir pode ser um indicativo de como será o ano novo.

·        Peças de roupa

Assim como para muitas pessoas no Brasil, em outros diversos países há quem acredite que a roupa que vestimos durante a virada do ano é um elemento importante.

Em países como a Venezuela, por exemplo, muitos têm o costume de "fazer a estreia" das últimas roupas adquiridas. A ideia é que a pessoa não pode chegar ao Ano Novo com roupas velhas.

A cor também é importante. Por exemplo, o amarelo é para atrair dinheiro (muitos insistem que essa tem que ser a cor da roupa íntima), vermelho para quem procura um relacionamento amoroso e branco para boas energias.

 

Fonte: BBC News Brasil