sábado, 28 de outubro de 2023

Sul Global versus o resto: como o conflito Israel-Palestina escancarou a impotência do Ocidente?

Com a eclosão do conflito Israel-Palestina, o Ocidente mais uma vez sofreu um choque com a reação dos países do Sul Global, ao não embarcarem em uma defesa incondicional das ações israelenses na Faixa de Gaza. A situação demonstrou mais uma vez – e de forma escancarada – a impotência do Ocidente em controlar a narrativa global.

Vale lembrar que, contrariando também as expectativas ocidentais, os países do Sul Global – em sua maioria – permaneceram neutros diante das ações da Rússia no âmbito de sua operação militar especial iniciada em 2022, evidenciando a incapacidade do Ocidente de arregimentar a opinião pública internacional.

Isso porque o Sul Global por repetidas vezes expôs a hipocrisia dos países ocidentais quando dizem defender os princípios do direito internacional, quando eles mesmos são os principais violadores desse direito.

Afinal, alguém poderia dizer quais foram os países europeus que aplicaram sanções aos Estados Unidos após a invasão do Iraque em 2003? Ou então, quais empresas europeias e americanas deixaram a França ou o Reino Unido após suas operações agressivas em países como Síria e Líbia após a Primavera Árabe? Ou qual dos países ocidentais demonstrou consternação com a aplicação de sanções econômicas unilaterais sem a aprovação do Conselho de Segurança da ONU?

Pois então, em vista de todas essas hipocrisias, acreditar nas boas intenções do Ocidente, que se diz guiado por "princípios e valores" seria tão ingênuo quanto acreditar na letra da canção "Imagine" de John Lennon. Mas voltando à crise no Oriente Médio, é notório que o principal patrono de Israel durante a atual crise trata-se justamente dos Estados Unidos, cujo apoio financeiro e político a Tel Aviv assegura ao governo de Benjamin Netanyahu uma poderosa retaguarda psicológica.

Tal retaguarda, por sua vez, foi reforçada por uma declaração conjunta emitida pelos próprios americanos, juntamente da França, Alemanha, Reino Unido e Itália, logo após o dia 7, em que demonstraram apoio irrestrito a Israel. Na ocasião, o Ocidente foi inequívoco em sua condenação às ações extremadas do Hamas, ao mesmo tempo em que deram carta branca às autoridades israelenses para que executassem o que, aos olhos do mundo, tem sido uma resposta altamente desproporcional e destrutiva do ponto de vista humanitário.

Enquanto isso, a Rússia, apoiada pelo Mundo Árabe, pela própria Palestina e pelo Sul Global, buscou no âmbito do Conselho de Segurança da ONU uma solução negociada para a crise no Oriente Médio, através de propostas de resolução pedindo a imediata implementação de um cessar-fogo humanitário entre Israel e as forças atuantes na Palestina.

Contudo, desde o dia 16 essas propostas foram vetadas por potências ocidentais como Japão, França, Reino Unido e sobretudo pelos Estados Unidos, o que tem causado o prolongamento do conflito e do derramamento de sangue na Faixa de Gaza. Também com relação ao conflito na Ucrânia, o Ocidente tem inviabilizado um fim das hostilidades pela via diplomática.

Pelo contrário, as elites políticas em Bruxelas e em Washington têm apostado suas fichas em uma ilusória possibilidade das forças ucranianas vencerem a Rússia no campo de batalha, o que já se mostrou inviável, dado o fracasso da contraofensiva de Kiev iniciada em junho desse ano. Aqui também o Sul Global se separou em definitivo do Ocidente, ao pedir por uma solução de paz no Leste Europeu, o que não parece estar nos planos de lobbies poderosos como o do complexo militar industrial americano.

Seja como for, após as tentativas frustradas no âmbito do Conselho de Segurança em se chegar a uma solução pacífica para o atual conflito Israel-Palestina, o mundo passou a testemunhar uma sequência de tragédias na região, como foi o caso do ataque ao Hospital al-Ahli (na Faixa de Gaza) do dia 17, vitimando centenas de civis e inocentes.

Desde então, Israel tem tentado atribuir a culpa pelo ataque ao grupo Hamas, entretanto essas afirmações gozam de pouca credibilidade perante o Sul Global, e sobretudo no Mundo Árabe por conta da flagrante disparidade no número de mortes entre civis israelenses e palestinos após o início da resposta do governo de Tel Aviv aos ataques do dia 7.

Não sem razão, protestos eclodiram no Mundo Árabe (a exemplo de países como Jordânia, Líbano, Tunísia, Líbia e Iêmen), no Sul Global e em diversas partes da Europa em favor da Palestina e desfavoráveis às ações desproporcionais tomadas por Israel no âmbito do conflito.

Por certo, se a crise na Ucrânia já havia exposto divisões bastante claras na comunidade internacional, a mais recente crise no Oriente Médio culminou por consolidá-las. Hoje, podemos dizer que o mundo se encontra verdadeiramente dividido entre o Sul Global e o resto.

Potências emergentes na Ásia, África e América Latina não mais compartilham das narrativas ocidentais a respeito dos principais problemas internacionais vigentes e não mais estão dispostas a seguir a cartilha europeia e norte-americana sobre como devem se conduzir perante esse ou aquele acontecimento específico.

Não estamos vivendo mais na década de 1990. Mesmo na Europa, a simpatia da sociedade aos apelos de diversas lideranças políticas locais em favor de Israel tem se mostrado cambaleante, como pode ser visto pelos protestos populares em apoio à causa palestina.

Focado em defender seus interesses geopolíticos a quaisquer custas, o Ocidente jogou por terra sua credibilidade e agora é incapaz de conduzir a opinião pública global, ainda que detenha o controle das principais redes sociais e dos principais conglomerados de mídia.

A razão desse fracasso se deve ao senso de superioridade do Ocidente e à frequente imposição pela força de suas agendas ao restante do mundo, fórmula essa que esgotou sua eficácia há muito tempo. Hoje, a situação é outra. Hoje, é preciso lidar com uma multiplicidade de novos atores emergentes, oriundos das mais diversas partes do globo, e levar em consideração suas opiniões sobre os principais problemas internacionais da atualidade.

Em outras palavras, como o conflito Israel-Palestina terminou por demonstrar, o século XXI será marcado não mais pelo famigerado West versus Rest (Ocidente versus o resto), mas sim pelo Sul Global versus o resto.

 

Ø  EUA usam conflito em Israel para se expandir militarmente rumo ao mar Negro, alerta analista

 

EUA expandem sua presença militar no Mediterrâneo Oriental, sob pretexto de evitar escalada regional do conflito entre Israel e Palestina. Para analista ouvido pela Sputnik Brasil, movimento de Washington também visa patrulhar o mar Negro, região sobre domínio das Marinhas de Rússia e Turquia.

Nas últimas semanas, os EUA têm mobilizado suas forças navais e reativado bases aéreas na região do Mediterrâneo Oriental.

O porta-aviões USS Gerald R. Ford foi estacionado na região com outros navios de guerra dos EUA, em movimento justificado por Washington como de contenção ao Irã. De acordo com a narrativa oficial do Pentágono, os Estados Unidos aumentam sua presença militar no Mediterrâneo Oriental para impedir que forças aliadas do Irã, como o Hezbollah, interfiram no conflito entre Israel e Palestina.

Apesar do alarme, o pesquisador em Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jonuel Gonçalves, lembra que a presença naval dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no Mediterrâneo sempre foi significativa.

"Embora a OTAN seja, em tese, voltada para o Atlântico Norte, suas capacidades no Mediterrâneo são tão ou mais relevantes", declarou Gonçalves à Sputnik Brasil. "O que vemos agora é uma força de pressão dos EUA em direção ao Mediterrâneo Oriental."

O pesquisador ainda nota a presença regional significativa da Marinha da França, seguida pela atuação do Reino Unido.

"Todas as partes estão tomando precauções, afinal a situação no Oriente Médio está delicada em função do conflito. Agora ficou claro que forças que se consideravam infalíveis, como a de Israel, também podem sofrer revezes", notou Gonçalves.

·         Risco para o mar Negro

Para o analista político turco Umit Nazmi Hazir, a expansão da presença dos Estados Unidos no Mediterrâneo Oriental não está somente vinculada ao conflito entre Israel e Palestina.

"A primeira razão é, sim, a tensão crescente [...] devido ao conflito em curso entre Israel e o Hamas. Os EUA, que se têm concentrado na Ucrânia, estão agora aumentando a sua atenção para o Oriente Médio", disse Hazir à Sputnik Brasil.

No entanto, a segunda motivação para as movimentações militares dos Estados Unidos seria se aproximar do mar Negro, região que conta com ampla presença das Marinhas de Rússia e Turquia.

"A situação no mar Negro é frágil devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia", apontou Hazir. "Ao expandirem sua presença para bases na Grécia, os EUA também podem monitorar a situação no mar Negro."

Atento às intenções dos EUA na região, o presidente russo Vladimir Putin anunciou que o mar Negro passará a ser patrulhado por caças MiG-31, armados com mísseis hipersônicos Kinzhal.

"Isto não é uma ameaça. Com base nas minhas instruções, a Força Aeroespacial russa começará patrulhas permanentes na zona neutra do espaço aéreo sobre o mar Negro, e as aeronaves MiG-31 serão armadas com sistemas Kinzhal", declarou o presidente da Rússia.

·         Risco para Turquia

As forças russas não são as únicas preocupadas com o aumento da atividade militar norte-americana no Mediterrâneo Oriental. A Turquia também tem mostrado apreensão devido à expansão do uso do território da Grécia, sua rival regional, pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.

Nesta segunda-feira (24), os EUA começaram a utilizar a base aérea de Elefsina, perto da capital grega Atenas, para realizar operações voltadas ao Oriente Médio. Outras bases do país, como a da ilha de Cárpato, também poderão ser engajadas pelos norte-americanos, reportou a mídia local.

Além disso, o orçamento de defesa dos EUA para 2024, recentemente aprovado no Congresso, prevê a expansão da presença militar de Washington na Grécia, em particular em suas ilhas no mar Egeu.

De acordo com o analista político turco Umit Nazmi Hazir, a rivalidade entre Grécia e Turquia no Mediterrâneo Oriental pode se agravar devido a uma maior presença militar de Washington.

"Anteriormente, os EUA adotavam uma política de equilíbrio entre a Grécia e a Turquia [...] para impedir que um país tivesse supremacia em relação ao outro no Mediterrâneo Oriental", disse Hazir. "Contudo, nos últimos anos, os Estados Unidos alteraram esta política de equilíbrio a favor da Grécia."

Segundo ele, os EUA passaram a considerar a Grécia uma aliada mais leal, após divergências com a Turquia, que adota uma política externa independente.

"Isso fica claro no caso da Ucrânia, por exemplo, no qual a Turquia tenta manter boas relações tanto com Moscou, quanto com Kiev, enquanto a Grécia providencia apoio incondicional à Ucrânia", notou Hazir.

A Turquia já protestou contra o aumento da presença militar dos EUA no mar Egeu, região na qual existem territórios contestados entre as partes.

"Na minha opinião, o conflito em Israel é uma das razões, mas não a única, pela qual os EUA aumentam a sua presença militar no Mediterrâneo Oriental", concluiu o especialista turco.

 

Ø  China promete 'laços mais estreitos com Irã' em 1ª reunião bilateral após conflito Israel-Palestina

 

As interações Pequim-Teerã atraíram a atenção internacional em meio a especulações sobre se a China — que no início deste ano mediou a reaproximação entre Irã e Arábia Saudita — poderá ser capaz de ajudar a evitar as repercussões desta última grande escalada no conflito israelo-palestino.

Na quinta-feira (26), o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, se encontrou com o vice-presidente iraniano, Mohammad Mokhber, à margem das reuniões da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e discutiram diversos assuntos, neste que foi o primeiro encontro entre duas autoridades de ambos os países após o conflito em Israel estourar.

Li e Mokhber abordaram o conflito em Gaza em suas negociações, e o premiê chinês expressou o interesse de Pequim em "mais coordenação com Teerã", ao mesmo tempo em que apelou aos países islâmicos para "trabalharem juntos para diminuir as tensões", de acordo com o South China Morning Post.

"As tragédias em Gaza aumentaram a instabilidade no Oriente Médio, entretanto, a posição de Pequim é bastante clara. Quer um cessar-fogo rápido e a proteção dos civis de todos os lados e não propagação da tensão", disse Li.

O primeiro-ministro chinês prometeu o apoio contínuo da China para o Irã com objetivo de assegurar sua soberania nacional, dizendo que se oporia "fortemente a qualquer força externa que interfira nos assuntos internos de Teerã".

O chanceler chinês, Wang Yi, condenou a "punição coletiva" dos civis de Gaza e manteve diálogos sobre o assunto com vários homólogos internacionais nas últimas semanas, incluindo os do Irã, Brasil, Estados Unidos e Arábia Saudita.

Ainda sobre o encontro de Li e Mokhber, que aconteceu na capital do Quirguistão, Bishkek, o premiê chinês disse à autoridade iraniana que a China estava pronta para praticar "o verdadeiro multilateralismo e assegurar os interesses comuns dos países em desenvolvimento", ao prometer maior comunicação com o Irã no âmbito de mecanismos multilaterais como as Nações Unidas, a OCX e os BRICS.

"A China está pronta para trabalhar com o Irã para implementar os importantes consensos alcançados pelos dois chefes de Estado, enriquecer a conotação da parceria estratégica abrangente China-Irã e trazer mais benefícios para os dois povos", complementou Li.

 

Ø  Coreia do Sul e EUA preparam-se para possível ataque norte-coreano 'no estilo Hamas', diz mídia

 

A Coreia do Sul e os EUA estão realizando exercícios de contra-ataque em larga escala com artilharia pesada, incluindo na região de fronteira com a República Popular Democrática da Coreia, relata a revista Time.

Esta semana, os exércitos sul-coreano e americano realizaram exercícios conjuntos de fogo real para aprimorar suas habilidades no combate às ameaças do vizinho "perigoso", a Coreia do Norte.

O exercício de três dias envolveu 5.400 soldados sul-coreanos e americanos, 300 sistemas de artilharia, 1.000 veículos e aviação.

Por sua vez, o portal Yonhap informa que estiveram envolvidos também veículos aéreos não tripulados, radares de guerra contrabateria, um lançador múltiplo de foguetes, caças F-15K sul-coreanos e caças A-10 dos EUA.

Esses exercícios ocorrem depois que o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro aumentou o nervosismo entre os militares na Coreia do Sul.

Assim, os especialistas consideram que a artilharia de longo alcance da Coreia do Norte, localizada perto da fronteira e capaz de disparar cerca de 16.000 tiros por hora, representa uma ameaça significativa para Seul.

Enfatiza-se que durante manobras, foram praticados ataques destinados a "neutralizar as origens das provocações de artilharia de longo alcance do inimigo em uma data precoce".

O treinamento atual faz parte do exercício Hoguk, que começou em 16 de outubro e continuará até 22 de novembro.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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