quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Síndrome do ‘sangue grosso’: conheça a doença que fez jovem ter braço amputado

Uma estudante de medicina de Belo Horizonte (MG) foi hospitalizada pelo que acreditava se tratar de uma crise de asma, contudo, ela acabou passando por um coma e acordou 36 dias depois com um braço amputado, além de passar por uma traqueostomia [Procedimento cirúrgico em que é realizada uma abertura na traqueia para assegurar o processo de respiração]. A causa de toda essa situação foi a enfermidade que também é conhecida como síndrome do “sangue grosso”, pelo fato de afetar a coagulação.

A estudante descobriu que possuía a SAF (Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo) após ser hospitalizada com falta de ar.

>>> Entenda o caso:

  • Bárbara Maia sentiu uma falta de ar e foi ao hospital, onde recebeu medicação; No dia seguinte teve que retornar ao local pela mesma razão;
  • A jovem foi internada e teve que ser transferida a outro hospital devido ao seu convênio;
  • Ela passou por dois AVCs, uma falência renal, uma hemorragia de intestino e uma traqueostomia, além de ter que passar por fisioterapia para recuperar os movimentos do corpo;
  • Foi só depois de todas essas dificuldades que o diagnóstico foi dado e foi confirmada a Síndrome do “Sangue Grosso”;
  • A estudante fez uma campanha para juntar fundos com o objetivo de comprar uma mão biônica que a possibilite ser uma médica oncologista no futuro.

De acordo com o vídeo postado por Bárbara nas redes sociais, no dia 7 de maio ela sentiu falta de ar e foi ao pronto-socorro, local em que foi medicada e melhorou momentaneamente. “No dia seguinte, na parte da tarde, tive o mesmo problema e o broncodilatador que eu utilizava para a asma não estava funcionando […] Fui levada ao mesmo pronto-atendimento por uma ambulância […] Os médicos optaram pela intubação”, contou.

Por conta do plano de saúde da estudante estar em um período de carência, ela teria que pagar pela estadia no hospital, cuja diária era algo em torno de R$ 15 mil. “Uma médica se sensibilizou com a situação e ligou para um colega da Santa Casa, que conseguiu uma vaga para mim.”

Depois de ser transferida para a Santa Casa de Belo Horizonte, a mulher ficou 36 dias em coma e acordou sem saber o que tinha acontecido com ela. “Eu tive tromboembolismo pulmonar, pneumonia, dois AVCs do lado direito, falência renal e uma hemorragia intestinal”, explicou a jovem.

Bárbara teve que tomar 13 bolsas de sangue e realizar várias sessões de hemodiálise, além de realizar uma traqueostomia.

A estudante foi novamente transferida, mas desta vez, para a unidade de cuidados prolongados do hospital, onde passou por uma fisioterapia, já que ela não conseguia se movimentar adequadamente, e terapia ocupacional. “Fui diagnosticada com uma doença genética chamada SAF, que faz com que meu sangue coagule facilmente.”

>>>> O que é essa síndrome?

A Síndrome do “Sangue Grosso” é uma doença autoimune que gera anticorpos antifofípedes capazes de atacar o próprio organismo, como elucida a hematologista Helena Visnadi, do Hospital São Luiz Anália Franco. “Essas imunoglobulinas são capazes de inibir o sistema de anticoagulação natural”, o que acaba com o equilíbrio deste processo no corpo humano.

De acordo com a hematologista, os sintomas mais comuns envolvem justamente os problemas relacionados à coagulação do sangue como a embolia pulmonar e uma contagem baixa de plaquetas.

Dante Bianchi, coordenador de reumatologia da Rede D’or, também explica que não há como saber qual é o “gatilho” que gera a doença e faz ela começar. “O sistema imunológico começa a agredir algumas estruturas, especialmente plaquetas e células da placenta. O que aumenta o risco de gerar uma trombose, entupindo os vasos.”

O especialista esclarece que existem duas formas de ação da síndrome que é mais comum em mulheres. “A manifestação obstétrica causa aborto de repetição, perda fetal e partos prematuros, que acontecem durante a gestação, já que a SAF aumenta o risco dessas condições”. A outra ocorrência causa tromboses recorrentes e AVC (Acidente Vascular Cerebral).

·         Diagnóstico

Helena Visnadi também fala sobre os motivos do diagnóstico ser tão complicado, citando o fato de a confirmação da doença requerer exames laboratoriais e critérios clínicos. “Por não se tratar de uma trombofilia hereditária, não vai haver uma história familiar que demonstre o ‘rastro’ da enfermidade. Além disso, não é algo que se define em uma só avaliação.”

Dante Bianchi complementa que as pessoas demoram para pensar que a culpada por algum problema pode ser essa doença, já que ela é uma condição rara. “Esse é o principal motivo do atraso, fora isso, ano é nem todo hospital e laboratório que consegue fazer esses exames, eles não são tão fáceis de disponibilizar.”

·         Tratamento

O reumatologista relata que o tratamento se baseia no uso de anticoagulantes que são popularmente conhecidos por “afinar o sangue”, exceto em casos específicos. “Em alguns pacientes com determinadas manifestações da síndrome, a gente pode precisar usar alguns imunossupressores também, mas o básico é o uso de remédios.”

Helena Visnadi diz que o tratamento é direcionado para a trombose, sendo assim, nesse caso, o uso desses remédios é prolongado e contínuo. “Os anticoagulantes, como citado anteriormente, tornam mais difícil a formação de coágulos no sangue”, portanto, o paciente deve ter alguns cuidados em caso de machucados ou procedimentos invasivos. “A medicação eleva o risco de sangramentos.”

·         Campanha de Bárbara Maia

Após sair do hospital, a estudante de 27 anos Bárbara Maia fez diversas postagens nas redes sociais pedindo por ajuda para comprar uma prótese, com o intuito de poder ser uma médica no futuro e “levar a vida da maneira mais normal possível”, que possui o valor de R$ 480 mil.

 

Fonte: IstoÉ

 

 

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