São Francisco de Assis: por que o santo é considerado protetor dos
animais?
São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e do
meio ambiente, foi celebrado nesta quarta-feira (4). Mas por que o santo
recebeu esse título da Igreja Católica?
De acordo com o frei Adilson Corrêa da Silva, da
Paróquia Santo Antônio, no bairro Savassi, na Região Centro-Sul de Belo
Horizonte, Francisco via a presença de Deus em todas as criaturas.
"Ele via Deus nas plantas, nos animais, na
água, no vento...", explicou o pároco.
Para Francisco de Assis, o importante era resgatar
a dignidade de cada ser, disse o religioso.
"Quando os freis iam fazer uma horta, ele [São
Francisco] pedia para que eles não capinassem todo o espaço. Ele pedia para
deixar um espaço para as ervas daninhas, porque todos têm direito à vida."
Ainda segundo o frei Adilson, quando os religiosos
iam pegar lenha na mata, Francisco de Assis orientava para que eles pegassem os
galhos já caídos, evitando a derrubada de árvores.
"Deixem que todos vivam", dizia o santo.
Por essas lições de amor à natureza e aos animais,
a Igreja Católica concedeu a Francisco o título de padroeiro dos animais e do
meio ambiente.
"Ele deixou lições na época em que não existia
a palavra ecologia", contou o pároco.
Frei Adilson disse ainda que "falar de
ecologia é falar de solidariedade, paz e harmonia".
• São
Francisco, a história
O padroeiro dos animais nasceu no ano de 1182, em
Assis, localizada na Úmbria, região central da Itália. Seu nome de batismo era
Giovanni, antes de passar a ser Francisco.
Como parte dos jovens de seu tempo, participou de
combates medievais, o que era comum naquela geração. Num dos confrontos, foi
capturado e ficou preso por um ano em Perúgia, cidade da região, onde começou a
ver a vida por outro ângulo. Numa segunda batalha desistiu de guerrear e
começou um caminho de conversão.
Mas para quem pensa que tudo foi tranquilo, a
biografia dele mostra o contrário. Houve capítulos turbulentos com a família
que, no primeiro momento, não aceitou a opção de Francisco. Ele também conviveu
com conflitos internos de quem busca o aprofundamento da fé.
"Naquela época o ideal para uma família rica
era conquistar poder e riqueza por meio de batalhas, até a própria igreja tinha
esse tipo de mentalidade durante o período medieval", explica Frei Ademir.
Fundou uma ordem de confrades que, até hoje, serve
à Igreja Católica e presta serviços às pessoas em situação de vulnerabilidade
social em vários continentes. Na ordem franciscana, era comum alguns padres
mudarem de nome como uma representação de uma nova vida a partir dali. Foi
assim com Santo Antonio, que se chamava Fernando de Bulhões e mudou de nome
para seguir os passos de Francisco.
O frei Ademir Sanquetti analisa que "os
tormentos e dúvidas fazem parte de todo ser humano. Com São Francisco não foi
diferente. As provações ocorreram, mas São Francisco teve a coragem de
enfrentar as inseguranças com base na fé", declara.
A admiração pelo estilo de vida de Francisco vai
além da questão religiosa. Pessoas de diferentes crenças veem nele um exemplo
de conexão com a comunidade, os animais, o meio-ambiente e o universo. A data
de hoje faz memória a sua morte ocorrida em 1226.
Nascido numa rica família de comerciantes de
tecidos, Francisco ganhou o apelido de "poverello", pobrezinho em
italiano, pela maneira que optou viver até o fim da caminhada terrestre.
Francisco morreu com 44 anos, mas deixou um legado que continua através dos
séculos.
Em Assis, há uma basílica onde os restos mortais do
santo repousam junto dos de outros confrades franciscanos. A igreja é um local
de peregrinação e oração.
• Vida
de São Francisco
Quando Francisco tinha cerca de 20 anos, uma guerra
começou entre as cidades italianas de Perugia e Assis.
Ele queria combater em Espoleto, entre Assis e
Roma, mas adoeceu. Durante a enfermidade, Francisco ouviu uma voz sobrenatural,
pedindo para ele “servir ao amor e ao Servo”.
Aos poucos, com muita oração, Francisco teve
necessidade de vender bens e “comprar a pérola preciosa”, como tinha lido no
Evangelho.
Uma vez, ao encontrar um leproso, apesar da repulsa
natural, beijou o doente. A partir desse momento, ele passou a fazer visitas e
a servir aos doentes nos hospitais. Aos pobres, presenteava com as próprias
roupas e também com o dinheiro.
• O
chamado
Em um momento em que Francisco rezava sozinho na
Igreja de São Damião, em Assis, ele sentiu que o crucifixo "falava"
com ele, repetindo por três vezes a frase que ficou famosa: “Francisco, repara
minha casa, pois olhas que está em ruínas”.
O santo então vendeu tudo o que tinha e levou o
dinheiro ao padre da Igreja de São Damião, e pediu permissão para viver com
ele. Francisco tinha 25 anos.
Pedro Bernardone, ao saber o que o filho tinha
feito, foi buscá-lo indignado, levou-o para casa, bateu nele e acorrentou-o
pelos pés. A mãe, porém, o libertou na ausência do marido, e o jovem retornou a
São Damião.
O pai foi de novo buscá-lo. Mandou que ele voltasse
para casa ou que renunciasse à herança. Francisco então abriu mão.
“As roupas que levo pertencem também a meu pai,
tenho que devolvê-las”, disse o jovem.
Em seguida, tirou as roupas que vestia e entregou
ao pai.
“Até agora tu tem sido meu pai na terra, mas agora
poderei dizer: ‘Pai nosso, que estais nos céus”.
• Renúncia
Para reparar a Igreja de São Damião, Francisco
pedia esmola em Assis. Terminado esse trabalho, começou reformar a Igreja de
São Pedro.
Depois, ele retirou-se para morar em uma capela com
o nome de Porciúncula, que fazia parte da abadia de Monte Subasio, cuidada
pelos beneditinos.
O trecho do Evangelho da Missa daquele dia dizia:
“Ide a pregar, dizendo: o Reino de Deus tinha chegado. Dai gratuitamente o que
haveis recebido gratuitamente. Não possuas ouro, nem duas túnicas, nem
sandálias…”. Francisco tirou as sandálias, o cinturão e ficou somente com a
túnica.
• Conheça
a rosa que faz parte da história do santo
Que São Francisco é o protetor dos animais, muita
gente já sabe. Mas a história que pouca gente conhece é a de que o santo também
tem uma relação forte com uma espécie de rosa.
A Igreja conta que, em certa ocasião, Francisco,
para combater um momento de tentação com severidade e rigor, se despojou das
roupas e se atirou nu sobre o jardim de rosas que havia ao lado da igreja.
O que deveria ser um forte castigo, pela dor da
perfuração da pele pelos espinhos, transformou-se num milagre, conforme narra a
tradição. Ao se atirar contra os roseirais, os espinhos se recolheram.
Por esse motivo a rosa sem espinhos de Assis, mais
tarde, acabou sendo catalogada como uma subespécie da rosa canina, sendo a rosa
canina assisiensis.
Única da família sem espinhos, a flor pode ser
encontrada até hoje no jardim da igreja onde Francisco viveu os momentos mais
marcantes de sua vida, na região conhecida como Porciúncula, a 45 minutos de
caminhada de Assis. O "il Roseto" é um lugar conhecido, ponto de
visitação para quem viaja até a cidade na Itália.
A planta é um arbusto de folhas que mudam da cor
verde para a marrom no outono e que caem durante o inverno. As dimensões variam
entre 1 e 5 metros de altura. As flores são grandes, podem medir de 4 a 6
centímetros e contam com 5 pétalas. De fragrância suave, floresce uma vez, na
primavera ou no verão. A variedade pode ser encontrada na Europa, na Ásia
Central, no noroeste Africano e na Ásia.
A rosa sem espinhos que surgiu a partir da história
de Assis, floresce todos os anos no jardim de Francisco. O santo que amava os
animais também tinha muita estima pela flora. Para ele, a Terra nunca foi algo
particular de ninguém, mas sim a nossa casa comum.
• Celebrações
Não à toa, em 4 de outubro também são celebrados o
Dia da Natureza e o Dia dos Animais. Para o frei Ademir Sanquetti, que trabalha
no Seminário Franciscano de Santo Antonio, em Agudos (SP), São Francisco era
"a simbiose de tudo, percebia que tudo no planeta era uma conexão única
entre humanos, animais e vegetais. Nenhum era mais importante de que outro,
tudo se complementava".
O padre Jonas Christal, da Paróquia São Sebastião,
em Valinhos (SP), lembra que Papa Francisco, escolheu seu nome por causa do
Santo de Assis.
“São Francisco, fiel à Sagrada Escritura,
propõe-nos reconhecer a natureza como um livro esplêndido onde Deus nos fala e
transmite algo da sua beleza e bondade. Por isso, celebramos São Francisco de
Assis e o apelo do Papa Francisco, para que cuidemos de toda a criação”, afirma
o pároco.
Segundo a tradição católica, certa vez, o santo
amansou um lobo selvagem. Para isso, não precisou usar nenhum tipo de doma ou
força. Ele teria dito ao animal: "Venha aqui irmão lobo, mando-te da parte
de Cristo que não faças nenhum mal a mim, nem a ninguém".
Fonte: g1
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