Mais turbulências com o avanço das investigações sobre os golpes
A cobra vai fumar nos próximos dias com a
identificação e prisões de novos executores, financiadores e incitadores de
atos golpistas – sejam os planejados para barrar a posse de Lula no final do
ano passado, sejam os de 8 de janeiro para derrubá-lo.
Identificados, eles já estão. Em discussão, a
necessidade de prendê-los ou de apenas intimá-los a depor à Polícia Federal. Há
militares nesse cacho, e pressões de chefes militares e de seus aliados para
que não sejam presos – ouvidos, tudo bem.
Dia sim, outro também, José Múcio Monteiro,
ministro da Defesa, repete que ninguém mais do que os chefes militares torcem
para que acabe logo o suplício em que vivem, o que só desgasta sua imagem,
subtraindo a confiança popular nas Forças Armadas.
Ora, escolheram a encrenca em que se meteram.
Tinham nada que apoiar abertamente um candidato a presidente da República,
governar com ele, avalizar todos os seus erros, e, não bastasse, tentar
reelegê-lo? Fizeram dos propósitos de Bolsonaro os seus.
A história do ex-capitão afastado do Exército por
indisciplina e conduta antiética não é a história de quem mais tarde se
converteu aos sacrossantos valores cultivados pela farda, é o contrário. Foi a
farda que se rendeu aos ideais truculentos de sua cria perdida.
Os militares que antes viam Bolsonaro como um
péssimo exemplo para a tropa, a ponto de o impedirem de frequentar quartéis e
cerimônias, passaram, aos poucos, a vê-lo como o Messias que os levaria a
voltar ao poder, e desta vez pelo voto. Beleza!
Tão logo isso aconteceu, imaginaram que seria
possível cavalgá-lo; acabaram cavalgados por ele. Encantaram-se com o que
receberam em troca: empregos bem remunerados, uma Previdência Social para
chamar de sua, prestígio e reverências.
Cerraram fileiras com Bolsonaro ao pressentir que
seu principal inimigo, a esquerda, poderia vencer a eleição de 2022, de vez que
o Supremo Tribunal Federal devolvera Lula à liberdade. Por fim, mal Bolsonaro
soprou o apito de cachorro, piscaram para o golpe.
Suportem, portanto, as consequências do seu mau
comportamento, purguem seus pecados e tentem se redimir.
MILITARES
GOLPISTAS: quais generais foram a favor do golpe - e quais foram contra
Após a derrota para Lula nas eleições de 30 de
outubro, Jair Bolsonaro (PL) se trancou no Palácio da Alvora para, ao que
indicam as investigações da Polícia Federal (PF), articular um golpe de Estado
e impedir a posse do sucessor. O plano teria contado com o auxílio de militares
próximos ao ex-presidente, que teria submetido a ideia aos comandantes das
Forças Armadas.
Em delação à PF, o tenente coronel Mauro Cid,
ex-ajudante de ordens da Presidência, afirmou que Bolsonaro teria convocado uma
reunião com os comandantes das três forças onde apresentou até mesmo uma minuta
para o golpe.
Comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier
teria colocado as tropas à disposição da intervenção, mas o plano teria sido
barrado pelo chefe do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, que
chegou a ameaçar a dar voz de prisão a Bolsonaro.
O Comandante do Exército tinha conhecimento de que
não havia condições para o golpe dentro do Exército. Ele sabia que os
comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste
(André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam quaisquer aventuras
golpistas de Bolsonaro. Além disso, uma tentativa de golpe não teria apoio dos
Estados Unidos, de Joe Biden.
No entanto, ao menos 6 dos 16 integrantes do Alto
Comando do Exército, formado pelo comandante e por generais quatro estrelas,
teriam sinalizado apoio ao golpe de Bolsonaro durante um processo de discussão
interno na força.
São eles, segundo levantamento divulgado pelo
"Blog do Nolasco", no portal R7, do Grupo Record:
• General
Júlio César de Arruda, ex-comandante do Exército que ficou apenas 23 dias na
função e caiu após os atos golpistas de 8 de Janeiro;
• General
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, comandante do Coter (Comando de
Operações Terrestres), que chegou a preparar as ações de intervenção no
Judiciário;
• General
Edson Skora Rosty, subcomandante do Coter. Ele foi citado em conversas entre o
tenente-coronel Mauro Cid e o coronel Jean Lawand Junior que foram descobertas
pela Polícia Federal no celular do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
• General
Sérgio da Costa Negraes, secretário de Economia e Finanças do Exército, que
também já foi comandante militar do Norte;
• General
Anisio David de Oliveira Junior, que foi comandante militar do Oeste;
• General
Eduardo Antônio Fernandes, que atuava no Ministério da Defesa e hoje está como
conselheiro da missão permanente do Brasil na ONU (Organização das Nações
Unidas) em Nova York.
Ficaram contra o golpe de Bolsonaro:
• General
Tomás Miguel Ribeiro Paiva, atual comandante do Exército que atuava como chefe
do Comando Militar do Sudeste. O militar teria atuado para evitar um tom mais
duro dos militares na auditoria sobre as urnas eletrônicas. Mas, por outro
lado, não barrou o acampamento de apoiadores de Bolsonaro em São Paulo;
• General
Richard Fernandez Nunes, era comandante militar do Nordeste;
• General
Valério Stumpf, ex-comandante militar do Sul e que também foi comandante do
Estado-Maior do Exército;
• General
Guido Amin Naves, que era chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do
Exército. Naves atuou na Comissão de Transparência das Eleições, instituída
pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e evitou que constassem no relatório
dados contra o processo eleitoral brasileiro.
Novas
reuniões delatadas por Cid geram apreensão em Bolsonaro
A reunião realizada entre Jair Bolsonaro e
ex-comandantes das Forças Armadas para discutir uma minuta golpista não foi a
única conversa delatada por Mauro Cid.
Antigos membros do governo Bolsonaro e o
ex-presidente já foram alertados que outros encontros para debater temas nada
republicanos fazem parte do acordo do ex-ajudante de ordens. Entre os assuntos
tratados nessas conversas com máximo sigilo estão acusações de fraudes nas
urnas e ações para explorar o tema.
A Polícia Federal passou a fazer diligências para
comprovar os relatos de Mauro Cid. Uma delas é a solicitação de todas as
pessoas que entraram no Palácio do Alvorada nos últimos quatro meses do governo
Bolsonaro. Em depressão e com uma ferida na perna, o ex-presidente deixou o
Alvorada poucas vezes após sua derrota para Lula.
Foi nesse período que aconteceu o encontro de
Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas para debater um golpe, conforme
revelado pela coluna.
Outra frente que vem sendo usada pelos
investigadores para corroborar a delação de Mauro Cid são mensagens de
celulares. A PF faz um pente-fino não só no aparelho do tenente coronel, mas em
telefones como o de seu pai, o general Mauro Lourena Cid, e os quatro celulares
do advogado Frederick Wassef.
Se as conversas dos aparelhos irem contra os
relatos de Cid, ele corre risco de perder os benefícios de seu acordo.
Sistema
de inteligência estava 'caótico' no 8/1, diz diretor da Abin
O diretor-geral da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, disse ter encontrado um sistema de
inteligência "caótico" ao assumir o cargo, após os ataques de 8 de
janeiro, em Brasília. Em sua avaliação, o cenário foi causado por uma
negligência de todos os governos pós-democratização com a área da inteligência.
Corrêa assumiu o posto em 17 de janeiro, com a
premissa de reorganizar a agência. De acordo com o diretor, a Abin está
estudando o movimento extremista no início do ano para auxiliar a criação de
políticas públicas, visando reduzir a chance de que atos do tipo se repitam no
futuro.
"O sistema estava caótico. Não tinha uma
lógica, um funcionamento adequado. É um sistema como um todo, e nós vamos
atribuir total responsabilidade à Abin, porque era o órgão central?",
respondeu o diretor em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta
segunda-feira (2/10), após ser questionado sobre a falha da agência na prevenção
dos ataques.
Em sua avaliação, todos os governos após a
redemocratização negligenciaram a inteligência. "Isso aconteceu por razões
óbvias: a desconfiança de que o serviço servia só para vigiar pessoas,
contrariava interesses do Estado, uma questão cultural", pontuou.
• Reestruturação
Questionado sobre as falas do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e outros integrantes do governo de que não teriam
sido avisados pela inteligência do risco dos ataques, Corrêa ressaltou que
assumiu o cargo apenas na semana seguinte aos atos, e que isso está sendo
apurado.
"As informações estavam claras, mas o
funcionamento era caótico. Não vou tornar público meu diagnóstico. Vou fazer as
correções. Desenhamos a solução, foi discutida e houve anuência do presidente.
Agora, temos um projeto para botar isso para funcionar" , explicou o
diretor.
Imagens
no QG revelam conivência dos militares com golpistas
Logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no
segundo turno de 2022, bolsonaristas extremistas se dirigiram para frente de
unidades militares de todo o país pregando a intervenção das Forças Armadas e
com a promessa de impedir a posse do petista em 1º de janeiro. O ponto central
desse encontro foi o Quartel-General do Exército, em Brasília, para onde se
deslocaram milhares de seguidores de Jair Bolsonaro, em carros e caravanas de
ônibus e dezenas de caminhões.
Em frente ao QG, os defensores do golpe armaram
barracas e distribuíram alimentação e água, na Praça dos Cristais. Durante a
permanência desses grupos, o Exército nada fez para retirá-los. Ao contrário,
acompanhou a mobilização dos inconformados com o resultados das urnas. Como
revela imagens desta reportagem, logo no início de novembro, o Exército
permitiu que dezenas desses caminhões, com faixas defendendo o golpe e com
inscrições como "socorro, Forças Armadas", ficassem estacionados numa
área exclusivamente militar. Uma das fotos, de 12 de novembro, exibe ainda uma
caminhonete com o símbolo do Exército protegendo a cancela, fechada, em frente
à área onde estavam os veículos.
Além da guarida aos caminhões, outras imagens
demonstram a tolerância dos militares com os extremistas. Militares da Polícia
do Exército circulavam entre os manifestantes sem tomar qualquer atitude e
apenas observavam.
No local onde ficaram os caminhões há um placa
grande informando se tratar ali de uma "área militar", diferente da
Praça dos Cristais. Ou seja, obtiveram autorização para estarem naquele espaço.
Se invadiram, não foram importunados. A "estadia" dos caminhoneiros
bolsonaristas no local durou dois meses.
Nos últimos dias, depoimentos nas investigações e
nas Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) — até de oficiais e de
bolsonaristas — confirmam que os militares nada fizeram para desmontar o
acampamento do QG, que redundou em atos como a tentativa de invasão na Polícia
Federal e o plano de explodir uma bomba no Aeroporto Internacional de Brasília,
ambos em dezembro. A derradeira e mais ousada ação se deu com a invasão do
Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e do Planalto no atos do
8 de janeiro.
• O
acampamento
Procurado pelo Correio, na última sexta-feira, o
Comando do Exército não comentou a presença dos caminhões na área militar.
Questionado também sobre a razão de os militares não terem desmontado o acampamento
em frente ao QG, o Exército, hoje sob o governo Lula, deu a mesma resposta dos
oficiais da gestão de Bolsonaro. O Centro de Comunicação do Exército respondeu
que "não havia nenhuma determinação judicial classificando o acampamento
na frente do QG do Exército como ilegal, tampouco houve ordem judicial de que o
mesmo fosse desmobilizado", informou Exército.
E sobre os militares fardados circulando entre os
golpistas, a resposta foi: "por ser uma área de servidão adjacente dos
quartéis, os militares realizavam rondas constantes no interior das Praças dos
Cristais com o objetivo de assegurar que a ocupação da área não impactasse
negativamente na segurança das pessoas e instalações militares, bem como para
assegurar a manutenção do trânsito local e os acessos às instalações militares
situadas no SMU (Setor Militar Urbano)".
A explicação do Exército é semelhante à do general
Gustavo Henrique Dutra, que era o Comandante Militar do Planalto na gestão de
Bolsonaro. À Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de Janeiro, há
duas semanas, o oficial afirmou que o acampamento não era considerado ilegal,
que nenhum órgão competente o declarou fora da lei e que "não tínhamos
competência para declará-lo ilegal". E também que "não poderíamos atuar
sem uma ordem sob pena de abuso de autoridade. Seria uma operação muito
complexa".
Dutra disse que o Exército chegou a retirar algumas
das faixas que pediam intervenção federal pelos militares. Perguntado pela
relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), se tinham imagem dessas cenas,
ele respondeu que não.
O Centro de Comunicação Social do Exército
(Cecomsex) e o general informaram que acionaram a Secretaria de Segurança
Pública do Distrito Federal e pediram apoio ao policiamento de trânsito para
garantir a segurança no SMU.
Para a senadora, não há dúvida da conivência dos
militares com o acampamento. Eliziane afirmou que vários depoimentos, também na
Polícia Federal, deixam claro que houve reuniões e planejamento para retirar os
acampados, mas que, na hora da execução, o general Dutra mandava suspender a
ação. "É muito grave. Isso tudo (o acampamento) se dava na área de
servidão, no perímetro do Exército. Por um decreto, os militares têm poder de
polícia naquele local. Ele não autorizou porque decidiu não fazer isso", disse
a relatora da CPI.
• Bastava
um "soldado raso" mandar
A bolsonarista Ana Priscila Azevedo, que atuou nas
ações contra Lula e está presa desde 10 de janeiro, afirmou à CPI da Câmara
Legislativa do DF, na última quinta-feira, que os militares nunca os abordaram
em frente ao QG para deixar o local e que bastava um "soldado raso"
mandar, que todos saíriam da frente dos quartéis.
"Jamais pensei que, ao atender ao chamado de
militares, poderia ser marcada e presa. Era a instituição onde a população de
patriotas depositava os maiores índices de aprovação. Afinal, os acampamentos
ficaram tanto tempo e por todo o país, sem ninguém falar nada em sentido
contrário, por isso ousamos pensar que éramos bem-vindos. Bastaria um soldado
raso nos avisar que deveríamos sair, que teríamos ido embora", disse.
O acampamento em frente ao QG foi frequentado até
por oficiais, que foram lá defender os atos golpistas. Na última sexta, o
general Ridauto Lúcio Fernandes foi alvo da 18ª fase da Operação Lesa Pátria e
foi levado pela Polícia Federal para depor. O militar foi diretor de Logística
do Ministério da Saúde durante a controversa gestão de Eduardo Pazuello à
frente da pasta.
O general foi alvo de busca e apreensão e seu
celular foi levado pelos agentes. Ridauto aparece em vídeos nas ações dos
bolsonaristas no 8 de janeiro, na Esplanada dos Três Poderes.
Fonte: Metrópoles/Fórum/O Globo/Correio Braziliense
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