quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Foco de desequilíbrio? À sombra da derrota, Biden luta por reeleição improvável e derrete sua imagem

A aposta ousada na Ucrânia, que se mostrou infrutífera, obrigou o presidente dos Estados Unidos a visar o Oriente Médio. A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender como as consequências das políticas atuais de Joe Biden podem prejudicá-lo em 2024.

Os desafios de Joe Biden para conquistar a reeleição à presidência dos EUA são múltiplos. Já se encaminhando para a fronteira com 2024, o presidente necessita enfrentar três fantasmas que o acompanham de perto: o fracasso de investimento na Ucrânia, o massivo descontentamento público em relação ao Oriente Médio e o crescimento de Donald Trump, seu principal adversário.

Países como Polônia, Hungria e Eslováquia já se distanciaram do cenário em relação à Ucrânia. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), receosa, conta com membros argumentando que o país deve aceitar condições russas e negociar concessões. Segundo o jurista, editor e analista de geopolítica Hugo Albuquerque, a situação é complicada por conta da política bélica de Biden.

"O ponto problemático aqui é o princípio que sustenta a doutrina Biden: manutenção da globalização sob controle disciplinar e material dos Estados Unidos. Biden decidiu expandir a OTAN para a Ucrânia sabendo que isso era uma linha vermelha em relação aos russos […]. Biden acelerou um processo de conflito como poucos presidentes americanos fizeram antes."

A principal contradição, no caso da Ucrânia, é que Biden principalmente se envolveu em um conflito que não constava como prioridade — ou sequer era imaginado — em sua campanha eleitoral. Para Albuquerque, "o governo Biden poderia resgatar uma normalidade institucional nos EUA depois da catástrofe de Trump, ainda mais na pandemia. Mas ele é um foco de belicismo constante e desequilíbrio para o mundo. O saldo é muito negativo".

Para a professora de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, tais ações "reduziram o escopo da diferenciação" que antes existia entre um Biden moderado e um adversário [Trump] mais belicista.

"Ele está se tornando um agente deliberadamente atuante. Ele parte de uma análise [de] que os Estados Unidos, por ele liderar o país, devem participar do conflito. E essas decisões, e discursos que justificam essas decisões, contrariam aquilo que originalmente diferenciava Biden de Trump", completa Goulart.

Nessa situação, Biden não só "mancha sua imagem" — como afirmou o The Wall Street Journal —, "mas também coloca os EUA em uma delicada situação e tensão interna, uma vez que, se esses conflitos se prolongarem ainda mais, [poderão] resultar em um colapso econômico global, o que aumentaria a inflação e deixaria a população norte-americana em uma situação difícil".

Com o despontar da guerra entre Israel e o Hamas, Biden notou a oportunidade de voltar a colocar os Estados Unidos como protagonistas internacionais, mas não com a intenção de remediar o conflito — assumindo, portanto, a postura que ajudou a elegê-lo —, mas de continuador e figura central da guerra.

Sendo o único país do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) a vetar a proposta de paz e de cessar-fogo imediato, de autoria brasileira, Biden ainda anunciou a solicitação de US$ 14 bilhões [R$ 69 bilhões] para ajudar Israel, além de auxiliar tropas israelenses com operações terrestres e treinamentos específicos. Essa política, após o saldo negativo na Ucrânia, saltou aos olhos de alguns líderes, mas não do povo.

Em pesquisa realizada pelo instituto Data for Progress, 66% dos eleitores "concordam fortemente" ou "concordam parcialmente" com a afirmação de que os EUA deveriam apelar a um cessar-fogo e a uma diminuição da violência em Gaza.

O mesmo número de eleitores também concorda com a ideia de que os Estados Unidos deveriam aproveitar a sua estreita relação diplomática com Israel para evitar mais violência e mortes de civis. Segundo os dados levantados, isso inclui 80% dos democratas, 57% dos independentes e 56% dos republicanos.

"O apoio total é do governo americano, não do povo americano. Pesquisas mostram reticências, principalmente dos eleitores democratas em relação a enviar mais armas e dinheiro para Israel. As pessoas defendem um cessar-fogo. Agora, se os EUA avançarem na intervenção no Oriente Médio, isso vai fazer o petróleo subir e trará consequências para a inflação global — e isso atinge os EUA em vários sentidos", explicita Albuquerque.

À esteira da crise, Goulart complementa que, no momento, "há um certo declínio moderado do padrão de vida do americano médio" e o estreitamento do poder econômico das classes médias, ou seja, "que não é universitária ou que tem uma formação precária, mas é densa" — situação que pode pesar na hora da escolha do candidato.

Isso somado, claro, à desconfiança de uma nova campanha de Biden, visto que a anterior assumiu posteriormente uma política muito diferente da que a elegeu. "Ele sustenta o neoliberalismo dos anos 1980, mas isso não gera mais tanta prosperidade interna. Logo, o que ele faz é tentar gerir as consequências disso", completa Albuquerque.

·         Cresce o apoio a Trump

Pesquisas recentes indicam que o ex-presidente Donald Trump já aparece como o favorito dos eleitores para o pleito do ano que vem. Um levantamento da última sexta-feira (20) mostra o republicano se fortalecendo, com dois pontos percentuais à frente do atual mandatário, que segue estacionado. Outras sondagens apontam diferenças ainda maiores entre os dois.

Com o cenário de possível crise interna e reticência no campo internacional, a emergência de Trump como candidato fica à sombra de Biden que, na última semana, chegou ao seu maior índice de desaprovação desde que assumiu o cargo.

Segundo pesquisa divulgada pela CNBC, um recorde de 58% dos americanos não aprova o desempenho de Biden na Casa Branca. O atual presidente recebeu notas particularmente baixas por sua gestão da economia — 32% de aprovação — e da política externa — 31% aprovam —, justamente a área na qual o democrata tem concentrado seus maiores esforços.

 

Ø  Planos dos EUA na Ucrânia e no Oriente Médio são assustadores e ilusórios, diz ex-agente da CIA

 

Em uma entrevista para o canal de Stephen Gardner, o ex-analista da CIA Larry Johnson falou sobre os planos dos EUA na Ucrânia e no Oriente Médio.

Para o ex-analista, os planos norte-americanos de fornecer armas à Ucrânia, como os tanques Abrams, por exemplo, são precários, uma vez que a defesa russa está muito bem preparada.

Johnson explica que esses tanques exigem equipes treinadas e são vulneráveis à moderna tecnologia de vigilância, o que os torna potencialmente ineficazes.

Além disso, o analista destacou que as tropas ucranianas sofreram grandes perdas e não estão bem preparadas para um combate desta intensidade, e que Zelensky está fazendo de tudo para atrair a atenção novamente, uma vez que o conflito em Gaza tirou o foco mundial do conflito ucraniano.

Johnson ressaltou que os planos americanos são ilusórios e ineficazes, não só na Ucrânia, como também no Oriente Médio, onde a administração Biden está apostando em um conflito com o Irã, o que poderia ser desastroso, já que Rússia e China também poderiam se envolver no conflito.

Além disso, ele observa que o apoio dos EUA aos ataques israelenses pode escalar de uma forma muito perigosa o conflito na região, que pode se tornar um verdadeiro pesadelo para Israel.

Para o especialista, o mundo árabe e muçulmano mostra união no apoio à Palestina, o que significa um grande risco para o conflito que os EUA seguem incentivando no Oriente Médio.

Por fim, o analista enfatiza que conduzir uma guerra proxy da OTAN contra a Rússia, empurrar Israel para um conflito com o Hamas, lidar com a postura vigilante da China em relação a Taiwan, pode gerar uma situação de grande risco que pode resultar em sérias consequências no cenário mundial, e por isso, é muito importante encontrar uma saída diplomática e cuidadosa para os atuais conflitos.

 

Ø  Pequim: Pentágono eleva inexistente 'ameaça militar' a armas nucleares da China em seu relatório

 

Segundo ministério, os EUA são os principais responsáveis pelos obstáculos para as relações entre suas Forças Armadas e as chinesas.

O Ministério da Defesa da China criticou, nesta quarta-feira (25), o relatório anual do Departamento de Defesa dos EUA sobre a China, afirmando que ele distorce a política de segurança e a estratégia militar do país.

Conforme o texto do relatório, durante a próxima década a China modernizará, diversificará e expandirá rapidamente suas forças nucleares, aumentando seu número de ogivas de 500 para mais de mil até 2030.

Outra previsão é que o país asiático usará novos reatores e instalações de reprocessamento de forma a produzir plutônio para suas armas nucleares, indo contra as declarações de que as tecnologias são destinadas a fins pacíficos.

"Expressamos nossa forte insatisfação e oposição resoluta a esse relatório", respondeu em um comunicado Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa da China, acrescentando que o documento "exagera e eleva a inexistente 'ameaça militar chinesa'".

Wu disse, citado nesta quarta-feira pela agência Reuters, que o desenvolvimento das Forças Armadas da China tem como objetivo conter a ameaça de guerra, salvaguardar sua própria segurança e a paz mundial, e não visa nenhum país ou alvo específico.

Chamando o relacionamento entre militares de uma parte importante das relações sino-americanas, o alto funcionário da Defesa disse que "mantemos uma comunicação franca e eficaz com os Estados Unidos por meio da diplomacia militar", mas apontou que as dificuldades e os obstáculos enfrentados nas relações entre as Forças Armadas dos dois países são criados pelos Estados Unidos.

"Os Estados Unidos fingem estar confusos, enquanto fazem coisas que prejudicam os interesses de segurança da China, mas ao mesmo tempo gritam que querem gerir a crise e fortalecer a comunicação", disse Wu.

"O chamado relatório sobre o poder militar da China divulgado pelos Estados Unidos está repleto de todos os tipos de conteúdo errado, incluindo a declaração sobre a questão de Taiwan", afirmou, também hoje (25), um porta-voz do Escritório de Assuntos de Taiwan da China em uma coletiva de imprensa.

·         EUA reforçam vigilância das tropas no Oriente Médio em meio a onda de ataques a bases, afirma mídia

As forças dos EUA aumentaram o nível de guarda na região em resposta aos eventos recentes ligados ao conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas, informou a Reuters.

As Forças Armadas dos EUA estão tomando novas medidas para proteger suas tropas no Oriente Médio, que culpam grupos apoiados pelo Irã, revelaram autoridades militares do país norte-americano à Reuters.

As iniciativas incluem uma intensificação das patrulhas militares dos EUA, a restrição do acesso às instalações e um aumento da coleta de informações de inteligência, inclusive por meio de drones e outras operações de vigilância.

Outras medidas são o reforço do monitoramento das torres de vigilância nas instalações militares dos EUA, o aumento da segurança nos pontos de acesso às bases e uma defesa mais feroz do espaço aéreo para prevenir a eventual entrada de drones, foguetes e mísseis.

"Com o aumento do número de ataques e tentativas de ataques a instalações militares dos EUA, a revisão contínua de nossas medidas de proteção é fundamental", reconheceu Michael Kurilla, general e chefe do Comando Central dos EUA (CENTCOM), em declarações à agência.

Segundo ele, as medidas já tomadas, junto com o envio de mais recursos militares dos EUA à região nos últimos dias, "evitaram baixas mais graves de nossas forças no teatro de operações".

As forças dos EUA no Iraque e na Síria foram atacadas várias vezes desde o recomeço do conflito entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro. Os ataques às bases do país norte-americano causaram até o momento ferimentos leves em quatro militares americanos e cinco contratados militares dos EUA, dos quais todos já se recuperaram, disse uma das fontes.

 

Ø  China eleva diplomacia com Colômbia ao patamar de parceria estratégica; 12 acordos são assinados

 

Enquanto o mundo foca nas duas guerras em curso, Pequim continua a expandir sua política externa e elevou as relações diplomáticas com a Colômbia, país mais próximos dos Estados Unidos na região.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, chegou ontem (24) a Pequim e os dois países assinaram 12 acordos de cooperação durante a visita, informou o gabinete de Petro em comunicado citado pela Reuters.

Um dos acordos inclui a permissão de importações de carne bovina colombiana a partir do próximo ano e outro a permissão de embarques de quinoa, bem como o estabelecimento de vários grupos de trabalho destinados a melhorar o comércio.

Os presidentes Xi Jinping e Gustavo Petro tiveram uma reunião bem-sucedida e anunciaram conjuntamente o estabelecimento da parceria estratégica entre a China e a Colômbia

As importações chinesas da Colômbia aumentaram acentuadamente nos últimos anos, tornando o gigante asiático o segundo maior parceiro comercial do país sul-americano, depois dos Estados Unidos. Em 2022, os envios de Bogotá para Pequim totalizaram US$ 7 bilhões (R$ 35 bilhões), um aumento de quase 20% em relação a cinco anos antes.

A Colômbia é um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos na região.

O país, uma das democracias mais antigas da América Latina, estabeleceu laços com os EUA em 1822, e com a China em 1980.

Nos últimos anos, Pequim intensificou uma "ofensiva de charme" na América do Sul, na América Central e no Caribe, uma região de importância estratégica para o arquirrival Washington.

A melhoria das relações com a Colômbia significa que a China tem agora laços estratégicos com 10 dos 11 países sul-americanos com os quais mantém relações. A região também é significativa para os chineses, uma vez que acolhe um punhado de países que não têm laços com Pequim, mas que reconhecem Taiwan como Estado soberano.

O Paraguai é a última nação sul-americana que tem laços com Taiwan. O gigante asiático reivindica a ilha como parte do seu território dentro da política de uma só China.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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