Fentanil: O quanto o Brasil está próximo do morticínio pela droga mais
letal já criada
Uma epidemia, assim definem os especialistas. Os
Estados Unidos da América, maior potência econômica do planeta, vivem há alguns
anos um verdadeiro inferno por causa de um medicamento desenvolvido para ser
apenas um potentíssimo analgésico para os casos de dor extrema, mas que se
tornou uma substância de uso “recreativo” que levou a nação gigantesca ao maior
morticínio de que se tem notícia até hoje por lá: mais de 300 óbitos por dia
por overdose, o que equivale a 110 mil pessoas perdendo a vida todos os anos em
decorrência do uso do entorpecente.
Classificado como um opioide sintético, o fentanil
foi sintetizado pela primeira vez no final dos anos 50 pelo célebre cientista
belga Paul Janssen, fundador da gigante Janssen Pharmaceutica, atualmente uma
subsidiária da Johnson & Johnson. Já na década seguinte passou a ser
fabricado para uso médico pelo laboratório, servindo como um formidável
analgésico e também como um tipo de anestésico, empregado, sobretudo, anos depois,
nas cirurgias toráxicas em que é necessária a paralisação da expansão dos
pulmões, ocasião em que o paciente é ventilado mecanicamente para que os
médicos realizem os procedimentos invasivos.
Até 2010, quando os EUA registravam aproximadamente
40 mil mortes por overdose por ano, somadas todas as drogas, aproximadamente 3
mil delas eram pelo uso ilícito do fentanil, que em nada se aproxima da
composição das doses produzidas pela indústria farmacêutica. No caso dessas
substâncias vendidas por traficantes, a carga do produto confeccionado de
maneira “porca” e sem parâmetros vem dos cartéis mexicanos, que o produzem
utilizando insumos ilegais provenientes da China. A situação atual é de
emergência na nação norte-americana, com cidadãos caindo no meio da rua e entrando
em processo de overdose diante dos olhos de todos, diariamente, e deixando um
rastro de mais de 100 mil mortes a cada doze meses.
Mas e no Brasil, um país que sofre com uma
verdadeira epidemia de crack e das chamadas “drogas k”, já há fentanil disponível
para usuários? A resposta é sim e não, a depender do contexto interpretativo
envolvendo a questão.
O fentanil não está em cada esquina brasileira onde
se vendem entorpecentes, as chamadas “biqueiras”. No entanto, apreensões
realizadas pelas forças de segurança nos últimos meses indicam que a substância
já circula pelo país e talvez a sua utilização como entorpecente esteja sendo
levada a cabo sem que o consumidor de narcóticos tenha conhecimento. E então
você pode estar se perguntando: mas como assim?
As autoridades acreditam que o fentanil possa estar
sendo adicionado a outros entorpecentes, já que tem uma ação viciante muito
forte. Como provoca euforia e sensações relativamente semelhantes aos de outras
drogas, como as chamas “k”, o fármaco ilegal poderia ser acrescentado às doses
vendidas ao usuário para potencializar os efeitos da droga comprada, o que
daria uma reputação de “produto de qualidade”, além de simultaneamente causar
uma dependência mais acentuada de quem a usa. De qualquer forma, seguindo nessa
marcha de apreensões, seria apenas uma questão de tempo para que o crime
organizado daqui, em conexão com cartéis do México ou com organizações
criminosas da China, também passem a disponibilizar o fentanil para venda
direta aos seus “clientes”.
No Espírito Santo, estado onde as maiores
apreensões da droga foram realizadas até agora, todas as cargas apreendidas
eram do medicamento em sua forma profissional, ou seja, produzida por
laboratórios farmacêuticos e destinada ao uso hospitalar como analgésico ou
anestésico. A primeira apreensão foi em fevereiro e foram encontrados 31
frascos num laboratório caseiro localizado em Cariacica (ES).
Já em agosto, os policiais civis encontraram outros
41 frascos da substância, também de uso médico, num ponto de tráfico de grande
porte da capital Vitória. E a coisa não parou por aí. No mesmo mês, outras 14
ampolas estavam sendo transportadas por uma mulher parada numa blitz na BR-101,
na altura do município de Rio Novo do Sul, junto com outros entorpecentes.
As investigações realizadas pelas autoridades
brasileiras mostraram até o momento que todos os lotes de fentanil apreendidos
em território nacional eram provenientes de cargas destinadas a hospitais, e
que foram desviadas pelo crime organizado. Em síntese, ainda não foram
realizadas apreensões do fentanil produzido ilegalmente por cartéis do
narcotráfico com insumos químicos chineses. No entanto, o monitoramento da
circulação do fentanil segue no Brasil e a possibilidade de que o consumo da
droga se alastre é grande, como já ocorre em outros países, e como ocorreu por
aqui com as chamadas “drogas k”, que se popularizaram muito de poucos anos para
cá.
Fonte: Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário