quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Esperar o que? Novo chefe de polícia no Rio é influenciador digital e indicado por deputado ligado a miliciano

Em um Estado rachado entre territórios dominados pelo tráfico de drogas, com a influência de facções criminosas, e o aumento exponencial do domínio de grupos paramilitares – as milícias – sobre a população fluminense, a Segurança Pública do Rio de Janeiro vive um caos. Assassinatos de médicos na Orla na Barra da Tijuca, um dos pontos nobres da cidade, 24 crianças e adolescentes vítimas de armas de fogo em 2023, operações constantes nas comunidades e, nesta semana, uma afronta criminosa à ação da Polícia Civil.

Sem respostas efetivas à bandidagem, o Rio de Janeiro chega ao seu quarto chefe de Polícia em menos de três anos. Dessa vez, em uma manobra para atender à pressão de deputados, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) fez uma manobra jurídica para nomear o delegado Marcus Vinícius Amim Fernandes para a Secretaria estadual de Polícia Civil, um “policial influencer” e comentarista de TV.

Amim assume a secretaria de Polícia Civil com a missão de dar respostas concretas aos casos recentes de insegurança na capital fluminense. Foi nomeado por Castro na quinta-feira, 19, sob a pressão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (PL), para substituir José Renato Torres, que ficou no cargo por menos de um mês.

Para atender aos deputados estaduais, Castro precisou enviar à Alerj um projeto de lei (PL) complementar para alterar a lei orgânica da Polícia Civil, que permite que a corporação seja comandada apenas por delegados com 15 anos na instituição. O novo texto, aprovado por 61 a 8, autoriza a escolha de nomes com menos de 15 anos, como é o caso de Amim, que tem 12 anos como delegado de polícia.

Entidades de classe que representam policiais civis e delegados do Rio criticaram a mudança na lei para mais uma troca na chefia da Polícia Civil.

“Infelizmente, a prática corriqueira de interferências políticas diretas na escolha do chefe da Polícia Civil pelos mais diversos agentes externos, se tornou tão banal e escancarada no Estado do Rio de Janeiro que não causa mais sequer surpresa ou perplexidade à sociedade carioca”, assinaram a nota o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Sindepol-RJ), o Sindicato dos Policiais Civis Estado do Rio de Janeiro (Sindpol-RJ) e a Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro (Adepol-RJ).

Natural de Niterói, Marcus Amim se formou em Direito, em 2003, pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Exerceu o cargo de delegado titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos e foi delegado titular da 27ª DP (Vicente de Carvalho). Entre 2021 e junho deste ano estava na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Assumiu o Detran-RJ a convite de Castro após sair da DRE.

Desde que assumiu a posição de comentarista de TV sobre segurança pública, Amim fez declarações polêmicas sobre a atuação das polícias no Estado. Em uma delas, disse que “a polícia mata sim” e “tem que matar mesmo”, em referência a mortes de suspeitos em operações.

“A polícia mata sim. Mata vagabundo que atira em polícia. E vai continuar matando. Tem que matar mesmo. Vagabundo que atira em polícia tem que ser morto. Tem que ser neutralizado. A lei diz isso, a Constituição diz isso”, disse em um dos comentários na TV.

Ativo nas redes sociais, ele publica vídeos com opiniões, fotos de operações policiais, além de imagens de atividades físicas e ao lado da família. No Instagram, tem 17,6 mil seguidores.

Ele foi condecorado pelo deputado estadual Márcio Canella (União-RJ) com a medalha Tiradentes, a principal honraria concedida pela Alerj. Canella é ligado ao ex-PM Juracy Alves Prudência, conhecido como Jura, condenado e preso pela acusação de homicídio e organização criminosa na Baixada Fluminense.

Juracy fez campanha pela reeleição de Canella em 2022. Ex-sargento da Polícia Militar fluminense, Juracy cumpre pena de 26 anos de prisão – atualmente, em regime semiaberto – pelos crimes de associação criminosa e homicídio. Ele chegou a ser nomeado na Prefeitura de Belford Roxo para um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Defesa Civil e Ordem Urbana em agosto de 2017.

O ex-PM foi autorizado pela Vara de Execuções Penais a trabalhar, fora do presídio, como diretor do Departamento de Ordem Pública da prefeitura. Menos de um ano após a nomeação, a Justiça proibiu o ex-sargento de sair da cadeia para trabalhar e visitar a família. Havia suspeita de fraudes em suas folhas de ponto na Prefeitura de Belford Roxo. De acordo com a juíza Beatriz de Oliveira Monteiro Marques, “quando logrou usufruir de saídas extramuros, o reeducando não demonstrou o senso de autodisciplina, responsabilidade e comprometimento indispensáveis à regular tramitação de sua execução, uma vez que não desempenhou com afinco a tarefa que lhe foi delegada”.

A deputada estadual Renata Souza (PSOL-RJ) foi uma das oito parlamentares que votou contra a mudança na lei orgânica que permitiu a nomeação de Amim. De acordo com ela, a rotatividade na chefia da Polícia Civil “é só sintoma da crise na segurança pública”.

“Essa rotatividade de nomes no comando da Polícia Civil é só sintoma da crise na segurança pública, não é a causa. Estamos colhendo as consequências da dominância na segurança pública de uma mesma política reacionária que se perpetua há décadas e que foi bastante intensificada no governo Castro. Trata-se de uma política falaciosa, eleitoreira, para dialogar com o senso comum, como se segurança pública fosse caso só de polícia”, afirmou.

Defensor do nome de Amim para a secretaria de Polícia Civil e um dos articuladores da escolha do delegado para o cargo, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PL-RJ) diz que ele “demonstrou muita capacidade de gestão em sua passagem pelo Detran”, mas entende que o enfrentamento ao crime necessita de um esforço coletivo.

“O delegado Marcus Amim demonstrou muita capacidade de gestão em sua passagem pelo Detran e acredito que seu desempenho vai se repetir agora como Chefe de Polícia Civil, que é o topo da carreira de um delegado. Mas entendo que o enfrentamento ao crime organizado – leia-se milicianos e traficantes – no Rio de Janeiro é um esforço coletivo, e a parceria entre o delegado Amim, o comando da PMERJ e a Inteligência da Secretaria de Administração Penitenciária é essencial para chegarmos a bons resultados”, disse.

Até a publicação deste texto, o Estadão procurou o governo do Estado, mas sem sucesso. A reportagem ainda aguarda um posicionamento sobre a segurança pública e as mudanças promovidas na Secretaria.

 

       E não dá em nada! Justiça autoriza transferir chefes do tráfico Marreta e Rogério 157 de presídios federais ao RJ

 

Em uma rede social, o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, criticou nesta terça-feira (24) uma "determinação judicial para transferir de uma penitenciária federal para o Rio de Janeiro um líder de facção do estado".

Cappelli não citou nomes, mas há ao menos dois velhos conhecidos do noticiário policial fluminense que estavam em presídio federal de Rondônia e foram beneficiados por decisões recentes:

•        Luiz Cláudio Machado, o Marreta, que desde sábado (21) está na cadeia de Bangu 1, na Zona Oeste, região aterrorizada pela milícia na segunda-feira (23);

•        e Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que deve voltar nos próximos dias, após decisão unânime da 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio.

“No meio de uma situação delicada que o Brasil inteiro está acompanhando, recebemos uma determinação judicial para transferir de uma penitenciária federal para o Rio de Janeiro, um líder de facção do estado. Todos precisam cooperar no enfrentamento ao crime organizado”, escreveu Cappelli nesta terça-feira, sem citar nomes.

O g1 entrou em contato com o Ministério da Justiça e aguarda retorno.

•        Marreta: representante de Marcinho VP

Marreta foi preso em 2014, no Paraguai, por agentes da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro (Seseg), Polícia Federal e Secretaria Nacional Anti Drogas Paraguaia (Senad/PY).

Do país vizinho, ele coordenava a atuação da organização criminosa e a distribuição de armas e drogas de comunidades dominadas pela facção. Segundo a investigação, foi ele que ordenado confrontos com policiais e ataque às sedes de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

Traficante que pode ter comandado ataques às UPPs no Rio é preso no Paraguai

Um ano antes, o traficante tinha fugido por um túnel construído no esgoto, na companhia de mais 26 detentos, do Instituto Penal Vicente Piragibe, que faz parte do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, para onde agora voltou.

Segundo informações divulgadas pela polícia, Marreta era um dos chefes do tráfico do conjunto de favelas do Lins e do Morro do Jorge Turco, em Coelho Neto, no Subúrbio. Ele também seria responsável pela chegada de cocaína às favelas cariocas dominadas pela sua facção criminosa.

Foi Marreta, segundo a investigação, que idealizou a tomada da Praça Seca, antes reduto só da milícia, pelo tráfico de drogas, em 2010. A guerra pelo controle de comunidades na região se arrasta até hoje e é um dos focos de terror que assola moradores do Rio nos últimos anos.

•        Rogério 157: o guarda-costas que tomou o poder de Nem

Antigo chefe do Comando Vermelho na Rocinha, comunidade na Zona Sul do Rio, 157 teve uma trajetória parecida com a do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem.

Ambos começaram como seguranças dos traficantes que comandavam a Rocinha. Nem foi de Lulu, e 157 passou de braço-direito a principal desafeto de Nem. A disputa desencadeou uma guerra pelo controle dos pontos de venda de drogas na maior favela do Rio, em setembro de 2017.

Naquela ocasião, homens de Nem invadiram a favela com a missão de expulsar Rogério, que se tornou seu desafeto após mandar executar homens da quadrilha de Nem e também de expulsar da Rocinha a mulher do traficante, Danúbia, que pretendia herdar o poder do marido.

Rogério 157 foi preso pela Polícia Civil na comunidade do Arará, na Zona Norte da cidade. De acordo com os policiais, ele foi encontrado em uma cama, debaixo de um cobertor, em uma casa simples. Dois seguranças que faziam a proteção dele estavam na laje da casa e fugiram.

•        Tentativa frustrada de voltar ao Rio

Em janeiro, agentes da Corregedoria-Geral e da Subsecretaria de Inteligência (Ssinte) da Polícia Civil frustraram um plano para trazer o traficante Rogério 157 de volta a um presídio do RJ. Um advogado e um policial civil foram presos.

O esquema previa aliciar o analista responsável pela avaliação de risco da transferência, mediante um “pagamento vultoso”, a fim de facilitar o regresso de Rogério para o sistema penal fluminense. Mas toda a negociação foi gravada.

Rogério 157 estava encarcerado desde 2018 na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. Ele tem quatro condenações na Justiça por crimes como tráfico e corrupção e acumula uma pena de 61 anos de reclusão.

A decisão para transferir 157 ao Rio foi da 6ª Câmara Criminal do Rio. Por unanimidade, os três desembargadores, Luiz Noronha Dantas, Fernando Antonio de Almeida e Marcelo Castro Anatocles foram a favor de trazer de tirar o traficante da Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, e trazer para território fluminense.

"A decisão do Tribunal de Justiça foi acertada e com fundamento na legislação aplicável e nas recentes decisões dos Tribunais Superiores. Rogério teve 6 absolvições, 4 a pedido do Ministério Público nos últimos 2 anos", afirma o advogado Thiago Lemos, que defende o chefe do tráfico da Rocinha.

 

       Após ataques no Rio, polícia mira três alvos para direcionar combate ao crime

 

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), definiu dois milicianos, que brigam entre si, e um traficante como principais alvos das forças de segurança do estado.

O anúncio aconteceu após 35 ônibus e um trem serem queimados na última segunda-feira (23), em reação a morte de Matheus da Silva Resende, de 24 anos, durante um confronto com policiais numa favela do bairro de Santa Cruz.

Conhecido também como Teteu ou Faustão, ele era o segundo na hierarquia do principal grupo miliciano do estado.

•        Zinho

Luis Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, é apontado como chefe da maior milícia do Rio. Segundo a polícia, ele assumiu o comando do grupo após a morte de seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko. Ele também era tio de Faustão.

Zinho, por sua vez, não atuou em forças policiais, como acontece com a maioria dos milicianos.

As autoridades calculam que ele arrecada até R$ 10 milhões por mês, com a maior parte vindo do transporte alternativo irregular.

•        Tandera

O outro miliciano procurado é Danilo Dias, o Tandera. Ele é antigo parceiro de Zinho e Ecko e rompeu com o grupo, juntando comparsas para invadir territórios que estavam sob o comando dos ex-chefes.

Atos de extrema violência são atribuídos a Tandera e a seu grupo, de acordo com a polícia.

•        Abelha

Wilton Crlos Rabello Quintanilha, conhecido com Abelha, é membro da cúpula da principal facção do tráfico de drogas do Rio, o Comando Vermelho (CV), e um dos únicos que não está preso.

Em 2021, Abelha saiu do presídio pela porta da frente e gerou uma crise nos órgãos de segurança.

Com o ápice neste 2023, o conflito e a disputa por territórios se agravou: tiroteios na zona oeste cresceram 54% em relação a 2022, e as mortes subiram 123% no comparativo com 2022, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.

Nesse cenário de disputa por territórios entre milicianos, o tráfico de drogas atua para conquistar espaço na zona oeste. Investigadores indicaram à CNN que Abelha tem orientado ações em trechos da região para se aproveitar da briga entre os “bondes” de milicianos.

 

       RJ parecia a própria Faixa de Gaza de tanto fogo e tanta fumaça, diz Lula

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou, na manhã desta quarta-feira (25), os ataques a ônibus que aconteceram na segunda-feira (23) no Rio de Janeiro à Faixa de Gaza, que tem sido alvo de intensos bombardeios israelenses.

A fala foi feita enquanto Lula defendia que a violência na cidade é um problema nacional em seu discurso na reunião que instalou o Conselho da Federação, órgão que reúne Governo Federal, estados e municípios para o debate de temas relevantes.

“O problema da seca do amazonas não é um problema dos estados da Amazônia, é um problema do Brasil. É muito fácil ficar vendo aquelas cenas que apareciam na TV que parecia a própria Faixa de Gaza de tanto fogo e de tanta fumaça e dizer: é um problema do Rio de Janeiro, do prefeito Eduardo Paes, do governador”, afirmou o presidente.

“Cabe ao Presidente da República e ao Governo Federal estar inteirado disso e saber o que ele pode fazer para compartilhar uma solução para esse problema.”

Entenda o caso

Os ataques de segunda-feira foram praticados por um grupo de milicianos em represália à morte de Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, vice-líder da quadrilha.

Conhecido como Teteu ou Faustão, Rezende era sobrinho de Zinho e morreu horas antes, durante um confronto com policiais civis numa favela de Santa Cruz, bairro da zona oeste.

Pelo menos 35 ônibus foram queimados. De acordo com o Rio Ônibus — que é o sindicato das empresas do transporte coletivo na capital fluminense –, esse foi o maior número de ônibus queimados na cidade em um único dia.

A cidade do Rio de Janeiro teve prejuízo de quase R$ 30 milhões com os incêndios, segundo o Rio Ônibus.

Um trem da SuperVia também foi incendiado nas proximidades da estação Tancredo Neves, no bairro de Santa Cruz.

 

Fonte: Agencia Estado/g1/CNN Brasil

 

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