sábado, 28 de outubro de 2023

ENTUSIASTA DO HORROR: Ditadura argentina defendida por Milei foi o mais brutal regime da América Latina

A maior parte dos países da América do Sul teve vida semelhante nos anos 60, 70 e 80. Na esteira da Guerra Fria, que colocou todo o planeta numa tensão permanente e sob influência das duas superpotências hegemônicas da época, os EUA e a hoje extinta União Soviética, as nações do continente foram dominadas por ditaduras militares apoiadas, planejadas e financiadas por Washington, que se aproveitava dos fardados da região verdadeiramente amedrontados com o “fantasma do comunismo”.

Na Argentina, em 24 de março 1976, a presidente Isabelita Perón, viúva do emblemático general Juan Domingo de Perón, era derrubada do cargo num golpe de Estado perpetrado por uma junta formada pelos três comandantes militares das Forças Armadas. Os genocidas Jorge Rafael Videla, do Exército, Emilio Eduardo Massera, da Marinha, e Orlando Ramón Agosti, da Força Aérea, a partir do movimento realizado no tabuleiro político do país implantaram a mais atroz e brutal ditadura do continente naqueles anos.

O candidato à presidência da Argentina Javier Milei, um radical de extrema direita totalmente tresloucado e irascível que setores da imprensa "profissional" insistem em chamar de “libertário’, ou ainda “ultraliberal”, que enfrentará o peronista Sergio Massa no segundo turno da eleição, inúmeras vezes já manifestou “apreço” e “carinho” pela ditadura monstruosa que se autobatizou de “Processo de Reorganização Nacional”. A candidata a vice na chapa de Milei, a deputada reacionária Victoria Villarruel, vai ainda mais longe nos afagos.

Ela é neta e sobrinha de militares e é talvez a única figura minimamente conhecida na Argentina que teve coragem de realizar um ato impensável por décadas: visitar Jorge Rafael Videla na cadeia.

Videla, para quem não sabe, é amplamente reconhecido como o mais assassino e pavoroso ditador da América Latina, até mesmo à frente do general chileno Augusto Pinochet. Ele usou, durante uma série de entrevistas ao jornalista Ceferino Reato, realizada entre 2011 e 2012, a expressão “disposição final” para se referir ao plano de sua ditadura de eliminar até 30 mil pessoas no país. “Disposição final”, que acabou por ser usado como título do livro que Reato lançaria ainda naquele ano, era a terminologia utilizada para se referir às fardas e equipamentos militares que já não serviam para mais nada e que precisavam ser atirados no lixo. Era assim que Videla se referia aos milhares de argentinos e argentinas que matou.

Parceiro de Videla na empreitada golpista, o almirante Emilio Massera era um psicopata. Homem sádico, mesmo sendo um oficial de altíssima patente, frequentava sessões de tortura e matava pessoas com suas próprias mãos. Matou maridos de mulheres com quem se relacionou para tomar bens e propriedades. Com seu poder, o chamado “el negro”, ou ainda “el cero”, instalou no gigantesco e imponente quartel da Escola de Mecânica da Armada (ESMA) o maior campo de concentração e extermínio que as Américas já tiveram notícia até hoje.

Ali, dentro da suntuosa instalação castrense localizada na elegante e riquíssima Avenida do Libertador, próximo ao estádio do River Plate, pelo menos cinco mil homens, mulheres e crianças foram assassinados das formas mais atrozes. Mulheres grávidas eram surradas, torturadas e estupradas para depois terem seus bebês roubados (foram pouco mais de 500 casos assim). Os algozes da Marinha introduziam aparelhos médicos de inspeção pelo ânus de muitos presos políticos e então o puxam com força para arrancar as entranhas desses detidos. Sessões de eletrochoque, até a morte, eram diárias e ocorriam em todos os períodos do dia.

Uma outra prática horrenda do “Processo de Reorganização Nacional” eram os “voos da morte”. Oficiais das Forças Armadas e dos corpos de polícia levavam adversários da ditadura para aviões do Exército, da Força Aérea e da Prefeitura Naval de Buenos Aires, os deixavam ligeiramente dopados e depois os atiravam vivos, a milhares de metros de altitude, sobre as águas do Rio da Prata. Esse horror foi profundamente documentado no livro “O Voo”, do jornalista Horacio Verbitsky, que conseguiu uma entrevista exclusiva com um desses desalmados assassinos, Adolfo Scilingo.

Videla, Massera e Agosti foram condenados no chamado “Juízo das Juntas”, em 1985. Os dois primeiros foram condenados à prisão perpétua, enquanto o terceiro a modestos quatro anos de detenção. Não ficaram muito tempo atrás das grades, já que ainda nos anos 80 vieram as leis de “obediência devida” e “ponto final”, além de outros indultos presidenciais, posteriormente, que os liberaram para tocar a vida, em casa, depois do genocídio que cometeram. Coube a Nestor Kirchner, nos anos 2000, iniciar a luta que derrubou essa bizarrice que anistiou os assassinos.

Agosti cumpriu sua leve pena e morreu em 1997, ainda sob anistia total, mas Videla e Massera não tiveram a mesma sorte. O ex-comandante da Marinha acabou não acertando as contas com a Justiça porque seu estado de saúde mental se deteriorou significativamente. Morreu vítima de um AVC em 2010. Já o chefe do Exército teve que ir para o cárcere. Ficou lá de 2008 a 2013, quando morreu, após sofrer uma queda e bater as costelas no vaso sanitário da cela. Morreu sufocado pelo próprio sangue, jogando no canto de um banheiro sujo, como um rato.

Nesse período, Videla era um pária, alguém que não recebia sequer uma visita. Mas Victoria Villarruel, a vice de Milei, ia sorridente cortejar e bajular o assassino de grávidas e ladrão de bebês.

Agora, num país onde seu regime mais nefasto foi repelido por mais de 90% da população durante anos e anos, surge um sujeito que resolve reabilitar o mais horrendo e sinistro período da história Argentina. No entanto, parte dos setores de imprensa "profissional" e do universo político, lá e no exterior, cismam em classificá-lo apenas como “libertário” ou “ultraliberal”, mesmo piscando e sorrindo para os maiores carrascos sanguinários do país.

 

Ø  Efeito Milei: implosão da oposição ajuda Massa. Por Maria Carmo

 

O candidato ‘libertário’ Javier Milei conseguiu destruir a frágil coalizão opositora Juntos pela Mudança e assim ajudar a candidatura de seu opositor Sergio Massa. A coalizão fundada pelo ex-presidente Mauricio Macri já estava em um labirinto. E Milei e sua motosserra conseguiram complicá-la de vez.

Três dias após o primeiro turno da eleição presidencial, realizado no domingo (22), a ex-presidenciável Patricia Bullrich, da coalizão macrista, anunciou que apoiará Milei no segundo turno da eleição, no dia 19 de novembro. Na campanha do primeiro turno, Milei a chamou de “guerrilheira assassina” e “terrorista” por ela ter lutado contra a ditadura militar argentina nos anos setenta. Ele ainda disse que ela tinha colocado bombas em jardins de infância e que, se eleito, mandaria revisar a indenização que ela teria recebido por ter sido perseguida pelos ditadores. Ela anunciou que entraria na Justiça contra ele. As trocas de acusações se evaporaram rapidamente depois do domingo da eleição. “Nós nosperdoamos mutuamente”, disse Bullrich na entrevista à imprensa.

Milei disse, por sua vez, que ela estava cumprindo um papel “histórico” para a Argentina – ao se aliar a ele. Mas a troca de afagos públicos provocou a rejeição de vários políticos que formam (ou formavam) a coalizão macrista. “Macri conseguiu o que queria. Destruir a nossa coalizão”, disse o governador da província de Jujuy, Gerardo Morales. Mais tarde, ele disse que a aliança continuaria existindo, mas que Macri e Bullrich não eram mais seus integrantes. Os argentinos viram, ao vivo, pelas emissoras de rádio, de televisão, portais e redes sociais, como as cartas da opositora Juntos pela Mudança se desintegraram. A implosão era esperada. Mas talvez não tão rapidamente.

 “Macri sempre torceu pela eleição de Milei”, disse uma das fundadoras da coalizão opositora, Elisa Carrió, da Coalizão Cívica. Na campanha do primeiro turno, Milei disse, várias vezes, que conversava quase todos os dias com Macri. Na ocasião, Bullrich parecia decepcionada e até irritada com essa traição explícita. Mas na terça-feira à noite, dois dias após a eleição, entre goles de Coca-Cola e de água, como contaram fontes, Macri, Bullrich, Milei e sua inseparável irmã e mentora, Karina (a quem ele se refere como ‘o’ chefe, além de mentora) selaram a paz.

Mas não contaram para os demais integrantes da coalizão que, em muitos casos, souberam do acordo pela televisão. Para muitos deles, Milei é sinônimo de antidemocrático e o oposto do que defendem, como os integrantes da União Cívica Radical (UCR), partido do ex-presidente Raúl Alfonsín, conhecido como referência democrática no país, eleito logo após a ditadura militar e responsável por promover o julgamento dos ex-ditadores. O trio Milei, Macri e Bullrich entende que juntos podem derrotar Massa e o kirchnerismo – braço do histórico e inabalável peronismo.

Nesta quinta-feira, o ministro da Economia e presidenciável do governo peronista-kirchnerista se reuniu com dezoito governadores peronistas. Com o presidente Alberto Fernández e a vice-presidente Cristina Kirchner distantes de sua campanha, o candidato Massa age como presidenciável, ministro e até como líder do peronismo.

O governador da província de Buenos Aires, o kirchnerista Axel Kicillof, disse que Milei usou sua ‘motosserra’ para ‘dinamitar’ a opositora Juntos pela Mudança. Em suas carreatas, na campanha no primeiro turno, Milei exibia o violento apetrecho nas cores preto e amarelo e o público respondia com imagens de notas de dólar (imitações) pedindo a dolarização da economia. Essa sua promessa de dolarizar teria sido um chamariz para o apoio de Macri, desde o início da campanha de Milei, de acordo com fontes que conhecem o ex-presidente. Já a ‘dinamite’ era citada por Milei cada vez que se referia ao que pretende fazer com o Banco Central, caso chegue a ser eleito. “Dinamitá-lo”, em sentido figurado, para dizer acabar com ele.

Surgem várias perguntas: como fica o discurso de Milei contra a “casta” política após a aliança com Macri e Bullrich? Seu eleitor, que não queria o macrismo e nem o peronismo, aceitará seu acordo com a direita tradicional? Ou o ‘libertário’ e radical de direita corre o risco de dinamitar seu discurso? A campanha para o segundo turno só está começando.

 

Ø  Governadores se afastam de Bullrich e Milei: mais um trunfo para Massa

 

Pouco depois de Patricia Bullrich e Mauricio Macri explodirem o Juntos pela Mudança, os governadores da Cambiomita saíram com a ambulância para recolher os escombros. Foi a última cimeira depois de um dia de fogo: da Casa de Corrientes, os governadores radicais e PRO saíram para acalmar as águas depois da bomba que Bullrich lançou ao anunciar que apoiaria Javier Milei (e a resposta devastadora de Gerardo Morales, que acusou Macri de estar feliz por “estragar” a vida de JxC). Como postal de unidade após o terramoto, os líderes provinciais mantiveram-se unidos, confirmaram que a coligação não tinha sido quebrada e apelaram à neutralidade na segunda volta. “Além das nossas posições pessoais, o nosso dever neste momento não é determinar quem será o próximo presidente, mas reafirmar os valores fundadores da JxC”, sustentaram, após a cimeira, através de um comunicado.

Foi também a desculpa para lançar a “liga de governadores JxC”. “O facto político mais importante não tem de ser a mudança de números. Não fomos eleitos para decidir quem deveria ser o próximo presidente nesta segunda volta. Fomos eleitos para governar províncias que têm de coexistir com o governo nacional, seja ele qual for. E “Esta liga de governadores veio para ficar”, disse o governador de Chubut, Ignacio “Nacho” Torres, em uma breve entrevista coletiva à noite. No encerramento desta edição, dentro do prédio localizado no centro de Buenos Aires os governadores ainda estavam reunidos, participando de um encontro que acabou virando um churrasco.

·         O cartão postal da unidade depois do terremoto

A reunião foi convocada na véspera pelo governador eleito de Entre Ríos, Rogelio Frigerio, pelo de Mendoza, Alfredo Cornejo e pelo anfitrião, Gustavo Valdés de Corrientes. A ideia original era aproveitar o seu volume político como governadores do Juntos pela Mudança – são 10 no total – com o objetivo de estabelecer uma posição no segundo turno, além do que foi definido nas conferências de imprensa do PRO e da UCR. O objectivo era criar uma espécie de contra-cimeira que afirmasse o seu peso territorial e começasse a consolidar, assim, uma “liga de governadores” que funcionasse como pólo de decisão num contexto de ausência de liderança. “Seremos o pólo da oposição quando Milei ou Massa tomarem posse, não obedeceremos mais às ordens de Macri e Bullrich”, afirmou um líder radical do Norte desde o início.

O objetivo era manter uma posição de neutralidade e constituir a espinha dorsal de uma coligação de oposição que contaria também com centenas de autarcas, 93 deputados e 24 senadores. O anúncio de Bullrich ao meio-dia, entretanto, detonou os planos. No radicalismo – e grande parte do PRO – ficaram furiosos. A novela começou durante a convenção radical, onde houve críticas à forma como toda a campanha foi organizada, a recusa em incorporar Juan Schiaretti – falava-se até em incorporar o cordoba numa futura coligação de oposição – e, fundamentalmente, culpar Mauricio Macri como o principal responsável pela implosão do JxC. “Macri está feliz. Era o que ele queria desde o início. Queria estragar a vida de JxC”, encerrou a conferência Gerardo Morales, minutos antes de partir para a Casa de Corrientes para se encontrar com seus pares provinciais.

O cenário havia mudado e o objetivo, agora, era tentar esboçar alguma imagem de coordenação interna após a manifestação caótica do declaracionismo individual. Os governadores cambiomitas tiveram que funcionar como garantes da unidade porque, em última análise, a sua própria governabilidade dependia dela. “Com Milei, Macri destruiu todas as legislaturas provinciais”, disse um líder radical de uma província da Patagónia, enquanto calculava quantos dos seus próprios legisladores restariam se rompessem com o PRO.

A reunião começou depois das seis da tarde e contou com representação de todas as províncias governadas pela JxC, exceto uma: a Cidade de Buenos Aires. Estavam Cornejo e Rodolfo Suárez (Mendoza), Gustavo Valdés (Corrientes), Rogelio Frigerio (Entre Ríos), “Nacho” Torres (Chubut), Leandro Zdero (Chaco), Marcelo Orrego (San Juan) e Carlos Sadir (Jujuy). Para Santa Fé e San Luis foram eleitos os vice-presidentes, Gisela Scaglia e Ricardo Endeiza. O último a chegar foi Gerardo Morales. Jorge Macri, por outro lado, decidiu não participar. O atual chefe do governo de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, optou por oferecer uma entrevista coletiva desde a sede de Uspallata, de onde, palavras mais palavras menos, manteve a mesma posição que os governadores anunciariam posteriormente: nem Sergio Massa nem Javier Mieli.

“Nossa postura continuará sendo a da defesa irrestrita dos valores republicanos”, iniciava o comunicado redigido pelos governadores, publicado depois das oito da noite. O texto, que falava em não “trair a nossa identidade nem entregá-la a quem pagasse mais”, afirmava que seria mantida uma posição de neutralidade em relação ao segundo turno e que, em qualquer caso, cada líder teria a liberdade de escolher quem quer. suportado.

Dessa forma, tentou-se baixar o tom – e até mesmo negar – Morales, que havia acusado Bullrich de romper com o espaço de apoio a Milei. “Não somos nós que indicamos em quem votar. Se os líderes do JxC quiserem se manifestar, podem fazê-lo”, disse Cornejo, logo após a divulgação do comunicado.

Morales saiu poucos minutos depois, mais calmo, mas com uma cara hostil: “Fechamos fileiras”, resumiu.

 

Ø  A brutal e perturbadora propaganda eleitoral anti-Milei na Argentina

 

Uma propaganda eleitoral veiculada na Argentina contra o candidato de extrema direita Javier Milei está fazendo com que os cidadãos prendam a respiração e hesitem na hora de ir à urna e dar seu voto ao radical ultrarreacionário apoiado pelo ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL).

A inserção brutal e perturbadora retrata um ataque a tiros fictício a uma escola do país. A trilha sonora típica de um ambiente educação, com muito falatório e agitação, é subitamente emudecida no momento que um garoto tira uma pistola da mochila e coloca sobre a mesa, na sala de aula. A partir daí, com a tela toda preta, o que se ouve são os disparos e os gritos desesperados das crianças.

Javier Milei, entre suas mais desembestadas e estúpidas promessas de campanha, afirma que trará “o direito dos cidadãos de bem terem uma arma”, seguindo exatamente o mesmo exemplo do Brasil, que com Bolsonaro no poder por quatro anos e uma série de medidas de flexibilização e facilitação na compra desses artigos viu um verdadeiro arsenal de centenas de milhares de pistolas, revólveres, escopetas e fuzis serem despejados no país, fazendo inclusive os ataques a escolas baterem recordes.

No fim da propaganda, com toda a tela escura, uma legenda diz: “Na Argentina, graças a Deus, isso não é uma realidade... Mas poderia ser, com Milei e sua proposta de livre venda de armas... Pense bem antes de votar... Milei não”.

 

Fonte: Fórum/Brasil 247/O Cafezinho

 

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