segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Eduardo Guimarães: O problema do Brasil é o Centrão

O ano era 1987 e o mês era fevereiro. Naquele momento histórico foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, convocada por José Sarney em 1985, tão logo ocupou a cadeira presidencial que Tancredo Neves deixara vaga por obra de uma diverticulite.

No dia 5 de outubro de 1988, o Brasil adentrava (de fato) a democracia com a promulgação da Constituição Cidadã de Ulisses Guimarães, a sétima, após as de 1824, 1891, 1934, 1937, 1946 e 1967. Durante aqueles vinte intensos meses de sua penosa constituição, nascia um movimento gangsterista e reacionário que infelicita o Brasil até hoje.

A atual Carta Magna era para ser muito mais progressista do que acabou sendo. Só não foi tudo que poderia ser e só não regulamentou tudo o que deveria regulamentar graças a um lema que se transformou em prática e que desde a instalação da Constituinte norteou o nefasto "presidencialismo de coalizão" que ali nascia.

O deputado Roberto Cardoso Alves, do então PMDB paulista, era o líder do mal-chamado "Centrão", que de centro não tinha nada, tendo sido, desde a gênese, um ajuntamento de reacionários e picaretas de todas as cores, tamanhos e formas. Desde então, o lema do Centrão, cunhado pelo "Robertão do Centrão -- e que continua vivo e profético -- foi:

"É dando que se recebe".

Tratava-se de releitura picareta da oração de São Francisco de Assis. Em vez de pregar a generosidade, o peemedebista defendia as barganhas em troca de votos no Congresso. Dali em diante, o Centrão chantageou e extorquiu cada um dos presidentes do pós-redemocratização.

Pautas e ajustes na Constituinte (1987 e 1988) impediram que a Constituição brasileira fosse o que deveria e poderia ser.

# Presidencialismo

- O texto da chamada Comissão de Sistematização previa quatro anos de mandato para Sarney e a adoção do parlamentarismo. Com o apoio do Centrão e em meio a negociações de cargos, foram aprovados o presidencialismo e mandato de cinco anos para o então presidente.

# Reforma agrária

- O Centrão retirou da Constituição a desapropriação de terras produtivas por descumprir função social, que estava na proposta do relator, Bernardo Cabral, e era apoiada pela esquerda e parte do PMDB de Ulysses Guimarães, que presidia a Constituinte.

# Estabilidade no emprego

- O grupo costurou um acordo, que deixou de fora deputados de esquerda, que fixou pagamento de indenização aos trabalhadores no caso de demissão sem justa causa. A versão anterior previa a estabilidade a não ser em situações de falta grave e motivo econômico.

# Licença-paternidade

- O Centrão era inicialmente contra, mas membros do bloco negociaram sua permanência no texto. Foi fixada a necessidade de uma lei para definir sua duração. O tema é hoje alvo de ação no STF que aponta omissão do Legislativo na regulamentação. Até hoje o Centrão impediu que exista

Outras obras do Centrão ao longo da história recente são o impeachment de Dilma, a Imposição de emendas parlamentares, a celeuma sobre a maioridade penal e a famigerada reforma trabalhista, que Temer materializou e Bolsonaro agravou.

A última mazela obrada pelo Centrão é o famigerado Marco Temporal, que ainda ameaça o Brasil mesmo tendo sido proibido pelo STF.

O presidente Lula diz que o Centrão não existe. Constituinte de 1987/1988, Lula bem sabe que o Centrão não existe oficialmente, mas que se ele não existe assim, sua obra interfere na vida nacional há penosos 35 anos. E não parece que dará paz à nação tão cedo.

 

       'Centrão está usando confronto com STF para emparedar Lula', afirma Eugênio Aragão

 

Em uma entrevista à TV 247, o advogado Eugênio Aragão, ex-ministro da Justiça, fez uma análise contundente da atual situação política no Brasil, destacando dois grupos de atores que desempenham papéis distintos no cenário político do país. A primeira categoria identificada por Aragão é a "ultradireita", que, segundo ele, confunde o governo com o Supremo Tribunal Federal (STF) e acredita que o STF segue a agenda do governo Lula. Aragão enfatiza que essa percepção não corresponde à realidade. Ele considera essa abordagem da ultradireita como um equívoco político.

"O outro grupo (centrão) está usando o conflito, declarando bloqueio das agendas no Congresso para botar o governo contra a parede. Aproveitando esse argumento cretino da ultradireita de que o governo e o Supremo estariam num conluio. Estão só usando isso para botar Lula contra a parede. É uma extorsão (cometida pelo Congresso) da forma mais rasteira. Chantagista nunca vai parar de chantagear. É uma coisa que precisa de coibida", afirmou Eugênio Aragão.

É um confronto aberto com o Supremo (aprovar Marco Temporal). E conseguiram assinaturas mais uma Emenda Constitucional mais absurda para o Congresso ter poderes de cancelar decisão do Supremo. É o absurdo do absurdo. O artigo 60 da Constituição, parágrafo 4, é muito claro: emendas constitucionais não poderão ter projeto, ataques à separação dos Poderes. Controle de constitucionalidade é papel do Supremo e não do Congresso.

O advogado argumenta que, historicamente, o Centrão era influenciado por cargos e recursos, mas durante os quatro anos do governo Bolsonaro, ocorreu uma mudança significativa de poder, com os presidentes da Câmara e do Senado assumindo papéis de liderança. Essa mudança, segundo Aragão, não será revertida facilmente.

 

       "Lula quer no STF alguém que não tenha medo da imprensa. E tem razão", diz jornalista Mário Vitor Santos

 

 Durante uma análise política no programa "Bom Dia 247", o jornalista Mário Vitor Santos trouxe à tona uma questão fundamental no cenário político brasileiro: a relação entre a escolha do próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e a postura diante da imprensa. Suas declarações, que ecoaram em meio à pressão pela nomeação de uma mulher negra para a vaga deixada pela ministra Rosa Weber, destacaram a importância de selecionar alguém capaz de lidar assertivamente com a mídia, independentemente de seu gênero e raça.

Mario Vitor Santos começou abordando a perspectiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação ao processo de escolha do próximo ministro do STF. Lula anunciou que o critério de gênero não terá peso em sua decisão, enfatizando que sua prioridade é selecionar alguém que atenda aos interesses e expectativas do Brasil. Ele declarou: "O critério não será mais esse. Eu estou muito tranquilo para escolher uma pessoa que possa atender aos interesses e expectativas do Brasil." Lula ressaltou que o Brasil precisa de um ministro capaz de servir ao país, respeitar a sociedade brasileira e votar adequadamente nas questões em debate no STF, independentemente do sexo do indicado.

Mário Vitor Santos, durante a entrevista, também trouxe à tona outra questão relevante: a postura diante da imprensa. Ele afirmou que Lula quer alguém que não tenha medo da imprensa e que possa lidar com os desafios da mídia de forma transparente e firme. "Lula quer no STF alguém que não tenha medo da imprensa. E tem razão", disse ele.

 

       Próximo ministro do STF deve ter sobretudo coragem para enfrentar o fascismo, diz Danielle Cruz

 

A professora de Direito Penal e Processo Penal na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Danielle Cruz, é uma das principais juristas negras defendidas por movimentos sociais para a próxima vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Ela concedeu uma entrevista à TV 247, abordando temas relevantes sobre o cenário político e jurídico do país.

Cruz não poupou críticas ao que chamou de “momento de autoritarismo” vivido no direito penal brasileiro, ressaltando a prevalência de um “modelo de perseguição” e a “tentativa de eliminação do inimigo”. Para ela, é essencial desenvolver um pensamento penal diferenciado para contrapor esse ápice de arbitrariedade.

Sobre a representatividade na Corte, Danielle comentou: “É óbvio que uma mulher negra, ou pelo menos uma mulher, seria o ideal em termos de representatividade. Com a saída da ministra Rosa Weber, e a entrada de um homem, vamos sair com um retrocesso em relação à representatividade de gênero no Supremo Tribunal Federal”. A jurista compreende, no entanto, que a escolha é uma prerrogativa do presidente, que enfrenta grande pressão.

Danielle Cruz alertou para o cenário político atual, afirmando que o Brasil não vive um momento de normalidade democrática e denunciando o avanço do fascismo no país. “O ministro que ocupar essa vaga, ele ou ela deve ter muita coragem para enfrentar o fascismo no país”, ressaltou. Ela destacou a importância do STF no julgamento de questões relevantes e dos indivíduos acusados de participar nos atos que chamou de "terroristas" em 8 de janeiro.

A professora elogiou a recente decisão da ministra Rosa Weber acerca do aborto e criticou a postura “populista” de parlamentares, especialmente em um Congresso caracterizado por ela como “conservador”. Cruz apontou que o STF, por outro lado, tem demonstrado uma tendência mais “progressista”. “Se trata de um tema muito caro às mulheres, porque criminaliza principalmente as mulheres negras, pardas e pobres, acima de tudo”.

Danielle Cruz também fez referência à remoção de Dilma Rousseff em 2016, caracterizando-a como um “golpe” e destacando o trabalho teórico realizado sobre as “arbitrariedades” cometidas na história recente do país.

 

       Identitarismo trava aproximação da esquerda com evangélicos

 

A reconstrução do diálogo de setores da esquerda com o segmento evangélico tem esbarrado na polarização, na ascensão da luta identitária e na incompatibilidade de visões. Além disso, temas que foram incorporados pela direita, como segurança pública e agronegócio, acabaram por ampliar as dificuldades entre os segmentos progressistas e religiosos.

"Se você perguntar para o evangélico se ele quer ter saúde e escola pública de qualidade, direitos trabalhistas como férias, ele vai dizer que sim. É dessa forma que a esquerda consegue se conectar com as igrejas", disse o pastor Alexandre Gonçalves, líder dos cristãos trabalhistas no PDT, ao jornal Folha de S. Paulo. "Mas se você inicia um diálogo com temas transversais, ainda que eles tenham a sua importância, isso acaba fazendo surgir um identitarismo de maioria. Isso faz muito bem à direita", completou.

A divergência ideológica agravou-se com a importação de pautas da nova esquerda americana, focada em questões identitárias. Para alguns evangélicos, isso cria um identitarismo majoritário que beneficia a direita. A esquerda busca conciliar essa tensão, mas a dificuldade em mobilizar eleitores em torno de pautas amplas e a falta de comunicação eficaz acentuam os desafios.

O cientista político Guilherme Casarões, professor da FGV, observa que o padrão é global. "Temos as tensões entre uma esquerda tradicional, focada na dimensão econômica e de classe, e uma identitária, preocupada com a garantia dos direitos de grupos vulneráveis".

"Vemos uma dificuldade das esquerdas em geral em mobilizar eleitores em torno de pautas amplas. A utopia do passado, representada pelo socialismo, foi substituída por sentimentos como medo, ódio e ressentimento, ativados de maneira eficiente pela extrema direita, em particular de corte populista", explica Casarões.

Para ele, a direita foi hábil "na ocupação precoce dos espaços digitais", enquanto a esquerda tenta "construir narrativas amplas de apelo às massas, para além dos grupos com os quais tradicionalmente dialoga". Ainda segundo Casarões, “ao mesmo tempo, tragados pela polarização, muitos passaram a equivaler conservadorismo e fascismo, ostracizando parcelas significativas da população."

O desafio maior, porém, reside em superar estereótipos, dialogar com a diversidade de vozes evangélicas e construir pontes baseadas no respeito mútuo visando superar esses obstáculos e reconquistar a confiança do segmento evangélico.

Nesta linha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem feito acenos para esse segmento desde seu retorno à Presidência, como o envio de uma carta para justificar sua ausência na Marcha para Jesus, além de apoiar a ampliação da isenção tributária às igrejas na Reforma Tributária.

 

       "O governo Lula está sitiado pelo identitarismo", diz Rui Costa Pimenta

 

O presidente do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, denunciou numa entrevista à TV 247 os defensores do identitarismo que "cerceiam" o governo do presidente Lula para pressioná-lo a tomar certas decisões. Segundo o dirigente, o presidente deveria expulsar do país as ONGs estrangeiras que financiam esses ativistas e se infiltram na política nacional.

Ele considera que o identitarismo baseia-se na divisão de uma população a partir de categorias identitárias, esquecendo-se que a sociedade é dividida em classes sociais. Ele citou o caso da assessora exonerada Marcelle Decothé, do Ministério da Igualdade Racial, que publicou uma postagem em suas redes sociais ofendendendo torcedores de futebol brancos durante uma visita oficial da ministra Anielle Franco a um jogo de futebol em São Paulo.

"O identitarismo visa dividir as pessoas. A sociedade é dividida em classes sociais e não por essas identidades. O caso da Marcelle Decothé foi emblemático. Como em todas as torcidas, a grande maioria vem do proletariado. Ela falava em nome de um governo", criticou Pimenta.

O dirigente aponta ainda os laços do identitarismo com os países do Norte Global. Esses movimentos políticos visam, segundo Pimenta, enfraquecer as sociedades de países não imperialistas, mas acabam conquistando parte da esquerda. "O identitarismo é a face suave do imperialismo. É a arma usada para angariar setores da esquerda", afirmou. "As ONGS deveriam ser expulsas do País. Isso é uma tentativa de infiltração estrangeira na política nacional".

Um dos centros do ativismo identitário, segundo Pimenta, é o Supremo Tribunal Federal (STF), como nas discussões sobre a legalização do aborto e do marco temporal. Em relação a esse último caso, o veto do STF pode explodir no colo do presidente Lula.  "Somos a favor do aborto. Mas as decisões do Supremo cairão no colo do governo Lula. O governo Lula está sitiado pelo identitarismo do STF e de pessoas que estão no seu próprio governo. Na questão do marco temporal, o STF jogou uma granada no colo do presidente Lula".

•        Bancada conservadora recua em projeto contra casamento homoafetivo e relator deverá propor 'meio-termo'

Quase um mês após iniciar a polêmica ofensiva contra o casamento homoafetivo na Comissão da Família da Câmara, a bancada conservadora sinaliza que poderá recuar do texto original. Segundo a Coluna do Estadão, do jornal O Estado de S. Paulo, A ideia é que o relator, Pastor Eurico (PL-PE), mude o parecer do projeto que proíbe o casamento de pessoas do mesmo sexo, buscando um “meio termo”. O texto final deve garantir que igrejas não sejam obrigadas a realizar a esse tipo de união, mas com manutenção dos direitos civis já adquiridos por esses casais”.

Embora a realização do matrimônio por igrejas não seja compulsória, a aprovação de um projeto de lei que garanta a "desobrigação" deverá ser apresentada como uma vitória para a bancada conservadora. Contudo, os progressistas também celebrarão a rejeição da proposta que proibia o casamento homoafetivo.

O texto revisado será elaborado por um grupo de trabalho a ser estabelecido na Câmara, conforme confirmado pelo presidente da Comissão da Família, Fernando Rodolfo (PL-PE). “Os conservadores, que são maioria no colegiado, precisam construir acordos e transformar o relatório final para que a matéria tenha chances de ser aprovada em outras comissões, como a de Constituição e Justiça (CCJ) - onde sabem que da forma que estava seria derrubado, pois o Supremo Tribunal Federal (STF) já confirmou a constitucionalidade da união civil homoafetiva - ou mesmo no plenário da Casa”, destaca um trecho da reportagem.

 

Fonte: Brasil 247

 

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