André Lobão: Empresas de Israel e os seus negócios com o governo do
Brasil
Esses contratos e compras em sua grande maioria foram encaminhadas a
partir dos grandes eventos realizados no Brasil a partir de 2014 com a Copa do
Mundo e Olimpíadas do Rio 2016. Com o Bolsonaro os negócios com empresas de
Israel cresceram. Foram mapeadas seis empresas, sendo cinco israelenses e uma
de origem dinamarquesa que possui contratos com Israel na gestão de centros
prisionais naquele país voltados para palestinos. O que fica claro é que o
lobby de Israel tem forte atuação no sistema de defesa militar do Brasil e na
segurança pública, financiando assim o apartheid de Israel contra os
palestinos. Saiba quais são as empresas:
• Elbit
O Brasil é um dos grandes compradores da indústria
de armamentos de Israel. Em matéria publicada na Folha de S. Paulo, em janeiro
de 2017, é informado que o Exército Brasileiro fechou acordo de R$ 6,3 bilhões
com empresas israelenses para compra de blindados (caveirões). Uma das
fornecedoras – a empresa Elbit – é acusada de ter construído drones que mataram
164 crianças palestinas em Gaza, durante a ofensiva de 2014. Os dados são da
ONG Defense for Children International Palestine (DCI).
Em 5 de agosto, de 2016, o Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a venda dos negócios de comunicação
militar da Mectron Engenharia, empresa da área de defesa do grupo Odebrecht,
para a Elbit Systems.
A mesma Elbit firmou, a partir de 2016, 34
pagamentos por fornecimento de serviços
e equipamentos com o Ministério da Defesa, sendo a Marinha do Brasil sua única
compradora. Os negócios totalizaram mais de R$ 75 milhões, e envolveram desde a
aquisição de equipamentos de comunicação até modernização de carros de combate,
desenvolvimento e renovação de sistemas operativos, entre outros produtos e
serviços. Esses dados constam no Portal da Transparência do Governo Federal.
Somente no governo Bolsonaro foram firmados 29 contratos.
Segundo uma reportagem do Brasil de Fato, produzida
em 2016, a Copa do Mundo de 2014, serviu
de impulso para as operações da Elbit no Brasil. Só em 2013, quando foi
realizada a Copa das Confederações, a empresa recebeu R$ 102,6 milhões do
governo, com drones sendo usados para monitorar, inclusive, as manifestações de
rua daquele ano. No ano de 2014, a Elbit anunciou o fornecimento de uma linha
de Hermes 900 para a Força Aérea Brasileira (FAB). O Brasil foi o oitavo país
do mundo a adquirir essa aeronave, o drone mais moderno e mais potente
fabricado pela empresa israelense. O modelo tem autonomia de voo de 36 horas e
alcança raio de 300 km em relação à sua base em solo. É o dobro da capacidade
do Hermes 450.
• AEL
A Elbit é a maior empresa privada da área militar
em Israel. Aqui no Brasil ela possui uma subsidiária que é sediada em Porto
Alegre/RS, chamada AEL Sistemas Ltda. Só essa empresa firmou contratos com o
Governo Federal que já ultrapassaram
mais de R$ 702 milhões. São 29 contratos celebrados desde 2012, sendo que
alguns só serão finalizados em 2027. O maior contrato de R$ 153.515.441,24 –
firmado também com o Ministério da Defesa, tendo como a unidade contratante o
Centro Logístico da Aeronaútica, para contratação de serviços de suporte
logísitco (CLS) para os itens do sistema de aviônico da Aeronave F-5M.
• IAI
Já a estatal israelense Israel Aerospace Industries
(IAI), teve firmados um total de 65 pagamentos , totalizando mais de R$ 22
milhões, de julho de 2019 até o último mês de agosto. São produtos e serviços
adquiridos pelo Ministério da Defesa para a Aeronáutica, tendo a Polícia
Federal como cliente final.
• IWI
A IWI (Israel Weapon Industries) é uma fabricante
de armas de pequeno porte como pistolas
e sistemas de pontaria e observação. No Brasil a IWI vende seus produtos para o
Governo Federal através da representação da empresa Jose Wanderley Schmaltz
Equipamentos Eletrônicos Ltda, sediada em Goiânia-GO, firmou 10 contratos entre
os anos de 2013 e 2021 que totalizam R$ 6.691.421,00
• G4S
A G4S não é israelense, fundada na Dinamarca hoje a
empresa tem presença global, considerada uma concorrente do grupo russo Wagner,
oferecendo serviços de segurança
privada, formação de policiais , postos de controle, estruturando milícias de
colonos em territórios ocupados, gerenciando cinco prisões, entre outros
serviços e produtos, em Israel. No
sistma prisional israelense estão encarceradas entre 500 e 700 crianças
palestinas, segundo informações do Movimento DBS.
A empresa também está presente no Brasil, sendo
denominada G4S Brasil,oferecendo serviços de soluções integradas em segurança
privada, proteção de dados, facility e até consultoria no mercado financeiro. A
empresa com o Governo Federal efetivou 29 contratos, tendo recebido da União R$
15.552.359,38.
• Cognyte
A Cognyte Brasil, empresa que forneceu o software
de espionagem israelense FirstMile durante o governo Bolsonaro firmou dois
contratos com o Governo Federal que somam R$ 10 milhões e foram realizados com
inexibilidade de licitação. Ambos tiveram como órgão contratante a Polícia
Rodoviária Federal, a partir da Superintendência do Rio de Janeiro.
O primeiro
contrato ( 73/2018) ,assinado em 28/12/2018, nos últimos dias do governo Temer,
tendo como objeto a aquisição de solução integrada denominada Webint, um
software de monitoramento de redes socais de pessoas e empresas, inclusive na
deepweb. O contrato de R$ 5 milhões foi finalizado em 28/12/2019.
O segundo contrato (35/2021), também de R$ 5
milhões, foi firmado no governo Bolsonaro em 21/09/2021 e adentra ao governo
Lula até 21/03/2024. Este visa serviços de manutenção , suporte, migração do
sistema Verint Web Intelligence e realização de treinamento oficial.
Abin:
Parlamentares poupam órgãos que compraram programa espião israelense da Cognyte
alvo da PF. Por Caio de Freitas Paes
Após o depoimento do diretor-geral da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, à Comissão Mista de
Controle das Atividades de Inteligência (CCAI) nesta quarta-feira (25), para
explicar o uso do programa espião First Mile, parlamentares não se
comprometeram a pedir explicações a outros órgãos públicos que contrataram este
e outros produtos similares da empresa israelense Cognyte nos últimos anos.
A companhia somou mais de R$57 milhões em contratos
firmados com o poder público brasileiro após fechar negócio com a Abin, em
dezembro de 2017, vendendo produtos para a Aeronáutica, o Exército, a Polícia
Rodoviária Federal (PRF) e pelo menos outros nove estados. O fato foi revelado
pela Agência Pública na última sexta-feira (20), dia da operação Última Milha,
da Polícia Federal (PF).
Antes e depois da reunião da CCAI, a Pública
questionou membros da comissão se haveria apuração sobre os outros contratos da
Cognyte junto a órgãos federais, como aqueles com as Forças Armadas. Porém,
nenhum dos membros previu medidas concretas, como por exemplo protocolar
requerimentos de informação aos órgãos que usam produtos da Cognyte ou a
convocar servidores responsáveis por fiscalizar o uso das ferramentas do grupo
israelense.
“Aprovamos
requerimento a outros órgãos envolvidos, como a CGU [Controladoria-Geral da
União] e o Supremo [Tribunal Federal] para termos acesso a todas as informações
relacionadas à contratação e utilização deste programa [First Mile], para que
num segundo momento possamos ouvir outras autoridades”, disse o presidente da
CCAI, deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), em entrevista
coletiva após a reunião.
Em agosto, a Pública já havia revelado, com
exclusividade, que a Comissão do Exército Brasileiro em Washington (EUA) gastou
mais de R$ 4 milhões no fim do governo Bolsonaro para a “renovação de licenças
de interesse” dos militares junto à Cognyte, uma compra que foi publicada no
Diário Oficial da União somente em janeiro deste ano, já no governo Lula.
Depois da 1ª fase da Operação Última Milha, o
jornal Folha de S. Paulo revelou que militares do Gabinete de Intervenção
Militar no Rio de Janeiro tinham comprado produtos espiões da Cognyte, ainda em
2018. Mesmo com tais fatos públicos, não houve qualquer sinal de mobilização
dos parlamentares da CCAI, para esclarecer o uso destas ferramentas pelo
Exército.
“É
importante dizer que o encontro de hoje foi motivado pelos fatos revelados na
sexta [após a operação da PF], e nem isso foi devidamente esclarecido”, disse o
vice-presidente da CCAI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), após o término da
reunião.
No encontro, estava o deputado federal Alexandre
Ramagem (PL-RJ), membro da comissão e ex-diretor-geral da Abin no período
atualmente investigado pela PF. O parlamentar evitou a imprensa ao chegar para
a reunião e, ao término, saiu por uma das salas anexas ao local do encontro,
sem falar com os repórteres.
“O Ramagem, por bem dizer, deveria pedir para sair
[da CCAI], né? Essa seria a posição mais correta, por mais que não haja nada
que o impeça de continuar na comissão… mas é constrangedor”, disse aos
repórteres o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), outro membro da CCAI,
antes do início dos trabalhos.
Ramagem tem se eximido de responsabilidade sobre o
suposto uso ilegal do First Mile durante sua gestão na Abin. Em sua conta na
rede social X (antigo Twitter), o deputado afirmou que “o setor de operações da
Abin possuía exclusividade e discricionariedade sobre o uso da ferramenta” e
que “só o setor de operações possuía senha e gestão do sistema”, referindo-se
ao programa da Cognyte.
À Pública, Ramagem já havia afirmado que sua gestão
promoveu “uma auditoria formal de todos os contratos” da Abin, o que incluía o
First Mile – programa adquirido em dezembro de 2017, quando a agência estava
subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional do general da reserva do
Exército Sérgio Etchegoyen.
Fonte: Brasil 247/Agencia Pública
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