Anabolizantes comprometem fertilidade mesmo após
interrupção do uso
O Conselho Federal de
Medicina proibiu, no começo do ano, a prescrição de esteroides anabolizantes
para fins estéticos. Isso diminuiu o uso das substâncias, mas não reverte os
efeitos na saúde, que são duradouros - sobretudo aqueles da fertilidade.
De acordo com o Dr.
Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica
Mater Prime, os esteróides anabolizantes podem prejudicar o funcionamento
adequado dos testículos mesmo após anos da interrupção de seu uso. Isso porque
o aumento dos níveis de testosterona provocado por esse tipo de medicamento
inibe a produção do hormônio responsável pela maturação das células
reprodutivas.
"Já sabíamos que o
uso indiscriminado de anabolizantes pode afetar a fertilidade de forma total ou
parcial em homens. No entanto, alguns estudos já mostraram que os esteroides
podem comprometer de forma semipermanente a produção de testosterona nos
testículos, causando assim uma disfunção testicular", afirma o médico.
·
Comprovação científica
Em março de 2021,
pesquisadores publicaram um artigo no Journal of Clinical Endocrinology &
Metabolism, com os resultados de um trabalho que acompanhou 132 homens
praticantes de musculação entre 18 e 50 anos. Os cientista dividiram os
participantes em 3 grupos:
Aqueles que nunca usaram
esteroides;
Aqueles que utilizavam os
anabolizantes no momento do estudo;
E, por fim, aqueles que
pararam de usar medicamentos do tipo pelo menos três anos antes do início da
pesquisa.
Para determinar a falta
de função testicular, visto que os níveis de testosterona tendem a variar naturalmente
ao longo do dia, os pesquisadores utilizaram como marcador o peptídeo 3
semelhante a insulina (INSL3). Ele é produzido pelas mesmas células produtoras
da testosterona.
Ao compararem os
resultados da análise desses marcadores nos três grupos, os pesquisadores
notaram que, em comparação com os participantes que nunca utilizaram
anabolizantes, os outros dois grupos tinham concentrações muito mais baixas de
INSL3. E, quanto maior o tempo de uso dos anabolizantes, menores eram os níveis
desse peptídeo.
Além disso, foi possível
observar que até ex-usuários de esteroides anabolizantes ainda apresentavam
disfunção testicular. Isso mesmo após mais de dois anos e meio da interrupção
do uso. "É possível concluir que o uso de anabolizantes a longo prazo pode
suprimir a função testicular. Ela pode nunca se recuperar completamente, com
consequente impacto na qualidade e contagem de espermatozoides e na fertilidade",
diz o Dr Rodrigo.
·
É possível recuperar a
fertilidade?
O especialista alerta
para os diversos riscos do uso indiscriminado de esteroides anabolizantes. Ele
contraindica a utilização sem a devida orientação médica. Homens que já
utilizam essas substâncias, por sua vez, devem interromper o uso. E, caso
desejem ter filhos, consultar um médico especialista em reprodução humana para
realizar exames de espermograma a fim de verificar a quantidade de
espermatozoides e se houve alguma interferência na fertilidade.
Felizmente, para homens
que já sofreram grandes impactos na fertilidade, mas desejam ter um filho, é
possível reverter os danos, melhorando a qualidade e a contagem dos
espermatozóides. Para isso, o médico recomenda adotar um estilo de vida
saudável, seguindo as seguintes condutas:
Manter uma alimentação
balanceada;
Controlar o peso;
Praticar exercícios
físicos regularmente;
Evitar maus hábitos como
o tabagismo e a ingestão excessiva de álcool.
"Além disso,
aumentar a frequência das relações sexuais, principalmente durante o período
fértil da mulher, também é outra estratégia para que homens com baixa contagem
de espermas consigam fecundar suas parceiras", aconselha o médico.
·
Fertilização in vitro
(FIV)
No entanto, se mesmo com
a adoção dessas estratégias o casal ainda não conseguir engravidar, é
interessante verificar com o médico especialista em reprodução humana a
possibilidade da realização de procedimentos de reprodução assistida. É o caso
da Fertilização In Vitro (FIV), por exemplo.
"Nesse procedimento,
o material genético colhido da mulher (óvulo) e do homem (espermatozoides) são
fecundados em laboratório. Posteriormente, os médicos transferem o embrião para
o útero, onde se implantará e desenvolverá a gestação", explica
Rodrigo.
Segundo o médico, existe
ainda uma técnica recente já muito comum na FIV. Trata-se da injeção
intracitoplasmática de esperma (ICSI), que permite escolher microscopicamente o
espermatozoide saudável para inseri-lo diretamente dentro do óvulo com o
auxílio de uma agulha de máxima precisão.
"Com a seleção de
espermatozoides usando microscópio, é possível separar o material genético em
condições para fertilização, revertendo problemas como alterações na quantidade
ou qualidade dos espermatozoides", destaca o Dr Rodrigo Rosa.
"No entanto, a
indicação do procedimento vai depender de uma série de fatores, incluindo idade
e histórico de saúde do casal, cabendo então ao profissional especializado
recomendar o procedimento mais adequado para cada caso", finaliza.
Ø Uso de anabolizantes aumenta 4 vezes o risco
de morte prematura
Os esteroides androgênicos
e anabolizantes (EAA) são famosos no mundo fitness por ajudar no desempenho
físico ou no aumento de massa muscular. Por isso, estes produtos derivados da
testosterona são usados em larga escala por fisiculturistas e outros
praticantes de esportes. No entanto, estudos vêm demonstrando que o uso
indiscriminado dessas substâncias é a causa principal do surgimento de doenças
cardiovasculares.
·
Quais os riscos dos
anabolizantes?
Estima-se que um terço
dos usuários de EAA seja dependente desses esteroides, já que o uso não
farmacológico visa um crescimento rápido de massa muscular e a modificação
corporal. Além disso, segundo pesquisas do Research, Society and Development
Journal, o risco de morte prematura em usuários atuais ou antigos de esteróides
anabolizantes é quatro vezes maior em relação a quem nunca usou.
·
Uso de anabolizantes pode
causar aneurisma? Médico alerta riscos
"Isto acontece
porque sem a devida indicação e o adequado acompanhamento médico, essas
substâncias podem causar diversos danos à saúde, mesmo após a suspensão do
uso", explica o Dr. Carlos Hossri, médico cardiologista do Hospital do
Coração (Hcor).
Segundo ele, entre as
principais consequências do uso de anabolizantes estão:
Miocardite;
Arritmia;
Hipertensão;
Morte súbita;
Aumento do colesterol
ruim;
Diabetes;
Infarto agudo do
miocárdio;
Acidente vascular
cerebral (AVC).
O médico alerta ainda que
a possibilidade de efeitos colaterais aumenta com o uso prolongado de altas
doses.
·
Perigo alarmante para o
coração
De acordo com a Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC), o uso desses esteroides causa efeitos adversos
no corpo, como o aumento de massa muscular no coração sem a proporcionalidade
da irrigação sanguínea.
Essa desarmonia pode ser
consequência do desenvolvimento de placas obstrutivas nas artérias coronárias,
além do "engrossamento" do sangue, formando coágulos dentro desses
vasos, impedindo o fluxo sanguíneo adequado e, consequentemente, um déficit no
suprimento de oxigênio.
Os mesmos estudos afirmam
que 25% dos jovens que utilizam anabolizantes apresentam as placas em até três
coronárias. Além disso, o sistema nervoso autônomo, aquele que ajuda a
controlar as variações dos batimentos cardíacos e a pressão arterial, também
pode ser afetado negativamente pelo uso dos anabolizantes.
·
Risco de dependência
química
O Dr. Carlos Hossri
alerta que, devido aos seus efeitos no organismo, os esteroides podem levar ao
vício. "Mesmo ex-usuários de anabolizantes há anos relatam que a qualidade
da saúde física e mental piorou, afetando o comportamento e o bem-estar
emocional. Isso porque os EAA promovem uma sensação de bem-estar, podendo fazer
com que os usuários tornem-se verdadeiros dependentes químicos", explica o
especialista.
Em todos os casos, é
fundamental que o uso de anabolizantes seja realizado sob indicação e
supervisão médica, destaca o cardiologista. "Geralmente, os EAA são
prescritos por endocrinologistas a fim de regular a função hormonal. Mesmo
esses pacientes, que tomam doses muito baixas, precisam ter um acompanhamento
médico periódico", ressalta.
Fonte: Saúde em Dia
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