Reforma tributária: relator propõe mais recursos para estados e revisão
de benefícios a setores a cada 5 anos
O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo
Braga (MDB-AM), apresentou nesta quarta-feira (25)) a primeira versão de seu
relatório sobre a mudança nos impostos sobre o consumo.
>>>> Entre os pontos alterados em
relação ao texto
aprovado pela Câmara dos Deputados em julho, estão:
- o aumento do Fundo de
Desenvolvimento Regional (FDR) dos estados;
- um mecanismo que institui uma revisão periódica a cada cinco anos dos benefícios que
reduzem a tributação de setores específicos da economia.
- um artigo que limita
a carga tributária dos impostos sobre o consumo a uma
porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) - com base na média da receita
no período de 2012 a 2021.
A reforma tributária ainda precisa passar por
comissões e pelo plenário do Senado. Se houver mudanças no conteúdo, o texto
volta à Câmara, a quem cabe a análise final. Em seguida, se aprovado, o texto
vai à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A expectativa de Eduardo Braga é votar seu
relatório na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário do Senado
Federal entre os dias 7 e 9 de
novembro.
>>>> Entenda,
no texto abaixo, como ficou o nova versão da reforma tributária nos seguintes
pontos:
- Fundo
de Desenvolvimento dos Estados
- setores
com carga tributária diferenciada
- 'imposto
do pecado' e Zona Franca de Manaus
<<<< Mais
dinheiro para os estados
O texto aprovado pela Câmara em julho prevê que o
valor colocado pela União no fundo para os estados crescesse gradativamente, a
partir de 2029, até chegar ao patamar anual de R$ 40 bilhões a partir de 2033.
Os valores visam dar condições aos estados para o
desenvolvimento de atividades produtivas.
Após negociações com os governadores, a equipe econômica concordou em elevar o
valor para R$ 60 bilhões anuais – mas só a partir de 2043. Entre
2034 e 2043, haverá um incremento de R$ 2 bilhões ao ano.
Esse montante proposto pelo relator,
entretanto, ainda ficou abaixo do
que foi pedido pelos estados, um valor de R$ 75 bilhões a R$ 80 bilhões por
ano.
O Fundo de Desenvolvimento Regional é uma proposta
para que os estados substituam os atuais benefícios fiscais, que serão extintos
a partir da reforma tributária – porque os impostos começarão a ser cobrados no
destino (no lugar onde o produto é consumido), e não mais na origem (onde ele é
produzido).
Nas últimas tentativas de se fazer a reforma
tributária, esse tipo de compensação foi um dos
principais entraves nas discussões entre União, estados e municípios.
A nova versão do Senado também avança em definir
critérios de distribuição para esse fundo (o que não havia na versão da
Câmara). O relator propõe que:
- 70% do fundo siga as mesmas regras usadas hoje para dividir o
Fundo de Participação dos Estados (FPE), que dá mais dinheiro a estados
mais pobres;
- 30% do fundo seja distribuído proporcionalmente ao número de
habitantes de cada estado.
Eduardo Braga propõe ainda que o "Conselho
Federativo" – que seria criado para gerenciar o fundo e poderia tomar
decisões – seja na verdade um "Conselho Gestor", sem ingerência
política e com a missão apenas de assegurar a divisão correta dos recursos.
·
Revisão de benefícios
O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo
Braga, também inseriu em seu
relatório um mecanismo de revisão, a cada 5 anos, dos incentivos concedidos a
alguns setores da economia.
A discussão sobre segmentos que terão direito a uma tributação diferenciada é
um dos pontos sensíveis da proposta em análise pelo Congresso.
A proposta de reforma tributária aprovada pela
Câmara dos Deputados prevê que alguns setores não precisarão pagar a alíquota
geral. As exceções se dividem em três grupos:
- cobrança reduzida, equivalente a 40% da chamada "alíquota padrão" que
valerá para os demais setores;
- alíquota zero, em itens como os da cesta básica, por exemplo;
- ou regimes
específicos, com formato de cobrança diferenciado, para setores
como o financeiro, o imobiliário e o de combustíveis.
Na nova versão do texto, a reforma tributária prevê
regime diferenciado para alguns setores:
- operações alcançadas por tratado ou convenção internacional,
inclusive missões diplomáticas e representações consulares e de organismos
internacionais;
- serviços de saneamento e de concessão de rodovias;
- operações que envolvam a disponibilização da estrutura
compartilhada dos serviços de telecomunicações;
- serviços de agência de viagem e turismo;
- transporte coletivo de passageiros rodoviários intermunicipal e
interestadual, ferroviário, hidroviário e aéreo.
Ao mesmo tempo, também prevê que alguns setores da economia pagarão 40% da
alíquota geral (cobrada de todos os segmentos da economia), que pode
chegar a 27% - uma das maiores do mundo.
A lista atualizada dos setores, após o relatório de
Eduardo Braga, é essa:
- serviços de transporte público coletivo urbano, semiurbano ou
metropolitano;
- serviços de saúde;
- serviços de educação;
- alimentos destinados ao consumo humano;
- produtos de higiene pessoal e limpeza majoritariamente consumidos
por famílias de baixa renda;
- produtos agropecuários, pesqueiros, florestais e extrativistas
vegetais in natura;
- insumos agropecuários e aquícolas;
- produções artísticas, culturais, jornalísticas e audiovisuais
nacionais, atividades desportivas e comunicação institucional;
- dispositivos médicos;
- dispositivos de acessibilidade para pessoas com deficiência;
- bens e serviços relacionados a soberania e segurança nacional,
segurança da informação e segurança cibernética;
- medicamentos;
- produtos de cuidados básicos à saúde menstrual.
Pela proposta do relator da reforma tributária,
esses benefícios a determinados setores da economia seriam revisados a cada
cinco anos com base em metas de
desempenho econômicas, sociais e ambientais, entre outros.
O relator também propôs que os profissionais
liberais, como advogados, engenheiros e contadores, por exemplo, tenham uma
alíquota diferenciada, menor do que a tributação geral de todos os
setores.
Essa tributação seria de
70% do valor da alíquota geral (que pode chegar a
27%).
·
'Imposto do pecado' e
Zona Franca
O senador Eduardo Braga, relator da reforma
tributária, também alterou o formato do imposto seletivo, conhecido como
"imposto do pecado" – que continuará sendo cobrado sobre produtos
nocivos à saúde, como cigarros e bebidas, e ao meio ambiente.
No texto aprovado pela Câmara dos Deputados, o
imposto do pecado também seria utilizado para manter a competitividade da Zona
Franca de Manaus. Nesse formato, ele também
poderia incidir sobre outros produtos, como bicicletas, motos, smartphones,
TVs, condicionadores de ar e notebooks.
A explicação é que esses produtos são fabricados,
além de em outras regiões do país, também na Zona Franca de Manaus (ZFM). Para
preservar o benefício das empresas lá instaladas, o imposto seletivo substituiria o IPI (que está sendo extinto) e
abrangeria somente fabricantes de outras regiões, mantendo a Zona Franca
isenta.
- Após críticas de fabricantes de bicicletas, o relator decidiu que o imposto do
pecado não será mais cobrado sobre os produtos fabricados também na Zona Franca
de Manaus.
- Em seu lugar, será cobrada uma
Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE).
O senador também propôs taxar combustíveis fósseis e minérios por
meio do imposto seletivo, por serem produtos com impacto ambiental. Nesse caso,
a incidência será de 1%.
O relator da reforma tributária também incluiu na proposta que o imposto
seletivo poderá incidir sobre armas e munições, exceto quando destinadas
à administração pública. Com isso, buscou
fechar uma brecha para que não haja redução do imposto sobre as armas de fogo
·
Reforma tributária
Discutido há décadas e muito aguardado pelo setor produtivo,
o tema é considerado prioritário pelo governo Lula para aproximar as regras
brasileiras do resto do mundo e reformar um sistema que é tido como caótico por
empresários e investidores.
Analistas estimam que a reforma tributária sobre o
consumo tem potencial para elevar o PIB potencial do Brasil em no mínimo 10%
nas próximas décadas.
Em linhas gerais, a proposta inicial estabelece a
extinção de cinco tributos:
- IPI, PIS e Cofins (federais);
- ICMS (estadual);
- e ISS (municipal).
No lugar, seriam criados dois Impostos sobre Valor
Agregado (IVAs) — um gerenciado pela União (CBS), e outro com gestão
compartilhada entre estados e municípios (IBS), além de um imposto seletivo,
sobre produtos nocivos à saúde, com cigarros e bebidas alcoólicas, e uma CIDE
para manter a competitividade da Zona Franca de Manaus.
Ø Veja os principais pontos do texto que vai ser avaliado pelo Senado
O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo
Braga (MDB-AM), apresentou nesta quarta-feira (25) a primeira versão de seu
relatório sobre a mudança nos impostos sobre o consumo.
Para ter validade, a reforma tributária ainda
precisa passar pelo crivo do Senado. Se o texto for alterado pelos senadores,
retorna para nova análise da Câmara dos Deputados.
A expectativa de Eduardo Braga é votar seu
relatório na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e no plenário do Senado
Federal entre os dias 7 e 9 de novembro.
>>>> Veja os
principais pontos
- Em linhas gerais, a reforma tributária sobre o consumo substitui cinco tributos (PIS,
Cofins e IPI federais, ICMS estadual e ISS municipal) por um imposto sobre valor agregado
(IVA) federal, outro estadual, pelo imposto seletivo e por uma Cide.
- O período de
transição para unificar os tributos vai durar sete anos, entre 2026 e 2032.
A partir de 2033, impostos atuais serão extintos.
- A cobrança dos
tributos passaria a ser feita no destino, onde os produtos e serviços são
consumidos. Isso aconteceria após um período de transição de
50 anos.
- Os IVAs federal, e
estadual mais municipal, passariam a ser não cumulativos. Isso
significa que, ao longo da cadeia de produção, os impostos seriam pagos
uma só vez por todos os participantes do processo.
- O futuros IVAs, que substituirão os tributos atuais (PIS, Cofins,
ICMS e ISS), incidirão somente
sobre o preço do produto, sistema conhecido como "por fora". No
sistema atual, com impostos cobrados "por dentro", o ICMS
estadual incide sobre o próprio ICMS e, também, sobre o PIS/Cofins.
- A proposta traz um artigo que limita a carga tributária dos impostos sobre o consumo. Mesmo
assim, a estimativa da área econômica é de que a alíquota
sobre o consumo pode chegar a 27% – uma das mais altas do mundo.
- A reforma tributária em discussão no Legislativo vai manter os benefícios para o Simples
Nacional, e não alterará os limites
de enquadramento das empresas.
- A proposta também manterá
os benefícios para as empresas instaladas na Zona Franca de Manaus. Para
manter a competitividade do polo industrial, será utilizada uma Cide.
- Se aprovada a reforma tributária, será possível saber exatamente qual o preço do produto sem imposto — o que
será obrigatoriamente informado na nota fiscal da compra. E, consequentemente, o valor dos tributos será destacado.
- A reforma tributária
prevê um "cashback", ou seja, uma devolução de parte do imposto
pago, às famílias de baixa renda, que seria regulamentado somente
em 2024. A ideia é reduzir regressividade do sistema brasileiro, ou seja,
o alto peso dos impostos para a população de baixa renda.
- A proposta de reforma tributária em debate no Congresso
Nacional fecha
brechas existentes atualmente para a sonegação de impostos, além de reduzir custos e estimular os investimentos
estrangeiros, avaliou o Ministério da Fazenda.
- A reforma tributária também traz a taxação de aeronaves e embarcações de luxo com o Imposto
Sobre Veículos Automotores (IPVA). No sistema atual, jatinhos e
lanchas não pagam o tributo.
- O texto também contempla a cobrança do ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação) de
forma progressiva em razão do valor da herança ou da doação. A
cobrança será feita no domicílio da pessoa falecida.
- As prefeituras poderão atualizar a base de cálculo do IPTU por meio de decreto, partindo de
critérios definidos em lei municipal.
- A proposta prevê, a partir de 2029, um valor progressivo para o fundo de desenvolvimento regional
dos estados até atingir o patamar anual de R$ 60 bilhões em 2043.
Os valores visam dar condições aos estados para o desenvolvimento de
atividades produtivas.
- O texto contempla um
Comitê Gestor formado pelo governo federal, estados e
municípios para assegurar a divisão correta dos recursos arrecadados - sem
ingerência política.
- A proposta traz tratamentos
diferenciados para alguns setores, como combustíveis e
lubrificantes, serviços financeiros, operações com bens imóveis, planos de
assistência à saúde e concursos de prognósticos (como as loterias) e
compras governamentais.
- A reforma tributária traz
vários setores beneficiados com alíquotas menores de tributos sobre o
consumo, entre eles serviços de transporte público coletivo urbano,
medicamentos, serviços de saúde, serviços de educação, e produtos
agropecuários, entre outros.
- A proposta é de que profissionais
liberais, como advogados, engenheiros e contadores, por
exemplo, tenham uma alíquota
diferenciada, de 70% da tributação geral de todos os setores.
- O texto que será analisado pelo Senado define que esses benefícios a setores da economia sejam
revisados a cada cinco anos com base em metas de desempenho
econômicas, sociais e ambientais, entre outros.
- A proposta contempla um imposto seletivo, conhecido como "imposto do pecado" –
cobrado sobre produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Além de
cigarros, bebidas alcoólicas e armas, também incidiria sobre combustíveis
fósseis e mineração.
- O texto cria uma "cesta básica
nacional" com imposto zero e uma lista estendida, com uma tributação
menor (de 40% do valor do tributo geral,
cobrado dos demais setores).
- Não haverá cobrança de tributos sobre o
consumo sobre investimentos e sobre exportações.
- O relatório estabelece a possibilidade de isentar a cobrança dos IVAs sobre uma série de bens
e tributos, como medicamentos para o tratamento contra o câncer,
produtos de cuidados básicos à saúde menstrual e dispositivos médicos e de
acessibilidade para pessoas com deficiência, entre outros. As decisões
serão tomadas em lei complementar.
>>>> Consequências
Discutido há décadas e muito aguardado pelo setor
produtivo, o tema é
considerado prioritário pelo governo para
aproximar as regras brasileiras do resto do mundo e reformar um sistema que é
tido como caótico
por empresários e investidores.
- Apesar de prioritária, a reforma é considerada complexa do ponto
de vista político.
- Diferentes governos tentaram, sem sucesso, fazer a reforma
tributária nas últimas décadas, focados principalmente na tributação sobre
o consumo.
- As propostas esbarraram em resistências de caráter regional,
partidário e de diferentes setores produtivos, todos representados no
Congresso Nacional.
O principal objetivo da reforma é simplificar e
facilitar a cobrança dos impostos. Essa medida é considerada fundamental para
destravar a economia e impulsionar o crescimento do país e a geração de
empregos.
Investidores reclamam do elevado número de tributos
e da complexidade do sistema tributário brasileiro. Eles avaliam que isso
afasta investimentos. No caso do ICMS estadual, por exemplo, há 27 diferentes
legislações vigentes no país – uma para cada estado, incluindo o Distrito
Federal. Com o IVA, haveria uma legislação única.
A disputa judicial entre Estado e contribuintes já
soma R$ 5,4 trilhões (dados de 2021), montante que equivale a 75% do Produto
Interno Bruto (PIB). Um dos objetivos da reforma tributária é reduzir,
em consequência de regras mais simples, as disputas na justiça.
Analistas estimam que a reforma tributária sobre o
consumo tem
potencial para elevar o PIB potencial do Brasil em no mínimo 10% nas próximas
décadas.
Informações divulgadas pelo governo federal no
projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 mostram que o Executivo
conta com a reforma tributária para ajudar no ajuste das contas públicas.
Fonte: g1
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