terça-feira, 3 de outubro de 2023

No 1º debate, Milei minimiza ditadura argentina e refuta os 30 mil mortos e desaparecidos

Em um roteiro similar ao que o Brasil vivenciou em 2018, a Argentina testemunhou, neste domingo (01/10), um dos candidatos à presidência, Javier Milei, minimizar a ditadura militar, prometer reduzir o Estado e investimentos públicos e demonizar a política no primeiro debate eleitoral para a eleição de 22 de outubro deste ano.

“Não foram 30 mil desaparecidos, são 8.753. Somos contra uma visão de apenas um lado da história”, disse Milei, da La Libertad Avanza.

Na Argentina, o número oficial é compilado pelo Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado, que computa 8.631 mortos e desaparecidos no período de 1976 a 1983. No entanto, o próprio relatório reconhece que a cifra é subestimada.

Milei, porém, não apenas ignora o horror produzido em larga escala pelos militares argentinos, mas também ofende a memória de quem lutou pelo retorno da democracia no país.

O candidato da extrema-direita chamou grupos guerrilheiros de terroristas, declarou que “durante os anos 1970 houve uma guerra e nessa guerra as forças do Estado cometeram excessos” e criticou “aqueles que usaram a ideologia [dos direitos humanos] para ganhar dinheiro e realizar negócios obscuros”.

A presidente da Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, rebateu nesta segunda (02/10) as falas do candidato da extrema-direita.

“O povo tem que acordar. Mesmo que pensemos diferente sobre algumas coisas, pergunte-se se todos queremos que o mentiroso [Milei] seja presidente. Quem mancha a história do nosso país não precisa ser presidente”, disse.

“Ofende brutalmente as famílias que ficaram sem os nossos filhos e as avós que sofrem uma dor dupla. Procuramos os nossos filhos e os seus filhos nascidos em cativeiro”, lamentou Carlotto.

“Eles mentem agora, continuarão mentindo, se infelizmente vierem comandar as nossas vidas”, alertou.

Em uma publicação nas redes sociais, o presidente Alberto Fernández afirmou que Milei justifica os atos da ditadura. “É insustentável que alguém continue a negar e a justificar a ditadura genocida que torturou, assassinou, roubou bebês cuja identidade foi alterada, causou desaparecimentos e condenou dezenas de milhares de argentinos ao exílio”, escreveu.

O debate

Os candidatos à presidência argentina debateram, neste domingo (1), temas como a inflação, a fuga de divisas, a dolarização da economia e o fim do Banco Central.

O debate foi realizado em Santiago del Estero e contou com a presença dos candidatos Sergio Massa, da ala mais à direita do peronismo, Javier Milei, da La Libertad Avanza, Patricia Bullrich, do grupo político do ex-presidente Mauricio Macri, Juntos por el Cambio, Juan Schiaretti, do Hacemos por Nuestro País e Myriam Bregman, candidata da Frente de Izquierda y de Trabajadores

De acordo com o Clarín e La Nación, os dois maiores jornais argentinos, a avaliação é de que o debate não teve vencedor ou perdedor. As publicações citaram o clima de tensão entre os participantes, sobretudo entre Massa e Milei, que lideram as intenções de voto, segundo pesquisas recentes.

Massa criticou o plano de Milei de dolarização e tentou se desvencilhar do presidente argentino, Alberto Fernández, mesmo que sem citá-lo.

“Eu tenho claro que a inflação é um problema enorme na Argentina. Também tenho claro que os erros deste governo causaram danos às pessoas”, afirmou Massa. “E por isso, embora eu não fosse parte [da atual gestão] até assumir como ministro da Economia [em agosto de 2022], peço desculpas”, completou.

“Milei propõe a volta da AFJP [fundo de pensão privado que roubou milhares de aposentados nos anos 1990], a privatização da YPF [petroleira estatal], e que todas os argentinos e argentinas paguem a universidade e a escola secundária”, criticou Massa.

“Milei propõe um modelo de dolarização que só existe em El Salvador, Zimbabué e Equador”, completou.

 

Ø  Avanço dos Chineses na Argentina inquieta militares dos EUA: projetos são vistos como de possível uso militar

 

A revista “Diálogo Américas”, uma publicação estratégica das Forças Armadas norte-americanas, em artigo publicado em  29 de setembro de 2023, expressou preocupações com os avanços da China na Argentina, destacando a instalação de um telescópio chinês no país. A aproximação da China a países como Argentina e Brasil tem causado inquietação entre os militares dos EUA, que percebem antigos parceiros se alinhando com um rival geopolítico. Trechos do artigo ressaltam preocupação com o possível uso militar das instalações construídas pelos chineses.

•        Radiotelescópio Chinês-Argentino CART

O radiotelescópio China Argentina Radio Telescope (CART) será instalado no complexo astronômico El Leoncito, na província argentina de San Juan. Este projeto, que pesará cerca de 1.000 toneladas e terá 40 metros de diâmetro, é parte de um esforço mais amplo da China para expandir sua influência na América do Sul através do financiamento e construção de grandes projetos de infraestrutura na Argentina. Além do radiotelescópio, estão anunciadas a construção de um porto, uma central nuclear e uma central elétrica.

Juan Belikow, professor de Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires, expressou à “Diálogo” que ser “parceiro” dos chineses pode ser um jogo perigoso. Ele ressalta que a China pode emprestar dinheiro a países em dificuldades econômicas, sabendo que eles não terão condições de pagar. Isso pode resultar em contratos pouco transparentes e potencial perda de soberania ou uso militar de instalações científicas.

•        Antena na Patagônia Argentina

Um exemplo citado é a Estação Espacial Distante, uma antena de 35 metros de diâmetro na província de Neuquén, controlada por militares chineses, instalada em 2017. As atividades realizadas pelas autoridades chinesas lá ainda são desconhecidas, levantando dúvidas sobre possíveis interferências em satélites de outras potências e usos não pacíficos.

Projetos em Terra do Fogo

Na província argentina de Terra do Fogo, a China planeja construir um porto com vista para a Antártida e uma central elétrica. A empresa Shaanxi Chemical Group investirá US$ 1,2 bilhões para a construção de uma planta industrial e um terminal portuário multiuso, além de uma central elétrica de 100 MW. Belikow adverte sobre o controle da travessia bioceânica e a projeção da China na Antártida em questões científicas, econômicas, turísticas, de soberania e militar.

Pequim também quer financiar a construção de Atucha III, a quarta central nuclear a ser instalada na Argentina. O governo da Argentina anunciou um contrato de US$ 8,3 bilhões com Pequim em fevereiro de 2022 para a construção da central.

A deputada nacional da província de Mendoza, Jimena Latorre, expressou preocupação com o acordo, destacando que é um financiamento e não um investimento, com uma viabilidade financeira desconhecida.

 

Ø  Protestos na Guatemala bloqueiam estradas em defesa do resultado da eleição presidencial

 

A paralisação nacional foi motivada por uma ação do Ministério Público no último fim de semana, que pode impedir a posse do presidente eleito, Bernardo Arévalo, marcada para janeiro de 2024.

Organizações de povos originários e setores populares da Guatemala iniciaram nesta segunda-feira (2) protestos e bloqueios de estradas em vários pontos do país para defender os resultados da eleição presidencial de 20 de agosto, que elegeu Bernardo Arévalo.

A paralisação nacional foi convocada por entidades e autoridades comunitárias, entre elas a 48 Cantones de Totonicapán, após funcionários do Ministério Público do país centro-americano apreenderem dezenas de urnas e atas eleitorais na sede do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), em uma operação que teve início na sexta-feira (29) e durou até sábado (30).

"Nós nos unimos à convocatória de paralisação nacional. É momento de defender a democracia e a vontade popular", anunciaram autoridades indígenas da organização ancestral Oxlajuj Noj, uma das maiores do país.

Arévalo, que estava no México, em viagem internacional que incluía visita aos Estados Unidos, voltou às pressas à Guatemala, no domingo (1º).

Em seu perfil na plataforma de mídia social X (anteriormente Twitter), Arévalo declarou que estava em curso um golpe de Estado por parte do Ministério Público.

Estou voltando à Guatemala. Contra o ataque do MP, precisamos unir todas e todos, ativos e fortes na defesa de cada voto, da democracia e da Constituição. #BastadeSilêncio

A Organização dos Estados Americanos (OEA) publicou comunicado demonstrando preocupação com o que chamou de "práticas intimidantes" por parte do MP guatemalteco, a fim de gerar dúvidas sobre o processo eleitoral e os resultados da vontade popular expressada nas urnas:

"Esta é a quinta diligência contra o TSE realizada este ano, sem a devida motivação, atacando as funções, a independência e a autonomia do órgão eleitoral, o que configura um cerco permanente e sem fundamento ou motivação clara, semelhante aos que costumam realizar os regimes autoritários."

Em setembro, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já havia pedido medidas de proteção a Bernardo Arévalo, devido a práticas consideradas antidemocráticas por parte do MP, na tentativa de suspender o registro do partido do presidente eleito, Movimento Semente, sob a acusação de inscrição irregular, e assim impugnar sua candidatura.

 

Ø  No cenário mundial, Putin exalta 'política independente' da América Latina

 

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, exaltou nesta segunda-feira (02/10) a "política independente" da América Latina, afirmando que a região terá um "papel fundamental no política mundial".

A declaração foi dada durante a primeira conferência parlamentar internacional Rússia-América Latina, que termina nesta segunda em Moscou.

"Os países da América Latina mostram um modelo de sucesso na formação progressiva de um sistema multipolar de relações internacionais baseado na igualdade, na justiça, no respeito pelo direito internacional e nos interesses legítimos de cada um", afirmou o líder russo.

Segundo Putin, "os latino-americanos sempre lutaram pela autonomia e pela independência, e a história do seu continente está repleta dos exemplos mais vívidos disso".

O presidente russo ainda falou sobre o Brics, bloco formando pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas que a partir de 2024 será expandido, anexando Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. 

Segundo Putin, o Brics não constitui uma aliança militar, mas "é apenas uma plataforma para coordenar posições e desenvolver soluções mutuamente aceitáveis baseadas na soberania, independência e respeito mútuo". 

Putin também lembrou que "vários países da América Latina desejam e devem se incorporar" ao bloco, além da Argentina. 

·         América Latina nos organismos internacionais

Durante o evento, a Rússia também declarou-se a favor de uma representação decente dos países da América Latina nas estruturas internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas (ONU), e o G20, além do Brics. 

A declaração foi dada pelo ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.

"Não estamos apenas presentes na formação de uma arquitetura multipolar mais equitativa das relações internacionais, mas também estamos diretamente envolvidos nesse processo. Uma parte integral desse processo é o papel cada vez maior dos Estados e associações da América Latina e do Caribe nos assuntos mundiais", afirmou o chanceler.

"Suas vozes estão se tornando cada vez mais audíveis e suas palavras mais poderosas. A Rússia saúda essa tendência e está trabalhando para consolidá-la", declarou.

Lavrov também falou sobre o apoio de Moscou para o fornecimento de assistência para resolver os problemas mais urgentes da América Latina, incluindo a segurança alimentar. 

"A Rússia forneceu e continuará a fornecer assistência para resolver os problemas mais graves da região, desde o combate à pandemia do coronavírus, até a garantia da segurança alimentar e a ajuda para lidar com as consequências de desastres naturais", disse o ministro.

A primeira Conferência Parlamentar Internacional Rússia-América Latina foi iniciada em Moscou, na última sexta-feira (29/09) por iniciativa da Duma Estatal (câmara do parlamento russo). 

Leonid Slutski, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Duma, câmara baixa do Parlamento russo, anunciou sua intenção de realizar anualmente a conferência que reúne parlamentares russos e da América Latina e Caribe.

"Nossa cooperação bilateral se tornará uma das locomotivas na criação de uma nova ordem mundial multipolar no planeta", concluiu Slutski. 

 

Fonte: Opera Mundi/Sputnik Brasil/Brasil 247

 

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