Grande aliada no tratamento: a corrida oferece
benefícios à saúde mental semelhante aos antidepressivos
Praticar exercícios
físicos regularmente é muito importante para cuidar da saúde do corpo e da
mente. Do ponto de vista da manutenção da saúde mental, estudos já comprovaram
que doses diárias de exercícios realizados de forma consistente aliviam o
estresse, melhoram os distúrbios de sono, a oxigenação cerebral e funcionamento
do cérebro. A partir de um ponto de vista biológico, vale destacar que há
neurotransmissores liberados com a prática e o corpo se beneficia de forma
geral.
Além disso, estudos
revelam que o exercício físico estimula o crescimento de novas células do
cérebro, ajudando no processo de memória e tomada de decisão e de forma geral,
interrompendo o ciclo de pensamentos e emoções negativas.
Um estudo recente
concluiu que a corrida pode ter efeitos sobre a depressão e a ansiedade
semelhantes aos dos antidepressivos, reduzindo os sintomas depressivos, pelo
menos em algumas pessoas que sofrem de depressão.
Vale reforçar que nenhum
tratamento contínuo deve ser suspenso sem o consentimento do médico, já que só
este profissional da saúde é capaz de avaliar quando o paciente deve ter alta
ou não. Um programa de exercícios pode não substituir os medicamentos, mas sim
ser oferecido como uma opção de tratamento adicional a ser administrada de
forma bem supervisionada, melhorando ainda mais os resultados da intervenção.
·
Como foi o estudo que
correlacionou medicação para depressão/ansiedade e corrida?
No estudo, os cientistas
acompanharam 141 pessoas com depressão, ansiedade ou ambas condições. Os
participantes puderam escolher se queriam seguir o tratamento apenas com
medicação (e sem corrida) ou com a corrida (e sem medicação). Ao longo de 16
semanas, 45 pessoas foram tratadas com um inibidor seletivo da recaptação da
serotonina, ou ISRS, e 96 seguiram um programa de corrida.
Os participantes do grupo
de medicamentos receberam escitalopram na dosagem inicial de 10mg por dia. O
gerenciamento da medicação foi fornecido por um psiquiatra que poderia decidir
se a dosagem precisava ser aumentada. Se o escitalopram fosse ineficaz ou mal
tolerado, os pacientes modificaram a medicação para um segundo ISRS, a
sertralina.
A corrida consistiu em
sessões supervisionadas de treino ao ar livre de 45 minutos, com meta de duas a
três sessões por semana.
No final do estudo, cerca
de 44% de pessoas de cada grupo apresentaram remissão dos sintomas de depressão
e ansiedade, mas os pesquisadores observaram que os sintomas ainda eram “consideráveis”.
Contudo, no que diz
respeito à saúde física, as mudanças foram mais favoráveis entre os corredores,
que observaram diminuição da frequência cardíaca, pressão arterial,
circunferência da cintura e aumento da função pulmonar. Por outro lado, o grupo
que utilizou antidepressivo apresentou sinais de declínio físico, com aumento
de peso, pressão arterial e triglicerídeos, e diminuição da variabilidade da
frequência cardíaca.
Os pesquisadores
destacaram que o exercício influencia diretamente o estilo de vida sedentário,
comum em pacientes com transtornos depressivos e de ansiedade, incentivando as
pessoas a sair de casa, estabelecer metas pessoais, melhorar seu
condicionamento físico e participar de atividades em grupo. Afinal, o exercício
é a última coisa que alguém deprimido quer fazer, mas ajuda muito!
Seguir um programa de
exercícios, entretanto, pode ser um desafio. Como já disse aqui, de acordo com
Dimatteo, em 1994, já mostrava que 38% dos pacientes deixaram de seguir um
tratamento agudo recomendado –como o uso de antibióticos –, 43% dos pacientes
não aderiram a um tratamento crônico e 75% dos pacientes não seguiam as
recomendações médicas relacionadas a mudanças de estilo de vida, como
alimentação, exercícios, abandono do cigarro etc. Em 1995, Dishman
mostrou que 50% dos indivíduos que iniciam um programa de treinamento o
abandonarão dentro de 3 a 6 meses. Esses números mudaram e continuam
aumentando.
Por isso, apesar dos
benefícios, apenas 52% do grupo de corrida aderiram ao protocolo, enquanto 82%
no grupo de medicamentos conseguiram manter seu regime de medicação. Isso
porque é mais difícil mudar o comportamento do que tomar um medicamento. O mais
importante é sempre aliar o seu tratamento médico medicamentoso com ações
conjuntas com a prática de exercício regular e alimentação saudável.
Motivar as pessoas a manter o
exercício não é uma tarefa
fácil. A mudança no padrão de estilo de vida e o início da corrida regular
podem ser especialmente difíceis para indivíduos deprimidos, cuja saúde mental
interfere gravemente nos impulsos motivacionais. Para ser eficaz, a
corrida tem que ir além de apenas dizer a uma pessoa para “correr” e há
estratégias como o mindfull walking, que auxiliam muito na atenção
plena durante a caminhada/corrida ou qualquer atividade que fizer durante o
dia.
Lembrando que qualquer
forma de exercício física aliado a um tratamento psiquiátrico ou qualquer
tratamento sempre lhe trará benefícios.
Os resultados do estudo
apresentados no Journal of Affective Disorders (2023) baseiam-se em
pesquisas anteriores que demonstram os benefícios do exercício para a saúde
mental. Para alguém com depressão grave, o exercício por si só pode não ser
suficiente. Não existe um ‘tratamento milagroso’ para a depressão que funcione
para todos. Se houver mais opções no nosso arsenal de tratamento, haverá
escolha para os pacientes, e os tratamentos também poderão ser combinados para
alcançar o melhor resultado.
>>>> Algumas dicas a seguir…
- Conecte seu corpo e mente. A atividade física aumenta a oxigenação
cerebral, elevando a quantidade de endorfinas –substâncias químicas que
dão a sensação de felicidade. Dessa forma, não é de surpreender que as
pessoas que cuidam da sua saúde com exercícios e uma boa alimentação
também tendem a desfrutar de um nível de agilidade mental. Além do mais,
uma rotina de exercícios auxilia na prevenção da depressão, redução do
estresse e ter uma visão mais positiva da vida.
- Incorpore o mindfull walking. O “mindful walking” é
uma vertente do mindfulness, uma excelente maneira de limpar sua mente de
pensamentos negativos e restaurar seu senso de foco. Caminhe em um
ritmo natural. Enquanto caminha, observe como seu corpo se sente.
Foque em todos seus sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar). Com
abertura e curiosidade, observe quaisquer sensações, pensamentos ou
sentimentos que surjam, sem permanecer, de forma leve.
- Inclua. Exercícios
para a mente e exercícios mentais são também benéficos, pois, certos
exercícios de treinamento em memória, como caça-palavras ou
quebra-cabeças, podem aumentar a capacidade de raciocinar e resolver novos
problemas.
- Medite. Enquanto o
exercício é bom para o cérebro e o corpo, a meditação, em conjunto com
outros métodos, é uma maneira alternativa de melhorar a saúde mental,
acalmando a mente e permitindo que você resolva problemas de uma maneira
mais relaxada.
- Aprenda a parar um pouco. Você pode pensar que realizar multitarefas
permitirá que você faça mais coisas ao mesmo tempo, mas na verdade cria
mais problemas do que resolve. O foco em uma tarefa de cada vez melhora a
sua concentração e o ajudará a ser mais produtivo.
- Seja positivo. A
afirmação positiva é uma via para o aumento da proficiência mental. A
afirmação, ou falar consigo mesmo de maneira positiva, envolve o
fortalecimento de vias neurais para elevar sua autoconfiança, bem-estar e
satisfação a um nível superior. Para começar, faça uma lista de suas boas
qualidades. Lembre-se de que você não precisa ser perfeito. Defina metas
para o que você deseja melhorar e comece pequeno para evitar ficar
sobrecarregado.
- Tente algo diferente. Novas experiências também podem colocá-lo no caminho da aptidão
mental. Você pode adaptar novas abordagens ao seu dia a dia de várias
maneiras, como experimente novos alimentos, tente novas maneiras de
realizar tarefas rotineiras, mude o ambiente de trabalho de vez em quando
e, quando for sair para o supermercado, por exemplo, teste ambientes
diferentes. Pesquisas mostram que manter o cérebro ativo aumenta sua
vitalidade. Fazer coisas novas de novas maneiras parece ajudar a reter
células e conexões cerebrais. Pode até produzir novas células cerebrais.
Em essência, interromper sua rotina pode ajudar a manter seu cérebro
saudável.
Fonte: IstoÉ
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