quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Delator infiltrado da Lava Jato chama Moro de 'covarde, mentiroso patético'

O ex-deputado estadual do Paraná e empresário Antônio Celso Garcia, o Tony Garcia, intensificou nesta segunda-feira, 2, os ataques ao senador e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) nas redes sociais.

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Moro foi chamado 'covarde, mentiroso, patético'. "Diante da farta documentação que comprova crimes desse meliante, ele prefere agir como avestruz", escreveu no Twitter.

As agressões ocorreram depois que Moro, também nas redes, o chamou de 'criminoso condenado'.

Os documentos a que Tony Garcia se refere foram entregues pelo empresário ao Supremo Tribunal Federal (STF). O caso está sob sigilo no gabinete do ministro Dias Toffoli. O ex-deputado pediu que a Corte anule todas as decisões de Sergio Moro nas ações que respondeu na Justiça Federal no Paraná.

O empresário alega ter sido ameaçado e coagido para fechar seu acordo de delação e afirma que passou a trabalhar como um 'agente infiltrado' de Moro, inclusive na investigação ilegal de autoridades com foro, a partir de 2004.

O senador afirmou que o ex-deputado tenta 'fabricar um falso escândalo'. "Nenhum juiz ou magistrado do TRF4, STJ ou de qualquer outra Corte, foi investigado com minha autorização. A inexistência de gravações de magistrados ou de medidas investigatórias contra eles é, alias, reveladora da farsa do notório mentiroso", escreveu.

A conduta de Moro enquanto magistrado está sendo investigada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Uma reclamação disciplinar apura a gestão dos acordos de delação e leniência na Operação Lava Jato. A Corregedoria também analisa se ele usou a magistratura para se promover politicamente.

 

       Moro ataca a Globo por noticiar escândalos denunciados por Tony Garcia

 

O senador Sergio Moro (UB-PR), que enfrenta investigações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da Polícia Federal (PF), e que corre o risco de ter seu mandato cassado, resolveu atacar o site G1, da Globo, pelo fato do veículo estar noticiando, desde a última semana, as denúncias-bomba que o ex-deputado estadual Tony Garcia fez contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Recentemente, Tony Garcia, que alega ter atuado como "agente infiltrado" do senador em sua época de juiz, entregou ao STF um conjunto de documentos explosivos que revelam uma suposta tentativa de Moro de investigar ilegalmente desembargadores, juízes e ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), incluindo o uso de grampos.

Os documentos em questão fazem parte de um acordo de colaboração premiada firmado entre Tony Garcia e Sergio Moro em 2004, logo após o empresário ser preso no âmbito de uma investigação contra o Consórcio Garibaldi. O acordo serviria para Garcia se livrar da prisão. Até recentemente, esses documentos estavam sob sigilo na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas o juiz Eduardo Appio decidiu levantar este sigilo, permitindo que Tony Garcia tivesse acesso. Agora, esses materiais foram entregues pelo ex-deputado estadual ao STF com o objetivo de anular as ações de Moro contra ele.

No conjunto de documentos estão registradas cerca de 30 tarefas que foram designadas a Tony Garcia por Moro como parte do acordo para evitar sua prisão. Estas tarefas incluíam investigações de autoridades paranaenses com foro privilegiado, utilizando métodos questionáveis, uma vez que essas investigações estavam, legalmente, fora da alçada de atuação de Moro enquanto juiz. O material entregue ao STF inclui até mesmo registros de conversas telefônicas entre Moro e Garcia, nas quais o ex-juiz pressiona pela execução das tarefas consideradas ilegais.

Nesta segunda-feira (2), veículos da Globo, como o canal GloboNews e o site G1, deram destaque a outro trecho da denúncia de Tony Garcia ao STF dando conta de que Moro teria colocado escutas no escritório do ex-deputado e infiltrado no local um agente da Polícia Federal (PF) para que autoridades com foro privilegiado fossem grampeadas.

Moro, então, foi às redes sociais para negar as acusações e dizer que o site G1 estaria reverberando  "mentiras" para "fabricar um falso escândalo".

Trata-se de uma jogada arriscada do senador, que agora se volta contra o grupo de comunicação que o heroificou enquanto juiz da Lava Jato.

"O G1 reverbera as mentiras de um criminoso condenado, Tony Garcia, para fabricar um falso escândalo sobre supostos fatos de 2004 e 2005, ou seja DE QUASE 20 ANOS ATRAS! As investigações conduzidas pelo MPF e executadas pela PF foram sobre tráfico de influência e escuta ilegal e resultaram em condenações de advogado por esses crimes e que foram proferidas por outro juiz. Nenhum juiz ou magistrado do TRF4, STJ ou de qualquer outra Corte, foi investigado com minha autorização. A inexistência de gravações de magistrados ou de medidas investigatórias contra eles é, alias, reveladora da farsa do notório mentiroso", escreveu Moro.

•        Policial infiltrado

De acordo com a denúncia do ex-deputado Tony Garcia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) em uma decisão datada de 15 de dezembro de 2004, que sucedeu a assinatura do acordo de colaboração de Garcia, o ex-juiz Sergio Moro determinou a instalação de escutas no escritório do empresário e que um policial federal atuasse infiltrado no local, como se fosse um secretário do ex-parlamentar. As informações são da jornalista Daniela Lima, da GloboNews.

Segundo a denúncia de Tony Garcia, tal estrutura permitiu que o ex-juiz grampeasse autoridades com foro, incluindo o então presidente do Tribunal de Contas em 2005.

Ao G1, Sergio Moro refutou as acusações e afirmou que nenhuma autoridade com foro foi investigada e que nunca solicitou gravações.

No entanto, na decisão do próprio Moro está detalhado todo o aparato fornecido a Tony, que alega ter sido usado pelo ex-juiz para obter informações sobre ministros do STJ, conselheiros do TCE e também desembargadores do TRF-4.

>> Na decisão, Moro determina:

"a) instalação de equipamento de escuta ambiental, preferivelmente áudio e vídeo, com capacidade para gravação por períodos longos, em duas salas e em estabelecimentos distintos".

"b) A provável utilização, por um período de cerca de seis meses, de um agente policial infiltrado como secretário de escritório de prestação de serviços".

De acordo com informações dos investigadores que atuam com o ministro Dias Toffoli, do STF, o conteúdo das gravações era entregue em mãos a Moro e tais gravações não passavam pelo Ministério Público.

 

       "Moro precisa explicar aonde foi a grana da 13ª Vara de Curitiba", cobra Tacla Duran

 

O advogado Rodrigo Tacla Duran cobrou do ex-juiz suspeito Sergio Moro (União-PR), hoje senador, explicações sobre a destinação do dinheiro obtido pela 13ª Vara Federal de Curitiba. Duran lembrou que, em 2019, os jornalistas Reinaldo Azevedo e Leandro Demori, em parceria com o The Intercept Brasil, descobriram, por meio de trocas de mensagens obtidas pela Vaza Jato, que Moro autorizou o ex-procurador Deltan Dallagnol a usar o dinheiro da 13ª Vara para veicular propagandas sobre as '10 Medidas Contra a Corrupção' na Rede Globo de Televisão.

"O Russo precisa explicar aonde foi a grana que o DD [Deltan Dallagnol], pelo MPF, pedia o levantamento e nenhuma parte recorria (porque todas as partes estavam arregadas) e assim transitava em julgado, sem qualquer conhecimento de outra instância…", escreveu o advogado em seu perfil na rede social X (antigo Twitter).

A publicação de Tacla Duran veio na esteira da mais recente notícia desfavorável a Moro, divulgada nesta segunda-feira (2), de que o ex-juiz, enquanto estava na primeira instância instância, interrogou pessoalmente o ex-deputado estadual pelo Paraná Tony Garcia sobre ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), membros do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e do Tribunal de Contas do Paraná. Todas essas autoridades, de acordo com a lei, não poderiam ter sido objeto de investigação na primeira instância.

 

       Jornal Nacional, último refúgio onde Moro ainda é um herói justiceiro. Por Antonio Mello

 

O grupo Globo parece ter largado mão de Sergio Moro. O ex-juiz reclama porque até na GloboNews e no G1, portal de notícias do grupo, o ex-juiz é um criminoso — ou não é criminoso o nome que se dá a quem é acusado de ter cometido as irregularidades de que Moro é acusado, com provas?

Menos no Jornal Nacional, onde a única notícia sobre Moro no último mês falava numa investigação genérica em que o ex-juiz estava envolvido, entre outros. Com direito a sonora de Moro dizendo-se perseguido, mesmo discurso do ex-procurador de deus Dallagnol, já cassado — destino que aguarda Moro.

Para o JN Moro segue sendo o herói justiceiro; afinal, como jogar tantas horas de edições elogiosas no lixo da História sem se jogar junto?

•        Caminhão de acusações

Moro já é investigado pelo CNJ e pela PF por denúncias feitas pelo ex-deputado e empresário Toy Garcia, denúncias que estavam num processo escondido no último escaninho da justiça da república de Curitiba, a mando de Sergio Moro e, segundo Garcia, com a cumplicidade da substituta de Moro e copiadora de sentenças Gabriela Hardt.

Moro teria mandado investigar de modo sigiloso e ilegal, grampeando e usando um infiltrado agente da PF, juízes, desembargadores e até ministros do STJ. O policial e os grampos foram colocados no escritório de Tony Garcia com esse fim.

Além das acusações de Garcia, há as de Tacla Durán, que alega ter sido chantageado pelo padrinho de casamento de Moro, o advogado Carlos Zucolotto, que lhe teria pedido, e conseguido, US$5 milhões para melhorar sua situação na Lava Jato junto a Moro, diminuindo sua pena de prisão e multa.

No âmbito da Justiça Eleitoral, Moro é acusado de receber e usar verbas de campanha de um partido (Podemos) para depois sair candidato por outro partido, o União Brasil.

Chegará o dia em que o Jornal Nacional, através de seu principal repórter em Brasília, Vladimir Netto, o assessor de imprensa extraoficial da Lava Jato, fará um mea culpa sobre sua responsabilidade direta no endeusamento do ex-juiz?

Vladimir Netto foi denunciado pela Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e pela Associação Advogadas e Advogados Públicos para a Democracia (APD) por sua participação na cobertura da Lava Jato:

“A postura do profissional Vladimir Netto não se limitou a reproduzir eventual material jornalístico com o intuito de informar a população, ele atuou diretamente, definindo estratégias, alterando conteúdos e opinando diretamente sobre o modo e a forma de operação em alinhamento direto com o sucesso da divulgação relativa às informações oriundas dos procuradores e do então juiz Sergio Moro”.

Quando Bonner e Renata tirarão a máscara do "herói"?

 

       Lênio Streck: Meu receio é que o rescaldo da Lava Jato não dê em nada e só puna o Dr. Appio

 

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia desta terça-feira (3), o jurista Lênio Streck afirmou que teme que as novas revelações sobre a Lava Jato sejam ineficazes.

Recentemente, a Globo tem se dedicado ao caso Tony Garcia e revelado que Sérgio Moro articulou para grampear ilegalmente juízes e os outros inimigos. Além disso, a cassação de Deltan Dallagnol e a revelação de que a Lava Jato combinava matérias com a imprensa também poderiam ser exibidas como uma derrota da Lava Jato.

Em suma, os escândalos envolvendo a Operação Lava Jato tem se tornado cada vez mais evidentes, mas isso ainda não representa uma derrota para os responsáveis.

•        Muita informação, pouca conquista

Porém, para Lênio, essas revelações de práticas vis da Lava Jato e de seus integrantes, ou mesmo, a própria correição da Lava Jato no CNJ não indicam uma vitória contra lawfare.

“Todos os dias tem uma denúncia nova contra a Lava Jato. Quando uma coisa dá muito barulho e não dá nada a gente chama de tosa de porco: muito grito e pouca lã”, brincou o jurista.

Para o professor universitário, advogado e especialista em filosofia do direito, existe um problema sério: caso não se indiciem os culpados e realmente se investigue de forma profunda os casos - deixando eles apenas na imprensa - o maior prejudicado da história pode ser o juiz Eduardo Appio, afastado da 13ª Vara Federal de Curitiba.

“Nas denúncias da Lava Jato, sabe o que se corre o maior risco? De o único cara que vai se ferrar nisso pode ser o Eduardo Appio. Porque o senador está por aí lépido e fagueiro, o outro foi cassado e entrou no outro partido e ganha uma página no maior jornal do Brasil”, completou.

 

Fonte: Agencia Estado/Fórum

 

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