terça-feira, 3 de outubro de 2023

Bomba-relógio na Casa Branca: os perigos globais da dívida externa americana

A dívida externa dos Estados Unidos chegou recentemente a espantosos 33 trilhões de dólares (R$ 167,3 trilhões) (maior do que próprio PIB do país, avaliado em cerca de 25 trilhões). Essa marca representa uma verdadeira bomba-relógio para os americanos que, ao explodir, também trará consequências para o restante do mundo.

Sendo composta principalmente por empréstimos realizados pelo governo federal, incluindo a emissão de títulos do Tesouro, e outros compromissos financeiros assumidos por Washington ao longo dos anos, sobretudo para a manutenção de gastos militares, a dívida americana, que em 2022 estava em torno de 24 trilhões de dólares (R$ 122 trilhões), hoje encontra-se em níveis mais do que alarmantes. Nesse contexto, nem os republicanos nem os democratas conseguem encontrar uma solução adequada, que necessariamente envolveria acabar com as guerras promovidas pelos Estados Unidos no exterior.

Isso porque a Casa Branca já adquiriu um verdadeiro vício patológico em intervir militarmente nos assuntos domésticos de outros Estados e desse vício ela não consegue mais se livrar. Em decorrência dessa condição, o governo americano vem despendendo trilhões de dólares para avançar seus interesses geopolíticos no mundo, sem se preocupar com as consequências futuras desse dispêndio. Aqui, vale lembrar que o chamado complexo militar-industrial é o principal beneficiário dessa loucura toda, possuindo um lobby muito poderoso dentro do Congresso estadunidense.

Com isto, os gastos com defesa, que incluem salários e benefícios para militares ativos e aposentados, a compra e desenvolvimento de novas armas letais, bem como a manutenção das bases americanas espalhadas pelo planeta, impactam diretamente a economia dos Estados Unidos, que precisa muitas das vezes recorrer a financiamentos externos para manter essa máquina ativa. Logo, somente um membro muito corajoso – ou louco – dentro do Congresso americano se voltaria contra esse perverso estado de coisas.

Somente no ano fiscal de 2023, o Departamento de Defesa estadunidense conta com cerca de 2 trilhões de dólares (R$ 10,1 trilhões) a ser alocados para suas diferentes divisões, com as agências militares do Estado podendo gastar esses recursos da forma como quiser, assumindo perante o governo a obrigação de compensar/devolver parte desse montante no futuro. Ao mesmo tempo, o presidente Joe Biden sancionou no início do ano uma lei que destinará ao Departamento de Defesa um orçamento no valor de 816 bilhões de dólares (R$ 4,137 trilhões), cerca de 40% superior ao total do orçamento de defesa de todos os países do mundo juntos.

Em termos de comparação, por exemplo, os gastos militares dos Estados Unidos em 2022 já foram o triplo dos gastos militares da China, sua principal concorrente geopolítica internacional. Muitos desses gastos, por sua vez, se devem justamente ao financiamento de guerras no exterior e à manutenção das mais de 800 bases militares americanas espalhadas pelo globo.

Ao elencarmos todos esses fatores, não surpreende, portanto, que uma verdadeira bomba-relógio tenha sido ativada pelos americanos, bomba essa que, ao explodir, trará consequências importantes para o resto do mundo. Isso porque embora os Estados Unidos sejam uma economia imponente, a capacidade de pagar sua dívida no médio ou mesmo no longo prazo é altamente duvidosa, dado que boa parte dos empréstimos tomados pelo governo no exterior possuem juros crescentes ao longo do tempo.

Assim sendo, com a deterioração desse quadro nos próximos anos, restará prejudicada tanto a confiança de investidores estrangeiros na economia americana quanto a confiança dos demais Estados no futuro da economia estadunidense. Além do mais, qualquer tentativa por parte da Casa Branca de imprimir moeda de forma descontrolada e excessiva, com o intuito de cobrir os juros e os gastos da dívida, poderá levar a altos índices de inflação, afetando drasticamente o quadro doméstico e o poder de compra do americano médio. Ora, em uma sociedade totalmente voltada para o consumo desenfreado de massa, essa seria uma sentença de morte para qualquer governo vigente.

Para além do já exposto, há também o impacto da dívida americana para a economia global no âmbito das reservas internacionais. Como o dólar – por enquanto – ainda é a moeda de reserva mais importante do mundo, os problemas com a dívida dos Estados Unidos terão impactos significativos na confiança dos países a respeito desse ativo.

Ora, ao manter dólares em suas reservas, os países estarão se arriscando a confiar em uma moeda que tende cada vez mais a perder valor no longo prazo. Em 2000, por exemplo, a participação do dólar nas reservas cambiais globais era de 70%. Hoje, sua participação é de 59% e a tendência aponta para sua irreversível diminuição nos próximos anos. Segundo, e talvez essa seja a consequência principal, muitos Estados já se deram conta da necessidade de diminuir sua dependência do dólar também em termos de comércio bilateral. Esse movimento, a saber, a contestação do papel do dólar como moeda de transação global, tem como carros-chefes países importantes como Rússia, China, Índia e Brasil, por exemplo.

Levantado ao longo de vários anos por Moscou, o tema da desdolarização da economia mundial tem como uma de suas principais justificativas não só a questão da dívida externa americana, mas também a utilização do dólar como arma política por parte de Washington contra países considerados indesejáveis aos interesses globais dos Estados Unidos. No mais, as declarações de Lula durante sua visita à China no primeiro semestre do ano demonstram que o Brasil e outros atores importantes já entenderam as mudanças hoje em curso e que o dólar, que vem perdendo prestígio devido às políticas erráticas da Casa Branca, não é mais digno de confiança.

No final das contas, essa bomba-relógio gerada pelos próprios americanos em breve explodirá e, quando o fizer, levará consigo a predominância antes incontestada da economia estadunidense no mundo, dando lugar enfim a um novo modelo – certamente mais justo – de relacionamento financeiro e institucional entre os Estados.

<><> Estados Unidos congelam ajuda militar a Kiev por falta de fundos

Medida é fruto do orçamento temporário aprovado pelo Congresso dos EUA para evitar a paralisação do governo. Projeto aprovado não inclui verba para o regime de Kiev.

Os Estados Unidos congelaram projetos de assistência militar de longo prazo à Ucrânia por conta de falta de fundos.

A informação foi dada nesta segunda-feira (2), por Matt Miller, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, em coletiva a jornalistas.

"Embora tenhamos fundos restantes para assistência militar de curto prazo, os fundos da Iniciativa de Assistência à Ucrânia e do financiamento militar internacional foram congelados", disse Miller.

A representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, abordou o anúncio do Departamento de Estado. Em uma postagem no Telegram, ela replicou o comunicado do órgão.

"Nota a todos aqueles que desejam se vender aos americanos."

O congelamento é fruto da aprovação da resolução orçamentária de curto prazo que estende o financiamento do governo por mais 45 dias, até que um novo orçamento seja aprovado. A resolução foi aprovada pelo Congresso dos EUA no último sábado (30) e evitou a paralisação do governo, conhecida como "shutdown", que traria prejuízos à economia.

A resolução foi aprovada de forma relâmpago, uma vez que o novo ano fiscal no país teve início no último domingo (1º). A Câmara aprovou o projeto por 335 votos a favor e 91 contra; o Senado aprovou por 88 votos a 9. A maior parte dos votos contrários foram dados por parlamentares republicanos alinhados ao ex-presidente Donald Trump, que é contra o financimento de Kiev.

Porém o preço para evitar a paralisação do governo foi a Ucrânia. Isso porque o orçamento temporário aprovado não inclui verba para o regime de Kiev, como pretendia a base do governo do presidente norte-americano, Joe Biden.

Nesta segunda-feira, Miller exortou o Congresso a retomar o financiamento à Ucrânia. "Embora tenhamos a capacidade de continuar a apoiar a capacidade da Ucrânia de se defender no imediato, já esgotamos grande parte dos fundos existentes de assistência militar. É imperativo que o Congresso tome medidas", disse Miller.

O Congresso dos EUA terá os próximos 45 dias para discutir um novo orçamento e formas de acomodar a assistência à Ucrânia dentro do projeto. A expectativa é alta, uma vez que cresce o número de parlamentares críticos ao financiamento de Kiev.

Desde fevereiro de 2022, os EUA já alocaram US$ 114 bilhões (cerca de R$ 562,1 bilhões) em ajuda à Ucrânia. A cifra, no entanto, pode ser bem maior, uma vez que o montante não reflete o quadro completo, que inclui fundos transferidos e reprogramados.

Recentemente, um grupo de parlamentares enviou uma carta ao diretor do gabinete de Gestão e Orçamento, criticando a forma como a Casa Branca segue enviando dinheiro dos contribuintes americanos à Ucrânia. Na carta, o grupo expressou preocupação em manter o apoio a Kiev de forma indefinida.

 

Ø  Trump vê império empresarial ameaçado por julgamento de fraude em Nova York

 

Entre os vários processos que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump enfrenta na Justiça americana, um chama atenção em Nova York: a ação que acusa o político de 77 anos de fraude e que poderia resultar na sua proibição de fazer negócios no estado, onde construiu fortuna.

Trump compareceu nesta segunda-feira (2) ao tribunal e denunciou o caso como uma "farsa" para sabotar sua campanha para retornar à Casa Branca. "Isso tem a ver com interferência nas eleições, simples assim", disse, ao chegar para o primeiro dia do que pode ser um julgamento de três meses.

"O que temos aqui é uma tentativa de me prejudicar em uma eleição", insiste.

Enquanto isso, o juiz de Nova York, Arthur Engoron, já decidiu que Trump e seus filhos, Eric e Don Jr., cometeram fraude ao inflar valores dos imóveis e ativos financeiros da Trump Organization durante anos — um exemplo citado na ação é o de um apartamento avaliado em US$ 327 milhões (mais de R$ 1,6 bilhão), valor considerado "significativamente maior" do que qualquer outro imóvel já vendido na cidade.

Na última semana, a Justiça rejeitou o encerramento do processo, que aponta indícios de fraudes em mais de 200 avaliações de imóveis.

Conforme a ação, os preços foram manipulados por mais de dez anos.

·         'Justiça prevalecerá'

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, responsável pela acusação, quer penalizar em US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) Trump e a família pelas fraudes, além de removê-los da administração dos bens. "A justiça prevalecerá", disse James a repórteres antes de apresentar os argumentos iniciais.

"Não importa o quão poderoso você seja, não importa quanto dinheiro você pense que tem, ninguém está acima da lei", acrescenta.

Trump, ao chegar ao tribunal, disse que o processo é uma "caça às bruxas" e garantiu que seus "extratos financeiros são fenomenais".

·         Fraude bilionária

No caso de Nova York, o juiz Arthur Engoron determinou que Trump, seus dois filhos mais velhos e outros executivos da companhia mentiram para coletores de impostos, credores e seguradoras por anos.

Conforme a ação, o esquema já teria elevado valores de propriedades do ex-presidente entre US$ 812 milhões (R$ 4,1 bilhões) e US$ 2,2 bilhões (R$ 11,4 bilhões), dos anos de 2014 a 2021. O juiz também revogou licenças comerciais que permitiam à Trump Organization operar algumas de suas propriedades em Nova York.

Somente essa penalidade, segundo o professor de direito comercial da Universidade de Michigan Will Thomas disse à agência AFP, já seria "um golpe significativo na capacidade de Donald Trump de fazer negócios no estado de Nova York no futuro".

Entre essas propriedades está a famosa Trump Tower, localizada na 5ª Avenida, em Manhattan. O próprio apartamento em que vive o ex-presidente teria sido listado como três vezes maior que seu verdadeiro tamanho, o que gerou uma supervalorização de até US$ 300 milhões (R$ 1,5 bilhão), segundo a procuradora Letitia James.

O resort de luxo Mar-a-Lago, na Flórida, e vários clubes de golfe da Trump Organization também fazem parte da denúncia de James.

Trump tem repetidamente rejeitado as alegações, chamando James, que é negra, de "racista" e rotulando Engoron de "desequilibrado".

Provavelmente serão convocadas dezenas de testemunhas para depor no julgamento, incluindo o próprio Trump e três de seus filhos.

O ex-advogado de Trump Michael Cohen — agora um crítico ferrenho do ex-presidente — e funcionários de instituições financeiras ligadas a Trump também devem comparecer.

·         Outras ações

Em março do próximo ano, em outra ação a que responde, o ex-presidente vai comparecer perante um juiz federal em Washington sob acusações de tentar derrubar os resultados das eleições presidenciais de 2020, vencidas pelo democrata Joe Biden.

Depois, Trump retorna ao tribunal estadual de Nova York, desta vez sob acusações de comprar o silêncio de uma ex-atriz pornô, e mais tarde a um tribunal federal na Flórida, onde é acusado de manusear documentos classificados após deixar o cargo.

O ex-presidente também terá que responder a acusações estaduais na Geórgia, onde promotores afirmam que Trump tentou ilegalmente mudar os resultados das eleições de 2020 a seu favor.

 

Ø  Dívida pública pode crescer até 50% se governos interromperem políticas de emissões zero, alerta FMI

 

A interrupção dos esforços governamentais em direção a emissões líquidas zero pode causar danos drásticos para além do meio ambiente. É o que alerta nesta segunda-feira (2) o Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo o qual a paralisação dessa política pode aumentar a dívida pública em até 50%.

"No cenário em que os governos avançam em direção a uma pausa na busca de emissões zero até meados do século, com subsídios, com serviços públicos, a dívida pública aumenta entre 45% e 50%", explica o subdiretor do Departamento de Assuntos Fiscais da organização, Ruud de Mooij, durante a apresentação do Monitor Fiscal e do Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI.

Para o FMI, é fiscalmente insustentável um cenário em que os governos deixam de investir no equilíbrio entre o que é lançado e retirado pela natureza de gases do efeito estufa na atmosfera. Outro alerta do subdiretor está relacionado ao excesso de cobrança no setor privado, o que poderia gerar oposição política e falta de apoio público.

"Restrições fiscais podem ser aliviadas significativamente por meio de uma combinação de políticas. Nesse cenário, a dívida aumenta em 10% a 15% em vez de 45% a 50%", explicou.

Para Mooij, encontrar a combinação certa de políticas e a visão adequada das responsabilidades entre os governos e o setor privado ajudará a evitar problemas, além de implementar políticas de gastos apropriadas para apoiar populações e regiões vulneráveis.

·         Financiamento nos países em desenvolvimento

Com relação aos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, o FMI disse que o setor privado deve desempenhar um papel significativo para mitigar as mudanças climáticas. Para a organização, a parcela de financiamento deve aumentar para até 90% até 2023.

"Apesar da proliferação de políticas de apoio ao setor financeiro e compromissos climáticos das instituições, ainda não ocorreu uma mudança substancial nos fluxos de financiamento de ativos de alta para baixa emissão, especialmente nos MEEDs [mercados emergentes e economias em desenvolvimento]", afirma relatório.

O FMI apontou que alcançar zero emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 requer um aumento anual de US$ 5 trilhões (R$ 25,3 trilhões) em financiamento nos próximos sete anos.

Em agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, durante a Cúpula da Amazônia, que os US$ 100 bilhões (R$ 506,7 bilhões) anuais para financiamento climático dos países em desenvolvimento já não são mais suficientes. O valor a ser repassado pelo Norte Global para o Sul Global foi definido em 2009.

Conforme Lula, o financiamento "nunca foi implementado" e esse montante "já não corresponde às necessidades atuais", já que as demandas por "mitigação, adaptação e perdas e danos só crescem". O presidente ainda destacou que as maiores reservas florestais e a biodiversidade mundial merecem mais representatividade no fundo global.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário: