quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Ala do governo Lula defende freio a Moraes e vê com cautela delação de Cid

Apesar de o próprio presidente Lula (PT) usar as recentes descobertas da Polícia Federal como munição contra o adversário Jair Bolsonaro (PL), alas do governo e parlamentares se dividem sobre a atuação do ministro Alexandre de Moraes e dos avanços da delação do tenente-coronel Mauro Cid.

Ministros e aliados do petista no Congresso veem com cautela a forma como a colaboração de Cid foi firmada com o STF (Supremo Tribunal Federal), enquanto ele estava preso. Integrantes desta ala frisam que esse tipo de conduta lembra métodos usados durante a Operação Lava Jato.

A torcida é para que a delação de Cid seja robusta e farta em provas porque senão, afirmam, não haveria por que fechá-la. A ausência de evidências é uma das críticas apresentadas às delações firmadas na Lava Jato.

Essa posição difere da do ministro Flávio Dino (Justiça), que tem respaldado e defendido publicamente todos os atos da Polícia Federal, que está sob seu guarda-chuva.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, métodos de investigação esvaziados ou até mesmo enterrados pelo movimento contra a Lava Jato no STF têm sido reconstruídos pela própria corte e por outras instâncias do Judiciário em cerco contra o ex-presidente Bolsonaro e seus aliados.

A delação de pessoas presas, por exemplo, chegou a ser comparada à tortura pelo ministro Gilmar Mendes. Agora, o magistrado atua como um dos principais pilares de sustentação da atuação de Moraes, que manteve Cid detido por quatro meses e só o soltou após homologar sua colaboração premiada.

A delação de Cid foi homologada em 9 de setembro por Moraes.

Um dos principais focos de atenção entre aliados de Lula está no poder concentrado nas mãos do ministro. Se por um lado Moraes tem mirado em adversários do petista, por outro lado as ações dele representam um fortalecimento excessivo, avaliam.

Em conversas, aliados do presidente atribuem a Moraes uma origem de centro-direita, tendo sido indicado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), além do risco implícito no ativismo judicial.

Para essas pessoas, a indicação de Flávio Dino ao STF culminaria na constituição de um triunvirato na corte, composto também por Moraes e por Gilmar Mendes. Esses argumentos não fizeram com que Lula deixasse de prestigiar Moraes, também ouvido nas indicações para tribunais.

Além do fortalecimento político do Supremo, entre aliados do presidente há o receio de que se essa empreitada em cima de Bolsonaro e aliados acabe por ampliar o poder do grupo político oposto ao de Lula.

A avaliação é que Moraes tomou as medidas necessárias para manter a democracia frente a empreitadas golpistas de Bolsonaro, mesmo que algumas tenha sido controversas do ponto de vista jurídico. O problema, apontam, é que agora não se sabe mais quando essas medidas irão cessar.

Há ainda o temor de que eventualmente o ministro direcione as armas para a esquerda.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, auxiliares do presidente e aliados no Congresso veem com apreensão uma eventual prisão em decorrência do avanço das investigações contra o ex-presidente.

A Polícia Federal ainda não tem elementos para efetuar uma prisão preventiva de Bolsonaro e também analisa se seria o caso de realizá-la caso houvesse elementos para tal.

O cálculo leva em consideração os efeitos políticos que isso poderia gerar e também a expectativa de que, no ano que vem, Bolsonaro já terá sido condenado pelo STF.

Investigadores entendem que há provas para indiciar o ex-presidente por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Há evidências sobre tais crimes no caso da investigação das joias.

Questionado sobre o tema, Lula evitou falar sobre a delação em si, mas comentou as suspeitas que pairam sobre Bolsonaro.

"Eu não conheço [o teor da delação], não posso dar palpite sobre o que eu não conheço, só sabe o delegado e o coronel que prestou depoimento. O resto é especulação", disse o presidente em viagem à Índia em setembro.

Na ocasião, também disse que a cada dia se tem a certeza "de que havia a perspectiva de golpe" e que Bolsonaro "estava envolvido até os dentes".

A delação de Cid contribuiu para uma série de elementos do inquérito 4874, relatado por Moraes, que reúne as investigações sobre a venda de joias presenteadas por autoridades, a suposta falsificação de cartão de vacina e as circunstâncias de minuta e diálogos de cunho golpista encontrados no celular de Cid.

Os elementos apresentados pelo tenente-coronel que mais chamaram atenção dos investigadores foram aqueles relacionados à tentativa de golpe.

O instrumento da delação premiada foi um dos pilares das investigações da Lava Jato.

Alvos de peso da operação que assinaram os acordos anos atrás agora ou tentam rever as obrigações impostas no passado ou fazem críticas às circunstâncias da época em que aceitaram colaborar com as autoridades.

Nessa lista, estão ex-executivos da empreiteira Odebrecht, políticos e até um dos pivôs da operação, o doleiro Alberto Youssef.

 

       Planalto adota postura de distância na briga entre STF e Congresso

 

O Palácio do Planalto mantém postura de neutralidade na crise entre Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso diante da atuação da Corte em pautas do marco temporal das terras indígenas, da descriminalização do aborto até a 12ª de gestação e da descriminalização do porte e da posse de maconha.

Com urgência nas matérias econômicas, o entendimento do Planalto é que a melhor estratégia é manter distanciamento do problema na relação entre os dois poderes, e não interferir nesses assuntos. Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) disse ao Metrópoles que o Executivo continuará neutro nessa crise institucional.

A mesma estratégia é compartilhada por figuras ligadas ao Planalto. O foco do momento é a pauta econômica. Na semana passada, o PL encabeçou um movimento de obstrução nas votações da Câmara e do Senado, como forma de protesto contra a atuação do STF nessas pautas, incluindo a decisão do STF que considerou válida a cobrança de contribuição para sindicatos.

Na avaliação de parlamentares tanto da base quanto de oposição, o Supremo está atuando em áreas de competência do Legislativo. No caso da pauta do aborto, a ex-presidente do STF Rosa Weber iniciou o julgamento e votou a favor da descriminalização.

A votação foi suspensa após pedido de análise do ministro Luís Roberto Barroso, novo presidente da Corte. Barroso retirou o julgamento do plenário virtual (quando os ministros apenas incluem seus votos, sem discussão) e o colocou no plenário físico, mas ainda não o pautou.

Já em relação ao julgamento sobre drogas, o Supremo já possui cinco votos para liberar o porte de maconha para consumo próprio. A votação foi suspensa após pedido vista (mais prazo para análise) do ministro André Mendonça. Até agora, só Cristiano Zanin votou contra a descriminalização.

Alguns parlamentares da base têm apoiado um “contra-ataque”. Na proposta de emenda à Constituição (PEC) de combate às drogas, por exemplo, apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como resposta ao julgamento que corre no Supremo, houve assinatura da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), da base governista.

Vice-líder do governo na Câmara, Jonas Donizette (PSB-SP) é outro exemplo de que não tem uma orientação à base sobre os assuntos que integram a batalha travada entre Congresso e STF. O deputado é contra a descriminalização do aborto e do porte de droga para consumo pessoal.

“O Congresso tem seu tempo. Existem assuntos que demoram a ter uma decisão, porque são complexos e dividem a sociedade”, disse o deputado, ao defender que os temas de aborto e drogas precisam ser decididos pelo Parlamento.

Donizette ressaltou que a única preocupação do governo no momento é não travar a pauta econômica. “O governo entende que este é um embate entre STF e Congresso mesmo. O Planalto quer evitar ao máximo entrar em discussões de pauta de costumes”, explicou.

•        Após semana de obstrução, Câmara retoma análise de pautas econômicas

A obstrução dos parlamentares de oposição na semana passada interferiu na atuação das comissões, mas não do plenário. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), até ensaiou deixar a obstrução correr nas votações do plenário depois de uma sinalização do presidente Lula (PT) de que não pretendia entregar, no momento, a Caixa Econômica Federal ao Centrão, questão acordada na reforma ministerial.

Após diálogo com interlocutores do governo, no entanto, Lira recuou, e a Câmara aprovou a medida provisória (MP) que abriu crédito extraordinário de R$ 200 milhões para combate à gripe aviária. Também houve acordo para pautar o projeto de taxação de fundos offshores e o Marco Legal das Garantias de Empréstimos, que visa reduzir o risco de inadimplência e, com isso, os juros no Brasil.

OUTROS PROJETOS

A Câmara dos Deputados pode votar, nesta semana, projetos de lei (PL) importantes para a pauta econômica do governo federal. A expectativa é de que o marco de garantias e a taxação de offshores sejam votados antes da viagem do presidente Arthur Lira (PP-AL), marcada para 10 de outubro.

Lira conversou sobre o andamento de pautas econômicas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na última quinta (28/9). Na última semana, votações e colegiados do Congresso foram obstruídos por protesto da oposição contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os dois PLs são considerados importantes para o governo federal. O primeiro por facilitar o acesso ao crédito, e o segundo possibilita a arrecadação necessária para cumprimento das metas fiscais, que visam zerar o déficit público.

O marco legal das garantias de empréstimos foi aprovado em julho pelo Senado e, por ter sido alterado na Casa Alta, retorna à Câmara. O projeto de lei nº 4.188/2021 muda regras para garantias de empréstimos a fim de diminuir os juros e o custo do crédito.

A proposta formula normas que regulamentam empréstimos em instituições financeiras e os bens dados como garantia em caso da não quitação da dívida. O marco prevê a criação de Instituições Gestoras de Garantias (IGGs) para gerir os bens dados como garantia de empréstimos. O serviço de gestão de garantias deverá ser autorizado pelo Banco Central e regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

As empresas gestoras têm como atribuição:

•        a gestão administrativa das garantias constituídas sobre bens imóveis ou móveis;

•        a constituição, o encaminhamento a registro e o pleito à execução das garantias;

•        a manutenção e o controle das operações de crédito vinculadas às garantias;

•        a avaliação das garantias reais e pessoais; e

•        a interconexão com as instituições financeiras.

>>>> Taxação de offshores

Por sua vez, as chamadas offshores são fundos de investimentos baseados no exterior, geralmente em paraísos fiscais. De acordo com Haddad, o projeto de lei que tributa as offshores tramitará, na Câmara, junto à medida provisória (MP) para taxação dos fundos exclusivos de super-ricos.

Devido ao regime de urgência, o PL tranca a pauta da Casa caso não seja apreciado até 14 de outubro, devido ao prazo de 45 dias.

Os fundos exclusivos são assim denominados quando têm somente um cotista. Pelos altos custos e potencial de personalização, são usados normalmente por detentores de grandes fortunas e somam menos de 3 mil investidores. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também já se mostrou favorável aos dois projetos.

“Aliás, diga-se de passagem, no governo anterior tinha um projeto de offshore que a gente quis fazer”, disse o presidente do BC em audiência da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. “A gente queria fazer a taxação das offshore e eu achava que a alíquota tinha de ser mais alta. Eu pedi que fosse 10%, achei que 10% era razoável. Eu, inclusive, acho 6% baixo. Deixo aqui minha opinião.”

De acordo com o Ministério da Fazenda, o PL de taxação das offshores tem potencial para gerar arrecadação de R$ 7,05 bilhões em 2024; , R$ 6,75 bilhões em 2025 e R$ 7,13 bilhões em 2026. A alíquota é progressiva, indo de 0% a 22,5%.

 

       Alckmin quer ministério da Segurança

 

O vice-presidente Geraldo Alckmin defendeu no ano passado a recriação do Ministério da Segurança Pública, retirando a área da alçada da pasta da Justiça.

“Sou favorável à criação do Ministério da Segurança Pública. Segurança pública é uma preocupação no mundo todo”, disse ele durante seminário em abril de 2022, quando já havia sido indicado para compor a chapa presidencial ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O vice é filiado ao PSB, mesmo partido do atual ministro da Justiça, Flávio Dino, que é a principal voz contrária no governo à divisão da pasta.

O evento foi promovido pelo IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa). A fala de Alckmin foi depois reproduzido no livro “Por uma Segurança Pública Democrática, Cidadã e Antirracista” (editora Contracorrente), lançado em dezembro, de autoria de Benedito Mariano e Walfrido Warde.

“A segurança perpassa a questão da saúde pública, de salvar vidas, ela perpassa a questão educacional. Ela é extremamente abrangente. E por isso a necessidade de ter um ministério dedicado ao tema, com especificidade, com dedicação exclusiva, fazendo a grande articulação entre os níveis de governo –municipal, estadual e federal– e das várias áreas que devem compor um tema dessa magnitude”, disse Alckmin, na ocasião.

 

Fonte: FolhaPress/Metrópoles

 

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