sábado, 28 de outubro de 2023

Abin de Bolsonaro não vigiava apenas celulares, mostra investigação

As apreensões feitas na operação para apurar a conduta de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em suposto rastreamento de celulares estão revelando um outro esquema clandestino de espionagem.

As investigações da Polícia Federal sobre o esquema de espionagem ilegal realizada pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostram que a arapongagem clandestina ia muito além dos celulares rastreados por meio de um aplicativo espião adquirido pelo órgão. As apreensões feitas na última semana com ordem judicial também apontaram uma outra forma agir dos agentes ligados ao antigo ocupante do Palácio do Planalto que tentou se perpetuar no poder como um ditador.

Os investigadores encontraram no material recolhido - e sob análise - outros dispositivos invasivos, que estavam sendo utilizados para invasão em massa de computadores, de acordo com apuração do jornalista César Tralli, da TV Globo e GloboNews.

Segundo o jornalista César Tralli, da GloboNews, os federais descobriram que os homens da Abin também invadiam em massa computadores de adversários políticos e de autoridades que não se alinharam a Bolsonaro. A infiltração nesses dispositivos seria feita usando uma espécie de vírus, que poderia ser instalado nas máquinas por meio de mensagens de e-mail fraudulentas, contatos via serviço de mensagens ou pen-drives.

De acordo com as informações reportadas por Tralli, no Edição das 18h, o spyware teria a capacidade de extrair qualquer dado dos computadores infectados pelos agentes da Abin, que a partir daí conseguiriam ver absolutamente tudo naquele dispositivo. A ação era de natureza integramente ilegal e feita sem qualquer amparo na legislação vigente.

A ferramenta de invasão por meio de um malware (software que causa danos) acessa todo o conteúdo dos computadores, segundo fontes. A intrusão clandestina pode se dar via disparo de um e-mail, por uma mensagem de texto, por WhatsApp web, por exemplo, e por acesso físico ao computador (pen drive), alvo de espionagem.

A vítima infectada não sabe que a invasão ocorreu. E imediatamente todo conteúdo do computador passa a ser acessado pelos espiões.

Nesta nova fase da investigação, a Polícia Federal pretende descobrir quantos foram os computadores infectados pelo spyware clandestino da Abin e, sobretudo, chegar às autoridades e personalidades bisbilhotados pelo aparato de arapongagem do ex-presidente de extrema direita.

Investigadores se aprofundam na descoberta de agora para decifrar melhor quantos computadores foram infectados e espionados. E quem foram os alvos.

As informações em relação a isso seguem sob sigilo para não atrapalhar os desdobramentos das apurações sobre estes sistemas ilegais de espionagem feitos por servidores e ex-servidores da Abin.

Na semana passada, operação da Polícia Federal trouxe à tona um suposto esquema criminoso de rastreamento de celulares conduzido pela Abin. Mais de 33 mil acessos foram feitos sobre a localização de aparelhos de ministros do STF, auxiliares, funcionários da corte, servidores públicos, jornalistas, políticos e policiais, dentro outros.

Ao todo, a PF cumpriu na operação 25 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Goiás e no Distrito Federal. A agência disse que colaborou com a Polícia Federal e que a operação é retaliação.

A empresa fornecedora deste sistema foi alvo de busca e apreensão. Porém, de acordo com fontes, a nova descoberta, que envolve esquemas de invasão de computadores, não é da mesma empresa que vende o rastreamento de geolocalização de aparelhos de telefone, o que levará a PF a ir atrás também da ponta fornecedora das ferramentas de intrusão de computadores.

•        Espionagem na Abin:  invasão em massa de computadores

A Polícia Federal descobriu que dispositivos invasivos eram utilizados por servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para invasão em massa de computadores, de acordo com apuração da TV Globo.

Segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (25) pelo canal televisivo, a ferramenta de invasão por meio de um malware era utilizada para acessar conteúdo de computadores via disparo de um e-mail, por mensagem de texto, por WhatsApp Web e por acesso físico ao computador.

A investigação agora busca descobrir quantos computadores foram infectados, espionados e quem são os alvos. Ainda segundo a reportagem, as informações seguem sob sigilo para não atrapalhar os desdobramentos das apurações.

A descoberta ocorreu depois que a Polícia Federal realizou buscas e apreensões de materiais na sede da Abin e em domicílios de servidores, na última sexta-feira (20), para apurar suspeita de rastreamento ilegal de celulares por servidores do órgão.

Nesta terça-feira (24) a Abin exonerou seu secretário de Planejamento e Gestão, Maurício Fortunato Pinto, e mais dois servidores, que já haviam sido afastados na operação de sexta-feira passada.

De acordo com a PF, um software de monitoramento (FirstMile) foi utilizado ilegalmente milhares de vezes para monitorar jornalistas, ministros e opositores do antigo governo federal, por meio do GPS dos celulares das vítimas. A ferramenta, produzida por uma empresa israelense, foi usada nos três primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro. A Abin reitera que a ferramenta deixou de ser utilizada em maio de 2021.

O diretor do órgão durante esse período era Alexandre Ramagem, que atualmente é membro do mesmo partido político que Bolsonaro, o PL. A revelação do uso inadequado do programa espião veio à tona em março, por meio do jornal O Globo, o que levou à abertura de uma investigação na Diretoria de Inteligência da Polícia Federal.

 

       Abin se queixa à Casa Civil de operação da PF contra agência

 

O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, queixou-se à Casa Civil da conduta da Polícia Federal na operação da semana passada contra a agência.

Corrêa pontuou que a agência vinha colaborando com a PF e questionou a apreensão de documentos não relacionados ao First Mile, software de monitoramento por geolocalização que pode ter sido usado ilegalmente na Abin durante a gestão do hoje deputado Alexandre Ramagem. A polícia negou que isso tenha ocorrido e disse que a reclamação da Abin é pela razão oposta: na verdade, a agência não teria colaborado minimamente com a operação.

O diretor da Abin expôs à Casa Civil que já havia até se reunido com a cúpula da PF e se comprometido a repassar informações da correição interna da agência sobre o caso, para colaborar com o inquérito da polícia.

•        Planalto tenta mitigar guerra entre Abin e PF

Ministros do Palácio do Planalto vêm atuando, nos bastidores, para mitigar a guerra velada entre as atuais cúpulas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal.

A disputa se intensificou na semana passada, após a PF realizar operação contra servidores da Abin para investigar o uso de um sistema de espionagem ilegal de celulares por meio de geolocalização.

A operação cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra integrantes da agência. Um dos alvos das buscas foi a própria sede da Abin, em Brasília, o que irritou muito a cúpula do órgão.

Depois da operação, integrantes da Casa Civil, pasta à qual a Abin está subordinada, detectaram nova investida da atual cúpula da PF para tentar derrubar integrantes da direção da agência.

 

       Abin diz que PF apreendeu dados que põem em risco agentes e fontes

 

Integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmam que a Polícia Federal apreendeu na operação da última sexta-feira (20/10) uma série de dados que colocaria em risco a segurança de fontes da agência e agentes que estão em missões no Brasil e no exterior, e que não teriam relação com a investigação do possível monitoramento ilegal que possa ter sido feito na agência. Fontes da Polícia Federal ouvidas pela coluna rebatem essa informação e dizem que a Abin tergiversa por supostamente não ter colaborado com a investigação.

Entre os dados que teriam sido indevidamente apreendidos pela PF está a relação de informantes do órgão, bem como dados de operações em andamento. Um levantamento feito pela agência mostrou que, de 36 documentos apreendidos, 19 não tinham relação com o First Mile, software usado para monitoramento de geolocalização.

Segundo integrantes da Abin ouvidos pela coluna, até dados de fontes ligadas a grupos terroristas teriam sido apreendidas pela PF.

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Uma planilha de Excel com dados de FHs (fontes humanas) foi apreendida, e também documentos de um monitoramento de radicalização de CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador).

A tensão entre PF e Abin se agravou nas últimas semanas também em virtude da possível recriação do Ministério da Segurança Pública.

O atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, é apontado como um nome ouvido pelo presidente na área e, mesmo que não seja cotado para se tornar ministro, poderia influenciar na escolha do nome. A PF ficaria subordinada ao novo ministro, o que, na visão de agentes da Abin, incomodaria a atual cúpula da polícia.

 

       O mistério dos celulares impenetráveis. Por Moisés Mendes

 

O advogado Frederick Wassef, que trabalha para Bolsonaro, teve quatro celulares apreendidos pela Polícia Federal no dia 17 de agosto deste ano, quando jantava numa churrascaria em São Paulo.

É público que os conteúdos dos celulares foram acessados pela Polícia Federal, que passa agora a analisar o que encontrou.

Já o empresário Luciano Hang teve dois celulares apreendidos pela mesma PF em 23 de agosto do ano passado. Até hoje os celulares não foram abertos pelos peritos a serviço da PF, ou não se tem nenhuma informação a respeito.

Nos dois casos, as senhas não foram cedidas pelos investigados. O advogado está em inquérito por causa da venda e recompra das joias das arábias de Bolsonaro, e o empresário por participação em grupo de tios do zap em conversas consideradas golpistas.

Mas os celulares de um, apreendido há dois meses, foram devassados pelos peritos, e os celulares do outro continuam impenetráveis.

Em decisão de 18 de agosto último, o ministro Alexandre de Moraes decidiu prorrogar o inquérito contra Hang, que se autoproclama véio da Havan em vídeos e propagandas, e deu o motivo.

A prorrogação era por 60 dias, para que a PF continuasse tentando abrir os celulares. O prazo já venceu na semana passada e nada mais se fala no assunto.

Na decisão, o ministro anota que os dois celulares a serem periciados são da Apple, um modelo A2638 (iPhone 13 Pro) e o outro modelo A2633 (iPhone 13). E nada mais se sabe.

O Globo informou que os conteúdos dos celulares de Wassef serão repassados ao advogado dele para averiguação, até porque ele também é advogado.

Há preocupação em separar informações que possam ser consideradas confidenciais, da relação dele com seus clientes, porque assim manda a lei.

Só que Wassef não é apenas advogado de Bolsonaro, é investigado por ter feito a recompra do famoso relógio Rolex que Bolsonaro não poderia ter vendido. Por isso ele teve os aparelhos apreendidos.

O cliente de Wassef era o ‘dono’, ou se achava o dono do relógio, e também está sob investigação. Como separar aqui as conversas de advogado com cliente, se os dois são figuras suspeitas nos mesmos atos criminosos?

Mas o que importa mesmo é que temos agora a informação de que os celulares de Wassef estão com conteúdos já em poder da PF. E que nada temos de informação sobre os conteúdos dos celulares do véio da Havan.

É de fazer pensar. Quatro celulares apreendidos há pouco tempo já tiveram seus compartimentos desvendados. E dois celulares apreendidos há mais de um ano continuam fechados como cofres indevassáveis.

É ruim para todos os envolvidos nas investigações. Por que só os celulares de Hang não permitem acesso? Por que ficaram um ano com a PF, sem que nada se divulgasse a respeito das investigações, até ficarmos sabendo em agosto que não foram abertos?

Por que a grande imprensa abandonou essa pauta, quando a todo momento trata do assunto, como o Globo tratou agora dos celulares de Wassef e trata dos aparelhos de Mauro Cid, Anderson Torres e Silvinei Vasques?

Alguém deve ter essas informações. Mas, em nome da transparência e de tratamentos equânimes, todos os brasileiros têm o direito de saber que mistério envolve os celulares do véio da Havan.

 

Fonte: Fórum/g1/Metrópoles/Sputnik Brasil/Brasil 247

 

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