quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Facismo Bolsonarista: 'Ingratidão' de Bolsonaro gera defesas mornas de principais aliados diante de indiciamento

Após ser indiciado pela terceira vez pela Polícia Federal (PF) na última quinta-feira, 21, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu uma defesa pouco calorosa de alguns aliados.

No indiciamento mais recente, por tentativa de golpe de Estado, algumas declarações públicas defenderam o ex-presidente e atacaram o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

No entanto, este apoio foi descrito como "protocolar". Um levantamento divulgado pelo Estado de S.Paulo neste domingo, 24, aponta que 25% dos deputados do PL fizeram publicações no X (antigo Twitter) criticando o indiciamento.

Outros 46% usaram o Instagram para manifestar apoio, muitas vezes de forma genérica. Na avaliação do Estado, há uma insatisfação crescente na bancada bolsonarista.

Parlamentares apontam dois principais fatores para o descontentamento: a “ingratidão” de Bolsonaro em relação à lealdade demonstrada nos últimos anos e a preferência do ex-presidente por candidatos do Centrão em detrimento dos “bolsonaristas raiz” nas eleições municipais.

A reportagem destaca que cerca de metade dos parlamentares da ala bolsonarista do PL estaria disposta a abandonar Bolsonaro, caso surja uma liderança forte para desafiar o PT em 2026. Nomes como os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) se mostraram alternativas viáveis ao ex-presidente.

A insatisfação também reflete o aumento da pressão jurídica sobre Bolsonaro e aliados. Desde o governo, deputados bolsonaristas são alvo de investigações, intensificadas após os ataques golpistas de 8 de janeiro, além dos casos das joias sauditas e do cartão de vacina contra a COVID-19.

O outro fator foram as eleições municpais deste ano, quando articulações aprofundaram o racha na bancada. Em São Paulo (SP), Bolsonaro apoiou Ricardo Nunes (MDB), mas chegou a hesitar e pender para Pablo Marçal (PRTB). Em Curitiba (PR), mudou o apoio no último minuto para favorecer Cristina Graeml (PMB), em vez da chapa de Eduardo Pimentel (PSD).

•                                    Ex-aliado, Caiado faz ironia fina ao ser indagado sobre indiciamento de Bolsonaro: "E daí?"

No início da pandemia da Covid, em março de 2020, quando o Brasil já contava 2.575 das mais de 700 mil mortes que viriam em decorrência do coronavírus, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) soltou uma declaração que estarreceu o mundo.

Indagado sobre o crescente e rápido número de mortes pela doença no país - que já passavam das 300 por dia -, Bolsonaro deu de ombros.

"E daí? Não sou coveiro, tá?", respondeu, aproveitando o ensejo para propagar teses tresloucadas sobre a pandemia.

À época, Bolsonaro tinha como aliado fiel o atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), que rompeu a relação após ser traído pelo ex-presidente nas eleições municipais deste ano.

Se colocando como candidato à presidente pela ultradireira em 2026, Caiado fez uma ironia fina ao ser indagado sobre o indiciamento de seu ex-amigo, com outros 36 membros da organização criminosa golpista, em evento na Confederação Israelita Brasileira (Conib) na capital paulista na noite deste sábado (23).

Indagado obre o tema, o governador goiano fez troça, parafraseando a fala do ex-aliado na pandemia.

"E daí? A vida continua", respondeu Caiado. "Agora tem dois anos que é só essa discussão no Brasil. O governo não tem uma proposta. Eu sou governador do estado. Se eu fosse ficar preocupado com as pequenas coisas, eu não governaria", emendou.

Caiado ainda revelou a mágoa de Bolsonaro, adquirida nas eleições recentes. "Todos sabem que eu sempre apoiei mesmo ele lançando um candidato contra mim em Goiânia, mas nós fomos vitoriosos", disse sobre a traição do ex-presidente.

•                                    Tour eleitoral

Além do evento na Conib, uma das principais representantes do lobby sionista no Brasil, Caiado aproveitou o fim de semana na capital paulista para tentar nacionalizar seu nome, com vistas a 2026.

Na noite deste domingo (24), vai ao ar uma entrevista do governador goiano no programa Canal Livre, da Band, onde classificou como "insensatez, inadmissível e inaceitável" a tentativa de golpe de Bolsonaro e se colocou como conciliador, disputando com o colega paulista, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), a vaga na terceira via articulada pela mídia liberal juntamente com os agentes financeiros.

"Neste momento, ninguém está indo nesse lado extremado demais. O povo cansou. Isso não vai prevalecer em 2026", afirmou.

 

•                                    Saiba o que está no inquérito da trama golpista que chegará à PGR

A Polícia Federal (PF) concluiu que membros do governo de Jair Bolsonaro (PL) conspiraram contra a democracia e trataram sobre um golpe de Estado no fim de 2022. Os detalhes da trama golpista apurados pela corporação constam em relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que deve remetê-lo à Procuradoria-Geral da República (PGR) nesta segunda (25/11).

As investigações chegaram a 37 pessoas que teriam incorrido nos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Na lista estaõ o presidente Jair Bolsonaro e nomes do seu entorno, como os ex-ministros Walter Braga Neto, Anderson Torres e Augusto Heleno.

A corporação preparou um relatório robusto, que detalha a conduta de cada ator nos bastidores dos últimos dias do governo Bolsonaro para viabilizar um golpe de Estado.

As investigações se deram no âmbito do Inquérito nº 4874, que trata das milícias digitais e investiga a existência de uma organização criminosa, de atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento e político, com a finalidade de atentar contra a democracia e o Estado de Direito. A relatoria é do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

O inquérito foi dividido em diferentes eixos, sendo um deles “tentativa de golpe de Estado e de Abolição violenta do Estado Democrático de Direito”.

Para fundamentar a investigação, os agentes da PF colheram depoimentos de diversos envolvidos e contaram com a delação de Mauro Cid, ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro. Foram cruciais também os arquivos e documentos encontrados com os investigados e o cruzamento de informações, como a geolocalização dos acusados.

“Minuta do golpe”

Segundo as investigações da Polícia Federal (PF), o então presidente da República Jair Bolsonaro redigiu, ajustou e “enxugou” a chamada “minuta do golpe”, uma espécie de decreto que previa a intervenção no Poder Judiciário para impedir a posse do presidente Lula e convocar novas eleições.

O documento da PF aborda as investigações envolvendo um grupo de militares de elite que teria planejado um golpe de Estado em 2022 para impedir a posse e até mesmo o assassinato de Lula. A corporação aponta, inclusive, a cronologia de atos criminosos que envolveriam Bolsonaro.

O ex-presidente teria se reunido com o comandante do Exército Brasileiro à época, general Estevam Cals Theofilo, em 9 de dezembro de 2022, com o objetivo de organizar o apoio militar para consumar o golpe de Estado.

A PF concluiu que Bolsonaro é o responsável por redigir e ajustar “a minuta do ilegal Decreto golpista”, mediante a análise de mensagens encaminhadas por Mauro Cid para o general Freire Gomes, então comandante do Exército.

Em uma das mensagens enviadas pelo ajudante de ordens de Bolsonaro ao general Freire Gomes, afirma-se que o então presidente estaria sofrendo “pressões para tomar uma medida mais pesada”, com o uso de forças, por parte de “deputados”.

Também de acordo com a investigação, Cid indicou, nos textos a Freire Gomes, que Bolsonaro “enxugou o decreto” e o tornou “mais resumido”.

Caminho até a denúncia

As investigações, embora cheguem ao STF somente após dois anos dos crimes, permitiram prisões e medidas cautelares no decorrer das apurações. Na última terça-feira (19/11), por exemplo, quatro militares e um policial federal foram presos por supostamente terem participado da trama golpista e de um plano para executar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes.

Sabe-se, até o momento, que pesam acusações contra 36 pessoas, mas os detalhes de como cada um dos envolvidos atuou para degradar a democracia nos dias finais do governo Bolsonaro segue sob sigilo. Cabe a Moraes a decisão de tornar públicas as informações e em que momento fazer isso.

Depois disso, a PGR decidirá se apresenta denúncia contra os envolvidos. Em seguida, o relator notificará os acusados para que se manifestem, e a Corte decidirá se eles se tornarão réus.

 

•                                    General golpista comemorou atos de vandalismo de bolsonaristas durante diplomação de Lula: “agora vai rolar sangue”

O general Mário Fernandes, um dos 37 indiciados no inquérito do golpe de Estado, comemorou a realização de um ato violento por manifestantes bolsonaristas durante a diplomação do presidente Lula (PT) no dia 12 de dezembro de 2022, em Brasília,  informa o Metrópoles.  O quebra-quebra teve vários veículos incendiados, a tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal e começou com a prisão do bolsonarista Cacique Tserere Xavante.

Naquele dia, Fernandes enviou mensagens de áudio ao coronel reformado Reginaldo Vieira de Abreu comemorando o que seria o início de uma radicalização nas manifestações após as eleições de 2022. “Tu viu que já começaram a radicalizar, né? A prisão do cacique ali já levou. Ó, aqui no início da Asa Norte, da W3 Norte, na sede da Polícia Federal, o pau tá comendo. Os distúrbios urbanos já iniciaram. Agora vai rolar sangue”, disse.

Em conversa com o general da reserva Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro do  governo Jair Bolsonaro (PL), Fernandes voltou a utilizar a expressão “vai rolar sangue” e comemorou os atos de vandalismo.  “Vai começar a rolar sangue. E nós sabemos que isso aí já era um prenúncio, já era anunciado. Certo? Vai acontecer, porra, não tem jeito. Quanto mais se retardar uma ação efetiva, mais vão acontecer eventos como esse”, comemorou.

Mário Fernandes é apontado pelas investigações da Polícia Federal como um dos principais idealizadores da trama golpista e teria redigido o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa os assassinatos de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).  Ele foi chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República do governo Bolsonaro, entre outubro de 2020 e janeiro de 2023.

 

•                                    "Vai ser guerra civil agora ou depois", diz coronel que treina mercenários a ministro de Bolsonaro

 Investigado em Inquérito Policial Militar (IPM) no ano de 2005, quando, como comandante, autorizou o uso do Centro de Instrução de Gericinó, no Rio de Janeiro, para treinamento de ex-militares como mercenários pela empresa Firs Line, o coronel Roberto Raimundo Criscuoli pregou uma "guerra civil" logo após Lula vencer Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais, em 30 de outubro de 2022.

Criscuoli, que foi exonerado do Exército e associou-se à Stam Strategic - transnacional que fornece combatentes privados para atuar em conflitos em todo o mundo -, ofereceu suas tropas de mercenários na conversa que teve com o general Mário Fernandes, então ministro-adjunto da Secretaria-Geral a Presidência, no dia 4 de novembro de 2022.

A troca de mensagens consta no relatório da Polícia Federal que embasou o pedido de prisão da facção homicida, comandada por Fernandes, que planejava o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.

"Mario, eu tava até conversando agora com o pessoal aqui, cara. Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois", diz Criscuoli, pregando em seguida que o conflito tivesse início imediatamente.

"Só que a guerra civil agora tem uma justificativa, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara [Lula] vai destruir o exército, vai destruir tudo. [...] Ele vai mandar todos os quatro estrela embora. Vai ficar com o Gedias [General Marco Edson Gonçalves Dias, que assumiu o GSI e foi demitido após o 8/1] e alguns outros aí. Cara, não vai ficar legal, cara. É melhor ir agora. Que o povo tá na rua e pedindo que daqui a pouco nós vamos ir por interesse próprio. Aí não vale. Aí eu não vou. Aí eu não vou. Então a hora de ir é agora, cara", emendou.

Criscuoli, então, tenta avalia, em concordância com Fernandes, que "o presidente [Bolsonaro] não pode pagar pra ver" e critica o discurso de jogar "dentro das quatro linhas", que vinha sendo adotado pelo ex-presidente.

"Democrata é o cacete. Não tem que ser mais democrata agora. Ah, não vou sair das quatro linhas. Acabou o jogo, pô. Não tem mais quatro linhas. O povo na rua tá pedindo, pelo amor de Deus. Vai dar uma guerra civil? Vai dar. Eu tenho certeza que vai dar. Porque os vermelhos vão vir feroz. Mas nós estamos esperando o quê? Dando tempo pra eles se organizarem melhor? Pra guerra ser pior? Irmão, vamos agora", insiste o coronel.

Já alinhado com empresas que fornecem combatentes nos conflitos pelo planeta, Criscuoli então sinaliza que fornecerá mercenários, caso a guerra civil seja desencadeada.

"Fala com o 01 aí, cara. É agora. Hoje eu tô dentro. Amanhã eu não tô mais, não. Amanhã é o que eu quero dizer daqui a pouco. Por interesses outros eu não vou. Nem eu e nem a turma daqui", diz a Fernandes.

•                                    Mercenários

Conforme revelou Cleber Lourenço, nesta Fórum, Roberto Raimundo Criscuoli, ex-tenente-coronel do Exército Brasileiro e ex-comandante do Centro de Instrução de Gericinó, foi investigado em um Inquérito Policial Militar (IPM) após autorizar o uso de instalações do Exército para treinamentos de mercenários, conectando seu nome a desvios de recursos públicos e interesses privados.

O episódio que levou Criscuoli a ser investigado em um IPM começou em 2005, quando ele autorizou que o Centro de Instrução de Gericinó, no Rio de Janeiro, fosse utilizado para treinar ex-militares brasileiros recrutados pela empresa First Line.

Representada pelos italianos Giovanni Spinelli, Cristiano Meli e Salvatore Miglio, que também atuavam como recrutadores, a First Line oferecia contratos de dois anos com salários de US$ 3 mil mensais, atraindo pelo menos cinco militares da reserva, entre eles dois sargentos, dois cabos e um soldado.

No entanto, investigações revelaram que a First Line operava com registros falsificados e sem oferecer garantias legais aos recrutados. O caso gerou um escândalo que culminou na exoneração de Criscuoli e do general Rui Monarca da Silveira.

Após deixar o Exército, associou-se à Stam Strategic, uma empresa internacional de segurança privada que opera em zonas de conflito ao redor do mundo.

A Stam tem entre seus líderes os mesmos Giovanni Spinelli e Salvatore Miglio, antigos recrutadores ligados ao episódio de Gericinó (RJ), reforçando a ligação de Criscuoli com redes que utilizam a expertise militar brasileira para atender demandas privadas.

A transnacional oferece serviços como mitigação de riscos, inteligência e treinamento, promovendo a atuação de ex-militares em missões de alto risco sem garantias trabalhistas ou jurídicas robustas. Essa relação entre Criscuoli, Spinelli e Miglio destaca a “porta giratória” entre o setor público e o privado, onde figuras militares utilizam sua experiência e conexões adquiridas no Exército para explorar mercados globais de segurança.

•                                    Criscuoli e a Operação Contragolpe

Em 2022, Criscuoli voltou a ser mencionado em investigações de alto impacto, desta vez na Operação Contragolpe, que apura a tentativa de golpe de Estado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Relatórios da Polícia Federal revelaram mensagens trocadas entre o coronel e o general Mário Fernandes, preso pela PF, onde Criscuoli afirmou: “Democrata é o cacete” e que “não tem que ser mais democrata agora”.

As mensagens sugerem alinhamento de Criscuoli com discursos antidemocráticos e indicam sua possível participação em articulações para desestabilizar o governo eleito. Embora negue envolvimento direto, à imprensa o coronel admitiu que as conversas refletiam o clima político tenso da época.

Sua menção nas investigações levanta questionamentos sobre o papel de militares da reserva em redes que promovem a ruptura institucional.

 

Fonte: Redação Terra/Brasil 247/Metrópoles/Fórum

 

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