Investigado na Colômbia, Petro paga o preço
por enfrentar oligarquia local e o imperialismo dos EUA?
O presidente
colombiano, Gustavo Petro, está sendo investigado pelo Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) por suposto abuso econômico nas eleições de 2022. O mandatário
rebate as acusações e as classifica como "tentativa de golpe".
Primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia, Petro estaria pagando
o preço por enfrentar os EUA?
No dia 8 de outubro, o
CNE aprovou, com 7 votos a favor e 2 contra, uma investigação contra o
presidente Petro por ultrapassar os limites de gastos durante a campanha
presidencial que culminou com sua vitória sobre Iván Duque. A acusação denuncia
a omissão de alguns empréstimos e depósitos nas contas que os candidatos devem
apresentar ao final das eleições.
Petro vem rebatendo as
acusações. Em uma publicação nas redes sociais, o presidente colombiano
ponderou que o CNE não tem a competência para exigir que ele deixe seu cargo —
uma investigação desse âmbito caberia ao legislativo colombiano, não a um órgão
administrativo como o Conselho Nacional Eleitoral.
Além disso, ele
afirmou que a medida trata-se de uma "estratégia explicitamente proposta
por Néstor Humberto Martínez (ex-procurador-geral da Colômbia) e por Germán
Vargas Lleras (ex-vice-presidente do país)". "Estamos diante de um
golpe de Estado baseado em provas falsas", enfatizou o presidente.
Em entrevista ao
Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, especialistas analisam a situação
enfrentada por Gustavo Petro, o primeiro presidente com tendências
progressistas em um país historicamente dominado por forças políticas da
direita e sob forte influência dos Estados Unidos.
<><> Inclinação
à esquerda desafia país historicamente presidido pela direita?
Desde o final do
século XIX a Colômbia consolidou uma dualidade de partidos, com disputas
protagonizadas pelo partido Liberal e pelo Conservador.
Após a Guerra dos Mil
Dias, uma disputa interna vencida pelos conservadores, o país sul-americano
assistiu uma hegemonia que perduraria até 1930. Na sequência, os liberais
liderariam a Colômbia por cerca de 16 anos, até outra disputa sangrenta colocar
os dois partidos frente a frente na briga pelo poder, que teve o assassinato do
líder do Partido Liberal, Jorge Gaitán, em 1948, como episódio marcante do
período, conta Eduardo Gomes, doutor em história pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em história da Colômbia.
"Esse contexto
todo, de alguma forma, demonstrava o que a Colômbia era enquanto país, que
utilizava-se da violência para combater a violência, e que muitas das vezes não
se viu dentro das perspectivas do que hoje a gente chama de Estado Democrático de
Direito, possibilidade para o governo um pouco mais progressista, ou que
pudesse olhar para as classes populares, para as causas mais sensíveis da
sociedade", explica o analista.
A sobreposição dessas
forças no poder por meio da violência teve como consequência, por exemplo, o
surgimento de movimentos de oposição calcados na violência e na ilegalidade,
como o caso das guerrilhas nos anos 60, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC), do Exército de Libertação Nacional (ELN) e do próprio Partido Comunista
colombiano.
Petro, por sua vez,
quando considerado o primeiro presidente de esquerda do país, está longe de ser
um "revolucionário ou o socialista que vai estar no poder para estabelecer
um movimento dessa natureza na Colômbia. É uma esquerda moderada aos moldes do
[presidente Luiz Inácio] Lula aqui no Brasil, do [ex-presidente José] Mujica,
no Uruguai, que de alguma maneira tenta trazer pautas progressistas para um
país que nunca teve abertura para isso", afirma Gomes.
<><> O
governo Petro
Segundo o
especialista, Petro vem enfrentando o imperialismo norte-americano de forma
ampliada: o governante propõe o debate sobre a criação de leis trabalhistas em
um país onde o trabalhador não conta com garantias como as Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) no Brasil e que vai na contramão das propostas que
querem privatizar a educação pública na Colômbia.
"O Petro veio com
uma proposta progressista de enfrentar tudo isso e de não bater continência
para os Estados Unidos. No contexto da diplomacia e da política externa, tem
sido um presidente muito duro, por exemplo, ao se colocar contra a política
sionista atual no conflito Israel-Palestina", avalia.
Essa postura do
presidente crítica a questões caras aos EUA e à própria influência
norte-americana na América do Sul tem incomodado, conforme Gomes.
"As elites do
país se incomodaram com o contexto de governo que a Colômbia está passando
hoje, essa consequência toda está gerando essa tentativa de tirar o Petro do
poder, por isso que ele coloca como golpe", afirma.
Para Andrés Londoño,
professor de relações internacionais da Universidade La Salle e da Escola
Superior de Administração Pública (ESAP), a pressão sofrida por Petro
internamente é muito grande, afinal, conforme o especialista, o mandatário
enfrenta um CNE politizado, com conselheiros da oposição, e uma mídia que está
contra o governo.
<><> Qual
será o destino do presidente colombiano?
Como o CNE não é um
órgão com funções jurídicas, portanto não possui competência para julgar o
presidente colombiano, Londoño acredita ser muito difícil que a atual
investigação avance.
"O mais provável
que aconteça agora é que seja a Corte Constitucional, o órgão que esclarece
esses processos perante o que está na Constituição, que esclareça como é que
deve ser feito esse processo e também coloque limites ao Conselho Nacional Eleitoral.
Porque ele pode pesquisar campanhas, como eu falei antes, mas não suspender nem
destituir o presidente", explica sobre um possível cenário.
Ainda de acordo com o
analista, dentro de suas competências, o órgão tinha um prazo de 20 dias após
as eleições presidenciais para apurar possíveis irregularidades. Agora o fazem,
tempos depois, justificando que receberam uma denúncia anônima.
Em caso de uma
hipotética destituição, Gomes pondera que a tendência é que Petro conte com o
apoio dos principais grupos progressistas na América do Sul e Latina.
"Uma possível
retirada dele [Petro] do poder não seria diferente, como foi aqui no caso da
Dilma, de usar o termo golpe, sim, de entenderem que essa retirada atinge um
problema muito maior que não faz referência somente ao governo
colombiano", afirma.
Segundo o pesquisador,
trata-se de um processo mais amplo, "que vem desde a década anterior, de
pensar o que são os Estados Democráticos de Direito na América Latina como um
todo e como essa influência externa num contexto que é pós-Guerra Fria mas que
de alguma maneira ajuda ainda a entender esse resquício aqui na nossa região,
no nosso continente, como essa política externa notadamente do imperialismo
estadunidense e europeu acaba ainda influenciando as tomadas de decisões
internas nas nossas nações latino-americanas", resume.
¨ BRICS oferece a Cuba chance de driblar 60 anos de embargo dos
EUA via banco do grupo
Em entrevista ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas afirmam que a adesão de Cuba
ao BRICS fortalece o país no mundo multipolar que está se redesenhando e cria
oportunidades de comercializar de uma maneira mais justa.
O governo de Cuba
solicitou formalmente no início de outubro a adesão ao BRICS, grupo que passou
por uma expansão recente e que, além de Brasil, Rússia, Índia China e África do
Sul, passou a incluir Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Arábia Saudita.
O convite para a parceria associada foi feito durante a Cúpula do BRICS que
ocorreu entre os dias 22 e 24 de outubro, em Kazan, na Rússia. Em entrevista ao
podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas explicam o que Cuba pode
acrescentar ao BRICS e que oportunidades a adesão ao grupo traz para o país,
que há 60 anos sofre com o embargo imposto pelos EUA que afeta sua soberania
econômica.
Guilherme Barbosa
Pedreschi, advogado, procurador federal e autor do livro "Na estrada com
Fidel: o outdoor na Revolução Cubana", avalia que o principal objetivo de
Havana é obter melhores condições de contornar as sanções de Washington, conseguindo
"efetivamente fazer trocas mais justas". "Entrar no sistema
financeiro de uma maneira mais eficiente e comercializar de uma maneira mais
justa. Então essa me parece que é a grande esperança, a grande boia de salvação
que se sinaliza para Cuba ter acesso a crédito do Novo Banco de Desenvolvimento
e assim se fortalecer nesse mundo multipolar que está se redesenhando",
explica o especialista.
Pedreschi acrescenta
que a entrada de Cuba no grupo é especialmente benéfica para a América Latina,
que ele afirma se encontrar sob uma influência "ruim" e
"maléfica" dos EUA. Segundo ele, Cuba se tornará um player mais
relevante nas economias da região à medida que elas se tornarão mais
intercambiáveis. "Esse ganho diplomático que Cuba vai ter, esse aumento no
peso de Cuba na comunidade internacional, tende a florescer nos demais países
aqui […]. Eu vejo com muito bons olhos que uma nova roupagem realmente vai se
desenhando na América Latina."
Em contraponto, a
adesão ao BRICS pode gerar renda em Cuba através do turismo, que é um dos
principais motores da economia do país e, segundo o especialista, é afetado
desde a presidência de Donald Trump (2017–2021) nos EUA. "Cuba já é
bastante aberta e muito fácil de conseguir visto de qualquer lugar do mundo
[…]. Mas com os parceiros do BRICS, tende a ser melhor ainda você fomentar
agências de viagem especializadas dentro desses países do BRICS. Então você tem
pacotes especiais, você tem uma gama de possibilidades de aumentar o
turismo", afirma.
Questionado sobre como
a população de Cuba vem conseguindo resistir a seis décadas de embargo que
estrangulam a economia do país, Pedreschi afirma ser por meio de
"consciência política, principalmente". "O povo cubano é muito
consciente; ele sofre duramente, é castigado, mas eles têm cultura política
para entender, de um modo geral, que estão sendo sufocados. É um país que não
tem soberania econômica, ele é isolado, qualquer empresa do mundo que negociar
com Cuba vai sofrer um processo nos EUA. Então, ainda que o povo esteja cansado
de tantos anos de sofrimento econômico — não é fácil viver assim, obviamente —,
eles têm consciência de quem é o inimigo, quem está fazendo isso com
eles."
Nesse contexto, ele
afirma que o povo cubano "não tem outra opção senão resistir", pois a
outra seria "entregar o país para os EUA", que atuariam para fazer
dele "um outro Porto Rico". "Então o povo resiste porque tem que
resistir e dribla como vem driblando desde 1960, quando começaram as sanções.
[…] E agora, mais uma vez, com o BRICS é mais uma chance da nação e do povo
resistir", afirma.
José Niemeyer,
professor de relações internacionais do Ibmec, afirma que a eventual entrada de
Cuba indica que o BRICS está sendo reformulado como um grupo econômico. "Eu
não considero um bloco de integração regional porque muitos países não têm um
link geográfico. […] Eu não considero um bloco de integração regional, como é o
Mercosul, como é o NAFTA, e como é a União Europeia […]. É um bloco de
representação econômica, mas cada vez mais eu tenho visto o BRICS como uma
intenção de países do Oriente, principalmente Rússia e China, de criar um
contraponto ao bloco ocidental, principalmente aquele bloco ocidental que é
formado na perspectiva militar pela OTAN [Organização do Tratado do Atlântico
Norte]."
Na avaliação de
Niemeyer, a adesão de Cuba ao BRICS tem um caráter mais político-ideológico,
por ser um país que "sempre desafiou Washington", e as duas
principais potências do grupo, Rússia e China, veem nele um novo centro
"para se contrapor ao mundo ocidental".
Já sobre a
possibilidade de o Brasil sofrer algum tipo de sanção por ter apoiado a adesão
de Cuba ao BRICS, Niemeyer enfatiza que o Itamaraty e os governos que se
sucedem no Brasil terão de saber ficar bem nesse meio-termo, dentro da política
internacional, nos dois blocos que se desenham no mundo. "O Brasil está
nesse meio-termo dessa disputa que eu tenho visualizado entre o Ocidente e o
Oriente. Não é uma nova Guerra Fria, […] mas você vê hoje decididamente dois
blocos de países, países como EUA e União Europeia e países como China e
Rússia, e o Brasil tem que saber se equilibrar no meio disso." Ele lembra
que o Brasil é uma potência verde, um grande produtor de alimentos e energia,
que tem "um papel muito relevante neste mundo de conflito". Por isso
é importante para o Brasil ficar entre esses dois polos, preservando os
interesses que cultiva com os EUA e também com a China. "Se você me
perguntar, do ponto de vista estratégico militar, 'O Brasil está mais próximo
dos EUA do que da China?', está mais próximo dos EUA. Mas, do ponto de vista
comercial, a China é tão importante quanto os EUA hoje para a balança comercial
brasileira", afirma o especialista.
¨ Continuidade ou endurecimento: quais as perspectivas para Cuba
diante das eleições nos EUA?
Cuba acompanha de
perto as eleições nos Estados Unidos, pois o comportamento de quem ocupar a
presidência estadunidense durante os próximos quatro anos e as características
da sua política externa terão um impacto considerável na ilha. Mesmo que
ocorram pequenas variações nos métodos, os efeitos serão imediatos.
Ernesto Domínguez,
doutor em ciências históricas e professor do Centro de Estudos Hemisféricos e
dos Estados Unidos da Universidade de Havana, comentou em entrevista à Sputnik
que as eleições norte-americanas também terão impacto na dinâmica internacional
e na configuração do sistema regional e das relações globais.
Para o acadêmico, o
regresso do candidato republicano Donald Trump ao Salão Oval significaria a
permanência ou o reforço da estratégia de pressão máxima na ilha. Em primeiro
lugar, elaborou o especialista, retomariam uma política externa que classificam
como bem-sucedida e, em segundo lugar, continua a percepção sobre o valor do
voto cubano-americano no estado da Flórida. Nesse contexto, a coerção sobre a
maior das Antilhas é vista "como um mecanismo ou instrumento que favorece
a mobilização desse setor em favor de qualquer proposta ou plataforma, embora
esta tenha mais nuances e diversidade. Dados recentes indicam o apoio da
maioria dos cubano-americanos", cidadãos ligados ao Partido Republicano e
ao seu candidato. Sobre Kamala Harris, atual vice-presidente e candidata do
Partido Democrata, Domínguez advertiu que "ela não expressou uma posição
contundente sobre a ilha em um sentido ou outro. Seria de esperar que, se ela
assumir a presidência, a política em relação a Cuba será um pouco mais na linha
de algumas flexibilidades parciais em certas questões".
<><> Haverá
'relação construtiva'
A combinação de
cenários internos e externos, bem como o seu impacto no comportamento de uma ou
outra administração, determinará, em primeira instância, que "o espectro
de variações é relativamente baixo". Pelo exposto, podemos esperar
"um aumento da pressão máxima ou do suporte com ligeiras modificações
nessa estratégia", explicou o especialista. "Até o momento não vejo
um cenário provável de retorno às políticas adotadas por Barack Obama nem uma
ação militar no outro extremo. Muito menos podemos esperar o reconhecimento da
legitimidade do governo cubano e a eliminação de todos os tipos de medidas
contrárias", destacou.
Sobre esse assunto em
particular, Domínguez destacou que as diferentes administrações seguem o eixo e
o objetivo da política de Estado: a recuperação do controle sobre a ilha.
Portanto, as mudanças residem nos métodos utilizados para atingir esse propósito.
Por sua vez, Guillermo
Suárez Borges, mestre em ciências sociais e pesquisador do Centro Internacional
de Pesquisa de Políticas (CIPI, na sigla em espanhol), considerou à Sputnik que
nenhum dos dois chegará à Casa Branca "com a intenção de ter uma relação
construtiva com Cuba para ajudar a ilha a superar as situações atuais, nem com
uma mentalidade de solidariedade com o nosso país".
<><> Quatro
anos de continuidade política
Para Domínguez, embora
na campanha eleitoral de 2020 o próprio Joe Biden tenha proposto a reversão de
algumas das medidas impostas por seu antecessor Donald Trump (2017–2021),
especificamente o endurecimento das sanções, ele também se comprometeu a promover
os direitos humanos e a democracia na perspectiva estadunidense. A partir de
2021, a situação da economia nacional, as mudanças de liderança e as
manifestações de descontentamento, especialmente a ocorrida em 11 de julho
daquele ano, determinaram "uma avaliação da possibilidade de sobrevivência
do governo cubano que indicava a proximidade de colapso, algo assumido em
outros momentos" pela Casa Branca.
O resultado é que, na
opinião do acadêmico, Biden não eliminou nenhuma das sanções implementadas por
Trump. Apenas foram feitas algumas modificações relacionadas ao envio de
remessas e à abertura gradual do consulado para pedidos de visto. "Os
fundamentos da política de pressão máxima foram mantidos até agora. Mais do que
uma mudança, representa uma continuidade, com algumas nuances. A atual
administração retirou Cuba da lista de países que não colaboram ativamente na
luta contra o terrorismo, mantendo ao mesmo tempo isso nas nações que
patrocinam o terrorismo, o que é incoerente", afirmou.
¨ Presença de militares dos EUA na cúpula da APEC no Peru é
'recado' para China, diz especialista
A presença de
militares norte-americanos como garantidores da segurança durante um evento de importância
mundial sediado pelo Peru é uma "demonstração de força" dos Estados
Unidos para a China, afirmam especialistas consultados pela Sputnik Brasil. A
pedido da presidente do Peru, Dina Boluarte, o Congresso unicameral peruano
aprovou a entrada de 600 militares dos EUA para reforçar a segurança do país
durante a 36ª Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em
inglês), que acontece entre os dias 10 e 16 de novembro. As tropas
estadunidenses chegaram ao país nesta segunda-feira (4) e terão permissão para
ficar até o dia 24. Além dos 600 soldados, estão previstos quatro helicópteros
Black Hawk MH-60, quatro aviões AWACS e dois B-747-200B (VC-25).
Com um dos
contingentes mais numerosos a pisar no Peru, até mesmo quando comparado aos
enviados para exercícios militares, é provável que o presidente dos Estados
Unidos, Joe Biden, viaje para a cúpula. A presença do líder norte-americano, no
entanto, não é justificativa para a presença de tamanho contingente
estadunidense no país. O pedido de Boluarte vem em meio a um agravamento da
crise interna no Peru. A própria presidente viu sua taxa de desaprovação subir
para 92% nos últimos meses. Inicialmente vice-presidente de Pedro Castillo,
Boluarte assumiu após uma grave crise institucional atingir o país em 2022. Desde
então, a líder peruana vem enfrentando protestos populares relacionados a
escândalos de corrupção, crime organizado e violência policial.
A partir desse ponto
de vista, Boluarte pode estar receosa de novas manifestações durante a cúpula
da APEC. Convocações do tipo já foram feitas pela oposição. Mas a verdade é que
a segurança desses eventos "já levam em conta que pode haver algum incidente
em função de protestos domésticos", diz à Sputnik Brasil o cientista
político, jornalista e professor de relações internacionais Bruno Rocha Lima.
Para Lima, o pedido de
socorro das autoridades em Lima reflete muito mais a "lógica do império na
América Latina". "Há um esforço permanente do Departamento de Estado
e do Departamento de Defesa dos EUA em ampliar sua presença dentro do Estado
profundo dos países latino-americanos. E no Peru não é diferente." Nesse
contexto, o professor lembra que nos últimos anos a China se tornou uma grande
parceira dos países da América Latina. No Peru, China e EUA figuram na primeira
e segunda posições, respectivamente, entre os parceiros comerciais do país
andino. A terceira posição é ocupada pelo Brasil.
Mais importante do que
o fluxo comercial, há os investimentos em infraestrutura feitos por Pequim
através da Iniciativa Cinturão e Rota. A cerca de 80 quilômetros de Lima, a
estatal chinesa Cosco está prestes a inaugurar o porto de Chancay, que pode
redesenhar o tráfego das exportações em todo o continente. Desse modo, o
convite engendrado pelos norte-americanos para que seus militares façam a
segurança da APEC é "um recado, uma demonstração de força" dos EUA
para a China e até mesmo para a Rússia, duas grandes potências que integram o
fórum. É como se os estadunidenses dissessem que os fluxos comerciais podem ser
direcionados à Ásia, "mas a hegemonia financeira, cultural e militar é de
Washigton, e não tem conversa", destaca o pesquisador. "É uma
demonstração de que os Estados Unidos têm incidência direta na política
doméstica e nos arranjos intergovernmentais dos países, de que na América
Latina eles que mandam."
<><>
Maduro descreve autorização para entrada de tropas dos EUA no Peru como 'uma
vergonha'
O presidente
venezuelano, Nicolás Maduro, qualificou nesta segunda-feira (4) como "uma
vergonha" a decisão do Congresso do Peru que autoriza a entrada de tropas
dos Estados Unidos no território peruano. A medida acontece em meio à cúpula da
Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês) no país. "Simplesmente
é uma vergonha. Quando se cumprem 200 anos do sacrifício e da vitória de Junín
e Ayacucho, quando Simón Bolívar e Antonio José de Sucre derramaram seu sangue
pela liberdade do Peru, essa presidente Dina Boluarte, de forma indigna, depois
de ter feito um golpe de Estado, entrega o território peruano para as tropas
dos Estados Unidos", exclamou o mandatário durante a transmissão de seu
programa semanal.
A proposta da
presidente Boluarte para que militares norte-americanos fiquem no país até o
dia 24 de novembro foi aprovada por 63 congressistas, enquanto 23 a rejeitaram
e sete se abstiveram. "Uma vergonha sem nome e que eles vão pagar, vão
pagar caro no dia em que houver eleições nesse país. Sim, uma vergonha sem nome
e que, infelizmente, se repete de forma não tão desejável na região da América
Latina", reiterou Maduro.
Fonte: Sputnik Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário