Saúde espacial: conheça as missões da
Polaris Dawn para a saúde
Semana passada marcou
um momento histórico na trajetória espacial da humanidade: a missão Polaris
Dawn, lançada pela SpaceX na última terça-feira, 10, realizou a primeira
caminhada espacial privada, além de ter alcançado a órbita mais alta da Terra
em uma missão que não foi para outros corpos celestes, como a Lua. Mas além dos
feitos históricos, a Polaris Dawn também executou missões relacionadas à saúde,
com pesquisas que têm o objetivo de compreender a saúde tanto na Terra quanto
em voos espaciais de longa duração.
As principais
pesquisas que o programa Polaris envolvem a coleta de dados sobre o ambiente de
radiação para o organismo humano e o fornecimento de amostras biológicas para
análises multiômicas para um biobanco de longo prazo. O programa também
pretende estudar mais sobre a prevalência humana de doença de descompressão e
sobre a Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS), que representa
um risco à saúde humana em voos espaciais de longa duração.
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Conheça abaixo algumas das pesquisas da Polaris Dawn:
• Radiação
Conforme ocorrem
avanços nos voos espaciais, há uma preocupação de levar medicina mais complexa
ao espaço em vista de possíveis intervenções futuras que se façam necessárias.
Uma das possibilidades em pesquisa é levar a radiologia ao espaço como componente
essencial para diagnósticos e intervenções. O experimento atual é entender como
a radiação espacial ambiente pode ser usada e dar início ao uso de radiografias
de raios X no espaço.
Ainda no campo da
radiação, a NASA, apoiada pelo Translational Research Institute for Space
Health (TRISH), forneceu um monitor de radiação HERA-ativo com base na
tecnologia Timepix para medir a radiação no ambiente durante todo o voo, assim
como medir as doses recebidas pela tripulação Polaris Dawn com emblemas de
radiação Crew Active Dosimet. Devido à altura que a Polaris Dawn alcançou e ao
alto nível de exposição à radiação, a pesquisa também estudará o fenômeno
chamado de “flashes de luz” que, segundo relatado por astronautas, vislumbravam
flashes de luz ao fechar os olhos. O fenômeno ocorre devido à exposição a
radiação, e é esperado que a tripulação da primeira caminhada espacial
comercial veja ainda mais flashes, uma oportunidade que os pesquisadores
encontraram para estudar o caso mais a fundo.
O Pacific Northwest
National Laboratory (PNNL), por sua vez, conta com um experimento para estudar
a quantidade e o tipo de exposição à radiação que a tripulação de voos
espaciais está sujeita a receber em voos futuros. O experimento Orbital
High-Energy Space Neutron Activation Project (OHSNAP) tem o objetivo de medir o
ambiente de nêutrons de alta energia na nave Dragon, utilizada pela Polaris
Dawn, e registrar as interações.
• Medicamentos para enjoo
Enjoo é comum em voos
espaciais e, por isso, a Nasa está estudando a administração de escopolamina
intranasal que se mostrou eficaz sem muitos dos efeitos colaterais indesejados.
Ele também poderá ser usado como um medicamento de “resgate”, podendo tomar
após os sintomas aparecerem, diferente de outras medicações que devem ser
tomadas antes. Durante o voo, os membros passaram por pesquisas para avaliar
como o corpo processa medicamentos e como isso interfere em eficácia e
segurança dos medicamentos. Esse será um dos primeiros estudos sobre o assunto
visto que, até então, as drogas são administradas com a suposição de que agem
de forma similar à da Terra.
• Ressuscitação cardiopulmonar (RCP)
Devido à
microgravidade, compressões torácicas são desafiadoras no espaço e, apesar de
existir um procedimento caso RCP fosse necessária, não existem boas práticas ou
procedimento adequado na nave que foi lançada pela SpaceX. Por isso, a
tripulação fará experimentos para encontrar o posicionamento ideal para
realização de RCP utilizado um dispositivo adequado para validação.
• Ultrassom e medidor de glicose
Os membros do Polaris
Dawn têm acesso a um ultrassom inteligente e miniaturizado para escanear a si
mesmos e coletar imagens de nível médico. A tecnologia foi preparada para que a
própria tripulação se diagnostique e se trate caso ocorram problemas médicos.
Outro dispositivo que a tripulação testou é um monitor contínuo de glicose,
para que pessoas com diabetes tenham a certeza dos níveis de glicose mesmo em um
voo espacial.
• Mudanças cerebrais
Horas após retornarem
do voo, os membros da Polaris Dawn foram fotografados para explicar as mudanças
cerebrais observadas em outros astronautas. As fotos tiradas perto do pouso
devem explicar se as mudanças são devido à readaptação à Terra ou reflexo de
seus cérebros no espaço.
• Descompressão espacial
Tem o objetivo de
entender os efeitos da descompressão no corpo humano a partir do uso de um
aparelho de ultrassom. O dispositivo em questão irá monitorar, detectar e
quantificar êmbolos gasosos venosos (VEG), contribuindo para estudos sobre
prevalência humana de doença de descompressão.
• Registros de saúde e telemedicina
Os tripulantes
responderão um questionário sobre suas experiências de sono, histórico de saúde
e hábitos, assim como traços de personalidade. Já outra pesquisa irá analisar a
perda da saúde óssea e muscular dos astronautas por meio de amostras de urina, com
o intuito de identificar os membros da tripulação mais afetados. Na mesma
linha, a NASA preparou o Tempus Pro, um dispositivo comercial para coletar e
integrar medições de saúde, como pressão arterial, frequência cardíaca,
frequência respiratória, temperatura e outros. Com esses dados, a pesquisa visa
comparar os registros de saúde da tripulação com dados de exames periódicos. O
dispositivo também conta com recurso de imagem por ultrassom,
videolaringoscopia com orientação integrada e um recurso experimental de
telemedicina, com comunicação via Starlink para se conectar com médicos e
especialistas na Terra.
• Desempenho cognitivo e dados do ambiente
A tripulação passou
por um monitoramento do desempenho cognitivo por um aplicativo em um tablet,
com testes que cobrem domínios cognitivos relevantes para voos espaciais, como
memória, orientação espacial, reconhecimento de emoções, tomada de decisão de risco,
entre outros. A tripulação também coletou dados fisiológicos e de movimento com
um smartwatch e um novo sensor de eletrodo único, com registro de dados de
alerta e humor, o ambiente da espaçonave (como os níveis de dióxido de carbono
e temperatura) e os resultados de outras pesquisas (por exemplo, mudanças
induzidas por voos espaciais na estrutura cerebral).
• Síndrome Neuro-Ocular Associada ao Voo
Espacial (SANS)
A Síndrome
Neuro-Ocular Associada ao Voo Espacial (SANS) é um dos assuntos que a missão
irá priorizar nas pesquisas em saúde. A SANS decorre da baixa gravidade no
espaço que faz com que fluidos corporais se acumulem na cabeça e gerem pressão
sobre os globos oculares, o que representa um risco à saúde em voos de longa
duração. Uma das pesquisas do Polaris Dawn é identificar as alterações nos
olhos ao entrar em microgravidade e medir se as mudanças de fluido estão de
fato causando mudanças no olho, o que pode contribuir para a SANS. Para isso, a
tripulação utilizou lentes de contato inteligentes com pequenos microssensores
que medem a pressão dentro dos olhos. A tripulação do Polaris Dawn também
realizou imagens em um ultrassom 3D para construir a estrutura do olho a fim de
entender melhor as muitas mudanças nos olhos.
Outra pesquisa que
pretende entender a relação dos efeitos da microgravidade e o que leva à SANS,
é o estudo de Pupilometria Automatizada. Utilizando pupilômetros automatizados,
ferramenta utilizada para medir a pressão intracraniana de forma não invasiva,
a pesquisa pretende entender os deslocamentos de fluidos para a cabeça causados
pela microgravidade e o aumento da pressão intracraniana em astronautas,
fatores que podem levar à síndrome.
Os projetos estão sendo feito em colaboração com Translational Research
Institute for Space Health (TRISH), BioServe Space Technologies at the
University of Colorado Boulder, Space Technologies Lab at Embry Riddle
Aeronautical University, Weill Cornell Medicine, Johns Hopkins University
Applied Physics Laboratory, the Pacific Northwest National Laboratory e a U.S.
Air Force Academy.
Fonte: Por Isabella
Marin, em Futuro da Saúde
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