Ucrânia: o Ocidente a um passo da derrota
A derrota militar da
Ucrânia são favas contadas, mas o mais perigoso é que será também, e acima de
tudo, uma derrota “por procuração” da OTAN contra a Rússia, carregada de
consequências para a liderança global ocidental, dentro e fora da Europa.
Tratando-se disso, a pergunta do momento é: como a OTAN responderá à sua
derrota na Ucrânia?
“É o momento de
restabelecer a diplomacia e voltar às negociações, embora leve algum tempo para
inverter a propaganda da última década e preparar o público para uma nova
narrativa. Como vimos no Afeganistão, as elites político-midiáticas nos
assegurarão que estamos ganhando, até que fujamos de forma desorganizada, com
pessoas caindo dos aviões”, diz o analista norueguês Glenn Diesen.
Muito dependerá das
eleições presidenciais de novembro nos Estados Unidos. A Rússia terá que
moderar as exigências de sua “vitória”, seja qual for o significado e o
conteúdo real dessa palavra, pois a guerra também está cobrando um alto preço
em Moscou. Certamente haverá mais de 200 mil mortos e inválidos. Além disso, a
ocupação de território ucraniano pode ser uma fonte de problemas, como apontamos há
mais de um ano. Mas o que acontecerá se a OTAN não aceitar sua derrota – ou
seja, se os Estados Unidos persistirem na sua vontade de sangrar a Rússia,
agora às custas de uma guerra maior? A histeria dos bálticos e dos poloneses
sobre uma “ameaça (ofensiva invasora) russa” contra a Europa – que além de
inexistente, mostrou-se impossível, dadas as limitações militares na Ucrânia –
será desencadeada? Nesse caso, os termos da equação já são conhecidos. Se for
alvo do ataque de uma força militar superior, como a OTAN, a liderança russa
declarará uma “ameaça existencial” para seu país, o que, segundo sua doutrina,
que está sendo revisada para que se torne mais flexível, significa a
possibilidade do uso de armas nucleares.
Em Moscou, há motivos
de sobra para preocupação. O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken,
esteve esta semana em Kiev para dar o que parece ser um sinal verde para o uso
de mísseis ocidentais de longo alcance contra o território russo. É algo que requer
informações de inteligência e satélites militares americanos, além da
participação direta de militares da OTAN. Putin advertiu na quinta-feira (12/9)
que tal decisão “mudaria a própria natureza do conflito”. “Significará que os
países da OTAN, os EUA e os países europeus, estarão combatendo contra a
Rússia”, e, por isso, Moscou tomará “as decisões (militares) correspondentes”,
disse ele. O presidente da Duma [Parlamento], Viacheslav Volodin, afirmou que a
Rússia terá que usar “armas mais potentes e destrutivas na defesa de seus
cidadãos”. Entre os especialistas há especulações sobre cenários como ataques a
infraestruturas ocidentais ou a destruição das pontes sobre o rio Dnieper, que
até agora a Rússia respeitou, e que cortariam a comunicação terrestre e
ferroviária da Ucrânia ao meio.
Os programas de TV
russos transmitem certo cansaço pelo estancamento da prometida “vitória
inevitável”. Os militares parecem cientes de que, sem uma mobilização nacional
completa – algo que o presidente Putin não quer arriscar – não há capacidade
militar para expandir ainda mais a conquista de território ucraniano em direção
a Nikolayev e Odessa, privando completamente a Ucrânia de saída para o mar, o
que completaria uma vitória militar estratégica. Certamente, não interessa que
a frente ucraniana entre em colapso antes das eleições nos Estados Unidos, mas,
ganhe quem ganhar em Washington em novembro, sabe-se em Moscou que, se os
Estados Unidos/OTAN não aceitarem sua derrota, a perspectiva de uma guerra maior estará à vista.
O presidente Zelenski
carrega a derrota estampada no rosto. Já não é mais aquele personagem dinâmico
e determinado que protagonizava capas dos principais semanários europeus e
norte-americanos. Agora parece cansado, preocupado e agitado. Zelenski perdeu grande
parte do apoio de seus padrinhos – chegando até a ser falsamente acusado de
estar por trás do atentado americano contra o gasoduto Nord Stream. Não
entendem sua última remodelação no governo, nem a ofensiva militar contra a
região russa de Kursk, um gesto desesperado de imagem pelo qual pagará um alto
preço militar, segundo a imprensa ocidental mais interpretativa. Os ocidentais
o incitaram a romper as negociações iniciadas em Minsk e Istambul no início da
guerra, e agora não estão sendo coerentes com a intensidade da ajuda que lhe
prometeram. É a hora dos recriminações e ressentimentos. Zelenski tem motivos
para estar preocupado.
“Superado em número e
em armamento, o exército ucraniano enfrenta baixa moral e deserção”, diz a CNN em um relatório
exaustivo, impensável em nossos lamentáveis meios de comunicação. Cinco são os
pontos do colapso militar: as posições estratégicas dos soldados são mais
fracas, faltam recursos, as cadeias de suprimentos não estão suficientemente defendidas,
as comunicações costumam falhar e a moral desmorona, explica Diesen. Uma vez
iniciado, o colapso tende a ter um efeito de avalanche, ele afirma.
Companhias militares
inteiras estão se retirando de suas posições sem permissão, o que desmantela
qualquer plano defensivo. O fato de um dos novos F-16 fornecidos pela OTAN,
pilotado por um dos melhores oficiais da aviação ucraniana, ter sido derrubado
em sua estreia, há duas semanas, por “fogo amigo” de uma bateria Patriot é um
sintoma de graves problemas de coordenação. Em relação à retaguarda, cerca de
800 mil homens ucranianos em idade militar “foram para a clandestinidade”,
mudando de endereço e trabalhando informalmente para não deixar registros
trabalhistas e evitar a mobilização, relatava o Financial Times em
4 de agosto, citando o chefe da comissão de desenvolvimento econômico do
parlamento ucraniano, Dmitri Nataluji.
Os efeitos da
carnificina que a Ucrânia está sofrendo são incalculáveis. 78% dos cidadãos
declaram ter parentes próximos e amigos que foram mortos ou feridos na guerra,
de acordo com uma pesquisa telefônica realizada em maio/junho do ano passado.
Veremos que preço todo esse bárbaro e injusto sofrimento humano cobrará no
futuro. O ressentimento contra a Rússia de toda uma geração de ucranianos vai
perdurar por muito tempo. Os vídeos sobre as razias do exército nas ruas, para
prender aqueles que evitam o serviço militar, cresceram exponencialmente nas
redes sociais. Aparentemente, também melhorou a informação militar russa sobre
alvos, como exemplifica a destruição de um centro militar em Poltava,
aparentemente com grande concentração de técnicos militares da OTAN, em 3 de
setembro. E as perspectivas são ainda mais sombrias para Kiev, pois a Rússia,
especialmente após a incursão militar ucraniana em Kursk, está castigando ainda
mais as infraestruturas energéticas do país. Tendo já perdido um quinto de seu
território nacional e um terço de sua população, a perspectiva de um inverno
com severos cortes de luz e aquecimento anuncia um novo êxodo de centenas de
milhares de ucranianos para a União Europeia, neste outono/inverno. Não estamos
muito longe de um colapso militar ucraniano, que talvez seja questão de alguns
meses.
¨ EUA considerarão Rússia uma ameaça independentemente do
resultado do conflito ucraniano
Os EUA considerarão a
Rússia uma ameaça independentemente do resultado do conflito na Ucrânia, disse
o secretário da Força Aérea dos EUA, Frank Kendall.
"Independentemente
de quando e como esta guerra terminar, provavelmente a Rússia continuará sendo
uma ameaça aguda [para os EUA]", cita o portal da Força Espacial dos EUA
as declarações de Kendall na Convenção da Associação da Força Aérea e Força
Espacial dos EUA.
O secretário da Força
Aérea acrescentou que os EUA continuarão expandindo a cooperação militar com
aliados na Europa, referindo como exemplo a recente ratificação de um acordo
para distribuição dos custos da integração de mísseis noruegueses JSM em caças
F-35.
Ultimamente, o
Ocidente tem expressado cada vez mais as ideias sobre um conflito armado direto
entre a Aliança Atlântica e a Rússia.
O Kremlin havia
observado que a Rússia não ameaça ninguém, mas não ignorará ações
potencialmente perigosas para seus interesses. Além disso, nos últimos anos, a
Rússia tem observado uma atividade sem precedentes da OTAN em suas fronteiras
ocidentais.
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Ajuda militar dos EUA à Ucrânia é dificultada pelo esgotamento de estoques de
armas, revela mídia
A assistência à
Ucrânia por parte dos EUA é dificultada pelo esgotamento de estoques de armas
em armazéns norte-americanos, relata o CNN com referência a dois funcionários
estadunidenses não identificados.
"Escassez [de
armas] significa que a administração [do presidente dos EUA Joe] Biden ainda
tem 6 bilhões de dólares [R$ 33,3 bilhões] para armas a Ucrânia, mas o
Pentágono está com falta de suprimentos que gostaria de fornecer", apontam
fontes.
Um dos interlocutores
relatou ao canal de TV que o reabastecimento dos estoques de armas também é um
problema para o Pentágono. De acordo com o CNN, os EUA estão aumentando a
produção de munições, incluindo as de 155 milímetros, e sistemas de mísseis Patriot,
tanto para fornecimento à Ucrânia como para o seu próprio Exército. Entretanto,
o processo de reabastecimento de armas pode levar anos e os EUA não serão
capazes de atender rapidamente ao aumento acentuado da demanda por sua
produção.
"Tem a ver com os
estoques em nossos armazéns, com o que os ucranianos estão pedindo e se podemos
satisfazer seu pedido com aquelas [armas] que temos agora", cita o canal
as palavras do funcionário.
A mídia destaca também
que, em abril, o Congresso dos EUA destinou US$ 13,4 bilhões (R$ 74,4 bilhões)
adicionais ao governo Biden, que deveriam ser usados especificamente para envio
de armas e equipamentos retirados de estoques americanos para a Ucrânia.
Segundo explicaram os funcionários em questão, o Departamento de Defesa dos EUA
não pôde usar esses meios na totalidade por causa da falta de armas
apropriadas, das quais pode prescindir, sem arriscar sua própria segurança.
A Rússia considera que
as entregas de armas à Ucrânia impedem a firmação de um acordo, envolvendo
diretamente os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte no conflito.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, havia observado
que quaisquer cargas contendo armas para a Ucrânia se tornarão um alvo legítimo
para a Rússia.
¨ Permissão do Reino Unido de atacar a Rússia 'será um erro de
proporções nucleares', diz jornal
O Reino Unido cometerá
um enorme erro ao permitir que a Ucrânia ataque o território da Rússia em
profundidade, escreve o jornalista Simon Jenkins em um artigo para o The
Guardian.
"Permitir que
mísseis britânicos de longo alcance sejam usados contra a Rússia pode ser um um
erro de proporções potencialmente nucleares [...] A postura musculada dos
líderes militares britânicos e do próprio [premiê Keir] Starmer não tem
sentido. Ela apenas alimentou o ceticismo sobre a OTAN para o possível próximo
presidente dos EUA, Donald Trump", afirma o autor da matéria.
"Depois de mais
de dois anos, a guerra da Ucrânia se transformou de uma guerra de independência
nacional em um conflito por procuração, econômico e militar, do Ocidente contra
a Rússia", diz o artigo.
O artigo observa que o
apoio de Vladimir Zelensky pelo Ocidente só agrava a situação política no
mundo.
"Os políticos
ocidentais ansiosos que se fazem de 'durões' não prestam nenhum serviço à paz
ao prometerem apoiar Zelensky até a vitória total. Eles sabem perfeitamente que
tal vitória é impossível. A única questão é quanto mais mortes e destruição isso
causará nesse meio tempo", concluiu Jenkins.
Na semana passada, o
presidente russo Vladimir Putin disse que a OTAN está discutindo não apenas a
possibilidade de o Exército ucraniano usar armas ocidentais de longo alcance,
mas a participação direta de países da OTAN no conflito com a Rússia.
Fonte: Por Rafael
Poch, em CTXT | Tradução: Antonio Martins, em Outras Palavras/Sputnik Brasil
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